Aprendendo a Amar escrita por Agridoce


Capítulo 39
E é Por Isso Que Eu Te Amo


Notas iniciais do capítulo

oi, gente!
Primeiramente, como vão vocês? Eu espero que bem. E também com saudades destes dois, como eu estava. ♥
Quero agradecer os acompanhamentos e comentários do capitulo passado. A troca que acontece por lá é mágica e sempre me deixa muito feliz em continuar. Aqueles que ainda não mandaram um olá ou suas impressões, passem pelos comentários, leiam o que o pessoal enviou... acho que seria muito legal. E se assim, sentirem vontade de também enviar alguma coisa, por lá ou mensagens, sintam-se à vontade!
Bom, vamos ao capítulo, já falei demais. Acho que ele ficou grande, mas espero que não de um jeito enfadonho de ler.rsrsrs
beijos e obrigada por todo o carinho.
PS: escutem essa música. Eu descobri essa versão e a letra é tão linda. Super a ver com Luke e Rodrigo, super me inspirou. E é trilha de uma animação muito fofa.

https://open.spotify.com/track/1JY9hsqLWZ3JB3K39Ve1xF

https://www.letras.mus.br/justin-timberlake/true-colors/traducao.html

A música chama True Colors, e tem como cantora original Cyndi Lauper na versão original.

O que acharam?

Atenciosamente
Agridoce



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— Então, podemos conversar agora?

Luke e Rodrigo chegaram em casa e, como quem já está acostumado com cada passo do outro, coordenadamente, jantaram as panquecas que Solange deixou ali pra eles mais cedo, tomaram banho e agora se encontravam no quarto do moreno.

— Tenho outra escolha? – Rodrigo não conseguiu deixar de gracejar.  Neste tempo, desde que saíram do campus até agora, percebeu que tinha feito tempestade em copo d’água. Já deveria estar preparado pra reação de Maiara, não é? Então, “não tinha acontecido nada fora do esperado” ele tentava se convencer.

— Até tem... mas não quero te oferecer outra escolha que não seja falar sobre o que aconteceu contigo hoje mais cedo. – Luke estava curioso em saber o que o loiro sentia já que era raro ele parecer estar inseguro, assim como estava nesta noite. – Por favor?

—Então, a Maiara, ela deu a entender que já sabe que estamos juntos... – Rodrigo começou a dizer, enquanto se aconchegava no peito do mais velho. Não queria que o medo e suas inseguranças ficassem visíveis ao moreno, apesar de saber que ele estava percebendo como estava.

— Mas nós já sabíamos que isto uma hora iria acontecer, não é? – Luke usava seu tom calmo pra falar com o mais novo. Estava preocupado, mas confessa, adorava quando o loiro parecia precisar de si, já que o mais novo que era sempre a rocha quando o assunto era os dois.

— Sim, eu sei. Mas é que... – Rodrigo ainda pensava no que dizer. Não queria magoar o mais velho com suas inseguranças que, pelo jeito, resolveram aparecer de uma hora pra outra.

Mas Lucas já conseguia identificar os sentimentos de Rodrigo, por sempre estar bastante atento a ele. Com isso, acabou afastando o loiro de si, enquanto o virava, pra que pudesse ver dentro de seus olhos. Não disse nada, apenas segurou as mãos do mais novo e o olhou nos olhos. Estava começando a ficar ansioso sem saber o que Rô estava de fato pensando.

Minutos passaram até o mais novo ter coragem de continuar, agora olhando as expressões que o moreno fazia.

— É que eu não quero que tu fiques receoso com tudo que pode acontecer quando eles descobrirem sobre a gente. Eu me sinto um idiota por, mais uma vez, estar pensando nas reações alheias, quando eu mesmo sempre falo que elas não importam... – Rodrigo continuava observando a expressão do moreno. O mais velho parecia não entender o que ele queria dizer.

— Mas eu falei pra você... talvez pra mim seja um pouco difícil, mas estando com você eu sei que vou conseguir. Apenas a gente me importa, mais ninguém.

— Eu sei disso... e desculpa estar fazendo essa cena. – Rodrigo abriu um pequeno sorriso ao falar isto, aproveitando do carinho que o moreno fazia em seu rosto como se fosse um gato. – É que eu não queria que de alguma forma isso interferisse nos avanços que temos tido. Fiquei com medo de que as coisas que ela falou fizesse tu se afastar de mim novamente. Por isso voltei pra prova, quando minha vontade era ir embora de lá. Eu não quis te deixar preocupado.

