Wyrda escrita por Brisingrrr


Capítulo 19
Fadado Destino


Notas iniciais do capítulo

Você de novo aqui com o capítulo 19? Pois é, preciso me explicar...
Antes de tudo, peço desculpas para vocês leitores, de coração.
Então... eu havia postado um capítulo, onde pedia desculpas pelo enorme atraso, mas não vou repetir tudo aquilo, mas novamente peço que me perdoem pela demora em postar.
Porémmm, alguns aspectos do capítulo me incomodavam bastante. E eu não estava satisfeita, por isso, excluí o capítulo.
Mas excluiu pra que? Pra arrumá-lo e deixá-lo melhorzinho pra vocês.
E o que mudou? Esse é o x da questão.
Primeiro, porque eu escrevi um Eragon um tanto insensível e pressionador pra Arya.
Segundo, bom, o segundo eu falo ali em baixo porque nem todo mundo leu ainda. Quem já leu, preste atenção e verá a mudança.
É isso. Me deixou super mal ter que fazer isso, mas era necessário. Foi um capítulo que esperei muito pra escrever, e deixá-lo meia boca não seria legal.
Eu espero que entendam. Peço desculpas por ter que fazer quem já leu, reler. Aliás, se quiserem pular pra parte dos diálogos pra evitar reler tuuuudo, porque as mudanças começam a partir dali.
Me desculpem, sim? Peço isso em especial ao Lobo Alado e ao Olhar 49, que comentaram, eu respondi e depois apaguei. Queria tê-los avisado, mas desde o dia que apaguei não tive tempo, exceto hoje. E também ao Zack Shadowarg e a Sarah, que também comentaram, mas o Nyah bugou e eu já tinha excluído o cap, ou seja, nem cheguei a ver os comentários.
Sem mais delongas, aqui está, corrigido e melhorado. Espero que gostem (e que tenha realmente melhorado auhauah).



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/563917/chapter/19

O Mestre seguiu Blodhgärm de perto, com a postura enrijecida devido à sua ansiedade. Conforme adentrava a cidade, olhares curiosos saudavam-no, esboçando sorrisos fracos em rostos devastados. A cidade, não apenas seus moradores, parecia doente. As árvores, flores, arbustos e canteiros não pareciam mais cheios de louvor e graça, como ele se lembrava. Rapidamente, expandiu a mente, notando vagamente o enfraquecimento de toda a natureza.

Estremecia diante da tristeza, quase palpável, do lugar. Saphira tomava precaução para não destruir nada, mas agora os espaços na cidade eram mais amplos, devido à Fírnen, quase tão grande quanto ela. Eragon notava nela o temor por Arya, e ainda a ansiedade por rever o dragão verde.

Quando eles já haviam caminhado uma boa distância e os elfos já juntavam-se às ruas para vê-los, Eragon pôde avistar ao longe uma cena terrível. No Palácio Real, onde ele sabia que estava Arya, uma grande parede estava destruída, em ruínas. Pedaços de árvores se misturavam aos destroços, que cobriam toda a parte leste do lugar. Eragon lançou um olhar curioso e assustado, ao que Blodhgärm apenas meneou a cabeça tristemente, e explicou-lhe:

— Fírnen, em um acesso de tristeza e fúria, por sentir-se incapaz de salvar sua Cavaleira, fez isso. Ninguém pôde pará-lo, então ele destruiu grande parte do lugar... — Blodhgärm estava devastado, via-se em sua expressão e voz.

— Onde ele está agora? — Eragon questionou, ainda mais triste ao pensar no dragão de Arya.

Porém, não precisou de resposta. De trás das árvores do Palácio, uma cabeça triangular e com escamas verdes apareceu. Tinha presas brilhantes, como pedras preciosas, e os olhos, que deveriam parecer esmeraldas brilhantes, estavam foscos e sem vida. Ele jogou a cabeça para o alto, como em uma prece aos céus e aos deuses, rugindo tão alto que o chão estremeceu. Nenhuma chama saiu de suas mandíbulas, apenas uma fumaça fraca, que logo desapareceu.

