Wyrda escrita por Brisingrrr


Capítulo 16
Regresso


Notas iniciais do capítulo

Kvetha, fricai!
Olá, como vão, Cavaleiros? Espero que bem.
Mais um capítulo, e no prazo. Leiam, e espero que gostem. Vejo vocês lá embaixo. Boa leitura!



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Por toda a sua vida ouviu sobre os Cavaleiros, e havia muito tempo vivia com eles. Sabia que entre um Cavaleiro e seu dragão havia uma ligação inquebrável, selada com sentimentos que eles diziam serem fortes demais. Ela sempre imaginou isso sendo algo muito forte e intenso, mas não imaginava que fosse tão... avassalador.

No momento em que tocara o primeiro ovo, sentia uma agitação no estômago que lhe era curiosa. Nunca antes a sentira. Mas nada aconteceu, e ela se decepcionou em seu íntimo. Mas, quando pôs os olhos sobre o ovo rosado, algo em seu estômago deu uma cambalhota, e ele sentiu que alguma coisa a aguardava.

Depois, tudo passou como num flash em sua cabeça. Estendeu as mãos que sabia estarem trêmulas, tocou-o e... um “crack” quase inaudível chegou aos seus ouvidos, junto com uma onda de felicidade que invadiu seu corpo. Ficou vendo a pequena e fina rachadura se alongar, deixando veias na casca do ovo. Aos poucos, a abertura se alargou e uma cabeça de dragão rosada saiu dali. Lentamente, ele se contorceu, e algo que a elfa não fazia ideia que existia se apoderava dela. Era um tipo de felicidade pura. Mas outros sentimentos, um turbilhão deles, se misturavam e se embaralhavam. Admiração, orgulho, alegria, ansiedade, receio, amor. Ela esticou os dedos para a criaturinha, e então...

Um choque percorreu todas as partes do seu corpo. Ela não saberia descrever aquela sensação nem em mil anos. Foi a coisa mais intensa que ela conheceu. Parecia prestes a entrar em combustão e nem notou quando soltou um grito.

Não se lembrava de mais nada. Apenas de, depois de algum tempo, estar segurando o dragãozinho perto de si, protegendo-o, transmitindo-lhe o amor recém descoberto. Ouvia barulhos desconexos, uma multidão, talvez, mas não atentava pra nada senão a criaturinha rosa em suas mãos.

Tudo a partir dali pareceu acontecer em segundos, e agora ela se via na sela do gigantesco dragão azul. Mor'ranr, sua parceira de alma, não desgrudara sequer um segundo suas órbitas rosas e brilhantes das escamas cintilantes de Saphira durante as primeiras horas. Desde que avistara o majestoso dragão azul ficara encantada. Mesmo que a comunicação entre ambas ainda fosse frágil e nem tudo era bem desenvolvido, era evidente para Alanna que o dragão estava fascinado.

Já completavam dois dias desde que eles haviam deixado Wyrda. Desceram à terra por duas vezes, apenas para beberem água e descansar por poucas horas, insuficientes para ela. Alanna era uma Cavaleira recém chegada, portanto não estava treinada para suportar viagens longas, tampouco horas intermináveis acordada. Mas era opção dela estar ali, então nada dizia.

Os outros Cavaleiros surpreendentemente não pareciam cansados. Estavam mais sérios e silenciosos, mas não demonstraram um sinal sequer de que a exaustão os dominava. E eles iam atentos durante todo o percurso, enquanto ela ainda podia recostar-se e fechar os olhos, pelo menos dando descanso para sua mente.

Os dragões não diminuíram o ritmo nenhuma vez. Talvez fosse porque todos ali já eram experientes e de tamanho considerável, mas ela não deixou de se admirar.

Mor'ranr ia em sua cesta, confortável e atenta a tudo, e principalmente em Saphira. Seu fascínio não havia diminuído em nada, e constantemente Alanna notava as órbitas dela mirando as escamas azuladas. Alanna achava graça naquilo. Era uma admiração profunda e ingênua.

Pensando nisso, Alanna sorriu. Fora exatamente assim que ela havia se sentido quando, muitos anos atrás, havia visto Eragon pela primeira vez. Era uma menina, em todo seu esplendor élfico, e Eragon era apenas um rapaz, sem toda a glória que carregava agora, mas mesmo assim, ela se admirara por ele como não havia se admirado por nada em sua vida. Lá, em Ellesméra, quando ainda era tola e frágil, tomou o Cavaleiro como ídolo e o levou assim por anos. Depois, amadureceu e as coisas mudaram. Ele não era mais seu ídolo.

Durante a viagem ela tinha muito tempo para pensar. Revezava-se entre tentar aproximar-se cada vez mais de seu dragão — que ela podia ver, já apresentava um ligeiro crescimento — e entre seus devaneios.

Pensava sobre o que lhes aguardaria na Alagaësia, se a Rainha ainda estaria os esperando ou... ela estremeceu. Assim como todos os outros elfos, respeitava Arya imensamente, e pensar no que ela estava passando lhe afligia. Ela queria ser útil, por isso decidira acompanhar Eragon. Em seu interior, algo dizia que ter se tornado Cavaleira naquele momento não era por acaso. Ela confiava que devia haver um motivo maior.