Luke não resistiu e abraçou o namorado, distribuindo beijos em seu pescoço.

— Ei, eu sei que não sou a pessoa mais constante do mundo, mas eu estou aprendendo que antes de tirar conclusões eu preciso me abrir e confiar em ti primeiramente. Não acha que está se cobrando demais? É normal ficar inseguro às vezes. Eu acharia que és realmente alguém mais especial do que eu já acho caso isso não acontecesse, nem que seja às vezes é bom saber que não és totalmente perfeito. Até faz eu me sentir mais merecedor de ti, tendo tantos defeitos...

— Pois eu te acho perfeito. Perfeito pra mim.

— Mas não está confiando pra me contar o que estas sentindo de fato. Eu sei que não é apenas isso. Confia em mim...

Com essas palavras Rodrigo ficou tenso, o que ficou claro através das reações de seu corpo pra Lucas que voltou a afastar os dois para olhar o loiro nos olhos novamente.  

— Por que eu acho que não foi apenas imaginar qual seria a minha reação que te fez ficar assim? Por favor, amor, me fala o que aconteceu? Ela te chamou de alguma coisa ruim, foi isso? Se foi eu vou...

— Não, não foi bem as palavras que ela usou. Foi apenas isso que eu falei, estava com medo do que tu acharias...

— Rô...

Rodrigo percebeu que Lucas começou a ficar um pouco ansioso demais. E sabendo que isso o faria tirar conclusões erradas, resolver falar rápido o que também o afligia.

— A Maiara, ela me falou umas coisas... – Rodrigo escolhia bem as palavras, pois, não queria que Lucas pensasse que duvidava de seus sentimentos. – Ela me disse que eu era apenas mais um pra você. Que eu não era alguém a sua altura... e eu não consigo deixar de pensar que talvez isso seja verdade.

Lucas ficou um tempo sem saber o que falar, não entendendo porque algo tão raso atingiu o namorado.

— Mas Rodrigo, você sabe que é uma grande mentira. Você é a pessoa mais importante pra mim. Está além dos sonhos que eu ousei sonhar, que eu amo além da minha própria vida... achei que tinha conseguido deixar claro isso. – Luke terminou de falar demonstrando um tom de tristeza, pois, realmente pensou que o mais novo não duvidaria mais disso depois das últimas semanas.

— Ei, eu sei disso... mas é que tem vezes que eu não consigo parar de pensar que tu sempre foi tão do mundo... conheces tantos lugares, sabe sobre muitas coisas. E eu sou apenas um guri simples, que te ama muito, sim, mas não sei se correspondo a todos os teus anseios...

Luke acabou sorrindo mais ao ouvir o que Rodrigo falava. Sabia que o mais novo se sentia um pouco inseguro, às vezes, por conta dessas diferenças, já tinham conversado sobre isso outras vezes. Mas não percebeu que seria ao ponto da Maiara conseguir atingi-lo com isso.  

— Rodrigo, eu era assim. Até conhecer você. Não sabes o quanto o simples fato de eu ter alguém aqui comigo, em uma noite de semana, é importante. Alguém que me escuta, me abraça, me faz acreditar todos os dias que o sol vai brilhar. Eu te amo, não duvida disso.

— Desculpa... – Surpreendentemente, uma lágrima escorreu dos olhos de Rodrigo. Mais uma vez não deixou de pensar que estava sendo um idiota por se afetar tanto com o que alguém como a Maiara disse. – É que eu sou alguém tão limitado às vezes. Tu tinhas alguns planos pro futuro, desejo de conhecer novos lugares, quem sabe viver neles,  e eu não penso em me afastar por tanto tempo aqui da cidade, principalmente por causa dos meus pais. Tenho medo que um dia isso seja um problema pra ti.

— Agora você que está sendo bobo, como você sempre me diz. – Lucas tentava acalmar o mais novo, mas tinha o coração apertado. Agora percebia que por conta de suas próprias inseguranças havia deixado de lado as possíveis neuras do loiro. Como já tinha constatado, por ser mais novo, é claro que ele teria pensamentos assim. Era normal. – Eu nunca te faria escolher entre eu ou sua família. Já fiz isto uma vez e me arrependo muito. Na consulta eu disse pro Félix que encontrei aqui nesse lugar o que eu sempre procurei. Você, a Sol e teus pais me fazem querer ser melhor a cada dia. Eu quero muito ser digno de fazer parte da sua família. E por mais que pensar no futuro me assuste de um jeito alarmante, imaginar que estarei com você aqui, neste lugar, daqui uns anos, me faz sentir tão bem.