Eragon permaneceu no lugar, apenas extasiado com a cena. O dragão não era tão grande como Saphira, mas depois de tanto tempo, Eragon se surpreendeu com suas proporções. A cena quebrou-lhe o coração, vendo o dragão tão fragilizado. Saphira permanecia imóvel, sem ousar interrompê-lo.

Fírnen rugiu mais uma vez, como em um lamento, e tombou a cabeça para o lado, com tanta força que mais uma parte da parede desmoronou, lançando destroços pelos ares e formando uma pilha de galhos quebrados. Ele agarrou as presas à um tronco grosso, de uma árvore antiga, e com pouco esforço, arrancou-o do chão junto com as raízes, lançando-o para trás, e tombando agora a cabeça no chão, desconsolado.

Foi então que pareceu ter notado os três expectadores. Fitou Eragon com olhos melancólicos, e então o Mestre pôde sentir seu pensamento quase enlouquecido pela dor.

Salve-a, eu imploro. Eragon se surpreendeu com a voz do dragão, carregada de toda a desolação e angústia. Não pôde respondê-lo, tamanha a tristeza e medo que apoderou-se dele, junto de uma determinação latente que atingiu-o.

Saphira, sentindo todo o seu medo, lançou-se à sua frente, e com pensamentos tranquilos, tentava acalmar Fírnen. Blodhgärm, escondendo a sua aflição, continuou em direção ao palácio. Eragon seguiu-o, sendo naquele instante nada mais que uma mistura de diversos e variados sentimentos: medo, aflição, tristeza, que contrastavam com toda a coragem, determinação e arrojo que lhe assaltaram de súbito, diante da visão desesperada e do clamor do dragão por sua Cavaleira.

Alanna caminhava junto de Mor'ranr, ambas preocupadas com o que poderia vir a acontecer, quando um som ensurdecedor assustou-as. Não só elas, mas os elfos que estavam por perto também se assustaram, e não foram poucos que caíram em prantos. Ela imaginou o pior, cogitando se a Rainha não teria aguentado, e correndo para um dos elfos, questionou-lhe. O ancião de belos cachos prateados respondeu-lhe com olhos marejados que aquilo era o dragão, tão desalentado, lamentando pelo destino de sua Cavaleira, e que se o pior acontecesse, aquilo nada seria comparado ao clamor que se espalharia.

Ela tranquilizou-se, crendo que ainda haveria tempo. Confiava no Mestre, e desejava que ele salvasse sua Rainha. Ela realmente não compreendia todos os motivos daqueles acontecimentos, mas sentia-se parte daquilo.

O som, tão alto, ela percebeu, era um rugido. Um rugido carregado de dor e sofrimento, que se prolongou, antecipando outro ainda mais angustiante. Ela tentava ignorar aquilo, nunca fora de ficar triste, e como tinha esperanças, não daria aquilo por perdido, derramando suas lágrimas.

Mor'ranr por sua vez, estava amedrontada e inquieta, buscando com seus olhos atentos e brilhantes algum sinal do perigo. E, Alanna sabia, buscando as escamas azuis que tanto venerava.

Ela mostrou-lhe pensamentos calmos, de sua infância e juventude naquelas terras, passando-lhe seus momentos mais felizes, deixando escapar a primeira vez que vira Eragon. Mor'ranr achou aquilo divertido, e quis continuar a explorar as lembranças de sua Cavaleira.

Quando Alanna mostrava-lhe a lembrança de quando aprendera uma bela canção, sentiu algo enturvar-se em sua mente. Pensou que fosse Mor'ranr, mas a pequena parecia ainda mais confusa.

A visão turva transformou-se em uma paisagem conhecida. Sobre as raízes da Menoa, Alanna visualizava uma cena horrorosa. Perto do tronco largo da árvore, um corpo pálido e frágil jazia, sem qualquer sinal de violência, apenas um corpo fraco e digno de repulsa. Se aproximou, com receio, e com pânico constatou que o corpo tão transformado era de sua Rainha. A sua expressão estava destorcida, como se implorasse misericórdia, com as mãos contorcidas no peito, como em um gesto de agonia, que implorava a morte. As pálpebras fechadas tremeram, assustando Alanna, que cambaleou e caiu.

