Refugiados escrita por Lara Campos


Capítulo 5
Capítulo 5 - Eu tenho escolha?


Notas iniciais do capítulo

Ei, pessoas. Queria me desculpar pela demora pelo novo capítulo, mas vocês sabem como é... Natal, Ano Novo, festa, festa...sem fim. E pra piorar, ainda adoeci. Enfim, não vou demorar pra postar o próximo, até porque ele já está quase pronto. Espero que gostem desse novo pedacinho do drama Katniss/Peeta versus o mundo e deem o ar da graça ao dizer o que acharam... logo naquela janelinha de reviews que todos conhecem bem :)

Beijos e boa leitura!



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Voltei para casa pela estrada onde alguns caminhões passavam com tijolos e blocos de concreto e quando estava me aproximando da Aldeia dos Vitoriosos, vi-me sozinho caminhando. Um vento frio bateu em meu rosto, como se a natureza estivesse me alertando para algo hostil. Apertei os passos, podendo já sentir que algo de ruim estava para acontecer e quando estava a cerca de 300 metros de minha casa uma mão quente puxou-me pelo ombro esquerdo.

_E então, meu paciente preferido?

A voz grossa e rouca dele era inconfundível. Aquilo não era possível. Não agora.

Não!

~

Escolha um ponto fixo, Peeta. Um ponto fixo. Droga!

_Você não parece tão feliz em me ver, rapaz. Não acha isso um pouco desrespeitoso, depois do tempo que passamos juntos?

Ele não consegue mais te manipular. Você só está com medo. Ele não tem nenhuma daquelas máquinas. Não há como ele mexer na sua cabeça. Mantenha-se forte, seu idiota!

_Sabe, todas as vezes em que estive dentro dessa sua cabecinha oca, meu jovem, fiquei bastante intrigado…

Ele não te conhece. Você sabe que ele não sabe nada de verdade sobre você!

_… Suas lembranças se conectam com seus neurônios de uma maneira tão completa, tão magicamente emaranhadas, que só uma tecnologia de ponta fora capaz de desintegrar essas ligações.

Não se esqueça de que Katniss não é uma deles! Ela te ama, Peeta. Vocês estão juntos… ela ama você. Você a ama. Ela não te usou… ela não… te usou?

_… E foi só mesmo quando pude perceber que era exatamente ela, a garota em chamas, a responsável por tanta coesão, durante tanto tempo dessa sua vida medíocre, que soube que seria tão difícil fazer com que você a odiasse.

Claro, como odiar Katniss? Peeta, você a ama… Peeta, não se esqueça… um ponto fixo, Peeta. Um ponto fixo, merda!

Senti um cheiro inebriante preencher-me por completo e um toque suave, mas que me parecia uma agressão, em meu ombro. Era a mão dela. Katniss ocupava todas as imagens que percorriam minha cabeça. As boas e as ruins. Todas elas entranhadas como pequenos laços de um arame farpado. Igualmente perigosas, logo. E meus olhos doíam só de encarar o rosto dela, que nem cruzava meu campo de visão. Pois, como num ato-reflexo, a dor que me corroía os músculos irromperam em um empurrão bruto, inconsequente e não controlável contra o corpo dela, que há dois metros de mim, se chocou contra o chão, provocando um som que me ensurdeceu ainda mais.

_… Mas você a odeia, Peeta! Ela não ama você como diz. Ela usou seu charme para ganhar patrocinadores. Seu amor para sobreviver. Usou seu corpo, vendeu-o como se fosse uma nobre vilã da capital. Como fizeram com seu amiguinho. Finnick. Oh, aquele rapaz perdeu mesmo a cabeça…

Ao ouvir o nome de Finnick meus dentes se enrijeceram uns contra os outros e cerrei o punho, socando o rosto de Thomas, à minha frente. Finnick havia salvado minha vida uma vez e agora parecia estar me ajudando, mesmo de tão longe, a voltar à lucidez. Olhei de relance para Katniss ao meu lado, ainda caída, imóvel, chocada, e meus olhos se encheram de lágrimas ao ver que eu havia feito aquilo de novo. Virei-me, pois, como um animal selvagem se arrastando para fugir de seu predador e corri em direção à minha casa.