— É que me assusta também pensar no futuro às vezes. Eu não sei o que vai acontecer e isso me faz ficar nervoso. – As lágrimas já cessavam no rosto do loiro, e ele até mesmo conseguiu abrir um sorriso. – Acho que é idiotice e crise dos 20 e tantos anos...

— Se você tem crise de idade, imagina eu? – Luke não conseguia deixar de pensar que amava tanto o loiro. – E eu entendo isso tudo que você sente. Já tive sua idade, lembra? E nem faz tanto tempo assim... Mas eu quero que você me prometa que quando acontecer estes medos, você me procure, ou aos teus pais, a Clarissa, a Solange. Eu sei o quanto é difícil não ter com quem se abrir sobre estes medos todos. E não quero que tenhas as dificuldades que eu tive. Talvez eu ainda não seja tão seguro na vida... quer dizer, com certeza não sou. Mas quando o assunto for você eu sempre estarei disposto a ser o alicerce que tu esperas e precisas que eu seja. E espero ser merecedor disso.

— Luke, mas tu já és muito bom pra mim. Eu te amo tanto, tanto... eu sei que é chato falar isso toda a hora. Tu deves me achar um ridículo, mas é que eu não me contenho. E desculpa mais uma vez tudo isso.

Lucas não resistiu, abriu um sorriso e foi colocando Rodrigo deitado na cama, enquanto segurava suas costas e fazia carinho em seu rosto, vendo os olhos do loiro fecharem com o movimento.

— Pois eu adoro ouvir. Sentir. E acreditar nesse amor que tens por mim. E quero muito que chegue o dia que eu me sinta completamente seguro disso. O dia que esses medos todos causados pelo passado me deixem estar de coração aberto pra você. Eu sei que muito dessas inseguranças que você sente vem do fato de eu ser alguém inconstante. Mas eu estou melhorando, não estou?

— Claro que está! Tu estás se saindo muito bem.  Apenas sentir que estás tentando já me faz muito feliz, sabia? Até o Marcus veio me dizer que tu estás diferente nessa última semana. Mais do que quando ele esteve aqui.

— Já falei pra você sobre essas conversas com o folgado do Marcus, não é? – Luke disse, enquanto trilhava um caminho de beijos na lateral do rosto de Rodrigo. – Mas sabemos que falta ainda, há um caminho grande pela frente. Tem dias que as coisas estão melhores, outros dias nem tanto. E são essas inconstância que eu espero conseguir fazer passar. – Lucas parou com os carinhos para, mais uma vez encarar os olhos claros – A vida é tão boa com você perto de mim, eu sempre corro pra você quando preciso. Quero ser tua casa, assim como você se tornou a minha. Peço apenas um pouco mais de paciência, tá bom?

Sem resistir, dessa vez foi o loiro que avançou nos lábios do moreno, confirmando que sim, eles eram o lar do outro. Sempre e para sempre. E o beijo foi virando outras carícias, até o mais velho se lembrar de uma coisa.

— Amor, por mais curioso que eu estivesse, não consegui olhar tua prova ainda... Sabes que não vou conseguir fazer nada caso você não consiga atingir o mínimo da nota pro exame, né?

Lucas tinha uma feição preocupada, que aquiesceu o coração de Rodrigo.

— Eu sei... é que eu estava tão nervoso... – Dessa vez foi Lucas que, ao ver a expressão de Rodrigo, achou tão fofo que quase pulou da cama e foi até a prova tentar fazer com que algum milagre acontecesse e ele fosse aprovado direto. Mas sabia que não poderia.

 – Mas vai ter que esperar até a semana que vem. Espero que a Maiara te acompanhe no exame caso isso se confirme. Vou caprichar na prova como eu tinha avisado a turma.

— Mas Luke, nem por mim tu vai aliviar? Não é justo! – Rodrigo sorria. Não conseguia deixar de pensar que em outros tempos uma conversa densa entre os dois geraria momentos de tensão que se prolongariam por um dia inteiro. Agora estavam ali, sorrindo e gracejando sobre algo sério.

— Mas eu avisei, não avisei? Mas sabes que tens aula particular comigo. E eu sei que você é capaz de passar por qualquer teste que eu faça. E no dia da prova vou tomar cuidado pra que Maiara fique longe de ti. Aliás, vou cuidar pra que ela não chegue perto de você nunca mais!

