Mikael acordou uns 3 dias depois de desmaiar na arena, numa enfermaria da mansão com Isis ao seu lado recitando um feitiço de cura para acelerar o trabalho dos outros magos.

– Isis. – disse Mikael com uma voz fraca. Ele ainda sentia-se muito exausto apesar de não sentir mais dor.

– Meu menino. Foi um belo show de luzes lá sabia? Até mesmo Anúbis teve de admitir, depois de esbravejar horrores enquanto carregava vocês dois até a enfermaria, e correr até mim para pedir ajuda. Ele ainda está muito zangado com os dois, e disse que quando vocês melhorarem, que a masmorra espera por vocês. – disse Isis sorrindo ao ver o garoto empalidecer. Ela não sabia o que tinha nessa masmorra, mas Anúbis colocava tanto pavor ao mencioná-la que geralmente, isso mantinha seus garotos na linha.

– Voltando ao principal, você foi muito imprudente ao se desgastar desse jeito menino. Vocês dois foram. Invocar a névoa da morte, e a luz solar? Em que vocês estavam pensando? Esses feitiços até mesmo os mestres, tem dificuldade em invocar, e sobreviver se conseguirem. O que foi um feito impressionante para dois aprendizes, mas não deixa de ter sido um ato estúpido para medir forças. –repreendeu a velha mulher que agora preferia tomar a forma de uma mulher bela numa idade de uns 40 anos.

– Sinto muito Isis. É que eu tentei desanimá-lo, mas quando vi que ele iria partir com tudo pra cima de mim, meu sangue ferveu de raiva e eu devolvi na mesma moeda. – disse Mikael.

– Como está Alex? – perguntou Mikael a Isis.

– Está bem. Cansado mas bem, já que você o salvou de algo pior pelo o que eu ouvi. Falei com ele antes de vir até você, e ele quer lhe falar em particular quando vocês forem para a masmorra. – disse Isis com um sorriso sabendo o pânico que ia causar nele.

– Eu, eu, eu vou pra masmorra? – disse Mikael com um pouco de receio.

– Ora é claro que vão. Acham que os feitiços que lançaram não eram mortais? Se aquela escuridão tocasse em você, na mesma hora você cairia tão fraco que seu pai teria que vir pessoalmente carregar sua alma para julgamento. Em contraposição, se sua luz pura tivesse chegado a Alex, todo o seu passado de dor e sofrimento, junto com a escuridão que ele carrega por herança da mãe, teria sido incinerado quando estivesse sendo purificado com a luz. Você vê? Os dois lados podem ser positivos ou negativos, dependendo da intenção que os use. – respondeu Isis.

– Agora deixarei você descansar. Durma meu pequeno raio de sol. – disse Isis inclinando-se e beijando sua cabeça ternamente. Com isso saiu da enfermaria, e ele adormeceu.

Após uma semana de cama, os dois estavam recuperados o bastante para enfrentar a ira de seu mestre, que só faltava soltar vapor pelas narinas, e o ambiente ao seu redor estava mais escuro do que o normal devido a sua raiva. Após baterem na porta, e ouvirem um seco ENTRE, passaram pelas portas e pararam diante da mesa do mestre em seu escritório.

– Muito bem, os dois arruaceiros finalmente receberam alta não é? – disse Anúbis numa voz falsamente indiferente e calma, que fazia os dois se arrepiarem por ver o que estava por baixo disso.

– Sim mestre. – os dois responderam cabisbaixos.

– Ah, agora sou seu mestre novamente? E na hora que eu ordenei que parassem, alguém deu ouvidos a mim, seu mestre? Não, porque era mais importante descobrir quem era mais forte, ou botar pra fora ressentimentos sem fundamento sobre o outro. E com isso não pensaram que poderiam morrer. Isso foi uma idiotice. – terminou Anúbis falando um pouco alto demais e batendo a mão na mesa. Depois de um momento, acalmou-se, e olhou diretamente para os dois com um pouco de satisfação ao ver o medo de para onde iriam, e declarou que eles iriam passar cinco dias na masmorra e chamou um mago para leva-los e trancá-los lá dentro.

Ao se verem trancados na mesma cela que era a prova de magia, ambos os garotos escolheram as camas que estavam dispostas nos dois lados da parede. Por três dias, ninguém falou nada, e Mikael esperava que Alex começasse o que aconteceu no 4º dia quando viu o companheiro tomar fôlego, virar-se para ele e começar a falar.