Sentiu seu corpo seu preso nas raízes, enquanto lutava freneticamente para sair, tentando gritar, mas sem nenhum som. Se debatia, e de relance, visualizou um borrão rosado, que caído ao chão, tinha uma espada atravessada no peito. Era Mor'ranr, que a poucos metros também jazia, mas ensanguentada. Dessa vez, ela gritou, gritou com tanta intensidade, que sentiu-se libertar.

Libertou-se apenas do pesadelo terrível, ainda berrando, com o rosto molhado por lágrimas. Estava caída na grama, contorcendo-se, com Mor'ranr emitindo sons agudos ao seu lado e elfos correndo para socorrê-la. Não quis levantar, apenas agarrou seu dragão com os dois braços e apertou-a no peito, segura que ela estava ali.

Atormentada, ignorava qualquer chamado, e só depois de alguns minutos é que levantou-se, sem nada dizer aos olhos preocupadas que observavam-na. Mor'ranr não havia visto nada do que ela vira, e ela agradecia por isso. Bloqueou o pensamento, para que ela não se assustasse, e explicou-lhe com ternura que havia tido um pesadelo com sua Rainha. O dragão, ainda que desconfiada, aceitou, e dessa vez a função de acalmar foi dela.

Eragon caminhou para o Palácio parcialmente destruído, observando com cuidado os destroços. Fírnen havia parado de rugir e destruir o que visse, tendo Saphira por perto. O dragão azul estava receoso, com medo de que Fírnen outra vez destruísse algo e se ferisse.

Eles entraram pelo portal desenhado e repleto de flores coloridas, que devendo dar alegria ao ambiente, somente ironizavam a situação. Por dentro, o ambiente era claro e arejado, cheirando à flores e frutas, um aroma doce e característico. Mesmo assim, Eragon podia notar que as flores não estavam tão deslumbrantes quanto deveriam. Estavam murchas e pétalas estavam caídas, revelando até nelas a melancolia.

Caminharam por corredores extensos, e em seu íntimo Eragon explodia de ansiedade. Sentia cada vez mais próxima a presença inconfundível e pura de Arya. Não tardou para que Blodhgärm estacasse de repente, indicando-lhe uma porta cor de cobre. O elfo tinhas olhos perscrutadores e também ansiosos, e sem nada dizer deu passagem ao Mestre dos Cavaleiros. Eragon, por sua vez, sentia o coração martelar seu peito, e a cada batida inflava-lhe coragem e também o medo. Temeu que sua respiração descompassasse, mas controlou-a.

Tinha medo, era verdade. Temia o que veria, temia mais ainda não saber o que fazer. Mesmo ali, à porta do que lhe aguardava, sua mente nada havia criado como resposta à sua missão. Ele tinha de salvar Arya, custasse o que custasse. Não podia conceber o que aconteceria se por infortúnio a Rainha morresse diante de seus olhos e dos elfos de Ellesméra. Já temia enfrentar discussões acaloradas com os anões, e se isso viesse a acontecer, teria também os elfos para se resolver. Mas, pior do que isso, pior do que qualquer revolta ou inimizade, seria ver Arya morrer diante de si, sem nada que pudesse salvá-la.

Se ele fosse inútil para curá-la e Arya morresse, o peso de culpa cairia sobre Eragon pesadamente, esmagando-lhe a alma, tornando-lhe fraco e desacreditado, além de totalmente infeliz. Como poderia ele, viver anos e anos com a consciência de que a mulher que amava morrera por sua inutilidade e culpa? Questionava a si mesmo como pudera viver todos esses anos distante de onde seu amor conservava-se, e a ideia de perdê-la para o desconhecido infinito lhe estraçalhava. Suportaria o fardo apenas por Saphira, sabendo ainda que a tornaria infeliz também.