— Deixa de exagero, sabe que não é possível. Infelizmente tenho outras aulas com ela, temos amigos em comum... eu que preciso aprender a conviver com as gracinhas dela.

Lucas apenas fez um muxoxo e revirou os olhos, enquanto continuava a olhar o namorado, como quem não quisesse se importar mais com a guria. Mas sabiam que ela poderia criar uma situação constrangedora.

— Lucas, o que tu achas que a gente precisa fazer nessa situação? Eu tenho medo que ela fale pra todo mundo, chegue na coordenação e acabe atrapalhando teu emprego. Eu me sentiria mal. Já conversei com a minha mãe sobre isso, e...

— Rodrigo... eu sei, eu também estou pensando sobre isso. Mas não pelos motivos que você está falando. Eu não tenho medo de perder o emprego. Na verdade, eu trabalho por prazer, não precisaria trabalhar se fosse por dinheiro. Não fico falando sobre isso, até porque eu por muito tempo reneguei a herança dos meus pais. Mas eu sei que estou bem amparado.

Ouvir o namorado falar sobre os pais assim, em meio uma conversa, chamou a atenção do loiro, que percebeu o quanto o moreno estava conseguindo avançar, mesmo com pouco tempo de terapia.

Mas era sempre preciso lembrar que ele já vinha se tratando faz bastante tempo, apesar de apenas agora estar disposto a levar em conta aquilo que o médico dizia.

— O que realmente me preocupa é o tratamento que darão a você. E também a invasão de privacidade que pode haver em minha vida. Já não basta a Sol monitorando meus passos, não preciso que os meus colegas professores ou alunos queiram acompanhar nossos passos pra saber como é nosso relacionamento. É com você que eu me preocupo, mais ninguém.

— Mas e se...

— Caso eu perceba que está sendo um incômodo pra você, eu quebrarei o contrato que eu tenho com a Universidade. – Rodrigo tentou contestar, mas o moreno continuou – Eu já venho pensando em uns planos já que aceitei que aqui será minha nova cidade. Não teria problema algum, não mesmo.

— Eu posso desistir ou trancar essas cadeiras que tu leciona. As duas são optativas, não faria mal. Também posso fazer mais pra frente. Não quero que desistas Luke, não mesmo.

— De jeito nenhum, eu já disse! Por favor, não se preocupe com isso agora. Você mesmo quem me ensinou que devemos esperar acontecer pra pensar, que não se deve tirar conclusões precipitadas. Pois então, estou tentando. Você pode tentar também?

— Ei, não use minhas palavras contra mim! Isso é golpe baixo – Rodrigo já estava começando a ficar com sono, mas estava adorando a conversa com o namorado. Adorava a voz do moreno.

— Uso sim! Agora vamos dormir seu preguiçoso, porque amanhã você precisa estar acordado cedo. Boa noite, eu te amo. Sempre. E obrigada pela conversa e por ser meu porto seguro.

— Olha quem fala... Boa noite. Te amo...

E com essas declarações, foi mais uma noite onde Luke não dormiu o tempo inteiro, mas isso não mais o incomodava, pois, agora tinha algo que o preenchia mais que uma noite tranquila, a oportunidade de zelar pelo sono da pessoa que o fazia melhor a cada dia.

***

Uma semana depois...

— Então, como eu falei, trouxe a nota das provas. Vocês não podem levar elas com vocês, mas podem olhar caso queiram reivindicar algum erro ou algo assim. O exame vocês já sabem quando é. Como eu disse antes, essa cadeira não tem grandes mistérios, não nessa primeira parte da matéria. Por isso, penso que aqueles que ficaram em exames não se dedicaram de fato à prova. Espero que tenham sorte no exame porque será tão ou mais difícil que essa.

Luke chamava os nomes e entregava as provas, enquanto observava as reações. Como o esperado, Rodrigo ficou em exame, assim como mais 9 alunos, incluindo Maiara. O professor constatou que, pelas respostas, a garota parecia estar viajando na hora de responder as questões. Luke desconfiava que ela estivesse nervosa pelo que tinha feito ao loiro antes e acabou se confundindo com as respostas.

— E então, conseguiu passar? – Rodrigo viu Roberto voltar a sentar em sua mesa com a prova na mão, após Luke chamá-lo.

