O Guarda-Chuva Vermelho escrita por Selenis


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Música: Eir Aoi - Lapis Lazuri



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Carta na Manga

– Hiyori -

Mako e eu caminhamos por alguns metros, depois que pequei minha mochila, o guarda-chuva e o cachecol dentro de casa. Beijei minha mãe e saí. Fazia muito frio. Ele permaneceu calado durante alguns minutos, e isso me deixou extremamente desconfortável. Ele tinha a expressão preocupada, sempre direcionando o olhar para os pés.

– Então só falta um pouquinho para chegarmos, Mako-san!

– Oh, sim! É claro.

– Qual o problema? Está nervoso com o primeiro dia? Pode ficar tranquilo quanto a isso. - Sorri e dei algumas palmadinhas em suas costas.

– Obrigado, Hiyori-san - disse ele - por ter me ajudado. Eu não teria conseguido encontrar o colégio sozinho.

Caminhamos por uma calçada movimentada, passando perto de lojas e vários prédios empresariais. O tráfico de carros estava bastante movimentado. Minhas pernas pararam, e fiquei olhando para a pista, para a faixa de pedestres. Uma nostalgia bateu em mim; e recriei em minha mente a cena em que avia "salvado" o Yato de ter sido atropelado. Foi como tudo começou... A nossa maluca história...

Fazia três semanas que eu não o via. Onde Yato poderia estar?

Fiquei tão absorta em minhas divagações, que não percebi Mako clamando pelo meu nome. Virei-me bruscamente, enrubescida pela vergonha de tê-lo deixado esperando. Contudo, Mako não parecia enraivecido, tampouco apto a demonstrar qualquer expressão. Ele apenas me indagava de forma desafiadora, como se estivesse tentando decifrar meu âmago, e ler meus pensamentos.

– Des-Desculpe, Mako-san! - corri até ele e o puxei pela gola da blusa. - Vamos, senão vamos nos atrasar! Ainda quero te apresentar minhas amigas. Tenho certeza de que elas irão gostar de você! Mas tome cuidado, porque elas se apaixonam fácil.

Mako baixou a cabeça, e tive a impressão de ouvi-lo dizer:" E eu também...".

Fiquei quieta e depois de alguns minutos, finalmente chegamos à escola. A entrada, como era de costume, estava repleta de alunos. As folhas secas do outono despregavam-se dos galhos das árvores, acumulando-se como um tapete sobre o chão. Yama-Chan e Ami-Chan estavam juntas, acenando para mim.

Depois da apresentação, era de se esperar que alguma das meninas caísse em suspiros pelo aluno novo. No caso, foi Ami-Chan. Mako-San ficou na mesma sala em que a minha e pareceu agir muito bem ao primeiro dia. Não ficou envergonhado ou nada semelhante. Na Educação-Física, demonstrou ser um exímio jogador de futebol, e trouxe vitória para o seu time. As meninas vibraram, querendo saber quem era aquele aluno novo. Entrosou-se com os meninos mas, na hora de partida, eu esperei ele no portão principal. Mako havia me dito que queria voltar comigo. Ela disse: " Sua companhia é bastante agradável, Hiyori-San. Gostaria que voltássemos juntos depois... Assim poderíamos nos conhecer melhor e, quem sabe, virássemos amigos. ".

Coloquei meu casaco, e envolvi o pescoço com o cachecol. Abri o guarda-chuva e o pus sobre minha cabeça para me proteger dos flocos que começavam a cair. Ami-Chan desceu as escadas, toda sorridente, e deu um tchau; partindo com Yama-Chan.

Sorri e acenei de volta. Elas andaram juntas, e notei Ami cochichando ao ouvido da amiga sobre Mako. Ele estava demorando. Fechei meu guarda-chuva, e voltei para dentro de colégio vazio, dando início ao meu encalço. Subi as escadas e dei uma olhada dentro da nossa sala, que seria fechada aqui a alguns minutos. Procurei pelos corredores, e não encontrei nenhum vestígio seu. O resultado não foi diferente quando cheguei ao refeitório. Gritei pelo seu nome, mas obtive somente a resposta do zelador que foi a seguinte: " Para de berrar, menina! Vai pra casa, que está tarde!".

Mas não lhe dei atenção. Voltei à minha procura, e comecei a pensar se ele já tinha ido antes de mim. Foi então que percebi. Ainda havia um lugar em que não havia procurado: o terraço. Sem hesitar, corri na direção de lá. Estava cheia de expectativas, pois minha mãe me mataria se eu chegasse atrasada em casa, e sozinha!