Era por isso que ele se esforçava a acreditar que conseguiria salvá-la, lançando sua esperança como escudo à todas as dúvidas. Relaxou o corpo e a mente, esticando a mão para a porta, que não possuía maçaneta. Saphira passou-lhe segurança e sentimentos bons, e ele empurrou a porta.

Blodhgärm viu a hesitação de Eragon à porta com receio, temendo que naquela atitude ele demonstrasse covardia. O elfo nada lhe dissera, mas a Rainha estaria desacordada quando ele entrasse. Desde que ela havia falado com Murtagh, havia entrado em um estado inconsciente, por escolha própria, a fim de poupar a pouca força vital que possuía. Dissera apenas a ele que quando Eragon chegasse deixasse-o entrar, e então ela despertaria para dizer-lhe as poucas e últimas palavras que lhe restavam.

Ele sabia então que, não tardaria, Arya viria a falecer. Nada o que fosse feito reverteria tal fato, ela dizia. Blodhgärm, tão reservado e fechado, chorara diante dela, lágrimas quentes que escorriam por seus pelos negros, nublando seus olhos amarelos. Arya por sua vez, sorriu-lhe com ternura, forçando o rosto a se adequar à expressão. Ele, confuso, aproximou-se quando ela estendeu a mão. A Rainha tocou sua mão, e na Língua Antiga agradeceu por todas as coisas que ele havia realizado. A voz dela era baixa e rouca, e ela foi breve, porém, Blodhgärm nunca se sentiu mais honrado do que naquele momento. Quando ele agradeceu por palavras tão honrosas, ela continuou:

— Em breve, será você o Rei dessa raça. Eu o designo, dou-lhe a honra de governar os elfos, raça pura e bondosa. É a minha última vontade, e peço que seja atendida.

Blodhgärm estava paralisado com tais palavras, cheio de tristeza e honra por ouvi-las de sua Rainha. Ela sorriu-lhe fracamente, e com pálpebras trêmulas, fechou os olhos, repousando.

Quando ele deixou-a, lá fora os elfos olhavam-no com reverência e tristeza contida, e ele soube que Arya havia de alguma maneira feito o seu pedido.

No chão um raio de luz apareceu conforme a porta se abria. O chão brilhava fracamente, lustroso, à luz fraca que entrava pelas janelas cobertas de cortinas. Eragon entrou no aposento comprido e abobadado, cuidadosamente. No fundo, havia uma cama encostada, e sendo o único móvel do lugar, Eragon se aproximou.

Nenhum movimento indicou que havia alguém ali, somente o pequeno relevo é que denunciava. Eragon dava passos lentos e suaves, tentando ver à distância se havia movimento. Nada. Deu mais passos, e o corpo permanecia imóvel, porém ainda distante para notar detalhes.

Quando estava próximo o suficiente, a viu. Quer dizer, viu a casca em que ela se tornou. Aquele corpo não pertencia à Arya, não à Arya que conheceu. Era apenas um corpo doente e fraco.

Ela vestia uma túnica branca que contrastava com sua pele pálida e tinha as mãos cruzadas sobre o peito. Os olhos estavam fechados e nenhum movimento revelava se estava respirando, causando aflição em Eragon. Ele aproximou-se o suficiente para tocar-lhe, mas preferiu não o fazer. Lágrimas lutavam para não cair diante da visão tão devastadora para ele.

Os cabelos, outrora tão brilhantes e cheios, agora eram ralos e opacos, colocados para trás, revelando suas orelhas pontudas. Seus lábios estavam rachados e cinzas, as maçãs do rosto estavam sobressaltadas, com os ossos aparentes. Seu corpo mais se parecia com um esqueleto, magro e frágil. Eragon achou que poderia carregá-la com a mão, de tão leve que ela aparentava estar. Mesmo sob a túnica, notava-se os ossos de sua costela marcando-lhe a pele, e os pulsos não mediam mais do que um galho fino.