— Sim, tirei um ponto a mais que a média. Mas está valendo, passei! – Roberto estava se sentindo feliz já que estava sendo difícil se acostumar com todas as cadeiras, e com a turma. Chegar ao meio do semestre e do curso era complicado.

— Que bom! Parabéns! Valeu nossa tarde de estudos.

— Sim, valeu muito! E obrigado mais uma vez. Mas e tu, como será que se saiu?

— Tenho que aguardar, mas sei que não fui aprovado. Estou ansioso agora pra saber se consegui o mínimo de nota pra poder fazer o exame. Não, o Luke não me contou como me sai. – O loiro estava até tranquilo, mas como o bom estudante que sempre foi, ficava nervoso em ter que fazer o exame. – Eu até fui no cinema com a Clá enquanto ele corrigia no fim de semana pra não ficar muito curioso.

— Tenho certeza que vai dar tudo certo! E...

— Rodrigo, sua prova. – Lucas chamou o namorado em sua vez. Sabia o quanto o loiro estava ansioso, mesmo tentando não demonstrar nos últimos dias, já que sabia que o mais velho se sentiria culpado por isso, apesar dele não ter culpa alguma. Tinha também o fato de que seu nervosismo apenas contribuiria pra animosidade que o moreno sentia por Maiara, e isso não era bom.

Rodrigo foi até o mais velho, caminhando ansioso, não conseguindo conter um sorriso ao olhar nos olhos do namorado e também sua nota. Tinha tirado um pouco mais que o mínimo pro exame. Agora era estudar pra aumentar essa nota.

— Aposto que o queridinho gabaritou a prova. – Maiara não deixou de soltar piadinha quando o loiro passou por ela. Estava irritada por não ter conseguido passar.

Rodrigo ignorou o que ela disse, mas não deixou de perceber alguns olhares sobre si, o que o fez pensar que talvez ela tivesse realmente espalhando pelo campus sobre os dois.

— Não dá bola, Rodrigo. Olha, no exame tu vai passar, sabes tanto sobre o assunto, estarás mais calmo.

— Eu sei que sim. – Rô falava, enquanto olhava o namorado, pois, desconfiava que ele ouviu o que a guria tinha dito – Vai dar tudo certo. Fico ansioso porque sabe como é CDF, não aguenta imaginar que ficou em exame. Vai ser engraçado dizer aos meus pais. Acho que vão achar que é uma piada.

Roberto não conseguiu não rir ao ouvir o loiro. – Sei sim como é, acho que não vou conseguir escapar de algum exame esse semestre.

Os alunos olharam suas provas, Rodrigo constatou que poderia ter passado se não fosse o estresse causado por Maiara. Mas não adiantava lamentar mais sobre isso. Alguns estudantes ficaram tirando dúvidas com Luke até a hora do intervalo, quando todos saíram pra comer algo e o professor foi até a sala dos professores pegar algumas coisas pra outra parte da aula.

— Rodrigo, a gente pode falar contigo? – O loiro e Roberto estavam sentados no corredor, em frente à sala, quando um grupo de 3 colegas chegaram perto de onde eles estavam sentados.

Já imaginando o que seria, o loiro se arrumou no banco, esperando elas falarem. Depois da conversa com o moreno, se sentia um pouco mais seguro, apesar de não saber qual seriam as reações delas.

— Então, no fim de semana a Maiara foi lá em casa e veio com umas histórias... e hoje ela chegou falando a mesma coisa pra outros colegas... – As gurias estavam encabuladas. Elas não tinham nada contra Rodrigo, ele era um dos melhores colegas da turma. Apenas acharam melhor esclarecer a história.

Rodrigo pensava no quanto Maiara era infantil. Fazer fofoca em visita com amigas era tão imaturo. Por um momento ele se permitiu sentir raiva dela.

— Então, ela falou que tu e o Lucas, vocês...

— Sim, que nós estamos juntos. Estamos sim, namorando. Algum problema? – Verbalizar aquilo foi quase um alívio pro loiro. Ele não era de sentir ciúmes, mas via os olhares que o moreno recebia, das alunas e professoras, por isso, não conseguia deixar de sorrir ao falar.

— Não, claro que não. Quer dizer, que tri! Parabéns pra vocês!... – Elas estavam era muito surpresas, não imaginaram que os dois fossem gays. Nem mesmo que seriam um casal. Isso seria assunto até o final do ano.

Em seguida elas se despediram, indo de encontro a outro grupo de colegas. Pelo jeito o telefone sem fio existia até mesmo na faculdade, Rodrigo pensou.

