Hinan escrita por Hakiny


Capítulo 14
O Começo


Notas iniciais do capítulo

Pessoal esse é um especial contando a história dos três shikõs mais fortes de toda a sociedade!
Jon, Kannot e Dragon.
Espero que curtam a leitura! Abraços :)



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Sentado em sua cama de madeira, o velho homem de cabelos grisalhos e rosto sofrido chorava. Naquele dia ele havia perdido a pessoa que mais lhe importava no mundo inteiro... seu único filho. Aquele a quem ele serviu de pai e mãe, quando sua esposa havia falecido, mas que agora no auge de seus 20 anos, teve a vida ceifada pela peste que assombrava toda a aldeia.
— senhor Kannot!
Uma voz masculina ecoava de fora da casa. Kannot pensou em ficar em silêncio, não estava com cabeça para visitas.
— senhor Kannot é urgente!
— volte depois!
O velho homem resmungava.
— senhor... seus vizinhos morreram!
Com os olhos arregalados o velho tremeu diante daquela noticia. Então a peste fez questão de levar mais alguns. Pensou.
Sim aquilo era triste, mas em meio a tudo o que havia acontecido, Kannot não conseguia acreditar que aquele homem havia saído do conforto de sua casa, para vir lhe informar de mais uma desgraça.
Em passos vagarosos, o velho se dirigiu até a porta, respirou fundo e a abriu.
Diante dele estava um velho conhecido, cercado por três crianças.
— sei que é perdir muito mas... eles não tem ninguém.
Dois, seis e oito anos, essas eram as idades dos pequenos órfãos. Olhando para os dois mais velhos, Kannot se lembrou de vê-los correndo pela vila, sorridentes e despreocupados como qualquer criança dessa idade, mas agora eles estavam ali, desiludidos e assustados.
Na frente o mais velho mantinha sua expressão séria, mesmo angustiado, não queria demonstrar fraqueza diante de seu irmão mais novo, que estava atrás com a pequena bebêzinha no colo.
— posso segurá-la?
Kannot perguntou para o garoto de seis anos, que segurava a irmã como se fosse seu bem mais precioso, mostrando estar disposto a protegê-la a qualquer custo. Sem muita enrolação a menininha estendeu os braços, a espera de colo. Ele a pegou, a criança então sorriu, um sorriso tão meigo e inocente, que amoleceu o coração daquele velho amargurado:
— eu cuidarei de você Layla e também cuidarei dos seus irmãos... a partir de hoje, vocês serão meus filhos.
A doença que havia se alastrado naquela vila, matou 4.500 pessoas, quase a metade dos habitantes. Mas 14 anos haviam se passado, e após o controle da epidemia, a paz e a tranquilidade reinou novamente.
— PAPAI! O JON ESTA USANDO MEU SHAMPOO DE NOVO!
Layla gritava de dentro da casa. Alguns segundos depois a menina saiu de dentro de casa, seus longos cabelos negros azulados, deixavam sua pele branca, ainda mais pálida.
— O MEU ACABOU!
Naquele momento ambos já estavam do lado de fora. O homem de idade já um pouco avançada, estava de joelhos diante de uma roseira. As rosas realmente eram a paixão de Kannot.
— PAPAI FAZ ALGUMA COISA!
Layla continuava a gritar.
— Jon, você já tem os seus próprios produtos, pare de usar os da sua irmã.
Kannot dizia em um tom de voz calmo.
— pai eu não gosto do cheiro deles.
Jon respondia, demonstrando sua insatisfação.
— o Jon gosta dos shampoos da Layla porque tem cheiro de rosas.
Léo que acabava de chegar juntamente com o restante do grupo de caça da vila, já estava ciente da situação.
— n-não é isso...
Jon corou.
— shampoo de rosas são para garotas Jon.
Kannot ainda se mantinha sereno.
— tenho que concordar com o pai, a ultima vez que o Jon dormiu comigo, tive a sensação de que estava compartilhando a cama com uma bela mulher, de cabelos sedosos.
Léo ironizava enquanto tocava nos cabelos de Jon.
— NÃO ENCHE LÉO!
Jon gritava enquanto batia na mão do irmão com brutalidade.
— huuu... ela ficou irritada.
Léo continuava a provocar.
— o cabelo do Jon é mais macio do que o meu.
Layla demonstrava uma certa decepção.
Aquela discussão durou por mais algum tempo.
Já eram meio dia sentado na porta de casa, os olhos de Léo fitavam o céu. A movimentação das nuvens estava estranha, o vento soprava forte... o que parecia tão natural, por algum motivo estava deixando o coração daquele jovem rapaz inquieto. Foi naquele momento que um flash de luz rasgou o céu e então um objeto caiu no solo provocando um barulho ensurdecedor.
— O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
Jon que a pouco havia saído de casa, gritava desesperado. Uma densa nuvem de fumaça indicava o local da queda.
— fiquem aqui, eu e o Jon vamos ver o que está acontecendo.
Kannot acenou positivamente com a cabeça, Layla um pouco confusa, olhava a imagem de seus irmãos se afastando com um aperto no peito. Por algum motivo, ela estava angustiada.
Jon e o Léo foram os primeiros a chegar até o local do impacto. Uma cratera gigantesca havia sido aberta nas proximidades da vila.
— que droga é essa?
Jon perguntava assustado.
Uma luz muito forte brilhava de dentro daquele buraco gigante. Observando por um tempo, Léo então resolveu averiguar mais de perto.
— Léo volta aqui...
Jon cochichava temendo que alguém ou algo o ouvisse. Ignorando o irmão, Dragon continuou a se apoiar nas pedras para chegar até o fundo daquela cratera.
— Léo!
Jon tentou mais uma vez, mas era tarde. Temendo pela vida do irmão, ele o seguiu.