Já preocupado por não receber um sinal de que ela estava viva, Eragon esticou a mão para tocar as mãos dela. Com um movimento quase imperceptível, ela movimentou a cabeça, assustando-o e fazendo com que ele se afastasse depressa.

Ela abriu os olhos, revelando a única coisa intacta em si: as órbitas grandes e verdes, que pareciam conter todo o mistério do mundo. Permaneceu assim, fitando o teto, até encontrar os olhos castanhos do Cavaleiro.

O corpo dela estremeceu junto com o dele. Um choque de reconhecimento percorreu-os. Eragon estava paralisado, incerto do que deveria falar ou fazer. Arya porém, cumprimentou-o com a voz fraca:

— Eragon, Mestre dos Cavaleiros, é imensa a minha felicidade e alívio em vê-lo.

Dispensando o cumprimento tradicional como ela havia feito, Eragon respondeu-a, descrente de que estava outra vez vendo-a e ouvindo-a pessoalmente.

— Arya, Cavaleira de Dragão e Rainha dos Elfos, meu alívio em vê-la é imensurável — ela sorriu-lhe fracamente, ao que ele correspondeu.

Naquele gesto, um pequeno e tímido sorriso, ele deixava transparecer todo o alívio em vê-la ainda vida e por finalmente estar ali. Deixava também todo o amor contido nesses dois séculos transbordar-lhe a alma, e seu desejo era tomá-la nos braços e poder sentir que ela era real.

— Você não mudou nada — ela lançou-lhe um olhar cheio de significados.

Eragon notou que suas palavras não diziam respeito à apenas sua aparência física, e sentiu suas orelhas esquentarem. Será que em tão pouco tempo ela fora capaz de notar os sentimentos que ele ainda guardava? Ela notou seu desconforto, e completou:

— Sei que não pode dizer o mesmo de mim — ainda assim, sorriu-lhe fracamente.

— Arya, eu deveria ter vindo antes, me perdoe e... — ela interrompeu-o, com calma.

— Você não sabe o que fazer, não é? Digo, em relação a tudo isso.

— Não — Eragon respondeu envergonhado e com raiva de si mesmo. Que tolo ele era! E que imagem ela estaria fazendo dele agora!

— Eu sei. E não se preocupe.

— Não me preocupar? Ora, Arya, está prestes a... — ele não terminou, com medo de pronunciar aquela palavra — e a culpa é minha.

— É verdade, eu estou mesmo prestes a morrer — ela parou, tendo um acesso de tosse que chacoalhava todo seu corpo frágil — Me desculpe, elas estavam demorando para aparecer — com dificuldade, ela levou a mão à boca, e continuou — Eragon, a culpa não é sua.

Ele estava atordoado diante a calma que ela demonstrava. Esperava encontrá-la aos prantos, implorando pela vida, e tudo que via era que ela parecia estar conformada.

— Você sabe algo que devo fazer? O que reverterá isso? — sua voz saiu baixa, desolada.

— Não sei, assim como você — sua voz vacilou.

— E como pode não querer me expulsar quando eu digo que não sei o que fazer para salvá-la?

— Apenas por não haver alternativa, Eragon. Não o que fazer. Eu estaria surpresa se você dissesse que tem uma resposta.

— E tudo isso foi em vão?

Ele estava estúpido com as respostas dela, descrente de que ela poderia mesmo dizer aquelas coisas. Ela parecia complacente à morte!

— Eu não queria que você me visse assim, se houvesse outra alternativa — ela aumentou o tom de voz, mesmo com a voz fraca — Queria eu que houvessem alternativas, se pensa que eu desejo morrer, não me conhece ela completou, como se lesse sua mente — Mas quando não se tem solução, se aceita o destino.

Eragon arrependeu-se de imediato ao ver os olhos dela vacilarem, cheios de lágrimas. Notou então, pesaroso, que ela estava com medo, e como máscara, usara a aceitação. Ele então se lembrou da coragem e fidelidade dela à sua causa, compreendendo que a última coisa que ela faria, era desistir. Ao mesmo tempo, sentiu medo. Sendo ela o maior exemplo de insistência e esforço, como ele mesmo vira em Gil'ead, e estando assim segura de que não haveria solução, que esperanças teria ele?

