Just a Little Boy escrita por Panda girl


Capítulo 2
O mundo por Thomas


Notas iniciais do capítulo

Hay



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Macio... Thomas sentia algo acariciar-lhe as maçãs do rosto, mas não conseguia raciocinar, pois ainda dormia.

—Maninha? É você? Está tudo bem, foi só um sonho. Você ainda está aqui, não está? Papai do Céu nunca vai te levar. Por favor, Kath, não me deixe só. —murmurou

Algo molhou sua testa, provavelmente uma lágrima. Abriu os olhos, uma senhora de mais ou menos 40 anos enxugava o rosto nos braços. A aparência cansada e desgastada dava-lhe um ar depressivo.

—Bom dia, Tom.

—Bom dia, mamãe. Não me chame assim, sabe que não gosto. —A voz ainda baixa, com um tom infantil

—Desculpe Taylor, é difícil acostumar.

Ele se levantou para que pudesse olhar-se no espelho. O cabelo estava embaraçado, olheiras profundas chamavam atenção e pequenos fios de bigode nasciam novamente. A única coisa que lhe conferia uma aparência feminina era a enorme camisola que vestia.

—Sente-se na cama. —pediu a mãe—Hoje eu cuido disso para você.

Sem dizer uma palavra, Thomas voltou para a cama e sentou-se na beirada da mesma, com o rosto virado para a mulher. Esta pediu que esperasse e saiu do quarto, voltando com uma escova e uma lâmina de barbear em mãos. Com delicadeza, os fios indesejados foram retirados e o cabelo penteado. O próprio jovem cuidou de sua maquiagem, escondendo olheiras e delineando os olhos. Agora sim Taylor tomava o lugar de Thomas.

x.x.x

Após as aulas, saiu para comer na lanchonete do colégio. Mesmo se esforçando para parecer uma garota delicada, seu apetite era enorme. Percebeu que, infelizmente, muitos rapazes olhavam para ele. Era comum chamar atenção por conta de seu rosto, Thomas era muito bonito. Alguns o comparariam com uma boneca de porcelana.

Tentando ignorar os comentários feitos por desconhecidos, dirigiu-se ao balcão. Antes de chegar, porém, um garoto muito maior que ele esbarrou em Thomas, lançando-o ao chão.

Caído em uma posição humilhante, pode olhar diretamente nos olhos do desconhecido, que também o encarava. O coração do menino batia rápido e o corpo tremia. “Não sou gay, apenas me visto de forma diferente. E definitivamente não me apaixonaria por garotos como esse.” Pensou. Olhou para o vestido branco que usava, agora todo sujo. O mesmo poderia ser facilmente limpo com o auxílio das mãos, mas o garoto agregava a ele um imenso valor emocional.

—Obrigada por sujar meu vestido novo. —disse enquanto se levantava, segurando a mão do “inimigo”

Ele, que se apresentou como Brian, ofereceu uma bebida a Thomas, que pediu-lhe que comprasse um chá.

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Já acomodados, o garoto resolveu apresentar-se. Disse que era Taylor e deu seu máximo para que o outro não descobrisse sua real identidade. Brian, sentado em frente a ele, permaneceu a maior parte do tempo com as mãos nos bolsos.

Foi então que cometeu um grave erro: pediu a Thomas que contasse sua história. Sempre tímido, o garoto recusou. Como que em desespero, Brian tentou forçar-lhe a falar, oferecendo dinheiro em troca.

Com ódio saindo pelos poros da pele, ele respondeu de forma rude e ofensiva que não estava disposto a aceitar a forma machista com que fora tratado, ocasionando espanto por parte de Brian e fazendo o mesmo guardar o dinheiro.

—Tudo bem, Taylor, você venceu. —disse

—Não estamos jogando, não há um vencedor. Por que não conta você a sua história? —sugeriu

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O céu começava a escurecer quando Thomas olhou o relógio. Estava atrasado, constatou. Provavelmente, a mãe o castigaria por chegar tarde em casa, mas que poderia fazer? Havia começado uma conversa envolvente com Brian e perdera a noção do tempo.

—Desculpe, tenho que ir... —disse enquanto se levantava

—Espere! —Brian colocou a mão sobre a do garoto, mantendo-a na mesa e impedindo seu dono de ir embora —Gostei de você.Não um gostar amoroso, claro, mas suas opiniões acerca do mundo são legais, mesmo eu não concordando com elas. Queria escutá-las novamente.

Thomas sorriu, era a primeira vez que alguém se interessava por tal coisa. Com um gesto delicado, retirou a mão debaixo daquela que o impedia de sair e pousou-a no zíper da bolsa.

—Estudamos na mesma escola— disse enquanto procurava por uma caneta— é claro que nos veremos novamente. Mas eu te passo meu número, para que possamos conversar fora desse ambiente hostil.

Quando finalmente encontrou algo que pudesse usar para escrever, anotou algo em um guardanapo e entregou-o ao novo amigo. Brian sorriu e o garoto sentiu o rosto corar.

—Obrigado, Taylor, por fazer meu dia menos tedioso. Nos vemos em breve. —e acenou

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Thomas saiu despreocupado. Pouco antes de chegar em casa, porém, começou a se sentir mal e sentou-se com as costas apoiadas em um muro qualquer. A cabeça latejava como se fosse uma bomba-relógio prestes a explodir. Em meio à dor, viu algumas pessoas se aproximar. Uma delas foi facilmente reconhecida por ele. O rosto da mãe, distorcido por sua mente, mesclava-se com o de Kath. Ela dizia algo, mas, entorpecido, o garoto não conseguia escutar. Provavelmente, tinha medo de que uma desgraça passada houvesse se repetido.

Ficaram ali por certo tempo que Thomas não soube definir. De mãos dadas a ele, a mãe parecia pedir por ajuda. Quando, enfim, dois homens se dispuseram a atender ao doloroso pedido de uma mãe em desespero e carregá-lo até sua casa, já havia desmaiado. O rosto pálido lhe dava uma aparência doente, os lábios semi-abertos, de que não conseguia respirar. Alguns diriam que estava morto, mas a senhora tinha certeza de que seu coraçãozinho ainda batia.

x.x.x

Acordou em seu quarto. A cabeça ainda doía, mas nada forte se comparado ao que sentira antes. Sobre o criado mudo, ao lado da cama, o pequeno celular vibrava. Viu que era uma mensagem de Brian:

“Taylor, você está bem? Não te encontrei na lanchonete hoje.”

Espantado, se perguntou por quanto tempo havia dormido. Resolveu contar ao amigo apenas o que entendera de toda aquela situação.

“Eu passei mal ontem. Mas está tudo bem, não se preocupe ^^”

O celular vibrou mais uma vez. Brian parecia desesperado.

“Desculpe, deveria ter te procurado antes. Já foi ao médico? É melhor checar se não há nenhum problema...”

Thomas sorriu de lábios fechados, um sorriso morto e deprimente. Como poderia saber? Simplesmente desmaiara e não tinha nem idéia de quantas horas haviam se passado. Talvez perguntasse à mãe mais tarde.

—Eu não sei, Brian. —murmurou—Eu não faço a mínima idéia. Não, não mesmo...


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Notas finais do capítulo

Antes que me perguntem, a escola dos dois funciona em período integral (os alunos podem escolher se estuda durante a manhã ou durante a tarde).
Só avisando que um review não mata ninguém e.e