Chegando ao fundo, ambos puderam notar uma espécie de túnel, a luz que iluminava todo aquele local vinha de dentro do mesmo.
— não está pensando em ir até lá está?
Jon perguntou para Léo.
— você ainda tem dúvidas?
**
— papai, o Léo e o Jon estão demorando.
Layla lavava a louça na cozinha, sentado no sofá o velho lia um livro.
— eles devem estar bem Layla, os outros moradores já devem ter aparecido por lá.
— e se não tiverem aparecido?
— Layla, fique calma! Não é nada com que você tenha que se preocupar.
Depois de terminar com a louça, a bela garota enxugou as mãos em seu avental e em seguida o retirou.
— vou atrás deles!
— não.
Kannot respondeu rapidamente.
— papai por favor... eu estou preocupada.
— já disse para não se preocupar.
— se não a nada para se preocupar, significa que não é perigoso não é mesmo?
A garota perguntou curiosa.
— isso meu amor, fique tranquila.
Layla então sorriu.
— então não a nada que me impeça de ir não é mesmo?
Respirando fundo, Kannot percebeu que não tinha mais argumentos.
**
— Léo isso não é uma boa ideia... vamos chamar os outros homens da vila para investigarmos isso.
Jon estava preocupado.
— Jon, se você está com medo... VAI EMBORA!
Léo já havia se irritado.
— não é medo Léo... é só prudência.
Jon tentava se justificar. No fim do túnel Jon e Léo se depararam com algo inesperado.
— o que é isso?
Olhando para uma gigantesca esfera de energia com uma coloração azulada, Léo estava realmente assustado.
— esta quente aqui.
Jon dizia enquanto limpava o suor que escorria pelo seu rosto.
— sim, esse calor vem dessa coisa, provavelmente ela se moveu até aqui.
Léo especulou.
— então foi isso que caiu do céu?
— é o que parece.
— EIII!
Uma voz femina vinha lá de cima.
— é a Layla?
Jon dizia enquanto corria pelo túnel em direção ao buraco que levava a saída.
— ah você está ai! Graças a Deus! Eu e o papai estávamos preocupados.
Layla acenava para Jon.
— Não se aproxime Layla, aqui é perigoso!
Jon interrompia a garota, que já tentava descer até onde ele estava.
— onde está o Léo?
Kannot perguntou.
— ele esta ali dentro. Nós encontramos uma...
Um barulho ensurdecedor interrompeu a voz de Jon. Olhando para o túnel, naquele momento ele se lembrou de seu irmão.
Antes que pudesse dar o primeiro passo em direção ao túnel, uma forte onda de energia o jogou contra a parede.
— JON!
A voz de Layla parecia tão distante. Levantando-se rapidamente, Jon cambaleava, estava tonto, seus membro pareciam não obedecer.
— Layla... Kannot.
Ninguém respondeu.
— LAYLA! KANNOT!
Jon tentava mais uma vez.
— ESTAMOS BEM!
A voz de Kannot estava longe. Levando a mão a cabeça, Jon a sentiu latejar.
Um grito desesperado foi suficiente para despertar seus sentidos.
— ai meu Deus... Léo!
Jon então correu desesperadamente, os gritos continuaram. Chegando até o local, ele então viu seu irmão em chamas.
Desesperado, Jon correu em direção ao seu irmão. Retirando o casaco que usava, Jon cobriu o irmão, fazendo com que dessa forma o fogo se apagasse.
— Léo...
Naquele momento Jon estava com medo, seu irmão já não se movia mais. Retirando vagarosamente o casaco, algo o surpreendeu.
— eu não acredito...
Com os olhos arregalados, Jon então notou que em seu irmão não havia queimaduras.
Foi então um forte tremor, fez Jon perceber que o local estava desmoronando.
— preciso sair daqui.
Com essas palavras, Jon segurou Léo e o arrastou até a saída.
**
Depois do ocorrido Jon, Léo, Kannot e Layla foram para casa.
— que bom que vocês não estão feridos... aquilo foi uma explosão feia.
Layla dizia enquanto observava o irmão pensativo.
— sem nenhum ferimento...
Jon falava em voz baixa, enquanto mantinha um olhar distante.
— o que?
A menina perguntava confusa.
— o Léo estava queimando Layla... você consegue entender? Queimando!
Com um rosto apreensivo, Layla virou para a janela e se silenciou. Jon continuou:
— eu fui jogado contra uma parede com tanta velocidade, que posso jurar que ouvi o som de meus ossos se quebrando... mas agora eu estou aqui, sem nem mesmo um arranhão!
— Jon... vamos apenas esquecer isso.
A voz de Layla estava quase inaudível.
— mas Layla aquilo...
— eu tive medo.
Jon parou para ouvi-la, ela continuou.
— quando aquilo explodiu... eu tive tanto medo de perdê-los... foi horrível.
Uma lágrima foi derramada.
— já esta tudo bem Layla! Passou.
Jon se levantou e a abraçou. A porta se abriu, com as mão lotadas de sacolas, Kannot se movia com dificuldades.
— quer ajuda papai?
Layla secou o rosto e se dirigiu até o pai, segurando algumas das sacolas.
— ele já acordou?
— ainda não papai.
O velho parecia preocupado.
— ele já esta dormindo a três dias.
Jon dizia enquanto pegava o restante das sacolas com o velho.
— isso é preocupante.
— ele só esta cansado papai! Nã há nada de errado nisso.
Layla respondia tranquilamente enquanto retirava as compras da sacola.
— papai... você só comprou isso pro almoço de hoje?
— sim Layla, os alimentos estão muito caros! De acordo com o que o dono da venda disse, vários animais estão desaparecendo dos campos!
Kannot explicava.
