Enquanto a escoria seguia em direção à escola, Jasper se arrastava furtivamente pelas escadas indo rumo ao topo da torre do relógio seu sangue corria frio nas veias, o medo de que o pior pudesse ter acontecido a Edward o atormentava, quando por fim conseguiu mover a pesada porta de carvalho que mantinha a sala do relógio fechada, a cena que ele presenciou lhe causou uma ânsia de vômito, Edward tinha os braços amarrados em direções opostas, sua cabeça estava pendida sobre o peito, enquanto os ferimentos ainda sangravam, Jasper não pensou em nada, apenas agiu no automático, para sorte de Edward sua tia era enfermeira e meio neurótica, então ensinou a Jasper todas as técnicas de primeiros socorros que ela sabia.

Primeiro Jasper tratou de desamarrar Edward, depois o levou para o mais longe possível dos cacos de vidro e com sua camiseta fez torniquetes para os ferimentos mais sérios, depois colocou a roupa nele e deu um jeito de arrastá-lo até o banco traseiro do seu carro, enquanto dirigia a toda velocidade para casa, ele só rezava para que os ferimentos não fossem tão graves quanto pareciam, chegando em casa, Jasper mais uma vez usou de toda sua força para levar Edward para o quarto.

– Você vai ficar bem... Você tem que ficar – Jasper tentava em vão se acalmar.

Já com Edward deitado na cama, Jasper começou a fazer o seu trabalho, pedaços e mais pedaços de vidro abandonaram Edward, quando os sangramentos estancaram o pulso de Edward já tinha estabilizado, Jasper estava terminando de suturar os ferimentos de Edward quando sua mãe chegou em casa.

– Merda, merda, merda. -Jasper xingou baixinho ligando o chuveiro, para fazer com que sua mãe achasse que ele estava no banho. os ferimentos de Edward estavam, limpos e suturados para o bem de ambos Edward protegeu seu rosto dos estilhaços.

Quando começou a anoitecer Esme, a mãe de Edward ligou para saber se o filho estava lá, Jasper explicou que Edward tinha enchido a cara por ter sido rejeitado por uma garota e estava em sua casa curtindo a ressaca, Esme não gostou nada dessa atitude, mas pelo menos ele estava na casa do primo e não jogado na rua, ou em um necrotério.

Mentir era algo que Jasper repudiava, mas desde que Edward começou a ser vitima das brincadeiras por parte da escoria do Liberty , Jasper decidiu que ia manter tudo por baixo dos panos, pelo menos o máximo que pudesse, já que a mãe de Edward seria capaz de por a escola a baixo, com tantas ações jurídicas que nem mesmo o mais influente juiz poderia desfazer o dano que ela ia causar àquela "instituição de ensino", mas a falta de provas acovardava Edward de por a boca no mundo.

No outro dia, Edward se vestiu para a guerra, seus ferimentos ainda latejavam, mas ele apareceu na escola como se nada tivesse lhe acontecido, com uma roupa bem leve, o que só lhe foi permitido por causa da aula de artes que ia ocorrer logo no primeiro tempo, ele se dirigiu para a sala de aula, seus músculos ardiam de tanta dor, mas para quem o via de fora não percebiam nada , o que fez com que os seus agressores ficassem furiosos e com isso voltassem a planejar mais uma brincadeira na qual Edward seria outra vez o brinquedo.

Edward andava em direção ao seu armário, com a cabeça erguida e o peito estufado, ele exalava determinação e audácia, o que irritou boa parte dos populares, afinal onde já se viu o maior nerd da escola os encarar de igual para igual?

Jacob queria humilhá-lo publicamente, como ele ousava se declarar para a garota dele? Dane-se se ela transava com mais da metade dos caras do colégio, sexo era só sexo, mas não; esse garoto queria que ela o amasse, e isso Jacob não podia aguentar, e foi movido por essa raiva incondicional que ele e os seus trogloditas arrastaram Edward até a antiga quadra de basquete, onde outra vez o ritual de tortura começou.

–Vejo que o Ed Bichinha está começando a criar garra, parece que ele está aprendendo a virar... Homem? - falou Jacob com escárnio, encostando com o indicador na marca feita no peito de Edward.

A dor lancinante daquele toque atormentava Edward, mas ele não demonstrava nenhuma dor e não dava um pio sequer e isso estava deixando Jacob, Emmett e James loucos de raiva, foi então que começou o festival de pancadaria, eles o batiam com o desejo de causar o máximo de dor possível.

–Não está doendo. Eu não sinto a dor. Ignore-a e ela o ignorará.–Edward repetia esse mantra em sua mente freneticamente, enquanto eles tentavam reduzir suas costelas a pedaços estilhaçados de ossos, seu nariz por pouco não foi quebrado, seu rosto tinha virado uma massa disforme de hematomas e sangue.

