Aprendendo a Amar escrita por Agridoce


Capítulo 2
Os caminhos que me levam até você- Lucas


Notas iniciais do capítulo

Olha só, mais um capítulo! No próximo o encontro.. ou reencontro. :)



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Lucas entrou na sala dos professores da Universidade que iniciaria a trabalhar hoje. Com seu costumeiro bom dia glacial, aos 32 anos, os últimos cinco atuando como professor, ele não achava que precisava ser mais aberto socialmente do que já era. E de fato nem se esforçava. Esta era apenas a segunda universidade que trabalhava como professor contratado, já que, até então, após acabar a faculdade de jornalismo, havia atuado em jornais e revistas, sempre como fotógrafo.

Olhando para os lados para se familiarizar com o novo ambiente de trabalho,  o moreno pensava, mais uma vez, no quanto a fotografia sempre foi uma forma dele guardar as lembranças de sua vida. Desde pequeno foi o único elo que teve com seus pais, que morreram quando ele era ainda muito novo. Mas deste tempo com os dois, ele nunca fez muita questão de lembrar. O que sempre recordava era que acabou sendo criado pelos avós, que já haviam falecido hoje em dia, mas enquanto vivos,  não eram poucos os momentos que os simpáticos velhinhos lhe contaram a história de sua família através da fotografia. Entretanto, apesar destes momentos fazerem parte de suas lembranças,   esta era uma parte da sua vida que Lucas não ousava mexer. Não gostava de falar do seu passado. Quem perguntava sobre era sempre agraciado com uma piada fúnebre, sem o mínimo de humor, com uma mudança de assunto em seguida. Ele definitivamente não gostava de falar sobre si.

— Olá, você deve ser o novo professor de fotojornalismo. Eu sou Cláudia, a professora de telejornalismo- disse uma loira que entrava na sala neste momento.  

Lucas estava acabando de colocar sua máquina fotográfica, que sempre carregava consigo, em cima da mesa, quando percebeu ela chegando. Automaticamente entendeu o olhar que ela lançou para si, e pensou que não imaginava ter que, tão cedo, deixar bem claro quem era.

O fato é que desde que os avós haviam partido, Lucas resolveu assumir para si mesmo que era homossexual. Ele havia tido até então alguns relacionamentos casuais com homens, quando estava bêbado, mas pensava que era apenas por conta da bebedeira. Até que os avós morreram e ele teve muito tempo pra pensar em tudo que havia vivido. Sabia que se tivesse feito isto antes, contado sobre seus sentimentos sobre sua sexualidade aos avós, talvez gerasse uma briga que não queria com aqueles que eram os únicos que lhe restará na vida. Então, há 10 anos, tempo em que se considerava estar sozinho no mundo, ele vivia em plenitude, já tivera vários envolvimentos. Encontros vazios, que nunca supriram suas necessidades emocionais. Até um mês atrás... 

— Prazer, Lucas- respondeu já irritado por ela ter interrompido seus pensamentos. Ou agradecendo. Não estava gostando dos rumos que eles estavam tomando.

— Já conheceu as dependências do campus? Se quiser, podemos tomar um café, posso...

— Não, obrigado. Eu já dei uma volta por aí, qualquer coisa eu pergunto para um de meus alunos. Aliás, eu preciso ir indo, eu sempre gosto de chegar antes que eles para poder preparar os equipamentos - disse se dirigindo para a porta.

— Ah, ok. Nos vemos no intervalo!- gritou Cláudia, já sendo totalmente ignorada. Apesar disto, achou o novo professor muito bonito. Moreno, com os olhos claros. Seria a sensação ali no curso.

Lucas seguiu pelo corredor em busca do laboratório de fotografia. Faltava um pouco mais de uma hora para a aula começar. Isto lhe daria o tempo necessário para organizar as coisas para o primeiro dia de aula ali. Havia chegado na cidade a pouco mais de dois meses. Assim que recebeu a resposta do contrato, já entrou em contato com imobiliárias e procurou um apartamento. Acabou encontrando um bem ao centro da cidade, o que lhe facilitaria, já que gostava sempre de ir em busca de novos olhares para fotografar. Enquanto continuava a arrumar o material, mais uma vez, seus pensamentos voltaram para onde haviam parado antes que a tal da Cláudia começasse a falar.