— como assim desaparecendo?
Jon perguntava curioso.
— ninguém sabe como... é um verdadeiro mistério!
Kannot respondeu. Foi então que passos foram ouvidos, e então um homem de cabelos de um tom verde acinzentado apareceu na porta da cozinha, seus olhos inchados deixava bem visível seu longo período de sono.
— LÉO!
Layla gritava enquanto disparava correndo em direção ao irmão. Ela o abraçou.
— estou com fome!
O rapaz falava ainda um pouco sonolento.
— vou preparar alguma coisa pra você agora!
Layla dizia sorridente.
**
Sentados na mesa, aquela família estava realmente feliz.
— SOCORRO!
Gritos desesperados vinham de fora da casa.
— o que está acontecendo?
Jon perguntou assustado.
Levantando-se rapidamente, Léo então correu em direção a porta e a abriu, e na sua frente ele viu algo que seus olhos jamais esqueceriam, um monstro enorme devorando uma pessoa, provavelmente o autor do grito.
— ALGUÉM ME AJUDE!
Vários outros gritos vieram em seguida.
— AI MEU DEUS!
Layla que a essa altura já estava do lado de seu irmão gritava assustada.
Foi naquele momento que um barulho alto fez todos se assustarem:
— Droga!
Puxando o braço de sua irmã, Jon rapidamente se desviou do monstro que havia quebrado a parede e invadido a casa.
— TODO MUNDO PRA FORA!
Léo gritou. Todos saíram, o monstro que estava a frente do rapaz babava e rosnava como um cachorro raivoso. Léo sentiu seu corpo inteiro tremer, mas mesmo que aquilo lhe custasse a vida, ele precisava salvar sua família.
**
Jon, Layla e Kannot corriam desesperados. Foi naquele momento que Kannot parou, o pobre velho não era capaz de mover suas pernas, seus olhos cheios de lágrimas não conseguiam distinguir o que via. O tom vermelho das belas roseiras se misturava com o sangue que cobria a maior parte da aldeia e o cheiro suave das flores dali foi substituído pelo cheiro de morte.

Foi então que um liquido quente espirrou nele, passando a mão rapidamente em seu rosto ele viu o que era.
– sangue? Mais sangue?

Kannot gritava desesperado.

– venha rápido pai.

Foi então que o velho sentiu uma mão puxar o seu braço. Olhando para um lado, ele viu o cadáver do Kotonaru que provavelmente o atacaria e do outro lado estava Léo que o puxava com agressividade.
— pai, vá para perto do Jon e da Layla!
Dragon dizia com uma expressão séria. Observando o filho coberto de sangue, segurando uma faca de cozinha ensanguentada, o velho sentiu seu coração apertar.
— PAI! VEM PRA CÁ!
Jon gritava ao longe.
Correndo em direção aos dois filhos, ele podia ver sangue por toda a parte, pedaços de pessoas, gritos de agonia... A Vila das Flores havia se tornado um verdadeiro inferno.
— AHHHH
Um kotonaru havia cravado os dentes no ombro de Jon.
— SOLTE MEU FILHO,MALDITO!
Kannot correu em direção ao monstro, ele estava de mãos vazias, e aquele monstro tinha três vezes o seu tamanho, mas ele sabia que a vida de Jon valia o risco.
Com punho fechado o velho juntou todas as suas forças e o acertou. Naquele momento o tempo parecia ter parado, os gritos desesperados de Layla também pararam.
— como isso aconteceu?
Jon perguntava perplexo ao ver as cinzas do monstro caindo sobre o seu corpo. Olhando agora para sua mão, Kannot também não entendia bem o que estava acontecendo, mas sentia uma grande energia circular pelo seu corpo.
Virando-se para a multidão de Kotonarus que vinham em sua direção, o velho então estendeu seu braços e se concentrou, por algum motivo ele sabia que aquela energia que pulsava dentro de seu corpo estava pronta para sair.
— pai, o que você esta fazen...
As palavras de Layla foram interrompidas por um clarão, e então todos os Kotonarus haviam desaparecido, restando apenas cinzas.
Todos ficaram espantados e realmente estavam curiosos, mas aquele não era o momento para perguntas, independente do que fosse aquilo, poderia ser a chave para a salvação deles.
— vocês estão bem?
Léo havia chegado perto deles.
— sim
Jon respondeu para o irmão preocupado.
Eles queriam fazer alguma coisa, mas naquele momento estavam de mãos atadas. Escondidos dentro de uma igreja com paredes reforçadas, tudo o que aquela família pode fazer, era ouvir os gritos de socorro dos últimos moradores sendo mortos.
— esta tão quieto lá fora...
Kannot dizia enquanto olhava pela janela.
Deitada no chão, Layla dormia, usando as pernas de Jon como apoio para a cabeça.
— como ela consegue dormir numa situação dessas?
Léo perguntava indignado.
— dê um desconto a ela, Layla só conseguiu parar de chorar depois que adormeceu!
Jon dizia enquanto acariciava os cabelos da irmã.
— tem razão... tudo isso que está acontecendo, me deixa estressado.
Léo dizia enquanto respirava fundo.
— e onde veio esses monstros?
Kannot perguntava, ainda de pé diante da janela.
— quem sabe?
Léo respondeu.
— Jon, eu havia me esquecido! Como está o seu ombro meu filho?
Kannot perguntava preocupado.
— não tem mais nada no meu ombro pai! Mesmo que naquele momento eu tenha sentido os dentes daquele monstro cravarem meus ossos, agora não resta nem um arranhão sequer!
Jon respondia enquanto passava a mão em seu ombro direito.
— Léo, algo incomum aconteceu com você também?
Kannot perguntou para o filho.
— não sei... talvez eu tenha ficado um pouco mais forte...
