Bato meus braços, movimentando ao mesmo tempo minhas pernas com a maior força que consigo, sinto a força da correnteza sob meu corpo e quando meu rosto sobe a superfície para que eu possa tomar ar, "Prim!" é a única palavra que escapa da minha boca. Água, água salgada entra levemente pela minha boca e nariz, enquanto eu nado ferozmente em direção a Cornucópia. Ela está ali, a menos de 20 metros de mim, gritando por meu nome, por socorro enquanto as chamas atrás dela estão a poucos metros de alcançá-la, e eu nado até ela, sentindo meus braços doerem, mas não paro. Ela não pula na água, afinal não sabe nadar, mas eu vou salvá-la, eu vou.

Enquanto mergulho, ouço-a gritar por mim, várias e várias vezes, há desespero em sua voz. Subo a superfície e então o vejo. Gale. Ele possui seu arco com uma flecha de fogo, mirando nela, como se fosse um dos coelhos ou qualquer outro animal que costumávamos abater na selva. "Gale não!", então percebo que me tornei uma Avox, por mais que me esforce em gritar, implorar para que ele não faça isso, som algum sai da minha garganta. Eu mergulho novamente, na tentativa de chegar antes que seja tarde demais e eu nado mais rápido, sentindo meus pulmões arderem, escuto um som. O corpo dela cai na água é quando percebo que a água virou sangue, sangue dela. E está sobre todo o meu corpo. Estou nadando no sangue de minha irmãzinha. Grito desesperadamente. E então acordo.

Estou apenas sob o colchão, tudo o que havia na cama, os lençóis, o travesseiro estão todos no chão. Buttercup esta na porta, olhando pra mim, assustado. Estou tremendo. E suando inteira, coloco a mão em minha nuca e a sinto toda molhada. Passo sobre a testa, entao vejo que o gato pula em minha cama e se aninha entre minhas pernas. Faço um cafuné nele - ainda estranho dar carinho a ele - e o pego no colo enquanto me dirijo ao banheiro, colocando-o sobre a pia. Lavo meu rosto deixando a agua fria escorrer por meu pescoço. Buttercup aproveita a torneira ainda aberta e bebe alguns goles d'água. Olho no espelho e já não me assuto a imagem que reflete. Fecho a torneira e saio do quarto.

Buttercup deita na cama de volta.

- Não vou voltar.

Ele me observa então se vira e deita, de costas pra mim. Ignorando-me.

Desço as escadas e vou até a cozinha, procuro café. O relógio marca 3:48 da manhã. E sei que não vou dormir mais essa noite.