Hinan escrita por Hakiny


Capítulo 44
Exército de Mortos




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Em meio aos destroços da Hinan destruída, Dylan acordava com o barulho de um kotonaru vasculhando os escombros.

Ainda zonzo devido a pancada na cabeça, ele se arrastou para longe do campo de visão do bicho, ficando debaixo de uma construção destruída. Estava desarmado e visivelmente em desvantagem.

— que diabos aconteceu aqui?

O soldado sussurrava enquanto sentia as dores percorrerem o seu corpo. Sem mais alternativas começou a engatinhar por debaixo dos amontoados de pedras, que antes compunham as casas e comércios dali, na tentativa de achar uma saída que o deixasse mais longe possível da besta que o havia acordado.

Sentiu sua mão tocar uma poça de um líquido quente, sangue. Haviam alguns soldados mortos por ali, soldados que estavam ao seu lado durante a batalha. Após um sinal de respeito, Dylan se apossou da arma do homem morto.

Alguns ruídos denunciaram a presença de um segundo kotonaru na saída que Dylan a pouco havia encontrado. Sem se importar com o que estava ao seu redor, o monstro devorava um cadáver com voracidade.

— desgraçado…

Aquela imagem lhe embrulhava o estômago e atiçava seu ódio. Mas ele não podia se dar ao luxo de uma vingança boba, matar aquele kotonaru poderia chamar a atenção de outros e ele estaria em sérios apuros.

Na escuridão daquela pequena caverna composta por entulhos, Dylan buscava por mais uma saída, e a encontro. Estava distante, mas ele precisava sair daquele lugar.

Após se rastejar por um tempo, o soldado chegou ao final do túnel de ferragens.

A luz do sol feria seus olhos que já estavam acostumados com a escuridão do amontoado de restos..

Como ele havia imaginado, estava fora de Hinan, aquele túnel o levou para a fenda no muro que possibilitou a passagem dos kotonarus quando o caos começou.

No chão árido dos arredores da cidade havia vários corpos de kotonarus despedaçados e sangue para todos os lados. A sua frente, sentada em um barranco, com as pernas suspensas no ar, estava uma garota. Possuía uma pele pálida, cabelos negros e lisos que se estendiam até seus ombros. Em seu bravo carregava um grave ferimento.

— Mary?

Dylan se aproximava.

Sem nenhuma animação a garota se virou para o soldado, após reconhecer seu rosto, voltou sua atenção novamente para a paisagem desértica que a cercava.

— Mary… o que houve aqui?

Dylan se agachava na altura da garota.

— eu matei todos eles…

Mary sussurrava enquanto observava sua lança suja de sangue — acho que alguns fugiram, mas não muitos.

Dylan se sentou ao lado da garota e carinhosamente acariciou seus cabelos. Mary permaneceu imóvel, sem esboçar reação alguma.

— o que houve com seu braço?

— não importa…

Mary mantinha a cabeça abaixada enquanto girava a lança lentamente.

Mesmo que naquele momento as palavras não pareciam ser dignas de serem ditas. Mary sabia que sua fuga naquela direção tinha como intuito encontrar Dylan, seu fiel confidente e amigo. Com quem ela se encontrava as escondidas há pelo menos dois anos. Que a ajudou a entender algumas coisas do passado, mesmo que sua memória não retornasse por completo se sentia feliz estando com ele.

— está tudo bem?

Dylan tentava ver o rosto da garota, que se mantinha escondido pelo cabelo.

Mary apenas fez um sinal negativo com a cabeça.— o que houve?

Em silêncio a garota se virou para o soldado. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, expressavam tristeza e desespero. Dylan poupou a  de mais perguntas e apenas a abraçou.

— ela está morta Dylan! Ela está morta!