— Talvez? Você matou pelo menos uns dez monstros daqueles!
Jon interrompia o irmão.
— pode ser apenas adrenalina Jon...
Léo tentava achar argumentos.
— ah claro, e também foi a adrenalina que fez você ficar em chamas e depois sair sem nenhum ferimento.
Jon dizia com certa ironia.
— o que?
Léo parecia não se lembrar do ocorrido.
— isso mesmo que você ouviu! Quando aquela coisa explodiu, você estava no chão pegando fogo, gritando como um louco enquanto se contorcia de dor.
Jon explicou. Levando a mão a cabeça, Léo tentava se lembrar do ocorrido, mas aquilo não fazia nenhum sentido para ele.
— é isso Jon!
Kannot dizia enquanto, batia forte na parede.
— isso o que?
Jon perguntava confuso.
— aquela explosão! Foi depois dela que coisas estranhas começaram a acontecer conosco! E quem me garante que não foi a explosão que fez aparecer esses monstros? Quem me garante que essa explosão não foi o motivo de tudo o que está acontecendo?
Kannot parecia querer criar uma linha de raciocínio.
— ah! Ótimo! Agora tudo que precisamos é usar a cueca por cima da calça!
Jon ironizava.
— não! Nós não somos super herois! Nem seremos! Se esses "poderes" realmente existem, nós vamos apenas sobreviver! Não vamos sair por ai salvando pessoas! Precisamos cuidar de nós mesmos!
Léo dizia um pouco irritado.
— por que?
A voz baixa de Layla, ecoava do colo de Jon.
— porque o que?
Léo não entendia o que a menina queria dizer.
— por que não podemos ajudar pessoas?
— porque estamos muito ocupados, cuidando de nós mesmos!
Aproximando-se da irmã, que a essa altura já estava sentada, ele então tocou lhe o rosto e continuou — Layla, nesse momento a minha prioridade é te manter segura!
Abaixando a cabeça e dessa forma afastando a mão do irmão ela respondeu:
— Léo... nesse momento, tem centenas de pessoas morrendo, pessoas indefesas que não tem como escapar da morte certa! Mas nós somos diferentes! Nós fomos abençoados com a força pra lutar! Eu particularmente não sei se também tenho esses poderes, mas mesmo assim lutarei! Mesmo sendo fraca, não fecharei os olhos diante da crueldade.
Encarando a irmã por alguns segundos, Léo então virou o rosto, em seu coração ele sabia que ela estava certa e se orgulhava de tamanha coragem, mas também não queria por a vida de sua irmanzinha em perigo. Ele estava confuso, não poderia simplesmente prende-la e a proibir de ajudar pessoas, isso seria desumano.
— estou com você querida!
Kannot dizia com um sorriso no rosto.
— obrigada papai!
A menina estava emocionada.
— eu preciso cuidar de vocês dois!
Jon também sorria.
— irmão...
Layla dizia enquanto abraçava Jon. O silêncio reinou no interior daquela velha igreja, foi então que todos olharam para Léo. O Rapaz parecia pensativo. Mesmo sem dizer uma palavra, Jon, Layla e Kannot compartilhavam os mesmos pensamentos. Abandonar Léo não era uma opção, mas eles já haviam decidido que não ficariam de braços cruzados diante do massacre da humanidade! Naquele momento, tudo estava nas mãos de Léo.
— para onde vamos?
Todos se assustaram.
— você... vai conosco Léo?
Jon perguntava assustado.
— Para onde vamos?
Léo repetia a pergunta.
— VAMOS PARA A ALDEIA VIZINHA!
Layla dizia enquanto saltava eufórica.
Durante alguns meses, Kannot e seus três filhos, viajaram de aldeia em aldeia salvando pessoas, nesse passar de tempo, eles conseguiram desenvolver suas habilidades, inclusive Layla, que descobriu que também tinha dons especiais. Jon era capaz de manipular uma fumaça negra que podia sufocar ou esmagar o inimigo, Kannot conseguia desintegrar qualquer adversário somente com a força do pensamento, Layla fazia telecinese e Léo manipulava o fogo. Todos possuíam uma regeneração surpreendente
— é incrível como eles se espalharam rápido.
Layla e Léo estavam parado de frente a uma cachoeira.
— sim, já andamos por tantos lugares... e por onde passamos só havia destruição.
Léo dizia com uma expressão séria.
— sinto falta da vila.
Layla tinha semblante triste.
— não está muito longe daqui, quer ir lá visitar?
— não! Não dessa vila, sinto falta da vila que conhecíamos... aquela vila alegre e tranquila, sinto falta do cheiro de flores impregnado no ar, sinto falta da comida da vizinha e das festas da colheita.
Uma lágrima escorria do rosto da jovem menina.
— Layla... eu sei que é difícil mas...
— nós vamos conseguir!
Layla interrompeu a fala do irmão. Léo se assustou:
— o que?
— vamos fazer as coisas voltarem a ser como eram antes.
A menina dizia com um olhar confiante.
— Layla, não quero ser estraga prazeres nem nada mas é um sonho muito alto, pelo menos nas circunstâncias em que nós nos encontramos.
— Léo, um dia nós iremos construir uma cidade, e lá os humanos viveram em paz! Faremos muros tão altos que nenhum Kotonaru poderá passar! E lá as pessoas viveram felizes, as crianças correram pelas ruas, os velhos descansaram tranquilos e os jovens poderão ter sonhos e planos pro futuro.
Passando o seu braço esquerdo pelo ombro da garota, Léo apenas sorriu da loucura da irmã.
— Léo...
— oi
— o nome dessa cidade será Hinan!
— Hinan?
— sim! Hinan, Refúgio.
**
— SOCORRO! SOCORRO! PELO AMOR DE DEUS! ALGUÉM ME AJUDA!