Minha cabeça latejava demais para que eu pudesse notar se alguém me seguia. Continuei correndo e a voz do meu alterego parecia ressoar em minhas têmporas.

Você é um covarde! Não sabe olhar para ela e dizer quem ela é? Que tipo de vida você vai ter com uma mulher que não sabe quem é? Você a odeia, Peeta? Você a ama, seu fraco?

Tropecei em um pedregulho quando quase chegava às escadas da minha porta da frente e caí feito um boneco de pano, sem jeito, maleável e sem controlar os próprios membros. Senti uma dor aguda em meu braço direito e só então percebi que sangrava. Um pedaço da madeira mal colocada como assoalho se desprendera do degrau, com o baque, e ficou cravada quase na altura de meu ombro direito. Meus olhos se irromperam em lágrimas, gritei como se não tivesse que utilizar de minha cordas vocais sequer mais uma vez em minha vida e deitei de costas no chão, imóvel, porém trêmulo por nem saber onde se localizava o pior tipo de dor.

Levantei a cabeça devagar. Fitei tudo ao meu redor e já não conseguia ver mais Thomas nem Katniss. Será possível que ele havia levado ela? Katniss não era a melhor lutadora com as mãos livres. Ela sem sua aljava sequer era perigosa às moscas. E isso me amedrontava. Mas apesar de o medo pungente, o que mais me tirava as rédeas naquele momento era o nada que meus olhos fitavam. Thomas poderia voltar a qualquer momento e instalar mais um milhão de vozes em minha cabeça com uma ou duas palavras certas. Havia de existir algum gatilho. Qual era meu problema, afinal? Sem máquinas e sem toda aquela tecnologia da Capital ele ainda conseguia ser aterrorizante só por olhar em meus olhos. E eu tinha medo que Thomas fizesse meus olhos mentirem.

Tentei sair do lugar, por meu corpo de pé e, por fim, consegui fazê-lo. Agarrei o pedaço de madeira de cerca de cinco centímetros de largura e uns quinze de comprimento e arranquei de meu braço roçando os dentes em agonia com aquela dor. Caminhei lentamente sobre as escadas, girei a maçaneta de minha porta e entrei devagar olhando para todos os cantos da sala. Tudo parecia em perfeita ordem, um silêncio quase anormal e todas as cortinas fechadas, bem como eu havia deixado quando saí rumo ao centro do Distrito 12. Cambaleei meio sem equilíbrio rumo à cozinha e enfiei meu braço debaixo da torneira da pia, lavando meu ferimento e reclamando sozinho. Molhei meus cabelos, também, curvando meu corpo para baixo e balançando a cabeça como se aquela água salgada fosse lavar meus devaneios.

Ao retirar o rosto da pia virei-me e ele estava ali de novo.

_Pensou que eu havia ido embora sem me despedir?

_O que você quer, seu animal? - minha voz ecoou pela cozinha toda, soando como uma criança em prantos -.

_Eu quero um mártir.

_Um mártir, cara? Um mártir pra que? A Capital desmoronou, seu trouxa! Por que você não me deixa em paz? Não tem mais revolução aqui, você não vai conseguir nada além de um troféu pra sua própria estante de aberrações, se continuar insistindo em me enlouquecer - meu peito subia e descia descontroladamente à procura de ar entre as palavras - Seu doente… - e logo as lágrimas voltaram a cair, caindo também meu corpo recostado no mármore frio -.

Sentei-me no chão totalmente vulnerável. Abracei meus joelhos como se pudesse me proteger do mundo ao fazê-lo, mas todas as forças que eu um dia tivera haviam sumido naquele momento em que eu me debruçava no chão de frente para o homem que passou semanas torturando minha mente com uma agulha e palavras distorcidas.