Mary chorava intensamente enquanto se agarrava ao peito de Dylan — a Mia se foi e nunca mais vai voltar…

Os olhos de Dylan se arregalaram. Não podia acreditar no que estava ouvindo. Mesmo que não a tivesse visto desde o massacre no sul há 4 anos se lembrava claramente daquele sorriso de moleca, dos cabelos ruivos que ela adorava jogar para todos os lados, da suas provocações voltadas para os sentimentos dele em relação a Mary. Também ouvia de Mary sobre ela, e aquilo mantinha sua memória mais viva. Não podia aceitar que mais uma vez havia perdido sua amiga, e dessa vez seria pra sempre.

Se limitou a apenas abraçar a garota arrasada. Não havia palavras que amenizariam aquela dor, o silêncio talvez fosse mais reconfortante.

**

— avancem!

Céverus gritava para seu exército de bestas.

— recuem!

Raque o desafiava

— avancem!

— recuem!

— me obedeçam!

— fiquem onde estão!

Os animais pareciam confusos.

Céverus levava a mão ao rosto demonstrando uma certa insanidade.

— ela realmente está em pé de igualdade com ele …

Sayo sussurrava abaixada ao lado de Lucy que mantinha a cabeça de Vallery apoiada em seu colo.

— temo o que isso possa custar.

Lucy se mostrava preocupada.

— do que está falando?

— eu não tenho ideia do que diferencia a Raque do Céverus.

— o que diferencia os dois, é que o Céverus é um demônio e a Raque…

— um outro demônio?

Lucy interrompia o momento de revolta de Sayo — um demônio mais novo talvez…

O que estou tentando dizer é que os dois são amaldiçoados, a maldade de Céverus nada mais é do que o resultado da união de todos os sentimentos maus dos habitantes daquele planeta!

— então você acha que quando a Raque for mais velha ela vai…

— talvez não se trate de idade!

Lucy mais uma vez interrompeu a guerreira — pode estar mais relacionado com a necessidade.

Sayo balançou a cabeça, na tentativa de espantar aqueles pensamentos negativos. Lucy se calou.

— ela está melhor?

A guerreira observava Vallery.

— não sei dizer. Bem, ela está desacordada e não se move, está viva graças a Lily, mas no estado que a pequena está não pode fazer mais do que isso.

Lucy apontava para Lily com a cabeça.

Um pouco hesitante Sayo observou a pequena maga pálida, agarrada ao corpo de Erii, que não escondia a preocupação que sentia enquanto a segurava firme nos braços.

— ela deveria… Deveria cortar logo essa ligação.

Sayo dizia com um tom inseguro.

— se ela cortar a ligação a Vallery morre.

Lucy explicava.

— se ela manter as duas vão morrer.

Houve silêncio.

— NÃO! VOLTEM!

A voz desesperada de Raque chamou a atenção de todos.

— o que está acontecendo?

Lucy acomodou Vallery no chão e se levantou.

— os kotonarus…

Butcher se aproximou das duas — estão indo para as Hinans!

Perplexas, as duas IOS se entreolharam.

— coronel Blade? Aqui quem fala é a soldada Sayo…

As vozes desesperadas que ecoavam ao redor de Lucy aos poucos ficaram mais distantes.

Seus olhos estavam perdidos, seu coração acelerado. A quantidade de kotonarus que havia partido era imensa. Numerosa demais para ser contida, poderosa demais para os fracos muros sem reforma, para a pobre cidade sem apoio.

— LUCY!

Sayo gritava ao ver a garota correndo em direção ao carro da polícia— o que está fazendo?

A guerreira observava Lucy retirar sua moto da carroceria.

— vou até o leste! Preciso salvar meus amigos.

Lucy reabastecia sua aljava.

— Lucy… Fica tranquila, já avisei ao coronel e ele vai mandar apoio militar para todas as Hinans!

— já ouvi essa história Sayo.

Lucy subiu no veículo — não acaba bem.

O som da moto denunciou a partida da garota.

**

— nossa! É realmente muito bonita!

Taiko estava diante da Árvore dos Mortos — provavelmente ela deve ser…

— o que quer?

A voz firme de Andy fez Taiko se assustar. Com uma expressão descontente o miraniano se aproximava da árvore. Uma explosão fez seus passos cessarem.