Apesar de ser professor, e já ter 32 anos, Lucas gostava e frequentava muitas festas. Assim que se mudou, começou a frequentar uma boate muito conhecida na cidade, com um público bem diversificado,  com muitos gays presentes. Um prato cheio para ele que sempre encontrou nestes lugares passatempos de uma noite. Após ir na primeira vez, como começaria a trabalhar apenas no inicio do próximo semestre, frequentou todos os finais de semana que estava lá. Tomando cuidado para não ter algo a mais com nenhum provável aluno, o que era difícil já que não os conhecia ainda, conversou com vários garotos, a maioria que moravam sozinho na cidade por ter vindo estudar. Mas foi no último fim de semana do semestre que algo estranho então aconteceu. E desde então não conseguia deixar de ser levado a estes pensamentos.

Fazia um tempo que estava perto do balcão a procura de alguém pra levar para seu apartamento. Era mais uma daquelas noites em que ele não se sentia bem para deitar e dormir. Tinha um pesadelo que sempre o perseguia e o fazia acordar suando, se sentindo sozinho como um garotinho desprotegido. Ele nestas horas queria alguém ao seu lado, nem que seja apenas pelo seu corpo, pois sabia que chamava a atenção, apesar de não entender os motivos...

Continuando sua busca, visualizou um garoto de cabelos claros, do outro lado. Parecia perdido e nada acostumado com a movimentação em sua volta. Lucas, que já havia bebido um pouco mais além da conta, isto era o primeiro estágio pra esquecer de tudo, decidiu manter contato visual, para saber se o garoto correspondia. Passou-se um bom tempo e nada, ele continuava parado, no mesmo lugar com o mesmo copo de cerveja nas mãos. Lucas então decidiu avançar. Chegou perto do garoto e começou a falar sobre coisas sem sentido. No meio da música muito alta, claro, ele não lhe ouviu. Após algumas tentativas de comunicação básicas, que não puderam ser realizadas por causa do caos que se encontrava o lugar, que parecia mais cheio que o habitual, Lucas decidiu atacar. Agarrou o menino, que não devia ter mais do que 25 anos, e o beijou. A princípio, sentiu certa resistência por parte do outro, mas logo viu que ele cedeu. E foi aí que seus problemas do último mês começaram. Enquanto beijava o garoto, Lucas começou a identificar outros detalhes que normalmente não se permitia perceber em alguém. A respiração dele, o jeito que ele fazia carinho em sua nuca, o leve roçar dos dedos em seu cabelo. Se alguém perguntasse, ele nunca admitiria, mas era uma sensação tão gostosa, que o fazia querer nunca mais soltar o garoto. Assustado com todas estas sensações em tão pouco tempo, se separou do aturdido rapaz, que o olhou por uns 10 segundos, até sair dali em disparada. Já Lucas, ficou parado, olhando enquanto ele se encaminhava pra saída. Estava aturdido, não entendendo o motivo disto tudo. Normalmente, iria sair correndo atrás do outro, até conseguir o que queria. Mas por algum motivo, não havia conseguido agir assim. Sentia que ele era diferente de todos que tinha encontrado. E foi então que se sentiu um idiota. "Essa sensação era muito ridícula e impossível", pensava enquanto voltava para o balcão. Sentia uma sensação estranha, como se tivesse deixado algo muito importante escapar de suas mãos ao não ir atrás daquele garoto.

Voltando para o presente, o professor lembrou ainda do dia em que, depois de duas semanas, criou coragem e foi até a tal boate. Antes desse dia, relutou em frequentar o mesmo lugar, mas não quis pensar muito sobre os motivos disto. Passou à noite procurando o tal garoto, mas não encontrou ninguém. Às vezes se perguntava se estava tão bêbado ao ponto de não lembrar se o visse em sua frente. Mas de forma louca, ele sentia que havia uma certeza, de onde não sabia, que ele não estava por ali, porém, que não demorariam a se encontrar.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Até o próximo capítulo!



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