— Me perdoe, mas eu não posso vê-la assim, e menos ainda ter de saber que, se o pior acontecer, — ele baixou a voz — morreu, por minha culpa e inutilidade.

— Não o perdôo, porque não fez nada de errado, Eragon — agora as lágrimas estavam prestes a descer, e ela havia voltado ao seu tom de voz — Não compreendo o que a Menoa deseja com isso, mas nada reverterá meu estado. Compreenda — ela pausou, deixando que as lágrimas caíssem — eu partirei, em breve, e nada disso é sua culpa. Eu é que peço perdão.

O rumo da conversa surpreendia Eragon. Tão rápido eles já haviam chegado em um ponto delicado, que ele sentiu-se mal, como se a sufocasse. Contudo, não poderia deixar de revoltar-se, tamanho era seu desespero.

— Eu não permitirei isso, por mais que diga ter certeza. Você tem de me prometer, Arya, tem de me prometer — ele então aproximou-se mais, ficando de joelhos à beira da cama e pegando uma de suas mão, envolvendo-a com as suas — Prometa: vai aguentar, vai se esforçar para que eu consiga salvá-la. Algumas horas, ou nem isso, alguns minutos! Só prometa, por favor, que vai me esperar.

De repente, ela pareceu ainda mais fraca, esforçando-se para manter até os olhos abertos. Fitou-o com intensidade, lágrimas quentes escorrendo por seu rosto, abrindo e fechando a boca, esforçando-se para dizer algo.

— Eu só precisava vê-lo uma última vez... Sou tão egoísta, pelos céus, me perdoe Eragon, eu fui tão egoísta! Por uma vez eu errei e ainda sim não aprendi, causei-lhe dor há muito tempo e ainda sim repeti! Eu sou tão egoísta — ela soluçava, deixando Eragon confuso com suas palavras — Eu só queria vê-lo e não notei que isso causaria uma dor ainda maior, não só em mim como em você! Me perdoe, Eragon, pelas estrelas, por tudo, me perdoe...

— Eu não compreendo, por que a perdoaria se não há motivo de me pedir isso? — os olhos delas se fechavam e abriam lentamente, ainda despejando lágrimas.

— Eu estou fadada a isso, estou fadada à morte, eu sempre soube! Ainda quando Galbatorix era o rei, Angela insistiu em ler meu destino — as lágrimas cessaram, mas ela permanecia com a voz fraca e parecia perder as forças a cada segundo — e eu aceitei, nunca acreditei em nada disso, mas na época isso muito me atormentou, porém com o tempo voltei a desacreditar... mas então adoeci, e eu soube, ela estava certa.

— Certa sobre o que, Arya? — Eragon estava apreensivo, temia que a conversa estivesse esgotando Arya, mas não poderia sair correndo dali.

— Ela disse, eu me lembro bem, posso dizer-lhe as exatas palavras:

Incrível, elfa, incrível! Apenas uma vez eu pude ler um destino tão confuso, e sabe de quem estou falando. O seu, porém, é ainda mais nebuloso! Tudo se mistura, mas eu posso tirar algumas coisas.

Vejamos. Aqui, esta está muito óbvia, eu posso ver. Vê também? Essas figuras sobrepostas significam triunfo. Tu triunfarás, elfa! Em breve, os ossos dizem. Haverá batalha, haverá sangue e perdas, mas a recompensa se aproxima.

Aqui, as coisas ainda estão claras. Vejo um presente do destino, um presente eterno e com valor imensurável. É um presente à qual sua vida dependerá.

Já agora, as coisas se embaralham. Vejo uma dúvida apelante, e tem relação com o amor. Nem você tem a resposta, quem dirá eu. Porém, há algo que fará com que essa dúvida, ou o motivo dela, se distancie. Veja, é o barco, ele indica que algo irá embora, mas não sei dizer se isso significa a resposta para a sua dúvida, ou se o motivo da dúvida. O que seja, isso marcará sua vida.

