A sexta-feira chegou em uma velocidade absurda. Os dois dias que haviam passado tinham sido de êxtase para os dois. Lucas não cabia em si com os sentimentos que estava sentindo, ao mesmo tempo que estava em dúvida sobre o fim de semana. Acreditava que as chances de Rodrigo não aceitar o convite e arrumar uma desculpa qualquer era muito grande.

Em contrapartida, Rodrigo, que apesar de não ser o mais popular, mas convivia mais com as pessoas que o outro, não sabia enquadrar onde as sensações que estava tendo em relação ao professor se enquadravam. Tentava, por curiosidade, lembrar do que sentia com Mariana pra ver se chegava perto, mas não, era totalmente diferente. O que estava sentindo por Lucas o fazia sentir bem, apesar de todas as perguntas que reinavam. Pensando nisto, na hora do almoço, resolveu entrar em sua rede social e perguntar via-rede social o número dele. Lucas havia enviado o convite para conectarem-se numa rede no dia que conversaram, e já tinha visto a página dele. Como o esperado, era extremamente reservado, compartilhava apenas coisas que tivessem a ver com o jornalismo, dicas de sites de pesquisa, como se fosse apenas professor. Mais uma vez Rodrigo estranhou o fato dele parecer não ter ninguém na vida, nem ao menos amigos, vizinhos, coisas assim. E a curiosidade em relação a ele apenas aumentou.

Lucas não acreditou quando ao atualizar a página, viu a mensagem de Rodrigo. Estava ansioso por isto, resolveu dar este espaço a ele, apesar de sempre não resistir e dar uma olhada no que conseguia no perfil do mais novo. Esperava que fosse uma resposta afirmativa que fosse receber. Enviou seu número e quase no mesmo instante o outro telefonou.

—- Alô, Lucas?

—- Oi, sim, sou eu Rodrigo, tudo bem?

—- Sim, tudo bem. Estou em meu horário de almoço.

—- Hum, legal – LEGAL?! Droga, não sabia como agir. E ainda havia cogitado passar um dia inteiro com ele. 

—- Então, eu telefonei pra falar sobre o convite de quarta-feira... ainda está de pé?

—- É.. claro! – não estava acreditando—Você vai poder ir?

Rodrigo sentia uma insegurança na pergunta do outro, e jurava que não entendia. Claro que ele era muito mais experiente que ele, já que devia ter tido este tipo de relacionamento com outros homens. Por que então esta relutância toda?

—- Sim, acho que sim. Não tenho nada marcado para o sábado – Tentou agir como se fosse apenas mais um convite qualquer.

—- Perfeito, é... quer dizer, se fica bom pra você, por mim ok!—tentava mostrar indiferença. Mas só tentava. Estava feliz demais!

—- Então é isto, tenho que acabar aqui e voltar para o trabalho. A gente se vê hoje à noite no campus?

—- Não, hoje eu não leciono. Até amanhã então. Posso ir te buscar se você quiser...

—- Se não for um incomodo, pode ser sim. – Rodrigo pensou em sugerir algo, mas não tinha certeza. Não queria que Lucas imaginasse coisas, ao mesmo tempo que queria passar mais um tempo com ele. Ai estas sensações!!—Lucas?

—- Sim, fale.

—- Estava pensando, a gente poderia ir pela manhã, almoçar por lá. O que você acha?

Lucas quase teve um desmaio. Um frio na barriga, parecia flutuar. Mas tentou parecer estar normal.

—- Acho que seria legal. Combinado então, às 9h passo em sua casa? – a vontade que tinha era de nem dormir, já ir agora espera-lo em frente de casa. Que patético estava ficando. Mas não se importava.

—- Pode ser. Até mais então. Tchau!

— Tchau!

***

E a manhã de sábado chegou. Era 8h e Lucas já estava pronto para sair. Deu uma revisada em sua bolsa, estava levando os equipamentos para fotografar o dia lindo que prometia fazer. Segundo a previsão, não haveria muito sol, mas o inverno gaúcho é também muito inspirador. Ainda mais para quem é nostálgico e não muito alegre em demasia como ele.

Havia marcado com Rodrigo apenas às 9h, não demoraria nem 15min. de carro até a casa dele, mas estava com medo de se atrasar. Decidiu tomar um café pra ver se acalmava. Na noite anterior a madrugada foi difícil novamente. Pensava seriamente em procurar alguma ajuda, pois não conseguir dormir estava acabando com ele. Sua alimentação também não era das melhores, mas nunca prestou muito atenção nisto, não enxergava razões para isto. Mas foi só conhecer Rodrigo que tudo parecia ter mudado. Ontem até mesmo fez compras no supermercado, coisa que tem muito tempo não fazia. Tentaria realizar as refeições em casa, ao invés de passar o dia comendo coisas nada saudáveis. “Ai guri, o que você está fazendo comigo?”. Lucas torcia apenas para que o tombo não doesse muito quando tudo isto acabasse. Porque ele tinha certeza que um dia acabaria, como tudo que ele já tratou como importante em sua vida.

Quando Lucas chegou, 8h45 da manhã, Rodrigo já estava pronto. Olhou na janela pra confirmar como estava o clima e viu o mais velho estacionado em frente ao seu prédio. Sensações diversas já começaram a tomar conta dele, “a esta hora!”, pensou. Sentia-se especial ao constatar que Lucas chegou antes em sua casa, talvez até mesmo por medo de se atrasar. Para não deixar o outro esperando, saiu de casa tomando café em sua caneca térmica. Quando bateu na janela percebeu a surpresa do outro ao vê-lo chegando uns minutos antes também.

—- Bom dia, Lucas.

—- Olá, Rodrigo, bom dia. – respondeu com sua reserva costumeira – Eu cheguei mais cedo, pensei que seria mais demorado – esperava estar convencendo com esta desculpa. Mas sabia que não, ele já havia levado ele em casa, conhecia o trajeto.

—- Tudo bem, eu também fiquei pronto mais cedo. Vamos? Eu acho que sei guiar você até lá. Mas me diga que tem GPS no carro! – tentou quebrar o gelo da manhã.

—- Sim, eu tenho, perdidos não ficaremos. Então vamos.

Durante o trajeto, não conversaram muito. Rodrigo pediu para usar a câmera de Lucas, fez algumas fotos, ouvindo as dicas que o outro lhe passava. Ambos pareciam saber bem até onde deveriam ir. O mais velho não queria pressioná-lo, por isto, falava dos assuntos mais triviais possíveis, apesar de às vezes querer saber mais. Já Rodrigo não estava mais incomodado com a presença de Lucas, apesar de ainda sentir coisas que lhe eram estranhas. Sabia que haveria algumas horas pela frente e só imaginava o que poderia acontecer. Não queria passar de amizade com ele, mas também não gostaria de magoá-lo e ver ele se afastar. Passou a sexta-feira inteira pensando no que fariam no dia seguinte, e isto o fez perceber que estava de fato trazendo o mais velho para sua vida. Após um tempo indo para a praia, decidiu deixar a preocupação de lado e ser ele mesmo. Nunca havia burlado seus sentimentos, sempre foi sincero consigo. Apesar de alarmante, sabia que não adiantaria nada lutar contra o que estava sentindo, mesmo que estivesse assustado. E com isto descobriu que não haveria jeito, já estava encantando com tudo que Lucas poderia ser em sua vida.