— Então, agora eu acho que tu és publicamente comprometido, Rodrigo. Nada de flertar pelos corredores com alguém. – Roberto sempre tinha um bom humor pra falar sobre os assuntos. Isso fez aliviar a tensão que o loiro sentia no momento, mesmo sem perceber.

— Pois é... sou um guri publicamente sério agora. Nada de tentar me conquistar. – Rodrigo após dizer isto pensou que seria melhor ir ao encontro do namorado. – Eu preciso falar com o Lucas antes da aula voltar... será que eu vou até a sala dos professores?

— Sim, acho que seria bom mesmo porque pelo jeito a turma vai estar dispersa e o Lucas, com certeza, vai perceber isso e se incomodar com os cochichos. Dia de sermão!

Rodrigo sorriu ao lembrar do que o amigo dizia. Quando se sentia incomodado com a dispersão, o moreno sempre acabava perdendo a paciência com a turma e sendo polido. O loiro sempre sorria porque, quando saiam dali, Luke se transformava. Por mais tenso que estivesse ele nunca descontava no loiro.

***

— Lucas? Podemos conversar por um instante? – Cláudia percebeu o professor entrar na sala dos professores do Centro de Letras e resolveu que era hora de esclarecer algumas coisas.

Luke, que já tinha juntado alguns materiais, se surpreendeu com a pergunta, já que era difícil algum dos colegas puxar algum assunto com ele. Até mesmo Claudia que, nas últimas semanas, parecia ter desistido de se mostrar sempre presente a ele, como no início.

— Claro. Só não posso demorar muito, já que passou bastante tempo do intervalo.

— Sim, não vou demorar. – A loira tentava pensar em qual a melhor forma de tocar no assunto. Lucas era sempre tão reservado, não queria que parecesse que estava censurando ele ou algo assim. – É sobre algumas coisas que chegaram até mim por alunos do terceiro semestre.

No mesmo instante Luke retesou seus músculos, pois, Maiara veio em sua mente. É claro que não demoraria a chegar à coordenação.

— Eu imagino quais comentários tenham chegado até você. E antes que você diga alguma coisa, eu quero deixar claro que minha vida pessoal não desrespeita a ninguém.

Lucas já imaginou os comentários preconceituosos que já ouviu em sua vida, por conta de sua orientação sexual. Além disso, nem queria imaginar qual seria sua reação caso ela falasse alguma coisa ruim de Rodrigo.

Como Claudia imaginou, o moreno já estava armado para receber qualquer que fosse o que tinha pra dizer. Por um momento, até pensou em não mais falar, mas era a coordenadora, tinha esse dever.

— Ei, Lucas. Antes de tudo eu quero que saibas que respeito tua vida pessoal e não tenho a pretensão de me meter nisso. Eu quero apenas te dizer que por parte da coordenação, não temos reclamações em relação ao teu trabalho nem tua conduta aqui no curso. Pelo contrário! E caso esteja havendo, de fato, um relacionamento entre tu e o aluno Rodrigo, como me foi informado...  espero apenas que tu lembres das condutas éticas existentes no meio acadêmico e de como, caso essa história não acabe bem, isso pode gerar uma série de complicações pra Universidade. Entendes que eu não posso ter uma postura omissa, não é?

Lucas entendia o que ela estava dizendo. Não é como se ele não houvesse pesquisado sobre algum caso parecido. Não havia nenhum impedimento em lei, mas era preciso contar com o bom senso em situações deste tipo, e Claudia, como coordenadora, tinha esse compromisso.

— Tudo bem, desculpa pela minha resposta. Eu quero apenas que você e meus colegas saibam que não é algo casual. Na verdade, veio à tona apenas porque uma das colegas de Rodrigo resolveu que espalhar isso seria divertido eu acho. Porque temos certeza que ela não tem convicção alguma, já que sempre fomos discretos. Principalmente dentro do campus.

— Sim, eu entendo. – Vê-lo confirmar em sua frente não deixou de ser impactante. Mas Claudia estava ali representando o curso, não uma mulher que perdeu as chances de uma conquista. Precisava demonstrar isso. – Eu conheço um pouco de Rodrigo e você. E sei que se algo tivesse sido visto aqui no campus alguém já teria me contado. Deixa que, caso alguém comece a fazer comentários impróprios, vou conversar com ela.