Vamos ao último sinal. Veja...”

Arya parou de repetir as palavras, fitando o teto, como se absorvendo as palavras, fechou os olhos, e continuou:

— Angela parou e olhou os ossos por longos minutos, fazendo expressões que começaram a me assustar. Por fim, ela me olhou temerosa, e disse:

Aceitou ouvir o que o destino lhe aguardava, então não posso omitir nada, seria errado de minha parte.

O que eu vejo, não é bom, nada bom. Há o sinal de vingança e morte. A vingança, trará morte. Essa vingança, minha querida, não será sua, mas as consequências serão. Há além disso, um acontecimento julgado impossível, onde todas as esperanças serão depositadas, mas só as estrelas poderão agir”.

Arya suspirou, e abriu os olhos. Fitou Eragon, que permanecia ajoelhado ao seu lado, e com novas lágrimas escorrendo pelo seu rosto, confessou:

— Eu só queria vê-lo outra vez. Minha morte é certa, mas eu precisava vê-lo uma última vez — ele sentiu a mão dela fraquejar — Me perdoe. Fi-lo sofrer, sabendo que nada pode fazer. Não é culpa sua, é só minha, perdoe-me Eragon — agora ela soluçava, lágrimas caindo em cachoeiras por seu rosto.

Eragon estava confuso e paralisado. Arya jamais se mostrou tão aberta com seus sentimentos, e ele estava surpreso em vê-la assim. Não sentia raiva dela, não, isso nunca. Sentia-se apenas atravessado por suas palavras, duvidoso se entendera corretamente, e com um vazio enorme ao vê-la fraca e desacreditada.

— Não peça perdão, Arya. Não tem motivo, entenda... Eu viria, de qualquer forma eu viria. Jamais deixaria que você ficasse à mercê disso, sem ao menos que eu tente. Diga o que quiser, mas Angela leu o meu destino uma vez e aqui estou, eu vou tentar de tudo, não desista.

— Você ouviu Eragon: “Há além disso, um acontecimento julgado impossível, onde todas as esperanças serão depositadas, mas só as estrelas poderão agir”, era sobre você que ela falava, compreende? Nada reverterá isso. A minha hora, não há como adiar Eragon, ela chegou.

— Não diga isso. Me deixe tentar, ao menos. Não poderei viver com a consciência de que deixei-a partir assim, sem tentar nada — Sem poder segurar mais, as lágrimas escorreram lentamente no rosto de Eragon.

Com um esforço descomunal, Arya levou sua mão trêmula ao rosto dele, e suavemente tentou limpar suas lágrimas. O toque dela era leve, e ele queria mais, ele queria que ela o abraçasse e que nada daquilo fosse real, que ela não estivesse tão frágil e à beira da morte.

— Eu não posso. O pouco de forças que eu tinha, guardei para esse momento. Eu só precisava vê-lo, então... estou pronta. Não posso adiar o que o destino me reservou. Me perdoe — sua voz estava mais fraca, e suas pálpebras mal se abriam — Eu o admiro, Mestre da Nova Ordem dos Cavaleiros de Dragão, meu Mestre. Agradeça à Saphira por mim, pelo conforto que ela se esforça em dar ao Fírnen — ao dizer o nome de seu dragão, ela soluçou, chacoalhando o corpo — Ele já sabe, e peço que quando eu partir, cuide dele, não o deixe partir também — ela pausou, e respirando fundo, fitou Eragon — Perdoe-me. Por tudo. Pelos erros do passado e do presente, e ainda mais pelo sofrimento do futuro. Que as estrelas o guiem, Cavaleiro.

— Arya, não... Por favor, aguente mais, deve haver algo... Aguente, por Fírnen, por sua raça... por mim.