Um rapaz corria e gritava desesperado.
— fica calmo! Você está bem?
Kannot ajudava o garoto que havia tropeçado.
— ELES... ELES ESTÃO VINDO!
O rapaz parecia estar em choque.
— os kotonarus atacaram a sua aldeia?
Jon perguntou.
— koto... o que? Se você esta falando de monstros gigantescos... sim eles atacaram minha aldeia!
O menino respondia confuso.
— e no fim eu acabo me adaptando aos nomes estranhos que a Layla dá para as coisas!
Jon se lamentava.
— a Layla da nome até para os mosquitos!
Léo comentou.
— mas Robby é um nome legal!
A menina tentava se justificar.
— ainda resta sobreviventes?
Kannot conversava com o homem.
— sim! Eu acho, minha aldeia é perto daqui! Eu corri assim que tudo começou! Apareceram centenas de monstros!
O homem contava.
— você disse centenas?
Jon perguntou assustado. O homem acenou positivamente com a cabeça.
— Layla, espere aqui! Nãõ vamos demorar, se esconda dentro de uma caverna qualquer.
Léo orientava a garota.
— mas porque?
A menina perguntava indignada.
— é para a sua própria segurança!
Léo explicou.
— mas não quero ficar sozinha.
A menina dizia um pouco triste.
— decidam logo! Cada segundo que perdemos é vital!
Kannot dizia preocupado.
— Léo, pai, vão na frente! Vou levar a Layla até uma aldeia próxima e vou ajudá-los em seguida.
Os dois concordaram e seguiram em frente.
Andando por alguns minutos, Jon finalmente havia chegado até uma aldeia habitada. Sem demora logo foram recepcionados por uma bela mulher.
— quem são vocês?
— olá, eu me chamo Jon, essa é a Layla e esse é o...
— David.
O rapaz completou.
— isso, nós somos viajantes e eu queria saber se os meus irmãos podem ficar aqui em sua aldeia por algumas horas... só enquanto vou buscar a minha esposa grávida, que eu deixei esperando, juntamente com o meu pai a alguns quilômetros daqui.
Olhando para o irmão, Layla não conseguia entender o motivo de tantas mentiras.
— viajante é? Em uma época como essa não é muito comum...
A mulher parecia desconfiada.
— sim, nossa vila foi atacada a alguns dias nós estamos vagando por ai, atrás de um lugar seguro.
Jon tentava parecer o mais convincente possível.
— hum... e porque motivos você veio até aqui com esses dois adolescentes e deixou sua esposa para trás?
A mulher parecia não estar convencida.
— bem... como eu havia dito, minha mulher esta grávida e meu pai já esta com uma idade avançada! Ambos se cansaram e eu resolvi trazer esses dois até um lugar seguro para depois voltar para buscá-los!
— sei...
A mulher dizia de forma sarcástica.
— minha senhora por favor! São apenas algumas horas, eles podem ficar em qualquer lugar, mesmo que seja em um cantinho na rua. Quero apenas buscar meu pai e minha esposa e depois nós seguiremos para um local seguro!
Comovida com o teatro de Jon a mulher então sorriu.
— não há problemas! Desculpe pela minha desconfiança, mas nessa época difícil, com tantas aldeias e vilas sendo atacadas, saqueadores tem aparecido com frequência. Seus irmãos podem ficar sim! E você, seu pai e sua esposa também são bem vindos! Uma mulher grávida e um senhor de idade não podem ficar vagando por ai com todos esses monstros! Eu e todos os moradores da vila estamos de braços abertos para receber sua família.
— muito obrigado!
Jon dizia com seu cinismo habitual. Puxando o irmão pelo braço, Layla o levou para um local um pouco distante:
— porque mentiu?
— porque foi necessário Layla! Essas pessoas estão muito assustadas, não podemos assustá-las mais ainda! E além do mais escute bem...
Jon tocava os ombros da irmã.
— ... não conte a ninguém sobre os seus poderes entendeu? A ninguém! Nem mesmo ao Petter!
— David
Layla corrigiu.
— tanto faz! Você entendeu o que eu disse?
A menina acenou positivamente com a cabeça.
— Layla... eu te amo.
— também te amo irmão.
Jon se despediu e depois foi em direção a vila atacada.
Um pouco distante da aldeia, Jon se virou para trás, ver a sua irmã entrar naquele lugar o fez sentir uma dor no peito. Ele não sabia explicar o motivo, mas sentia uma agonia muito grande em deixa-la para trás.
**
— estão com fome?
A mesma mulher os havia levado para sua casa.
— com certeza!
David dizia animado.
— como se chama senhora?
Layla perguntava
— me chamo Melanie.
A mulher respondia enquanto servia os dois garotos.
— muito obrigada!
David dizia enquanto, agarrava o prato de comida.
— comam a vontade! Eu preciso sair agora, então sintam-se a vontade.
Com essas palavras a mulher saiu.
— você deve estar bem preocupado não é mesmo?
Layla começou o assunto.
— na verdade não.
O menino respondeu tranquilamente.
— como assim não? E sua família? Amigos?
Layla perguntava um pouco assustada.
— meus pais morreram com uma doença que alastrou a aldeia a alguns anos! Eu tive que me virar sozinho desde então! Nunca tive amigos e muito menos alguém que me amparasse, ou que no mínimo se importasse comigo! Não ligo para eles, apenas fugi para salvar a minha vida! Não havia nada ali que valia a pena proteger.
Olhando para aquele garoto, Layla então pode ver a história dela e de seus irmãos... perder os pais vítima de uma doença ainda criança, era duro! Talvez se Kannot não os tivesse adotado, esse seria o destino dela e de seus irmãos.
— eu me importo com você!