Abri a porta que dava acesso ao terraço, e uma claridade incidiu em meu rosto. O forte vento do norte acariciou meu rosto e levou meus cabelos para trás. Protegi meus olhos dos forte raios, e foi então que o vi. Mako estava parado bem ali: perto das barras de proteção. Sua mochila descansava no chão, com alguns livros e cadernos abertos e espalhados. Senti o sangue coagular em minha face, tornando-a ligeiramente rubra. Mako estava incrivelmente belo, parecendo um ser divino.

Seu cabelo loiro balançava ao sopro, e em curtos períodos cobriam os olhos que me me fitavam.

– O que está fazendo aqui, Mako-San? - perguntei.

Ele apenas virou-se, debruçando-se sobre a barra e deixando uma das pernas dobrar-se. Fiquei ao seu lado, mas os fios dourados cobriam suas feições. Olhei para as formas finas dos arranha-céus da cidade, e em como era fascinante o modo como o sol se escondia detrás deles; deixando apenas alguns de seus raios escaparem pelos flancos de concreto das construções. Fiquei preocupada com Mako. Estendi a mão, mas antes que pudesse tocá-lo, fui repreendida por um gesto brusco de seu ombro, que mexeu-se para o lado, como se estivesse espantando um mosquito:

– Não faça isso! - rosnou ele.

Recuei, e o olhei com incompreensão.

– Mako-San, o que você...?

– Eu estou bem, Hiyori-San. - Assegurou ele. - Por favor, já foi doloroso quando você me puxou naquela hora. Não me faça sofrer mais...

– Você está com dor? Bem, se esse é o caso, meu pai pode te ajudar. Ele é...

Mako girou o corpo até que pudesse ficar defronte a mim. Ele estava finalmente demonstrando alguma expressão; mesmo que essa fosse cheia de ódio e aflição. Uma lágrima escorreu pela sua bochecha e, em gritos agoniantes, agarrou com força seu cabelo e se agachou - ainda gritando. Meu coração bateu com mais força. Mako apanhou os cadernos do chão e começou a arrancar suas folhas, rasgando-as e jogando os pedaços para o alto - deixando que o vento os carregasse.

– Mako-San! - gritei. - O que foi? Por que está fazendo isso?

– É tudo culpa minha! Eu desgracei minha vida e a daqueles que amo. Tudo por causa daquele maldito...

Percebi que uma aura maligna se erguer ao meu lado. E quando olhei para a rua lá em baixo, vi um enorme redemoinho negro escapar da entrada de um esgoto.

Um Fantasma?! Seria um fantasma que estivesse fazendo isso a ele? Me debrucei sobre a barra, e procurei pelo monstro que estivesse atormentando Mako. Não encontrei nenhum, mas não poderia de forma alguma deixá-lo naquele estado.

Me ajoelhei perante a ele, e segurei seus ombros. Mako estava tremendo.

– Aguente firme, Mako-San! Seja lá o que tenha feito, não deve se lamentar. Levante e encare seus medos! - ele ergueu a cabeça, seus olhos inchados encontraram os meus: determinados e encorajantes.

– Hiyori-San...

Segurei seu rosto com ambas as mãos, e exibi um sorriso.

– Não chore... - com o polegar, enxuguei uma lágrima que escorria pelo canto direito de seu rosto. - Eu estou aqui, Mako-San. Pode contar comigo para qualquer coisa...

Ele ainda ficou me olhando, espantado.

– Eu sou sua amiga. - Falei.

Mako me abraçou, enterrando o nariz em meu cabelo. Ficamos assim por alguns instantes antes dele se levantar e caminhar para trás de mim.

– Me desculpe, Hiyori-San, se isto lhe parecer algo estranho. Mas... Eu gosto muito de você. Tanto que não faz ideia... Me desculpe por te amar.

Ele se agachou e abriu o flash da mochila. Tirou algo de lá que tinha a forma pequena, fina e reluzente. Não consegui ver, mas descobri o que era assim que Mako o enterrou no peito do meu corpo físico que jazia adormecido a alguns metros distante de mim.

Fiquei horrorizada quando o sangue começou a jorrar, e meu rabo recebeu um choque. De repente, me senti fraca. Deitei, como se toda a minha energia estivesse sendo drenada. Mako deu alguns passos em minha direção e, agachando-se, me colocou sobre o ombro.

Um ódio profundo se apossava de mim. Contudo, não pude mover um membro sequer. O vento ainda batia em mim, e a última coisa de que me lembro, é de estar caindo do terraço e tendo a visão de Mako se distanciando enquanto a queda me aproximava mais do redemoinho negro.


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