Era incrível a velocidade com que o nervosismo foi tomando conta de mim no caminho até o Hospital Psiquiátrico. Minhas mãos que seguravam firmemente o volante iam aos poucos se afrouxando dando espaço a uma leve tremedeira. Sorri, era gostoso sentir esse tipo de nervosismo, lá no fundo fez com que eu me recordasse de quando subia aos palcos e me apresentava para milhares de pessoas... Eu ia sentir falta disso, pensei comigo mesmo, mas infelizmente continuar com aquela carreira não fazia muito sentido sem o Tom.

   Estacionei em uma rua de terra extremamente estreita, desci do carro com cuidado e desajeitadamente tirei aquela enorme escada do banco de trás, era tão grande que pegava toda a extensão desde o pára-brisa até o fim do porta-malas. Encostei a escada no muro, cuidadoso para que não chamasse nenhuma atenção, e aos poucos comecei a subir os degraus. Ao chegar no fim da construção de concreto eu puxei a escada, colocando-a do outro lado para que eu pudesse descer e sair com facilidade depois.

    Tomei alguns minutos do meu tempo observando aquele lugar, ele continuava o mesmo e isso despertava em mim uma série de sensações diferentes.  Por alguns segundos a nostalgia foi tão grande que eu precisei parar de andar, sentindo um turbilhão de lembranças me atingirem de uma maneira extremamente forte. Observar aquele lugar era como observar toda a dor que eu sofri com a perda de meu irmão gêmeo, observar aquela árvore onde eu me encontrava com a Arabella era reviver os momentos em que eu senti-me apaixonado por ela. E foi ali, parado sentindo um aperto estranho no peito, que eu notei a presença da inscrição no muro.

                                     “ Arabella e Bill. Eu sinto sua falta. “

    Sorri de leve. A frase fora escrita com pedra e por isso eu pude facilmente modificá-la. Esfreguei meu dedo sobre as letras e aos poucos elas foram se desfigurando. Agarrei uma pedra do chão, escrevendo por cima do borrado o que realmente deveria estar escrito.

                                  “ Arabella e Bill. Para sempre juntos. “

        Voltei a caminhar, contando as árvores até as janelas dos dormitórios femininos. Chegando lá eu passei a contar janelas. 1...2...3...4...5...6...7...8...9...10...11...12. “ É aqui. “, pensei. Meu coração estava batendo tão forte que eu tive medo que alguém do lado de dentro pudesse ouvi-lo. E então, com a mão estendida na direção da janela de Arabella eu hesitei. Naquele momento eu tive medo do que estava me esperando por trás dela. Será que ela estava me esperando? Será que como uma criança ela tinha a capacidade de esquecer as pessoas com facilidade? Será que estaria brava comigo por ter demorado mais do que o esperado?

-Bill? – uma voz baixa e familiar sussurrou atrás de mim. Vire-me tão rapidamente que cheguei a sentir uma leve vertigem.

-Bells... – tentei sorrir, mas meu alívio por vê-la novamente era tão grande que nem ao menos tenho certeza se o fiz corretamente. Arabella estava parada a uns 3 metros de mim, os cabelos estavam presos em uma trança e seus enormes olhos me encaravam com surpresa e estupefação. – Sentiu minha falta? – quebrei o silêncio, inseguro demais da reação dela para avançar e abraçá-la, apesar de ser a única coisa na qual conseguia pensar.

     A pequena mulher que ganhou meu coração em tão pouco tempo deu seu primeiro passo em minha direção, seguido de outro e outro e mais outro até que a distância entre nós estivesse reduzida a apenas alguns centímetros. Ela levantou sua mão direita e tocou meu rosto gelado com a ponta dos dedos, como se precisasse se certificar que eu realmente estava lá.

-Nunca me senti tão vazia. – sussurrou.