Eles queriam mesmo que inconsequentemente que todos soubessem o que eles tinham feito e isso de alguma maneira regozijava Edward, pois agora não ia ter como negar que ele tinha sido vitima daqueles trogloditas, pela primeira vez em anos eles estavam o batendo com os próprios punhos e pés, agora um simples exame de corpo de delito ia ser o suficiente para por a baixo a instituição intrincada de podridão, mas escondida sob a fachada de paraíso educacional.

Alice Brandon o projeto de jornalista investigativa do jornal da escola, acabou vendo toda aquela barbárie e mesmo que quisesse muito ajudar o garoto, não podia fazer nada, além de gravar tudo, era o seu instinto de auto sobrevivência falando mais alto, afinal se ela fosse bater de frente com aqueles monstros ela ia se dar muito mal, e gravando essa fita ela ajudava muito mais, pois com essa fita, ela podia dar um basta naquelas atrocidades.

Assim que aquele show de horrores acabou, e a escoria saiu deixando Edward desacordado, Alice desceu correndo da arquibancada, e encontrou Edward desacordado em cima de uma poça de sangue, ao perceber a gravidade dos ferimentos, Alice saiu da quadra correndo, mesmo querendo ficar ao lado de Edward para protegê-lo de qualquer outra investida daqueles covardes, ela teve de forçar os seus pés em direção ao laboratório de ciência, Onde com certeza encontraria Jasper.

Enquanto corria pelos corredores ela só conseguia se lembrar do sorriso diabólico de Jacob, mesmo a distancia, ela ainda sentia uma onda de medo a dominar, ela sabia desde muito cedo o que ele era capaz de fazer com quem atrapalhava um de seus planos, mesmo assim ela se mantinha obstinada na certeza de que tinha que ajudar a salvar Edward, nem que depois ela pagasse o preço por ter se posto contra a "Elite do Liberty"

–Jasper... É o Edward... Ele está machucado ... Lá na antiga quadra de basquete. – falou Alice entre uma golfada e outra de ar.

– Obrigado Alice- falou Jasper dando lhe um beijo no rosto e indo ao auxilio de seu primo.

– Apenas um fraco para proteger o outro. Que sorte a sua primo. - Jasper pensou ironicamente enquanto forçava suas pernas ao máximo para encontrar o primo.

Ao ver Edward jogado sobre a poça de sangue, Jasper só conseguia pensar que o pior tinha acontecido, começou checando a pulsação, depois a dilatação da pupila, Edward estava inconsciente, mas ainda vivo.

–Ed a gente falhou, mil perdões, mas eu vou por a boca no mundo e isso não vai ficar assim eu juro. – falou Jasper sacando o celular do bolso.

Enquanto Jasper esperava que sua mãe o atendesse, Edward reuniu o máximo de suas forças, para tentar impedir Jasper de chamar sua mãe, mas para a sua frustração o máximo de suas forças não era o suficiente nem para que ele erguesse um braço.

–Alô, Jasper aconteceu alguma coisa com você?- perguntou Aleixa.

– Mãe, eu preciso que a senhora mande uma ambulância aqui para a escola, o Edward apanhou de uns trogloditas, mas depois eu te explico tudo em detalhes.

Edward ainda lutava contra a dor e a falta de ar, quando a ambulância chegou à escola, o que mais lhe doía era ter perdido o controle do seu corpo, mesmo que por poucos segundos.

Os olhos da maior parte dos alunos pela primeira vez se voltou para ele com ternura, pela primeira vez não viram o nerd desengonçado, mas sim o garoto dócil e gentil, que eles tão prontamente humilharam e que agora corria serio risco de morte, uma culpa dominou boa parte daquelas pessoas, por entre a multidão Tanya observava o estrago que os covardes que ela tinha que considerar como amigos, quanto mais ela analisava os ferimentos de Edward mais ela ia sentindo o nó que se formou em sua garganta aumentar, era um misto de culpa e de muita vergonha, vergonha por que ela sabia quem tinha feito isso a Edward, mas não falou e nem falaria nada, apenas por que as convenções sociais a impediam, mas se Edward morresse ela sabia que ele ia ser um fantasma sempre ao seu lado, não aguentando mais ver aquela cena Tanya fugiu para longe, longe de Edward, longe de todos, longe do seu próprio julgamento.

Ao chegarem ao hospital o quadro de Edward era instável, sua pressão sanguínea estava baixa, sua respiração dificultosa e estava dando inicio a uma febre causada pela infecção dos vários ferimentos espalhados por seu corpo.Aleixa, sua tia olhava para seus ferimentos se perguntando como podia haver tamanha maldade em um lugar onde o maior objetivo era criar cidadãos responsáveis e cientes de seus papeis na sociedade e não gerar um bando de moleques egocêntricos e que se acham com direito de brincar com a vida dos outros.

