Katniss e Peeta - Reaproximação escrita por pce19
Peeta está parado na minha porta, com os olhos vermelhos, ofegante, seu peito sobe e desce com sua respiração pesada. Ele segura um pincel em cada mão, manchados de tinta vermelha, que pingam no chão do meu quarto.
– Peeta? Ta tudo bem?
Ao som da minha voz seu rosto se transforma numa expressão dura.
– Tudo isso é culpa sua Katniss. Tudo. O sofrimento de Panem inteira é sua culpa! Você não poderia simplesmente ter morrido com as amoras? - ele grita - agora Prim, Finnick, meus pais, milhares de pessoas estão mortas por capricho seu!
– Peeta ... - eu começo a tremer, e engasgar, tento com todas as forças segurar meu choro, mas ele vem em soluços emitindo sons ridículos e não consigo parar.
Então eu vejo que não são pincéis em suas mãos. Sãos facas. E o que escorre delas? Sangue. De repente ele pula em minha direção, e sobe em cima de mim. Tentando fincar as facas no meu corpo.
– Você merece morrer! - ele fala entre os dentes.
Parte de mim realmente quer morrer, mas meu instinto me leva a lutar. Tento segurar seus braços, ele é pesado, e corta meu ombro, eu grito. Esperneio, tento sair debaixo dele.
– Peeta não! Por favor - imploro aos berros - Por favor Peeta não. É um flashback. Flashback! - ele encosta a ponta da faca em meu peito.
– Cala a boca Katniss! - seus olhos que já foram azuis e dóceis, agora pegam fogo. Raiva. Ódio.
– Por favor - eu sussurro entre os soluços do meu choro - sou eu Peeta. Sou eu. Por favor.
Ele ergue seu braço esquerdo com a faca em punho e o desce com força em minha direção gritando. Eu abro os olhos, e sinto seus braços em minha volta, me debato com violência.
– Katniss ... Shh ... Shh. Ta tudo bem, tudo bem - ele mantem os braços segurando meu corpo trêmulo junto ao dele, me balançando num ritmo constante.
Eu só consigo chorar e soluçar. Me agarro ao seus braços deixando que meu choro se transformasse em sons mais altos.
– Calma - ele acaricia meu cabelo e beija minha testa - Ta tudo bem. Acabou. Acabou. Não era real.
Ficamos um tempo assim. Ele me acalmando e meu choro diminuindo conforme vejo que era apenas mais um dos muitos pesadelos. Ele estica o braço pegando uma garrafa d'água que fica no criado-mudo do lado direito, e coloca em minhas mãos. Eu me sento melhor - ele ainda com o braço esquerdo em volta das minhas costas - e bebo alguns goles.
– Obrigada - minha voz quase não sai
– Eu achei que você estava me chamando.
Limpo meu rosto molhado com o dorso da mão. Tampo a garrafa.
– Mas - ele para uns instantes - eu vi que era mais um pesadelo, por que você se debatia inteira.
Eu ainda não consigo falar.
– Quer me contar?
Eu digo que não com a cabeça. Não suportaria repetir pra ele o sonho em que ele tenta me matar e me culpa de coisas horríveis e não cair em prantos novamente.
– Tudo bem. Tudo bem.
Ele silencia apenas me observando, e então passa a mão levemente sobre meu rosto, por onde as lágrimas escorriam. E então encosta na da cama.
– Ás vezes eu escuto Haymitch. Gritando por seus pesadelos.
– Você também ainda tem?
– Sim. As vezes eu os tenho e quando acordo, em seguida vem os flashbacks.
Ouvir aquilo me machuca, e eu não consigo dizer nada.
– Esse lugar deveria se chamar Aldeia dos Pertubados - ele diz sério.
E eu não contenho o riso.
– Concordo. Como Haymitch me disse uma vez, não há vitoriosos, apenas sobreviventes dos Jogos. Sobreviventes pirados.
– E a gente ainda achava a Annie pirada - ele expressa certo remorso.
– Cada um adquiriu sua dose de loucura.
– Verdade. Katniis? - seus olhos da cor do céu, brilham intensamente conforme a luz do dia entra pela janela do quarto. São lindos. Perfeitos.
– O que? - digo tentando não me perder em seu olhar.
– A gente precisa ajudar o Haymitch. Ele afunda mais cada dia que passa. Sobreviveu aos jogos a rebelião, mas vai acabar morrendo por falência dos órgãos pela bebida.
– Nós nunca o conhecemos sóbrio Peeta.
– Eu sei disso. Mas agora passou dos limites. Ele come os pães que eu levo com doses de vodka, seria até engraçado se não fosse tão trágico. Ele bebe o tempo todo. A pele dele já exala o cheiro do álcool.
– Você sabe que ele nunca vai aceitar ajuda - não quero frustrar seus planos, mas é a realidade - Haymitch é cabeça dura.
– Como você.
Esse comentário me faz calar, porque me lembra quando estávamos nos primeiros Jogos e ele disse a mesma coisa. Que Haymitch e eu éramos parecidos. Na época senti certa raiva. Mas agora o que ocorre em meu peito é saudade. Do velho Peeta. E por um instante me pego sorrindo sozinha me lembrando de quem ele era.
– Acho que devemos isso a ele - Peeta fala me trazendo de volta a realidade - apesar de tudo, ele cumpriu sua tarefa como nosso mentor.
– É. Manteve-nos vivos. E como faremos isso?
– Eu ainda não sei. Acho que ele precisa de alguma distração.
– Eu e você distrairmos Haymitch? - me vem na memória que o conceito de distração que o próprio Haymitch tem sobre nós, éramos sermos os "amantes desafortunados do 12 perdidamente apaixonados"
– É. Foi a única coisa em que consegui pensar.
– Tem que ser sutil. Haymitch é muito inteligente, e se ele perceber que estamos fazendo isso vai se enfurecer.
– Certo - ele forma aquele vinco de concentração com suas sobrancelhas,que eu costumava admirar enquanto ele pintava - acho que vou chamar ele pra almoçar conosco hoje. Vou dizer que você não está muito bem, o que não deixa de ser verdade, e pedir que ele coma com a gente.
As palavras "conosco" "com a gente" no contexto dessa frase, me causa um frio inesperado na barriga. Peeta e eu. Nós. Fazendo algo para Haymitch. A ideia é boa, eu apenas concordo, sem dizer nada. Meditando em tudo o que vem acontecido de ontem pra hoje.
– Vou pra minha casa tomar um banho e volto pra gente tomar café. Vai ficar bem? - ele se levanta.
– Vou.
– Então - ele parece meio confuso em como se despedir - até daqui a pouco.
Ele sai. E eu me deito novamente, dessa vez com Buttercup enrolado em meus braços.
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