A menina de olhos tristes escrita por Angel Black


Capítulo 2
Capítulo 2




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Era muito cedo. Talvez seis ou seis e meia. Malfoy acordou meio aborrecido. Prestes a matar o desgraçado que invadira sua casa. Desceu meio trôpego de sono e parou no meio da escada. Ali, no meio da sala, a menina estava ajoelhada e limpava a mesinha de centro.

– Desculpe, Senhor... eu não quis acordá-lo. – disse a menina. – Eu não perguntei o horário e achei que deveria vir cedo.

– Cedo... não de madrugada... – falou Malfoy, esfregando os olhos. – Eu acordo cedo. Oito horas é cedo para mim. Seis horas é madrugada...

– O que o Senhor come no período da manhã? – perguntou ela, quando ele fez menção em subir as escadas.

– Qualquer coisa... – respondeu ele, entre os dentes, subindo para o conforto de sua cama.

Já era quase nove horas quando ele acordou novamente. Morar no campo era muito diferente de Londres e com certeza, muito distante de Azkaban. Durante 10 anos, só o que tivera de café da manhã foi dementadores tentando esvair de si toda a felicidade. Poder acordar numa cama quentinha, com lençóis confortáveis e o canto dos pássaros entrando pela janela, era indescritível.

Quando desceu as escadas, Malfoy se espantou. A casa parecia outra. Tudo estava ajeitado. O pó tirado, perfume de limpeza exalando pelos moveis e pela parede. E quando invadiu a sala de jantar, viu que havia pães, torradas, café, iogurte e outras coisas na mesa. O mais impressionante é que não havia nada daquilo em casa.

– Senhor... – disse a menina, entrando na sala. – Espero que não se aborreça. Eu peguei o dinheiro em sua carteira e fiz algumas compras.

Malfoy lembrou que na noite passada, um pouco antes de dormir, ele havia jogado o terno sobre o sofá do hall de entrada. Sua carteira estava no terno. O problema é que sua varinha também estava lá.

– Está bem! – disse ele, um pouco desconcertado. Na noite anterior, a menina nem quis tocar em sua mão, agora já pegara seu terno, sua carteira...

– Coloquei o troco de volta na carteira. – disse a menina.

– Sem problemas...- disse ele, embora estranhasse o comportamento dela - Como é que fez tudo isso em três horas... Que eu saiba, não há nenhum supermercado na esquina.

– Não... – disse ela, sorrindo. – Eu... eu.. eu ando de bicicleta. Desculpe por ter pegado o dinheiro sem sua permissão, senhor. Mas não havia nada para o café da manhã e eu achei que o senhor ficaria muito aborrecido se eu não tivesse feito nada.

– Tudo bem, Alice... você fez bem... – disse Malfoy, servindo-se de pão quentinho e manteiga. – Isso é néctar dos Deuses – disse ele, pensando na gororoba que costumava comer em Azkaban. Houve uma vez em que ele encontrara metade de um barata na gosma que deveria ser arroz com feijão. – Acho que precisamos conversar sobre as condições do seu trabalho. Horários, valores...

– Sim, senhor. – disse ela, sentando-se.

– Bem, imaginei que você iria me dizer quanto quer e qual horário quer cumprir.

– O que o Senhor quiser, está bom para mim.

– Você é sempre assim, submissa, menina? – perguntou ele, franzindo o cenho.

– O senhor é o patrão. – respondeu ela, simplesmente, mas abaixou mais a cabeça.

Alguma coisa muito grave havia acontecido com essa menina. Isso era óbvio. Ele não se importava em estipular horário, mas preço? Como ele iria estipular preço se só estava acostumado a dinheiro de bruxo. Só o que sabia era que sua fortuna em dinheiro de trouxa era equivalente a 8 bilhões. Deveria ser um bom valor, mas não tinha muita ideia do que isso significava.

– Você precisa me dizer um valor, qualquer valor... – insistiu Malfoy.

– Bem... eu trabalhei na casa da senhora Aurora e ela iria me pagar $500,00 euros por mês para trabalhar todos os dias, das oito da manhã até às seis da tarde.

– Uhm... Então, eu lhe pagarei $2.000,00 se puder trabalhar para mim durante todos os dias das oito da manhã até às nove da noite.

– Acho que isso é muito, Senhor... Sua casa está muito suja, agora, mas depois de alguns dias, não terei muito serviço para fazer aqui.

– Não me importa... preciso de alguém aqui permanentemente para fazer minha comida. Acho que isso não é mais do que justo. Na verdade, justo mesmo seria lhe pagar $3.000 euros, mas acho que você não aceitaria essa quantia – disse Malfoy, tentando usar de alguma psicologia reversa.

– Tudo bem, senhor. – respondeu ela, sorrindo.

Malfoy passou o dia inteiro no sofá, lendo um livro, enquanto Alice esteve para cima e para baixo, limpando, ajeitando, esfregando. A casa já estava mais do que limpa e ainda assim, ela não parava quieta no lugar e quando sumia era para lhe fazer algo para comer. Malfoy descobriu que além do café, a garota havia comprado carnes, verduras e frutas. Pobre garota, teve que trazer tudo na bicicleta. De qualquer forma, aquilo foi bom, pois não queria ter que aparecer em publico tão cedo.

A noite, a menina lhe preparara uma deliciosa lasanha, coisa que Malfoy já não sabia o que era há séculos. Ele saboreava cada mordida enquanto a menina ficava em silencio, observando-o se alimentar e só comia quando ele insistia para que ela o fizesse.

Já era quase nove horas, quando Malfoy escutou um batido em sua porta e atendeu. Era uma senhora muito parecida com Alice e Draco julgou ser sua mãe.