–O quanto será que o meu menino já sofreu e eu não soube?- pensou alto enquanto guiava a maca com Edward pelos corredores em direção à sala de raio-X

Edward passou por exaustivas sessões de exames o que acabou contatando que ele teve três costelas trincadas e alguns ferimentos um pouco mais graves devido às pancadas, mas que não iam ter maiores danos.

A mãe de Edward ficou alucinada de ódio, quando viu o que fizeram com o seu filho, Edward permanecia dopado, então Jasper é quem foi tirado para cristo e teve de explicar tudo o que motivou Edward a ter mantido em segredo todos esses abusos, Jasper explicou tudo, mas de uma maneira evasiva que não exporia Edward, segundo a narrativa de Jasper, Edward nunca disse nada, pois tinha medo de que se fizesse algo a retaliação pudesse ser pior do que já faziam com ele e que a falta de provas concretas fariam com que o caso fosse logo esquecido, Esme ficou louca de vontade de se vingar de cada um daqueles filhos de uma mãe a sua maneira e de um jeito que eles soubessem o motivo de suas vidas estarem virando um inferno.

– Jasper pode contar nos cinco dedos da mão que eles vão pagar muito caro pelo que fizeram ao meu filho e eu juro que a vida deles não vai valer nada caso o pior aconteça com Edward. - Esme murmurou com o rosto lavado de lágrimas enquanto olhava Edward do outro lado do vidro da UTI. - Eu juro!.

Uma semana depois de tudo aquilo, Edward já tinha ido para o quarto, em mais uma semana, ele ia poder ir para casa, não podia haver tédio maior do que ficar deitado e de quando em quando sair para o banho de sol.

Edward tinha chegado há pouco tempo do banho de sol, isso tinha melhorado um pouco o seu humor, mas olhar novamente o seu reflexo no espelho do banheiro trouxe à tona outra vez a ira que ele tentava manter sob a camada de indiferença e de falsa paz. Olhar para o seu olho ainda arroxeado, e com uma mancha de sangue coagulado na esclera, o lábio terminando de cicatrizar, e sentir a fisgada de dor a cada vez que respirava aumentava o seu ódio.

– Boa tarde Edward - falou Bella se levantando da poltrona que ficava ao lado da cama de Edward.

–Boa tarde? Tem certeza de que não errou o quarto?- falou irônico, indo em direção à porta.

– Não eu não errei o quarto e antes que comece a dizer toda aquela ladainha de que eu sou uma líder de torcida e você um nerd e toda aquela merda clichê eu já vou te dizer, sim, pra mim você era invisível e não passava de mais um na multidão, mas agora pra mim você virou alguém.

–Eu sei, alguém fraco e digno de pena, eu sei.

–Errado de novo! Você se tornou alguém no momento em que se declarou para Tanya.

–Ah faça-me rir Isabella, Isso era legal e bonito nos meus antigos sonhos utópicos, mas hoje eu sei o que eu sou e onde é o meu lugar, eu sei muito bem que um nerd nunca vai ter um lugar de destaque no time de basquete, que nunca vai sair com uma das animadoras de torcida e que eu nunca vou ser eleito o rei do baile, e isso não me afeta. Não mais.

–Bom saber, mas eu sei que ai dentro, bem no fundo da sua alma tem uma sede de vingança e um pouquinho de orgulho ferido, e é com essa parte que eu vim negociar, eu sei que depois de tanto penar nas mãos deles, uma simples expulsão será pouco, eles são ótimos jogadores, são bem persuasivos e tem um puta carisma, ou seja, qualquer escola vai os querer em seu time, então a minha proposta é a seguinte: Eu te ajudo a destituir cada um, deixando-os humilhados dentro de seu próprio reino, onde sentirão a dor da inexistência e saberão como é pertencer ao outro lado da faixa.

Agora a vida tinha dado outra chance a Edward, uma chance de poder vencer e mesmo com vontade de se agarrar a essa oportunidade com unhas e dentes a parte racional o refreou e o fez lembrar que nada nessa vida nada vem de graça e que para um realizar um sonho desses o preço não devia ser nada, nada baixo.

–Ok, digamos que eu aceite, o que eu vou ter que te dar em troca?

–Nada de mais, eu só quero que você me ajude a estudar para as provas de admissão no campeonato estadual.-

–Eu vou pensar, apareça amanhã mais ou menos nesse horário.

–Que assim seja, amanhã aqui.- falou Bella se levantando e indo em direção a porta - Ah melhoras- falou antes de fechar a porta e deixar Edward preso em seu próprios pensamentos.