— Não torne tudo mais difícil, Eragon. É o meu destino, nada é capaz de impedir o destino, nem mesmo a Língua Antiga, bem sabe disso. Ele governa todas as coisas, não tente vencê-lo. Não o tema também. Venceu batalhas demais, e o que se estende à sua frente são apenas mares calmos, navegue-os. Não se martirize por mim, eu lhe disse, nada tem de culpado. Eu estou cansada, não posso me estender muito mais... quero me despedir de Fírnen.

Eragon agora estava com o rosto regado de lágrimas, sem acreditar que seria inútil à ela. Baixou a cabeça, encostando-a na cama e chorou, sentindo que ela passava a mão nos seus cabelos fracamente.

— Já adiei demais, Cavaleiro. O que verá de mim será apenas um corpo inconsciente, pois manterei apenas a minha mente por algum tempo, para Fírnen. Peço que não lembre de mim como está me vendo agora, lembre de mim nas batalhas, lutando por nossas raças. Leve-me com você, pois como o vento, estarei em todos os lugares, apenas não me verá. Assim como as estrelas, eu também o guiarei.

Ela fechou os olhos, com a expressão serena. Eragon chorava, seu corpo balançava, ele se sentia fraco e impotente. O corpo dela se imobilizou, e ele chorou mais.

A tristeza estraçalhava-lhe a alma, um buraco fora aberto em seu peito, ardendo todo o seu ser. Sua garganta queimava contendo o grito de desespero, suas mãos tremiam, seu corpo se convulsionava juntos com os soluços.

Sentiu porém a sede de vingança varrer toda a dor, pelo menos temporariamente. Se não poderia salvar Arya, faria com que a maldita árvore pagasse por aquilo. Não se importava com o que aconteceria, se os elfos apoiariam-no ou não, nada importava. A Menoa havia tirado a vida da Rainha, a vida de uma Cavaleira, a vida de quem ele amava, ele haveria de se vingar.

A certeza inflou-lhe o espírito: a Menoa pagaria por tudo.

Levantou-use, ainda trêmulo, olhando para o corpo que estava na cama. Outras lágrimas brotaram, e ele contemplou-a por alguns segundos. Sem planejar, abaixou-se, e limpando uma última lágrima da face dela, beijou suavemente seus lábios finos. Levantou-se e deu as costas ao que restou de uma elfa forte, corajosa e com beleza incomparável, decidido à condenar quem fizera isso com ela.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sobre o segundo ponto: se você, que já tinha lido, viu que foi a previsão do futuro que a Angela fez, acertou! A versão anterior abria margens para MUITOS acontecimentos, porém nenhum deles era o que eu queria trabalhar nos próximos e finais capítulos.
Wyrda se aproxima do fim! Estou triste D: Mas é a vida, não é?
AAAAAAH, ia me esquecendo, o que acharam desse cap? Não me matem, por favor! Muito há para acontecer ainda.
Em especial, Lobo Alado, sabe o ponto que você havia apontado? Tentei melhorá-lo em especial. Espero mesmo que tenha melhorado auhauaha.
Futuramente, como eu já disse, planejo revisar essa fic, porque existem muitos errinhos por aí. Um deles, corrigi semana passada, e preciso repetir porque tava no cap que excluí:
Eu disse láááááá no comecinho da fic que os Cavaleiros e moradores não sabem da localização de Wyrda, porém, não fiz nada pra que eles não soubessem. Ou seja, fui lá no cap "Wyrda fica para trás" e acrescentei isso aqui: "Na Língua Antiga, disse o encantamento que garantiria que os Cavaleiros não saberiam a localização de Wyrda. Eram palavras simples, mas que surtiam o melhor efeito, confundindo-os no trajeto e fazendo-os esquecer quando estivessem na Alagaësia.", que esclareceu de forma breve o que é feito. Outro motivo pra eu pedir desculpas, então: me desculpem!

É isso. Novamente, o próximo não tem previsão, me perdoem. E diferente desse, vou revisar mil vezes pra não cometer errinhos tolos. Mas espero vê-los em breve.
Atra du evarínya ono varda!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Wyrda" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.