– Onde ela está? – gritou a mulher, entrando na casa, sem que Draco lhe dissesse nada.

– Mãe? – perguntou Alice, surgindo no hall de entrada.

– Ah, menina... aí está você... venha... venha para casa agora mesmo.

– Espere um pouco! – disse Malfoy, aborrecido com o comportamento da mãe de Alice. – O horário de saída de Alice é às nove!

– Alice... seu pai descobriu que você foi ao supermercado sem a autorização dele. Ele está bufando em casa e você sabe o que vai acontecer. Vem agora mesmo pra casa. – disse a mulher, puxando Alice pelo pulso.

– Não mesmo! – disse Malfoy, segurando Alice pelos ombros, mas no mesmo instante ela se encolheu e ele a largou. Apesar de tudo, ele continuou – Alice foi no supermercado porque eu mandei. Ela estava cumprindo as minhas ordens.

– Você não entende, moço...

– Eu preciso ir, Senhor... Eu virei mais cedo amanhã para compensar... – respondeu ela e saiu com a mãe.

Malfoy ficou ali, olhando para a menina se afastando de sua casa. A mãe lhe dizia algo, isso era óbvio. Provavelmente brigava com ela. Que diabos estava acontecendo ali? A menina não tinha permissão para ir à Igreja? Bem, até aí tudo bem. Talvez os pais fossem de religião diferente, mas ir ao supermercado? Quem em sã consciência proíbe uma menina de dezessete anos de ir ao supermercado?

Não... aquilo já era demais e iria tirar isso a limpo. Seguiu-as de longe. A casa de Alice ficava num declive, perto da estrada que ia para o centro da cidade. De longe, parecia ser uma casa normal, de perto, Malfoy percebeu que havia muita madeira cortada ao redor da casa. Todas as janelas eram reforçadas com madeira, como se eles não quisessem que alguém entrasse. Malfoy observou-as entrando na casa. Houve alguma confusão. Malfoy escutou os berros de um homem. Em seguida, escutou o barulho de alguém sendo esbofeteado e o estrondo de um corpo frágil caindo ao chão.

– Filho da mãe! – disse Malfoy e correu em direção à casa, abrindo a porta com estrondo. No hall de entrada da casa, todos simplesmente pararam ao vê-lo ali parado.

Malfoy viu que Alice estava no chão. Tinha uma das mãos na bochecha. A outra usava para se apoiar no chão. Em pé, ao lado dela, um homem de pelo menos dois metros de altura. Ele vestia botas compridas, calças de jeans e uma camisa amarelada do mesmo tecido que Alice vestia. No canto da sala, estava a mãe e com ela, mais quatro crianças menores que Alice.

– Posso saber o que está acontecendo aqui? – perguntou Malfoy, desafiando o homem. O tamanho dele não lhe botava medo. Nem precisaria usar de magia para dar alguns murros na cara dele.

– Quem é você? – perguntou o homem, franzindo o cenho.

– É o senhor Malfoy! – respondeu Alice, levantando-se imediatamente. – Ele já vai embora, pai...

Alice aproximou-se Malfoy, colocou as duas palmas no peito dele e tentou empurrá-lo para fora, mas Draco não moveu nem um centímetro do lugar.

– Por favor, o senhor precisa ir embora! – suplicou Alice com os olhos cheios de lágrimas.

Malfoy percebeu que o lábio dela estava cortado e a bochecha começava a inchar.

– Esse troglodita bateu em você, Alice? – perguntou Malfoy, tentando segurar os pulsos deAlice, mas ela se afastou no mesmo instante.

– Ele tocou em você, Alice? – perguntou o pai dela, dando alguns passos em direção à Malfoy.

– Não, pai... não tocou. – disse ela, desesperada, entre os dois. – Por favor, senhor, vá embora... por favor, eu imploro...

– E deixar você sozinha com ele? Não, Alice, eu acho que não. Olha, aqui, PAI da Alice. Eu posso ser a pior pessoa na face da terra, mas eu jamais bateria numa menina indefesa. Principalmente, se essa menina fosse minha filha...

– O senhor não sabe do que está falando – falou o pai de Alice, cuspindo no chão. – É melhor sair da minha casa, antes que eu chame a polícia.

– Ótimo, chame a polícia... – disse Malfoy, sorrindo. – Tenho certeza de que eles vão adorar saber que o senhor bate em menininhas...

– A polícia sabe. Eles sabem o que ela é.

Malfoy olhou para o velho e depois para Alice. Ela abaixou tanto a cabeça que era quase possível ver sua nuca.

– E o que ela é? – perguntou Malfoy, franzindo o cenho.

– Por favor, senhor... vá embora... – disse Alice e agora ela chorava copiosamente.

– Alice... eu não sei o que você é... mas nunca devemos ter vergonha do que somos, não importa o quão ruim isso possa parecer aos olhos dos OUTROS. – disse Malfoy olhando para o PAI de Alice prestes a esmurra-lo.

– Eu preciso que o senhor vá embora... porque não me deixa em paz...? – falou Alice, entre soluços.

– Está bem, Alice – disse Malfoy, achando que seria muito difícil ajudar Alice se ela mesma não queria ajuda. – Mas eu só vou se você me prometer que estará amanhã às oito no trabalho.

– Eu prometo... agora por favor vá embora. – disse ela, ainda com a cabeça abaixada.

– E espero que você não tenha mais nem um arranhão, Alice, ou seu pai irá se ver comigo! – disse Malfoy sustentando o olhar ameaçador do pai de Alice. – Você não tem ideia do que EU SOU e nem do que eu posso fazer com pessoa como você!!! Se o senhor a machucar novamente, irá se arrepender pelo resto da sua vida...


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