— Ok. Obrigado. Eu não quero trazer maleficio nenhum pra vocês. Qualquer coisa eu abro mão do meu cargo aqui, aliás, tenho pensado nisso. Mas esperava conseguir ficar ao menos até o final do semestre, pra não prejudicar as turmas.

— Não, Lucas. De forma alguma. Eu não vejo problemas em tu continuar. Ao menos peço que vocês sejam os mais discretos possíveis e que suas vidas pessoais interfiram o menos possível na relação de vocês como professor e aluno. Porque caso algum aluno se sinta prejudicado, eu terei que tomar providências. Entende, não é?

Claro que Lucas entendia, e não estava sendo fácil ter aquela conversa com Claudia. Enquanto ouvia o que ela falava, os pensamentos inseguros de que talvez um dia o relacionamento dos dois acabasse, “porque Rodrigo era tão novo... e poderia mudar seus sentimentos, não poderia?” vieram à tona novamente. Malditas inconstâncias.

— Lucas? – A loira percebeu que o mais velho pareceu viajar enquanto ela falava. – Desculpa, eu não quero que fique uma situação chata entre nós, está bem? Eu torço muito para a relação de vocês, de verdade. Acho até que vocês combinam. Mesmo.

No fundo a professora era uma romântica, que não conseguia deixar de pensar que os dois eram duas almas que tinha se encontrado e, apesar de inusitado, eles pareciam realmente se dar bem. Caso fosse apenas uma aventura, como Maiara, que foi quem a informou, deixou transparecer ser através dos comentários maldosos, Lucas, um homem visivelmente experiente, não estaria disposto abrir mão da própria carreira em prol dessa relação.

— Oi, estou ouvindo. – Lucas saiu do transe – De minha parte e de Rodrigo posso assegurar que faremos o máximo para que as coisas continuem como estão. E...

Um som foi ouvido na porta. Os dois mais velhos olharam em direção a ela, quando enxergaram uma cabeça loira olhar os dois, enquanto parecia esperava permissão pra entrar.

Foi Claudia quem tomou a iniciativa de falar algo.

— Rodrigo, querido. Pode entrar. Eu e Lucas já finalizamos aqui e em breve o intervalo acaba.

— Oi, professora. Desculpa atrapalhar. – Rodrigo veio em busca de Lucas, tendo procurado ele nas salas de mídias e não o encontrado foi em direção a sala dos professores. Mas não sabia que encontraria ele e Claudia. Ficou pensando se alguma coisa tinha acontecido. – Eu vou sair, espero aqui no corredor e...

— Não, está tudo bem. Estou saindo agora. Aliás, já que estou te vendo aqui, não esquece que amanhã tem aula prática de telejornalismo no estúdio. Quem faltar vai ficar em exame direto. Lembra a turma pra mim?

— Ah sim, claro professora. Eu estarei lá! Não quero pegar outro exame nesse semestre.

Claudia sorriu, ao mesmo tempo que ficou surpresa, já que sabia que o loiro era bastante aplicado.

— Sabe como é, Semiótica não é a matéria mais fácil do mundo. Acabei ficando pra trás.

Claudia olhou de um pro outro, terminando seu olhar no moreno, pensando que se isso aconteceu, é porque de fato Lucas estava mantendo o profissionalismo de sua profissão. E isso a acalmou.

— Boa sorte então. Lucas é ótimo professor, tenho certeza que em breve tu irás tirar de letra mais essa matéria. – Disse a loira, indo novamente em direção à porta – Lucas, podes deixar a chave no colegiado quando sair, com meu secretário. Até mais.

Rodrigo viu a professora sair da sala, enquanto o namorado parecia estático no mesmo lugar, o olhando.

— Aconteceu alguma coisa, Luke? Desculpa se eu atrapalhei, mas é que eu precisava falar contigo antes da aula começar.

Rodrigo disse isso, deixando a porta aberta, indo em direção ao moreno, parando quando estava bem diante dele. Lucas o olhava fixo nos olhos, e Rodrigo percebeu que o namorado estava um pouco diferente do que estava até então.

— Tu sabes que eu estou aqui, não é verdade? E que eu não pretendo sair do seu lado em hipótese alguma, mesmo que tu me peça. Não sabes?

Ao ouvir a voz do namorado, foi como se o coração de Lucas voltasse a bater no compasso dos últimos dias, onde ele estava se sentindo realmente melhor. E sem dizer nada, ele apenas encostou a cabeça no ombro do mais baixo, enquanto respirava fundo, em busca de sentir seu cheiro, que tanto o acalmava. Eles ficaram assim por uns segundos, até que o mais velho quebrou o silêncio, afinal, ele precisava voltar logo pra sala.