Layla dizia com um sorriso no rosto. Observando a sinceridade daquele sorriso, David sentiu naquele momento, a segurança que há muito tempo não sentia.
— ESTAMOS SENDO ATACADOS!
— SALVEM-SE QUEM PUDER!
Gritos desesperados vinham lá de fora. Levantando-se rapidamente, Layla e David se dirigiam até a porta de saída.
Chegando até a rua, eles puderam ver que 5 Kotonarus haviam invadido a aldeia.
Todos estão tão assustados... todos estão desesperados!
Layla pensava, e refletiu que foi por essas pessoas que ela e seus irmão haviam embarcado nessa jornada, por essas pessoas indefesas que ela arriscou a vida inúmeras vezes... e agora arriscaria novamente.
Correndo em direção ao centro da vila, Layla parou, abrindo os dois braços, ela era a barreira que separava os monstros dos aldeões. Erguendo sua mão esquerda, Layla fez com que dois dos monstros fossem lançados longe, com a mão direita, fez várias facas, machados, foices e objetos pontiagudos voarem das mãos dos moradores e ficarem levitando ao seu redor. Com as duas mãos erguidas a menina tinha um olhar confiante, sem muito esforço, uma chuva de lâminas foi o suficiente para dar cabo de todos os monstros.
Ao redor da garota todos estavam assustados.
— o que ela é?
— como ela fez aquilo?
Vozes ecoavam de todas as partes.
— então você é um deles...
Uma voz feminina vinha de trás de Layla, virando-se rapidamente ela pôde ver a dona da voz.
— Melanie? Como assim um deles?
A menina perguntava confusa.
— você é um desses monstros, porém fingiu ser um humano...
— não! Não é nada disso!
— NÃO ADIANTA MENTIR DEMÔNIO!
Melanie estava descontrolada. Foi então que um morador entregou um arco e flechas para Melanie. Ela então o apontou para Layla.
— Melanie por favor... não faça isso.
A menina estava profundamente entristecida, por mais que sua vida dependesse disso, ela não ousaria ferir uma pessoa.
— Morra!
Uma flecha foi lançada, e naquele momento sangue foi derramado.
— NAAAAAO!
Layla gritava desesperada ao ver David caído no chão. Ajoelhando-se, Layla rapidamente corria ao socorro do amigo ferido.
— porque? Porque entrou na minha frente? Droga David!
A menina chorava desesperada. Enxugando uma lágrima que escorria pelo belo rosto de Layla o rapaz falava com dificuldade.
— eu... finalmente achei algo que valia a pena proteger!
Layla chorava desesperadamente.
— isso não é justo! Eu não quero perder mais ninguém!
— fuja Layla! Fuja agora! Salve a sua vida!
O menino implorava.
— não vou te abandonar!
Layla dizia em meio a soluços. Percebendo o silêncio do amigo, Layla então se deu conta de que ele não estava mais vivo.
— não... não! David Não!
A menina chorava ainda mais. Foi então que uma flecha que havia acertado o chão próximo ao seu pé, a fez levantar, em um ato de desespero a menina começou a correr, mas logo foi parada por uma dor em suas costas que ela jamais havia sentido.
**
— todos vocês estão bem?
Kannot perguntava ao grupo de sobreviventes que haviam restado.
Todos confirmaram.
— JON CUIDADO!
Léo gritava enquanto lançava uma nuvem de chamas no kotonaru que vinha em direção de seu irmão.
— Ufa! Essa foi por pouco!
Jon dizia com um sorriso aliviado.
— tem mais alguns ali!
**

Cercada por uma poça de um liquido escuro, a garota não entendia bem o que estava acontecendo. Aquela dor insuportável que tomava conta do seu corpo parecia não ter fim.
− Jon... Léo...
A voz da garota estava falha, apoiando-se sobre os seu joelhos ela tentava se levantar, seu vestido antes branco, assumia agora a cor borgonha. Sim ela estava coberta de sangue.
Agora de pé, Layla mancava até a saída da vila.
− eu preciso encontrar eles...
Um grande impacto fez com que a menina caísse mais uma vez no chão, uma dor ainda mais forte fez com que ela gritasse:
− não vai escapar demônio.
Uma mulher alta de cabelos negros empunhava um arco e flechas. Ferida e agora praticamente imóvel, Layla tentava se arrastar, sem nenhum sucesso. Ela não entendia qual crime havia cometido, não conseguia compreender o porque faziam aquilo com ela.
Uma multidão se aproximava formando um círculo ao redor daquela garotinha ferida, sua visão turva não permitia que ela identificasse ninguém. Tudo parecia um grande show de horrores.
− queime!
Todos começaram a gritar, um clarão seguido de um calor inimaginável fez com que Layla se encolhesse, ela agora estava cercada por chamas.
− PAPAI!
A menina gritava em seus últimos minutos de desespero. Observando a multidão agitada, Layla agora estava em silêncio, aqueles rostos raivosos foram as ultimas imagens que a jovem garota pôde presenciar.
− me perdoem.
Dito isso ela mais uma vez ficou em silêncio, silêncio esse que durou para sempre.
**
− Já eliminamos todos os monstros.
Os três guerreiros caminhavam juntos.
− verdade Léo, já esta na hora de voltar.
Jon dizia enquanto esticava os braços, demonstrando sua preguiça rotineira.
− a Layla vai adorar essas maçãs! Nesses tempos difíceis esse tipo de comida é raridade.
Kannot erguia uma sacola repleta de maçãs.
− então vamos acelerar os passos, ela já deve estar aos berros pelo nosso atraso.
Jon completou.
Eles andaram por algumas horas até avistar a aldeia. Sorridente os três homens andaram até a entrada do local.
− então vocês finalmente chegaram...
