Alleine In Die Nacht escrita por Maty


Capítulo 3
Capítulo 3 - Sua metade do meu coração




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-Georg, Gustav e Andreas já chegaram. Está pronto para ir? – mamãe perguntou da porta. Eu terminava de colocar meu terno negro, olhei meu reflexo no espelho e soltei um longo suspiro.

 

-Estou. – me virei e a abracei forte na esperança de confortá-la e achar um pouco de conforto para mim mesmo também. – Nós vamos ficar bem, mãe?

 

-Talvez demore um tempinho, mas eu tenho certeza que vai ficar tudo bem, meu amor... – forçou um sorriso. – Vamos... – inspirou o ar com força tomando coragem. – Não podemos deixar todos esperando.

 

    Descemos as escadas, na sala Georg, Gustav, Andreas e David esperavam junto com meu pai e Gordon. Todos de negro, assim como eu, e todos com a cara abatida. Os cumprimentos foram curtos e silenciosos, eles me deram os pêsames e eu me limitei a sinalizar com a cabeça. Palavras não eram realmente necessárias. Muito menos desejadas. Eu só queria que o mundo inteiro ficasse em silêncio.         

 

    Nos dividimos em dois carros. Eu, Georg, Gustav, Andreas e Jost em um e minha mãe, Gordon e meu pai em outro. Os dois carros foram escoltados por seguranças contratados o caminho inteiro até o cemitério onde aconteceria o enterro de Tom. As fãs e a imprensa bloqueavam a entrada e demoramos um bom tempo para conseguirmos entrar. Flashes eram disparados contra a janela do carro e eu me senti grato por ter colocado óculos de sol, apesar do dia estar nublado.

 

   Desci do carro e andei pelo gramado extremamente verde até o caixão. Ele estava aberto e meu irmão descansava deitado dentro dele, pálido e vestido completamente em preto. O terno que usava fora escolhido pela minha mãe e era idêntico ao meu. Estávamos vestidos iguais, como fazíamos quando éramos crianças. Tal pensamento conseguiu me arrancar um tímido e azedo sorriso. Tirei meus óculos e uma lágrima despencou de meus olhos, se depositando no tecido creme brilhoso que revestia o lado de dentro do caixão.

 

                        “È a última vez que eu vou te ter tão perto de mim.”

 

   Pensei. Seu rosto parecia tão sereno que quase senti raiva. Não conseguia me conformar que ele me deixara aqui para suportar o amanhã sozinho. Nossos familiares e amigos próximos chegavam aos poucos, se aproximavam do caixão em silêncio, baixavam a cabeça olhando para Tom com pena e tocavam meu ombro desejando os pêsames.

 

   Todos estavam tristes, todos sofriam, todos iam sentir falta do Tom. Mesmo assim eu me sentia sozinho e desamparado. As pessoas ao meu redor choravam e apesar disso não conseguia deixar de pensar que nenhuma delas sofria como eu estava sofrendo. Afinal de contas, nenhuma delas foi deixada sozinha sem saber para onde seguir, nenhuma delas sentia o peito latejar insanamente do jeito que eu sentia, nenhuma delas havia perdido sua outra metade. Sua alma gêmea.

 

    O padre falava e eu suas palavras passavam despercebidas por mim. Não conseguia desviar os olhos do caixão á minha frente, nem da pessoa que descansava dentro dele. Sentia um desespero crescendo a cada segundo, e a obrigação de decorar cada pequeno detalhe de seu rosto por medo de esquecê-las com o tempo. Enroscava meus dedos uns nos outros resistindo á tentação de levantar e tocá-lo. Seria mesmo verdade que eu nunca voltaria a abraçá-lo?

 

    Funcionários do cemitério se preparavam para fechar o caixão e eu forcei meus olhos a se fecharem também. Era a última vez que eu veria ele. Tinha total consciência de que não era forte o bastante para ver seu rosto ser escondido pela madeira escura e brilhosa.

 

-Não! – exclamei sem conseguir me conter. Levantei apressado da cadeira onde estava sentado e me aproximei do caixão. Tirei a fina e delicada corrente de meu pescoço. Havíamos comprado juntos, originalmente pertencia ao Tom, mas eu gostei tanto que ele acabou por me dar de presente. – Fique com você, sempre foi suposto ser seu de qualquer maneira! - Brinquei com a corrente de prata entre meus dedos. – Meu coração sempre foi dividido em dois. Uma metade era para o mundo, e a outra só para você. Agora eu já não tenho mais uso para ela. – esperei alguns segundos para me acalmar, mas mesmo assim quando voltei a falar minha voz era quase incompreensível. – Então eu vou colocar a sua metade do meu coração aqui, e deixá-la com você. – podia ouvir os soluços de mamãe atrás de mim – Eu te amo, seu grande idiota. Me espere que eu vou te encontrar do outro lado. – estiquei minha mão trêmula e depositei a corrente sobre seu peito. Meus dedos se arrastaram pelo tecido negro até chegarem ao seu rosto gélido. Milhares de arrepios percorreram meu corpo, como pequenos choques. Mordi meu lábio inferior fazendo força para não chorar, me inclinei rapidamente e depositei um último beijo na testa de meu irmão.  Virei de costas para o caixão e baixei a cabeça para não ter que olhar nos olhos de todas aquelas pessoas, atravessei o pequeno caminho entre as cadeiras andando o mais rápido que consegui e me recusei a parar até que estivesse longe o bastante para respirar novamente e chorar sem ter que me controlar.

 

    Desabei atrás de uma grande árvore que se erguia forte entre todas aquelas milhares de lápides. Suas folhas me protegiam da garoa fraca a gélida que começara a cair. Abracei minhas pernas e me permiti soluçar.

 

-Seu fraco! – a voz arrepiou todos os pelos de meu corpo e forçou meu coração a parar de bater por alguns segundos.

 

-Tom?! – exclamei olhando ao meu redor, não conseguia ver nada que não fossem lápides e a grama bem cuidada do lugar.

 

-Vai continuar chorando como um fraco?!

 

-Pare!!! – apertei minhas mãos contra meus ouvidos e fechei os olhos com força. - Não quero ouvir!!!

 

-Eu morri para tentar te defender! Fiz por você!

 

-Não foi minha culpa!!! – gritei o mais alto que minha garganta e meu fôlego permitiram.

 

-Mas você sente como se fosse, não sente?! È um idiota!! Pare de se culpar! Você tem que viver!

 

-Eu estou tentando!! Mas não consigo...Não sem você! – finalmente abri os olhos e olhei ao redor procurando pela figura dele, mas logo lembrei que isso era impossível. Eu estava em um cemitério, e tinha uma razão para isso. – Você precisa me ajudar!!! – me calei esperando pela resposta, mas a única coisa que consegui ouvir foi o grito distante das fãs do lado de fora do cemitério. – Tom?!!

 

-Bill? – levantei com um susto. – Você está bem, cara? – era Georg. – Nós tivemos a impressão de ter te ouvido gritar.

 

-Georg, acho que estou ficando louco. – disse ofegante devido aos gritos e ao desespero.

 

-O que? – pareceu surpreso se aproximando ainda mais de mim. Não consegui deixar de notar que seus olhos estavam inchados e avermelhados. – Você está ficando... Louco? Como?

 

-Eu estou ouvindo a voz do Tom.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!!


Revieews??