— eu fiz uma pergunta.

Andy o encarou.

— não sabia que o Jon havia deixado um cão de guarda na sociedade.

Taiko debochava.

— nem eu que o Céverus mandava o polvo de estimação fazer o trabalho sujo.

Taiko franziu as sobrancelhas visivelmente ofendido com a comparação.

— vai me dizer o que quer? Ou devo apenas matá-lo e permanecer curioso?

Taiko teve um pequeno ataque de riso. Então mais uma explosão vinda do shikõ irritado o fez parar.

— quem você pensa que é pra…

Andy sentiu o peso do braço de Taiko contra o seu pescoço o afundando no chão duro do jardim da sociedade.

— quem VOCÊ pensa que é? Moleque!

Taiko o encarava firme, Andy tremia — deve se achar incrível não é mesmo? Pois pra mim você só passa de uma criança que aprendeu a soltar fogos de artifício.

Com essas palavras o Miraniano o forçou mais brutalmente contra o solo.

— criança tola.

Taiko sussurrava enquanto retirava uma lâmina da enorme manga de sua túnica — não se preocupe, vai ser rápido.

**

— precisamos… precisamos ir até o sul…

Lily tentava se pôr de pé.

— você precisa ficar quieta!

Erii a segurava de forma que a mesma permanecesse sentada.

— tem muitos kotonarus indo pra lá Erii… muitos deles e…

— e não é da nossa conta! Vou cuidar de você é só isso que importa agora.

Erii mantinha uma voz firme.

— mas…

— sem mas, você não pode fazer nada, precisa ficar aqui, em segurança.

Erii parou alguns segundos e a encarou — você precisa cortar a ligação.

— isso eu não vou fazer…

Lily se afastava do companheiro.

— mas…

— sem mas, e você não pode fazer nada.

Lily dizia de forma irônica. Erii se calou.

O silêncio reinou por alguns segundos. Céverus havia se sentado sobre uma pilha de rochas e observava o desespero nos olhos dos seus adversários.

— Raque.

Céverus sussurrou, a garota tremeu — não sei se você já sentiu isso…

O miraniano erguia a Masayoshi enquanto admirava sua beleza — … mas quando um filho amaldiçoado ergue a espada, ela parece gritar; como se exalasse ódio; como se quisesse voar em nossas gargantas e por fim as nossas vidas.

Raque assentiu em silêncio.

“— essa espada é a herança do filho mais velho, eu não posso passar muito tem com ela… os resultados não seriam bons.”

Sayo havia se lembrado do que Raque tinha dito após a batalha entre Jon e Erii.

— que pena que sem um guerreiro escolhido, você não passa de uma espada qualquer.

Céverus cravou a Masayoshi no solo — chega de brincadeiras.

É hora de fazer jus as lendas antigas.

Uma enorme nuvem negra cobriu o céu, um nevoeiro tomou conta da zona de batalha.

— ainda não estou vendo desespero o suficiente.

Céverus sorria.

— o que ele está fazendo?

Jack não escondia seu medo.

— essa energia…

Jon sussurrava — parece a…

— árvore dos mortos.

Allk se aproximou.

— DE PÉ!

Céverus gritou. O chão começou a se rachar e vários corpos emergiram do solo cobertos de terra, um tipico cenário de filme de terror.

— o que é isso?

Sayo levava a mão aos lábios.

— isso, minha cara, são shikõs.

Cute, que estava ao lado da garota, respondeu sem esconder seu terror.

— não temos a menor chance…

Butcher estava de olhos arregalados.

A cada segundo que se passava mais shikõs surgiam, mais medo gritava nos corações dos guerreiros.

— é uma legião.

Lily dizia em um tom quase inaudível.

— vamos sair daqui.

Erii se levantava depressa.

— para aonde?

Lily largava o braço do companheiro — será que é tão difícil compreender nossa situação atual? Ou lutamos…

Lily se colocava de pé — ou morremos. Não tem para onde ir.

Vozes ecoavam de todos os lados. Shikõs confusos, desesperados, algumas orações.