Léo, Jon e Kannot foram recepcionados por um grupo de aldeões armados com machados, foices e outras ferramentas de trabalho no campo. As tochas carregadas por eles, eram as únicas coisa que iluminavam aquele local.
− onde está a Layla?
Léo perguntou irritado.
− queimando no fogo do inferno, esperando por vocês!
Melanie gritava do fundo da multidão.
“ Queimando no fogo?”
Jon refletia, uma forte luz um pouco distante dali, fez com que o jovem shikõ matasse a charada.
Aproveitando que todos estavam distraídos com Dragon, Jon sorrateiramente se embrenhou no meio da multidão, e correu em direção ao incêndio.
A fumaça impedia que o shikõ tivesse uma visão nítida do que se passava dentro daquele círculo de fogo. Erguendo sua mão esquerda, Jon concentrava uma grande energia na sua palma, o jovem rapaz que ainda não possuía controle total sobre seus poderes lançou seu ataque, aquela onda energia fez com que o fogo se apagasse. A fumaça permanecia, tampando o nariz com uma mão, Jon usava a outra para abrir caminho. Foi então que ele se deparou com algo que seus olhos não podiam crer. Um corpo encolhido no meio das cinzas.
− não...
O rapaz, sentiu seu coração bater como nunca havia batido antes. Aproximando-se lentamente, pode então reconhecer aquele vestido branco, feito a mão especialmente para ela... para ela...
− Layla?
A voz trêmula de Jon ecoava no silêncio daquela noite obscura. Mais alguns passos adiante, ele então pode reconhecer aqueles longos cabelos negros azulados, que faziam a moldura de um rosto inocente. Parado diante daquele corpo ensanguentado, Jon então caiu de joelhos, agarrando o corpo morto de sua preciosa irmã, ele berrava como um louco.
− LEEEEEEEO!
Cercado pela multidão enfurecida, Léo pode ouvir os gritos do irmão. Ele então notou que em seus braços, se encontrava a irmã aparentemente inconsciente.
− Jon! Acorde-a e vamos sair dessa aldeia de loucos!
Jon chorava, chorava como uma criança perdida e sem rumo.
− ela não vai acordar Léo...
− NAAAAO! O QUE FIZERAM COM A MINHA MENINA!
O pobre velho corria em direção aos seus dois filhos. Parado no meio de toda aquela agitação, Léo não conseguia compreender aquela situação. Ele podia ver os gritos e ofensas vindo dos aldeões, além do choro alto de seu velho pai.
− MORRA!
Naquele instante, um machado foi cravado nas costas de Léo. Mas ele não sentia dor, ele não sentia mais nada, nem medo, nem tristeza e nem compaixão. Tomado pelo ódio o corpo do shikõ estava em chamas, gritos desesperados podiam ser ouvidos a distância. Os aldeões corriam de um lado para o outro com os seus corpos tomados pelo fogo.
Léo havia perdido completamente a consciência.
− está acontecendo de novo, ele está em chamas!
Jon dizia erguendo Layla em seus braços.
O homem que antes não passsava de 1,75 agora tinha quase o tamanho de uma aldeia.
− FUJAM!
Todos os habitantes dali gritavam desesperados. A fera indomável cuspia fogo para todos os lados, com suas garras gigantes, dilacerava os que tentavam fugir.
− vamos sair daqui...
Kannot dizia em um tom de voz baixo. Após ouvir o velho, Jon apenas o seguiu.
Abrigados em uma caverna um pouco distante dali, algumas horas depois Jon e Kannot ainda podiam ouvir gritos de desesperos vindos da aldeia.
Kannot estava em silêncio, ele se manteve em silêncio todo aquele tempo. Ainda abraçado o corpo frio da garotinha, Jon apenas observava o velho pensativo.
Já eram seis da manhã, Jon não havia pregado o olho durante a noite.
− vamos voltar para a vila.
Kannot dizia após ficar tanto tempo em silêncio.
Após sair da caverna, Jon caminhava em direção a aldeia, ou o que havia restado dela. Corpos queimados e casas destruídas estampavam aquele lugar. No meio de toda aquela grande bagunça um homem nú se mantinha imóvel.
− achei esse kimono reserva na bolsa da Layla.
Jon dizia enquanto estendia um tecido vermelho.
− ela sempre pensava em tudo.
Léo comentou.
− estamos voltando para vila...
− pra que? O que pensam que vão encontrar lá?
− nada. Vamos apenas dar um enterro descente para aquela criança.
Os dois se mantiveram em silêncio por algum tempo.
− eu fiz coisas horríveis...
Léo carregava uma expressão triste em seu rosto.
− Léo...
− Dragon!
− o que?
− o Léo morreu ontem, junto com a Layla.
Jon não quis debater aquilo com ele, por algum motivo ele sabia que aquelas palavras carregavam muitas verdades. Sabia que seu irmão nunca mais seria o mesmo, na verdade nenhum deles.
Eram três dias de caminhada até a Vila das flores, dias esses que foram resumidos a um apenas, devido a velocidade anormal dos shikõs.
Enfim eles haviam chegado ao seu destino, o cenário de destruição ainda estava lá. Com os olhos marejados, Kannot ainda se lembrava das crianças correndo ao redor do jardim, das mulheres atarefadas em seus afazeres diários e de todas as vezes que os moradores se reuniam ao redor de uma fogueira com músicas e danças.
**
− quanto tempo pretende ficar assim?
Jon dizia enquanto observava o velho homem debruçado sobre o túmulo da garota. Kannot se manteve em silêncio.
− tenho uma coisa para te mostrar.
Dragon que a pouco havia chegado, dizia com a expressão séria.
Sem discutir Jon o seguiu.
Andando por alguns segundos, ambos pararam em frente a uma antiga construção, o cemitério da vila.
− ainda não entendo o motivo de não a enterramos aqui.