E outra coisa que a intrigou foi a certeza que seu dragão teria aquele nome. Um nome tão forte. O nome simplesmente lhe veio à mente, e de cara o dragão aceitou. É este o nome dela, ela concluiu. Não foi uma escolha. Nunca é.

Percebera o quanto seus pensamentos fluíam rapidamente e se misturavam, e decidiu relaxar. Inclinou-se para frente, chegando perto da cesta onde o dragão tirava uma soneca e acariciou-lhe as pequeninas e ainda frágeis escamas.

Olhou para a frente, reparando nos músculos das costas de Eragon se retesarem enquanto ele levantava uma das sacolas amarradas à Saphira. Eles mal haviam conversado nesse tempo, e a elfa acabou se irritando com o silêncio. A viagem ainda seria longa e ela não queria se manter calada até lá.

— Cavaleiro, não acha importante entrar em contato com seu irmão, Murtagh?

Ele estava de costas para ela, mas mesmo assim uma hesitação da parte dele foi perceptível. Por um segundo, a postura dele enrijeceu e ele demorou para responder, como se estivesse escolhendo palavras.

— Murtagh deve estar ocupado demais. Mas está certa. Quando anoitecer, farei contato.

Ele está com medo de que as notícias vindas de Murtagh sejam negativas, disse para si mesma.

— Quando acha que chegaremos à Alagaësia? — ela queria manter um diálogo.

— Na Alagaësia chegaremos em um dia e meio, no máximo. Em Ellesméra chegaremos um dia depois de Alagaësia.

— Então ainda estamos longe — ela disse baixo — Não está sentindo nada?

— Sentindo? Você diz, como frio ou algo do tipo? — ela notou que sua confusão era sincera.

— Não — ela disse sorrindo — digo em relação ao retorno. Não sente nada, nenhuma ansiedade, medo ou... não sei. Você é que precisa me dizer.

— Não.

A mentira era evidente. O modo como dissera as palavras entregavam inteiramente que, sim, ele sentia algo, e temia assumir. Deveria ser medo, ela supôs.

Com a resposta curta dele, ela desistiu de manter uma conversa e voltou sua atenção para a respiração ritmada de Mor'ranr.

Não tardou para que ela se sentisse sonolenta e seus olhos teimassem em se fechar. Afrouxou as tiras presas às suas pernas, e ainda que em uma posição desconfortável, deitou-se inclinada para a frente, o rosto ao lado da cesta. Fechava os olhos, mas logo era acordada, fosse por uma corrente de ar, por uma chacoalhada ou o barulho do vento. Mas, cansada como estava, depois de algum tempo nem isso foi capaz de privá-la do sono.

Sonhou coisas desconexas. Vislumbrou em seus sonhos a floresta de Du Weldenvarden, o lugar que tanto amava e a qual pertencia. Teve lembranças de sua vida por lá, de elfos que conviveram com ela e de sua antiga casa. Depois viu algo que nunca acontecera, sendo só uma criação de sua cabeça. Outras imagens apareceram, bagunçadas e sem ligação uma com as outras, até que um desses sonhos agitados durou mais e foi bem mais vívido.

Ela via as extensões de Du Weldenvarden de cima, e tudo lá embaixo passava em um borrão. Estava voando em um dragão que não era Saphira e tampouco era acompanhada por outros Cavaleiros. Ali ela estava só, e ao olhar para baixo viu as escamas rosas. Mor'ranr.

Sorriu, sentindo felicidade em ver seu dragão tão grande e forte. O sol ofuscava sua visão, e fazia as escamas de sua parceira brilharem intensamente e lançar reflexos coloridos na floresta lá embaixo. De repente, Mor'ranr fez uma curva no ar, jogando-a para o lado na sela e deixando-a assustada.

Percebeu que algo estava estranho. Sua dragão batia as asas rápido demais, como em uma fuga desesperada, e não parecia ter um rumo. Quando tentou tocar-lhe a mente, Mor'ranr rugiu muito alto e feroz, abrindo as mandíbulas e as estralando com força. Começou a girar a cabeça, como para se livrar de algo, e com isso perdeu o controle do vôo. Elas começaram a cair, e Alanna desesperou-se. O que está havendo? O dragão não parava de se debater em pleno ar, e agora seu rabo chicoteava para os lados, acertando a si mesma. Suas garras contorciam-se, enquanto suas asas batiam freneticamente e sem controle. Elas caiam em diagonal, descrevendo espirais e fazendo Alanna se segurar com força para não cair.

Ela não entendia o que estava acontecendo. O dragão havia agido assim de repente, e não permitia que ela lhe tocasse a consciência. Então ela gritou:

Mor'ranr, pare! O que está acontecendo? Se controle, estou aqui! Me escute! Deixe-me entrar em sua consciência! Mor'ranr, estamos caindo!