    Sua voz estava tinha um tom tão diferente do que eu estava acostumado! Estava sério. Ela tinha uma expressão diferente também, seus olhos brilhavam de uma maneira diferente. Tudo nela parecia estar diferente. E naquele momento eu tive medo dela não ser mais a mesma Arabella por quem eu havia me apaixonado. Ela parecia crescida, e eu fiquei aterrorizado ao pensar que uma Arabella adulta não sentiria por mim o que a Arabella criança sentia. Ou que eu não sentisse por ela o que sentia antes.

     Ficamos nos observando no mais absoluto silêncio, no meio dos meus pensamentos eu me perguntei se ela também tinha medo do que havia mudado. Mas se ela também estava assustada não demonstrou, ao invés disso abriu um enorme sorriso. E foi aquele sorriso que me fez ter certeza de que tudo estava, e tudo ficaria bem de agora em diante.

-É tão bom te ver de novo! – exclamei, e ela atirou-se em meus braços. Seu cheiro tão doce e característico invadiu minhas narinas de uma forma avassaladora. E foi no abraço que ela me deu que eu identifiquei aquele mesmo carinho de antes.

-Você voltou... – ela chorou ao pronunciar as palavras. – Fiquei com medo de que se esquecesse de mim.

-Você não pensou isso de verdade, pensou? – segurei em seus ombros com delicadeza, ela levantou a cabeça de leve e mirou meus olhos.

-Eu não gosto de ficar aqui sem você... Acabo pensando um monte de coisas ruins. Desculpa. – seus olhos culpados e inocentes que eu a tanto tempo não via trouxeram lágrimas para os meus olhos também. Eu a abracei novamente e a girei em meus braços. – Billy! – ela exclamou entre uma risada e eu tive a impressão que aquele som era o melhor que eu já havia ouvido em toda a minha vida.

    É engraçado como ás vezes uma risada parece ser o bastante para acelerar um coração. Eu sabia que estaria bem, desde que ela continuasse sorrindo ao meu lado.

-Eu lhe prometi que voltaria. Eu pretendo cumprir todas as promessas que te fiz até agora, Bells. Esse é o novo rumo da minha vida. – acariciei-lhe o rosto. – Eu trouxe sua irmã de volta... Quero saber se você está pronta para revê-la.

-Sabe, na minha consulta de ontem eu reclamei que você estava demorando, e o doutor me disse que os adultos são assim.

-Assim como?

-Complicados. Eles sempre parecem ter menos tempo do que o necessário. Mas que eu devia esperar, por que aqueles que realmente se importam comigo iriam arranjar tempo para mim. Eu esperei por você, e você voltou... Eu também esperei pela minha irmã, demorou mais do que eu imaginava, mas ela também voltou e isso me deixa feliz.

-E se ela não for ficar?

-Ela voltou por minha causa? – Arabella respondeu com outra pergunta.

-Sim...

-Então ela se importa comigo. – sorriu. – Ás vezes eu fico com raiva dela por ter demorado, e não sinto vontade de perdoá-la. Mas se ela veio até aqui para que eu pudesse ficar com você, então eu já acho que é um bom motivo para fazê-lo.

-Será que existe alguém no mundo que consegue ser tão bela como você é? – observei-a, sentindo como se ela fosse o meu pequeno pedaço de perfeição nesse mundo tão imperfeito. – Você chegou e deu um sentido para todas as músicas de amor que já escrevi, e eu te amo mais do que pareço conseguir expressar. – Arabella sorriu.

-Em pouco tempo nós estaremos fora daqui, e você terá todo o tempo do mundo para expressar tudo o que quiser. Há um mundo completamente desconhecido para mim lá fora, e eu preciso de você para me ensinar a viver nele... Não confiaria isso a mais ninguém.

      Era tão bom vê-la novamente... Sentia como se pudesse explodir a qualquer momento. Era como se fossem tantos sentimentos dentro de mim, todos eles tão fortes, que isso poderia causar uma explosão. Mesmo assim era uma sensação boa... Talvez seja como todos os apaixonados se sentem. Espero que esse sentimento nunca vá embora.