− a decisão de enterrá-la perto de casa, foi uma forma que o Kannot encontrou de sempre ter ela por perto
Dragon explicou.
− como assim? O velho não pensa em permanecer aqui nesse inferno, pensa?
− ao que parece sim...
− isso é loucura Dragon!
Jon estava alterado.
− sim, pode ser. Mas não foi por isso que eu te chamei aqui. Olha aquilo!
Dragon dizia apontando para uma grande árvore próxima aos túmulos.
− aquilo não estava aqui antes.
− não mesmo.
− eu poderia dizer que isso é estranho mas, fomos atacados por cachorros deformados, do tamanho de elefantes!
Mesmo após ouvir os argumentos do irmão, Dragon ainda estava preocupado.
− sim, isso faz sentido. Mas no cemitério? É um tanto preocupante que eventos anormais aconteçam aqui.
− do quem tem medo? Um apocalipse zumbi?
− depois de tudo que nós passamos, nada mais parece impossível.
Jon também estava preocupado, ele não tinha ideia do que tinha naquele meteoro, mas ele havia levado todo o planeta a beira da extinção. E com os Kotonarus se espalhando como uma grande praga, a vida na terra não duraria muito. Mas no fim, ele não se importava mais, se o mundo ia ou não resisti não lhe parecia mais importante. Dando de ombros ele apenas se virou e voltou para a vila.
Já eram duas da manhã e já estava decidido que o grupo partiria assim que o sol amanhecesse, pelo menos a maior parte dele.
− Kannot, não faz sentido permanecer aqui nesse lugar! Porque quer ficar se martirizando com essas malditas lembranças?
− me deixe em paz!
O velho homem tentava fugir de toda aquela pressão.
− deixe o decidir por si mesmo Jon! Se ele quer ficar, deixe que fique.
Dragon estava sentado em frente a janela.
− não! Eu não o abandonarei aqui sozinho!
− deixe-me morrer em paz!
Kannot gritava irritado.
− CALA A BOCA!
Jon já estava alterado.
− shiiii!
Dragon pedia por silêncio, após ouvir um barulho vindo lá de fora.
− eii tem alguém ai?
Uma voz masculina gritava por ajuda.
− um sobrevivente?
Jon perguntava surpreso.
− não, nós verificamos cada pedacinho dessa vila.
Dragon respondeu. Levantando-se rapidamente, Kannot abriu a porta e saiu.
− volte aqui pai! É perigoso!
Ignorando o pedido de Jon, Kannot prosseguiu.
− eu juro que se ali fora não tiver um Kotanaru que arranque a cabeça desse velho, eu mesmo o farei!
Jon dizia enquanto ia atrás de Kannot.
− QUEM ESTÁ AI? PRECISA DE AJUDA?
Kannot gritava a procura de um possível sobrevivente.
− aqui...
A voz vinha de um canto escuro. Correndo até o local, Kannot pode então notar um homem nú. Tirando sua capa ele o cobriu.
− você está bem?
O homem acenou positivamente.
− Kannot! Aonde está você?
Jon procurava pelo velho.
− Paaai!
Dragon também estava a procura do homem.
− aqui.
Kannot deu um sinal de vida.
Aquele homem não se lembrava de nada, nem mesmo do próprio nome, tudo o que ele se lembrava é de acordar entre as raízes de uma determinada árvore. Aquela árvore.
Decidindo permanecer naquele local por mais alguns dias, o grupo vigiava aquela árvore noite e dia. Foi então que alguns dias depois, os quatro shikõs presenciaram o inimaginável, o nascimento de um novo shikõ.
− está decidido, eu permanecerei aqui. Não abandonarei esses pobres garotos a mercê da própria sorte. Juntos, nos construiremos um lar para nós e para os que viram.
Jon resolveu ficar junto de seu pai, enquanto Dragon decidiu seguir sozinho.
− não entendo porque não pode ficar com a gente.
Jon lamentava pela partida do irmão.
− eu darei continuidade ao que nós começamos.
Dragon dizia enquanto arrumava sua bolsa.
− porque se importa com os humanos? Eles não se importam se você vive ou morre, e além do mais foram eles que...
− você exterminaria todos o cães do mundo apenas porque um deles te mordeu?Dragon dizia com a aparente sabedoria de um velho.

Jon não insistiu.
Dragon seguiu seu caminho, exterminando Kotonarus e salvando pessoas.
− parem de correr pelo mundo como se fossem formigas perdidas! É por isso que o planeta está morrendo! Juntem-se e construam um muro, façam desse local um refúgio.
Dragon aconselhava os sobreviventes de uma aldeia.
Com a proteção de Dragon, os humanos fizeram como o mandado, construíram um muro alto e resistente e permaneceram lá. Todos os dias Dragon trazia novos sobrevivente para aquela pequena vila.
O tempo passava, no lugar da vila das flores, havia se estabelecido uma pequena cidade, composta apenas por shikõs. No meio dessa cidade foi um construído um palácio de onde o bondoso Kannot governava cada habitante dali.
A pequena fortaleza de humanos, crescia cada dia mais. Do alto do muro Dragon os observava:
Em fim está pronto Layla.
− Dragon! Venha até aqui.
O velho ançião da aldeia chamava o shikõ para uma conversa. Dragon desceu até perto de velho.
− o que quer?
− quero agradecer por tudo que tem feito por nós. Sei que no inicio ouve resistência por parte dos moradores mas...
− Hinan.
Dragon sussurrava.
− o que?
O velho perguntava curioso.
− chame-a de Hinan.
Com essas palavras ele sumiu como um vulto.


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Notas finais do capítulo

Esse especial é tão triste :(
Próximo cap é continuação do cap 13 u.u
Esperem ansiosos :-*



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