_Peeta, você pode morrer como um heroi ou viver como um eterno perturbado - Thomas se abaixou e posicionou seu rosto na altura do meu - O que acha melhor?

Suas mãos tocaram as minhas retirando-me do abraço em que me encontrava e meus olhos se amiudaram de encontro ao seus. Se houvesse algum tipo de anestésico em suas mãos, eu saberia ao certo que ele o havia usado em mim. Mas não. Apenas aquele toque transformava toda minha musculatura estriada em lisa. De voluntária a involuntária. De plenamente capaz a absolutamente dominada. E então ele se levantou ainda segurando minha mão esquerda e fez com que eu me levantasse também. Andou até a sala carregando-me pelo caminho, nós dois a passos lentos e minha cabeça praticamente vazia durante o percurso. Pôs-me sentado numa das poltronas aveludadas, puxou a mesa de centro para mais perto de mim e sentou-se sobre ela, à minha frente.

_Você tem uma escolha… - seus olhos ainda fixos nos meus guiavam seu monólogo, enquanto minha mente parecia desligada - E eu vou te dar uma única oportunidade de resposta.

Ouvi um barulho que vinha do lado de fora da casa que retirou-me do transe. Thomas virou apenas seu rosto para a direção da porta e quando menos esperei uma flecha cruzou toda a extensão da sala e senti o toque da mão de Thomas soltar-se da minha.

Meu corpo caiu inerte no chão gelado.

~

O campo estava cheio de flores. Margaridas tão meticulosamente pintadas de um amarelo vivo que chegavam a queimar os olhos, se observadas por muito tempo. As árvores espaçadas da floresta do Distrito 12 tinha um aspecto deteriorado. Os cascos do que um dia fora, segundo os livros da escola, remanescentes de uma floresta temperada, pareciam tão velhos quanto a antiga America do Norte: quase uma ficção de nossa história distante. Flores miúdas e carregadas com o orvalho da manhã inundavam meus olhos como nenhuma outra, porém. Katniss. Meu manual de botânica estava sublinhado em seu nome. Abaixei-me inebriado pelo cheiro de suas pétalas e arranquei uma pequena amostra da terra, levando até o nariz e logo após à boca. Misturei minha saliva devagar com o gosto doce que vinha da flor e fechei meus olhos para mastigá-la por inteiro. À medida que a acidez de suas pétalas provocava microlesões em minha língua, uma mensagem de alerta era acionada em meu cérebro, traduzida logo por uma frase completa: "Você está se envenando aos poucos".

E um filete de sangue escapou de meus lábios.

Corri até o riacho, molhei meu rosto com a água límpida e quando abri meus olhos, via o rosto de Snow refletido, ao invés de o meu.

_Katniss é a flor mais perigosa, Peeta. Ela mata tão lentamente que você cairá ainda pedindo por mais.

Abri meus olhos e busquei um fôlego que quase não passou pela minha garganta. Minhas mãos estavam amarradas ao canto da cama num quarto todo pintado de branco, climatizado e sem nenhuma janela. A semelhança com o laboratório de Thomas na Capital arregalou meus olhos e por um instante imaginei estar preso outra vez. Sem ar, agradeci a entrada de Haymitch pela porta de frente, fazendo com que minha garganta se abrisse. Seus olhos caídos e cabelos bagunçados me trouxeram de volta ao mundo real.

_Heroi ou eternamente perturbado? - Haymitch sorriu de um jeito deturpado para mim e só o que pude fazer foi gritar mais uma vez, agora me debatendo na cama enquanto enfermeiros entravam no quarto para me sedar -.

Um sono profundo. A loucura, porém, mais ainda.


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Notas finais do capítulo

Opiniões? Críticas? Choros?

Apesar de a confusão, tudo vai ser esclarecido nos próximos capítulos, ok? Sem muito desespero. A não ser que a dor do nosso pequeno heroi os desespere. Eu sempre fico agoniada 'haha

Beijos!



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