Eu desci as escadas e entrei na cozinha depois de um tempo encarando a parede do meu quarto igual retardada. O “presente” que Loki havia me dado estava no fundo do bolso do meu short jeans azul-escuro. Eu escutava risadas da cozinha e respirei fundo, entrando lá. Todos os olhares se direcionaram para mim.

— A Bela Adormecida finalmente saiu do seu sono — Anthony debochou, sentado na ponta da mesa, e eu fechei a cara.

— Vá se foder, Stark — xinguei, indo sentar bem do outro lado da mesa, do lado de esquerdo de Natasha e direito de Sarah. Assim que me sentei, Natasha colocou a mão em meu braço.

— Parabéns atrasado, Davina. Não consegui te encontrar antes, sinto muito — falou, e eu sorri fraco.

— Obrigada, Natasha — agradeci, retirando meu braço da sua mão, e disfarçando pegando a garrafa de refrigerante. Não é que eu não gostava da Natasha, eu só... Sei lá, nunca tinha ido com a cara dela direito. Nada particular — Está morando na mesma casa ainda, Sarah?

— Tenho que agradecer meus pais depois por nunca terem vendido aquela casa, ou eu estaria desabrigada agora — ela respondeu, e eu ri, pegando uma garrafa de sua mão — Ei!

— O que é isso? — perguntei, tentando sentir o cheiro.

— Vodka — respondeu, tentando pegar a garrafa de volta, mas eu tirei de perto dela. Dei mais uma olhada na garrafa, e derramei um pouco no meu copo de Coca-Cola — Credo, como você consegue misturar isso?

— Como você consegue tomar esse troço puro? — devolvi a pergunta, quando ela finalmente conseguiu pegá-la da minha mão e colocou o resto do conteúdo no seu copo. Revirei os olhos e beberiquei um pouco do conteúdo do meu copo — Bem melhor — sorri, dando um gole maior, mas engasgando completamente quando olhei para a janela da sala.

— Você está bem? — Clint olhou assustado para mim, junto com todos na mesa, que consistiam em Chloe, Cameron, Rogers, Stark, Banner, Thor, Romanoff, Barton, eu e Sarah. E agora, eu, que estava sentada na ponta da mesa, perto da saída dos fundos, que dava para o caís, estava olhando para um Loki bem sorridente do outro lado da janela. Ele enlouqueceu?!

— S-Sim — gaguejei, desviando os olhos dele, que apontou com a cabeça para o lado, indicando para eu sair. Eu praticamente tropecei para fora da cadeira, tremendo mais que cachorro na chuva fria — Eu só, ah... Já volto! — falei um pouco alto demais, correndo para a porta dos fundos e praticamente quebrando as dobraduras quando eu bati nela com força — Ouch — resmunguei baixinho, fechando-a atrás de mim e andando rapidamente até o caís, enquanto massageava meu nariz, que doía pela batida. De longe, eu já conseguia vê-lo parado na ponta do caís, encarando o mar a sua frente, suas mãos como sempre nas suas costas.

Meus passos ecoavam enquanto eu praticamente marchava até ele.

— Você perdeu o amor à vida?! — chiei completamente irritada, parando atrás deles com a respiração um pouco descontrolada por causa da raiva — Quer morrer? É isso?

— Não, porque? — perguntou inocentemente, ainda sem se virar para mim.

— O que deu na sua cabeça para aparecer assim? — eu andava de um lado para o outro no caís um pouco pequeno, balançando as mãos no ar de uma maneira engraçada — Por acaso tinha ideia do que diabos aconteceria se algum deles se virasse para o lado?!

— Eu tinha noção dos riscos — deu de ombros, e eu o encarei incrédula, balançando a cabeça levemente.

— Você é louco — avisei, dando alguns passos para trás — É a única definição para você! Deviam trocar seu nome de Deus da Trapaça para Deus da Loucura! — eu sibilava irritada por ele sempre aparecer nas piores horas possíveis. Se antes todos estavam achando que eu sumia à toa, agora eu tinha praticamente escrito em um tijolo e jogado na cara deles que tinha alguma coisa acontecendo! — Eu estou tão ferrada se eles sequer imaginarem o porquê de eu sair daquele jeito! Pare de estragar minha vida!

— Eu não estou estragando sua vida, você faz isso por si própria — ele disse, finalmente se virando para mim com o mesmo sorriso sarcástico, divertido e malicioso de sempre.

— Cale a boca, eu não estou falando com você! — chiei com mais raiva ainda por ele ter atrapalhado o meu monólogo — Qual é o seu problema? O que você quer agora, para ter feito uma coisa tão arriscada assim?

— Você acordou antes de eu terminar de falar coisas importantes — deu de ombros, e seu sorriso aumentou um pouco — Falando nesse assunto, você ainda não me disse se gostou do presente.

— Vá para o inferno! — rosnei, e ele riu levemente.

— Estou em Midgard, Anjo. Isso já é o que vocês chamam de Inferno — falou, sua voz com desgosto.

— Pare de me chamar de Anjo, porra! — praticamente implorei, minhas mãos fechadas em punhos ao meu lado — E mais respeito com o meu planeta! Só porque você é um principezinho de quinta categoria no seu mundo, não quer dizer que vai ser tratado como um aqui não, então mais respeito!

— Porque eu teria respeito com isso? — ele perguntou com nojo, olhando um pouco a sua volta, como se procurasse alguma coisa para gostar. Seus olhos pararam em mim e ele sorriu. Antes que eu pudesse responder alguma coisa bem malcriada, ouvi a voz de Cameron vir atrás de mim.

— Davina! — ele chamou, e eu me virei para ele, que estava parado um pouco antes do caís começar — É melhor você voltar para lá, porque tem uma pessoa chamada Steve Rogers que quer de todo jeito vir aqui e ver o que está acontecendo, e não posso garantir que ninguém vá vir junto.

— Dois minutos! — pedi, vendo ele se afastar novamente e me virei para Loki de novo — Fale logo o que você tem que falar e suma da minha frente!

— Porque a pressa? — perguntou, deixando sua cabeça pender levemente para o lado, em uma falsa confusão.

— Você é surdo? Ande logo, antes que alguém realmente apareça aqui e me pegue falando com você! — eu briguei, e como se por pura magia, eu ouvi uma voz tão forte como um trovão soar atrás de mim.

— Loki! — Thor gritou a alguns metros de distância, e meu corpo gelou.