– Mikael? Está dormindo? – perguntou Alex meio acanhado, coisa que Mikael sentiu surpresa, mas não demonstrou.

– Não, estou acordado. Pode falar. – disse Mikael virando-se para encarar Alex.

– Primeiro, eu queria agradecer por você ter salvado a minha vida, depois que eu desmaiei. Soube que você me livrou de ser esmagado pela rocha. – continuou Alex.

– É, mas não se preocupe com isso. Eu não deixaria um colega de quarto ser morto na minha frente. E também, porque eu quero ser seu amigo Alex, apesar de você não gostar muito de mim não é? Mesmo eu não sabendo o que fiz para você me odiar. – respondeu um Mikael em voz baixa.

Alex assim como Freya estava surpreso pelo queridinho da mansão do julgamento, não ser igual aos boatos que espalharam rápido como o fogo pela casa. Conversando com ele, dava pra perceber que ele era um homem bom e honesto, e valorizava os amigos e aqueles que estavam ao seu redor. Para falar a verdade, no inicio Alex não gostou muito dele pelo que diziam a seu respeito. E ao ficar ao seu lado durante o treinamento, sentiu inveja de como Mikael progredia dia após dia, evoluindo ao ponto de ser tão poderoso quanto ele ou talvez até mais. Ele sentiu que seu posto de mais forte da mansão, estava em perigo e o desafiou para mostrar quem mandava ali, e tudo isso acabou ocorrendo. E agora o garoto que ele invejava, tinha salvado sua vida miserável e ele estava sem saber o que fazer. Enquanto pensava em como recompensá-lo, ele soube o que fazer.

– Mikael. – chamou Alex.

– Sim, Alex? – respondeu Mikael.

– Não sei como pagar minha dívida com você. Mas uma parte dela pagarei por toda a vida sendo seu amigo mais leal que você já teve alguma vez na vida, e aceitando tudo o que você passar estando ao seu lado. Não importa para que lado você mude, eu serei seu braço direito, amigo, confidente, e parceiro de batalha e lhe seguirei aonde você for. – declarou Alex a um Mikael chocado com a declaração.

– Não Alex, eu me contento em ser seu amigo. Eu não quero que você sinta-se obrigado a ficar ao meu lado sendo meu amigo, se você estiver se forçando a isso. Quero sua amizade e respeito Alex. – disse Mikael olhando diretamente nos olhos intensamente azuis de Alex.

Ao ouvir isso, Alex caiu na gargalhada por descobrir estar tão redondamente enganado a respeito dele por tanto tempo. Foi até a cama dele, e pôs um braço musculoso nos ombros de Mikael em sinal de amizade e disse:

– Não faço isso por obrigação Mike, e sim porque eu gostei de você agora e quero ser seu amigo. Além do mais, eu posso dar uma ajudazinha a você em relação a uma loirinha de olhos azuis. – disse Alex com um sorriso malicioso e divertido.

– Você o quê? Quem disse que eu preciso de uma ajudazinha nisso? – respondeu Mikael ficando corado ao lembrar-se de Freya.

– Ora essa, ele diz que não precisa de ajuda e fica todo vermelho só em falar nela. – disse Alex dando uma risada.

– Ouça seu cabeça dura, de alguém que tem certa experiência com mulheres. Se você não declarar o que está sentindo diretamente, ela nunca vai propor um relacionamento maior do que amizade com você. Eu conheço Freya desde a infância, quando chegamos aqui e sei que não parece, mas ela é muito tímida. Só que ela finge de durona, para espantar os outros caras, que se aproximam dela como moscas. – disse Alex provocando o novo amigo com a última parte.

A provocação deu certo, pois Mikael levantou a cabeça e olhou para Alex de cenho franzido e tomou a decisão de que iria se declarar a ela.

– Você está certo. Nunca saberei o que ela sente, se eu não perguntar diretamente. Obrigado meu amigo. Mas sempre pensei que vocês dois, tinham alguma coisa. – disse Mikael receoso com a resposta.

– Bem para ser honesto com você, nós já namoramos uma vez há muitos anos mas não demos certo juntos e terminamos. Não precisa fazer essa cara, porque eu juro que nós não temos mais nada. Somo só amigos. Além do mais ela está apaixonada por você.

– disse Alex ao ver a expressão de seu amigo se fechar ao mencionar o namoro, e depois suavizar ao saber de Freya.

– Era tudo o que eu tinha pra dizer. Amigos? – disse Alex estendendo a mão a Mikael.

– Até o fim. – respondeu Mikael apertando a mão do amigo e parceiro.