Minha barriga roncava e a fome acabou me acordando. Queria tanto abrir os olhos e ver que tudo aquilo foi um pesadelo, que nada disso estaria acontecendo, mas as correntes ainda estavam firmes em meu pulso, e assustei quando vi o que estava do meu lado. Aquilo poderia ficar pior? A pirralha mimada da Renesmee estava junto comigo, acorrentada também. Eu bufei e voltei a encostar a cabeça no chão duro.

  - Eu também não estou nada feliz em estar aqui, ainda mais com você.

  - Aham, estou pulando de felicidade. Porque está aqui?

  - Fui atrás do Jacob.

  - E era mais um "espírito"?

  - É, era.

  - Porque foi atrás do Jacob?

  - Por que... Ele estava atrás de você.

Fico pensando... Até onde pode ir o egoísmo das pessoas? A Renesmee consegue se superar, realmente. Levantei-me e fiquei olhando pra ela que esta voltou a olhar como se estivesse surpresa pela minha atitude.

  - Pode me dizer como você consegue ser tão egoísta?

  - Ei! Eu já ouvi a minha cota de sermão está bem? Sua prima falou muita coisa pra mim já.

  - Não, você pode ouvir uma bíblia e ainda assim não é o suficiente. Ele estava tentando ajudar. Entende que não adiantou nada porque agora você está aqui? E além do mais, agora ele está realmente sofrendo, não precisava disso.

Ela ficou calada e virou para o outro lado. Sinceramente, eu não vou agüentar tanto tempo com essa garota aqui. Ouvi alguns passos e logo Michelle entrou com dois pedaços de pão e dois copos de água. Agora sim, eu estou me sentindo em uma completa penitenciária.

  - Um pão?

  - Se você quiser ficar com fome garotinha, fique a vontade.

  - Como vou comer com essas correntes me segurando?

Michelle apontou para as correntes e fez com que elas se estendessem em um tamanho necessário para eu pudesse pegar o pão e a água. Bebi praticamente toda a água, não tinha percebido o quanto sentia sede e fome, mordi alguns pedaços do pão e ao ver meu reflexo na água cristalina que tinha no copo eu pude ver que o corte profundo que tinha na minha cabeça não estava mais ali. Passei a mão e não sentia nada, meus cortes superficiais também havia sumido, meu rosto estava como se nunca tivesse nenhum machucado ali.  

  - Ah não.

Michelle de repente ficou muito nervosa e frustrada. Começou a andar de um lado para outro falando baixo e eu não consegui distinguir o que era, mas tinha alguma coisa errada. Eu nunca tive o poder de me cicatrizar sozinha, porque agora? O véu de sangue. Se o feitiço desse certo nós ficaríamos mais poderosas, e quem sabe até poderíamos acabar com essas duas infelizes. Terminei de comer o pão e olhei para o prato de Renesmee que permanecia intacto.

  - Não vai comer não?

  - Não gosto muito de comida humana.

  - Obrigada.

Puxei o prato dela e comi o pão que ainda tinha. Ah qual é? Eu estou há dois dias sem comer direito, também sou filha de Deus.

  - A lua azul é na quarta e...

  - Quarta?

  - Sim o calendário está errado.

  - Mas...

  - Isso tem que ser feito logo antes que não dê mais tempo. Se a outra chegar aqui com os vampiros e lobos estamos perdidas.

  - Eles vão chegar logo. Meu pai não vai me deixar aqui por muito tempo.

  - Ah cala boca pirralha mimada.

Eu comecei a rir da cara que Renesmee fez e depois ela bebeu um gole de água e voltou a encostar a cabeça na parede.

  - Rachel...

  - Sim?

  - Acha que a gente vai sair daqui?

  - Bom, acho que sim.

  - Eu não quero ser sacrificada.

Eu não respondi porque se respondesse ela não gostaria da resposta e uma coisa que eu aprendi vendo aqueles filmes de cadeia é que precisa manter a paz com o companheiro de cela, mesmo que ele seja uma garota mimada e egoísta.