— sociedade!

Jon gritou em um tom de voz alto o suficiente para que todos pudessem ouvir. houve silêncio — lutem com suas espadas, resistam com suas almas e vençam por suas honras.

— se o senpai não falar alguma coisa vergonhosa, não é o senpai.

Jack suspirava demonstrando um certo desdém. Um grito conjunto de guerra ecoou por todo o campo de batalha — sério que vocês se sentiram motivados por esse discurso clichê?

Jack sentiu a mão de Allk acariciar seus cabelos.

— é tudo ou nada mocinha.

Um breve silêncio permaneceu entre os dois..

— obrigada por tudo Allk…

— eu é quem agradeço.

A batalha teve inicio, espadas trincavam; corpos rugiam; sangue jorrava.

— não se esqueçam, a criança miraniana fica viva.

Céverus dizia de forma tranquila — quero que você assista.

**

— não importa no que você acredita vossa majestade, ele é um perigo pra sociedade.

Um homem alto com cabelos castanhos que chegavam até seus ombros se mostrava irritado.

— Khalil, ele é meu irmão.

O rei se estava tranquilo.

— ele é um monstro Henrique… todo mundo sabe disso.

— ele é seu irmão também.

Os dois permaneceram em silêncio por alguns segundos.

— sim, e não é algo que eu me orgulhe.

Khalil demonstrava desprezo em suas palavras.

— sempre tão carinhoso irmãozinho.

Céverus havia entrado na sala e carinhosamente bagunçou os cabelos de Khalil.

— nunca menti afeto.

O jovem príncipe se retirou da sala.

— nem você, e nem ninguém.

Um sorriso cínico tomou o rosto de Céverus.

— eu não preciso mentir, afinal você é meu irmão caçula.

Henrique dizia com um sorriso enquanto batia de leve nas costas do irmão.

**

— PROTEJAM  A VAL E A LILY!

Sayo gritava em meio ao caos que os cercavam.

— eles não são muito fortes.

Allk dizia enquanto derrubava alguns adversários sem nenhum esforço.

— Talvez a magia dele não possa imitar um renascimento perfeito!

Butcher explodia vários com seus raios.

—  no fim apenas seremos vencidos pelo cansaço.

Allk expressava um sorriso sem graça no rosto.

De joelhos no chão frio e árido do campo de batalha, Raque se mantinha silenciosa enquanto observava o desenrolar confuso da batalha. Os shikõs recém nascidos não possuíam tanta força, mas conseguia ver muitos soldados cercados por dezenas deles e perecendo sem chance de se defender.

Todos os shikõs possuíam olhares distantes, corpos esqueléticos e feições abatidas. Haviam homens, mulheres e até crianças. Raque se perguntava como eram suas vidas antes do meteoro, antes dos problemas de Miran virarem seus problemas. Se perguntava se estariam satisfeitos em ajudar na destruição da sua própria casa.

— EI!

Raque se levantou bruscamente — vocês shikõs!

Não houve reação.

— ESCUTEM!

Raque agarrava o braço de um shikõ que batia incessantemente em um soldado caído.

Sem demonstrar qualquer sentimento o shikõ acertou com força o rosto da garota que caiu.

Com o rosto ainda quente enterrado no chão, Raque ouvia os gritos do soldado que o shikõ estava agredindo.

Se pondo mais uma vez de joelhos a garota ergueu um campo de força que protegeu a vitima.

Mais gritos surgiram, mais soldados caídos. A cada segundo que se passava a situação se tornava mais complicada.

— VOCÊS NÃO PODEM AJUDAR ELE A DESTRUIR A CASA DE VOCÊS!

Raque gritava enquanto socava o chão com toda a sua força. Uma gargalhada descontrolada fez a garota voltar sua atenção para Céverus:

— São zumbis Raque. Você não tem chance de persuadi-los e nem poder para controlá-los.

Céverus retirou uma mecha de seus longos cabelos brancos do rosto — o melhor que você pode fazer agora é assistir.


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