— A Claudia já sabe sobre a gente. Ela veio me perguntar se era verdade o que tínhamos, já que provavelmente a Maiara resolveu fazer comentários sobre nós dois. Ela é realmente sem noção... eu...

— Shiuuu, entendi tudo. – Rodrigo sentia sua tensão – Mas a Claudia te falou alguma coisa ruim? Disse que era contra, que tomaria alguma providência ou algo assim? – Rodrigo fazia um carinho simples na mão do moreno, já que sua vontade era de abraçar e beijá-lo até sua ansiedade visível passar. Mas não era lugar nem hora.

— Não... ela até mesmo disse que combinávamos. – Lucas falou isso, conseguindo deixar um sorriso sair em seguida. – Eu não sei, apenas aqueles sentimentos inseguros quiseram surgir novamente... por pouco eu não desabei na frente dela, me senti coagido, como se tivesse sendo julgado novamente.

— Amor, me escuta aqui. A gente conversou sobre isso, não foi? Eu imagino que claro, ela deve ter alertado sobre os riscos de uma relação como a nossa, caso as coisas saiam de controle, mas acho que por fim ela não resolveu ser um empecilho, não é? – Rodrigo não simpatizava muito com ela, mas sabia que era justa. Tanto que foi escolhida para coordenadora do curso pelos alunos e professores em votação.

Lucas apenas conseguiu confirmar com a cabeça, resolvendo não falar nada. A voz de Rodrigo já era o suficiente pra acalmar os batimentos de seu coração que estavam rápidos até então. Agora eles pareciam estar no compasso de sua presença.

— Então, não temos o que temer, não é? Eu vim aqui justamente te informar que, pelo jeito, a Maiara já espalhou pra todo mundo que desconfia de nossa relação. Umas meninas vieram no maior clima 6° série me perguntar sobre nós. – Rodrigo conseguiu rir ao dizer isso, apesar de ter ficado um pouco nervoso na hora – Depois a mãe me pergunta os motivos de eu não ter feito amizade nesse curso. Como aguentar essas pessoas?

E sendo travesso, o loiro arriscou dar um selinho no namorado. E fez isso apenas pra conseguir uma reação dele, que como imaginou, se afastou na hora.

— Rodrigo, por favor, não podemos aqui...

— Eu sei... quis apenas que tu demonstrasse que estavas acordado. Afinal, como aluno em exame, espero que no mínimo o professor volte logo pra aula porque eu quero aprender a matéria.

Lucas ficou olhando o loiro com uma expressão de incredulidade, até que conseguiu suavizar sua expressão.

— Já disse que te amo hoje? – Lucas fez mais um carinho na mão do loiro e, mesmo não querendo, se afastou, enquanto juntava os materiais que tinha pegado pra levar pra sala.

— Acho que não mais do que eu já te disse hoje. Mas se quiser, pode repetir. Quantas vezes quiser.

— Te amo, muito. A tua presença me faz sentir vivo. Meus sentidos se aguçam e fazem sentido ao menor sinal da tua existência.  – Lucas não conseguiu deixar de pensar, mais uma vez, o quanto era bom ter alguém pra dizer estas coisas.

Rodrigo ficou tão extasiado que não sabia como responder em altura, portanto, apenas o olhou profundamente, enquanto acenava e voltava em direção a sala de aula. Não é porque os colegas já sabiam sobre eles que poderiam chegar juntos após o intervalo, saindo de uma sala em que estavam apenas os dois. Após abrir o melhor de seus sorrisos, e mover a boca dizendo “também te amo”, o mais novo saiu da sala.

Enquanto acompanhava os passos de Rodrigo, Luke apenas pensava no quanto amava e queria fazer daquele garoto a pessoa mais feliz no mundo. Em como queria ter o máximo de tempo do mundo pra conseguir realizar todos os sonhos do seu amor. Dos pequenos aos maiores. Dos possíveis aos mais improváveis. De como queria ser os olhos que verão suas cores reais. E que, impreterivelmente, estará ao seu lado. Neste e em todos os momentos. Pra sempre.


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Notas finais do capítulo

Ai curiosa pra saber o que vocês acharam. E desculpa eventuais erros. Eu sempre reviso, mas às vezes acrescento algumas coisas, e talvez deixo passar algo.
Att