Mas nada aconteceu, além de continuarem caindo e o dragão continuar em sua luta consigo mesma. Elas estavam muito próximas das árvores agora, e Alanna temeu o pior. Mas, por mais que as árvores parecessem próximas, elas nunca chegavam, como para aumentar a sua tortura em ver Mor'ranr daquele jeito.

Podia ver, ao olhar para baixo, que algumas partes dela escorriam sangue, e no meio de todos aqueles giros e a queda, o sangue quente começou a espirrar em sua face, aterrorizando-a. O dragão não parava de se ferir, contorcendo-se, e rasgando as escamas com suas próprias garras e dentes, em uma luta com inimigo invisível.

Então, finalmente elas caíram na floresta, e ela se soltou em pleno ar da sela, caindo por cima de árvores e folhas, rolando pelo solo úmido e ouvindo o som de agonia que sua parceira soltava. Mal se colocou em pé, correu para encontrá-la. A mata era fechada, mas ela podia ouvir o som dos galhos se partindo e o som da fúria de seu dragão. Quando chegou até ela, viu que os galhos da floresta puxavam-na, sufocando e arrastando o enorme dragão. Ela gritou, correndo em vão. Se sentiu inútil ao tentar arrancar um dos galhos, pois nada aconteceu. Ela não possuía espada nem poder em magia, e ali, no lugar onde considerava seu lar, viu pouco a pouco a terra engolir Mor'ranr, enquanto o dragão urrava em desespero, ainda tentando se ferir. Ela estava de joelhos, ainda puxando um dos galhos, sentindo o sangue nas mãos feridas e as lágrimas quentes na face. Gritava desesperadamente por ajuda, mas nada acontecia.

Quando o dragão já estava quase dominado pelos galhos e pela terra, pareceu voltar a si e parou de se debater, mas já era tarde demais. Lançou um último olhar com as órbitas rosas para Alanna e urrou, agora com medo e tristeza.

Alanna caiu, soluçando, e o solo da floresta foi a última coisa que viu antes de acordar na sela de Saphira, gritando e com lágrimas escorrendo por todo o rosto.

Compreendeu que fora só um pesadelo, mas temia abrir os olhos. Quando abriu, viu o olhar preocupado de Eragon e de outros Cavaleiros que haviam sido atraídos por sua gritaria. Olhou para a cesta, grata por ver Mor'ranr sã e salva, com olhos ainda pequeninos observando-a assustada e com a pata dianteira para fora, como se prestes à ir até ela.

Finalmente, depois de um dia longo, avistaram a Alagaësia. Viram a terra avermelhada e o rio Hedarth, indicando que se aproximavam, e logo já avistavam o Deserto Hadarac. O peito de Alanna inflou-se de expectativa e alívio, pois ela sentiu muita saudade daquelas terras enquanto viveu em Wyrda. Percebera que desde que haviam se aproximado, Eragon tinha ficado inquieto, mas resolveu não se intrometer. Um dia antes, quando ela acordara desesperada pelo pesadelo, ele respeitou que ela nada dissesse, então ela decidiu que o respeitaria agora.

Entendia o quanto aquilo deveria ser difícil, e confessava que no fundo esperava que complicações se estendessem pela viagem para que algo realmente viesse a impedi-lo. Mas nada ocorreu e a viagem havia sido tranquila nesses quesitos, tranquila até demais. Novamente, ela provou-se certa, pois havia dito ao Cavaleiro que aquela “profecia” de nada valia comparada ao poder de sua escolha.

Quando eles já preparavam-se para fazer uma curva em direção à Du Weldenvarden, viram ao longe uma mancha amarela nos céus. Eragon disse-lhes que aguardassem, pois esperava que aquilo acontecesse. Poucos minutos depois a mancha tornou-se distinguível para Alanna, que soube que aquele era um dragão, obviamente dos anões, pois vinha de suas enormes montanhas.

Ela havia se esquecido do quanto elas eram imponentes! Mesmo de longe o tamanho delas era assustador e encantador, ao mesmo tempo. O cume, tão alto e inalcançável, mesmo agora que estavam com o clima quente, era coberto de neve. Ela admirou aquela visão por longos minutos, mostrando tudo para Mor'ranr e contando-lhe sobre os anões e suas proezas incríveis dentro e abaixo daquelas montanhas. O dragão era curioso, e Alanna podia ver o anseio de conhecer de perto tudo aquilo que ela lhe contava.

Quando ela contava sobre o primeiro anão que vira, o enorme dragão amarelo já estava próximo, e montado nele estavam dois anões. Um, ela sabia, era o rei deles.

Ele saudou-os cortesmente, porém com seriedade. Ia atrás de um Cavaleiro anão bem jovem para os padrões, e este sorria muito, encantado e feliz em ver os seus amigos e seu mestre, e provavelmente maravilhado com a visão de tantos dragões voando juntos.

— Mestre da Nova Ordem dos Cavaleiros de Dragão, depois de duzentos anos, nos reencontramos — Orik disse, sem esconder um sorriso que revelava estar feliz em ver o velho amigo por ali.

— Rei Orik, é gratificante revê-lo — Eragon respondeu, e mesmo com a dor e preocupação que sentia, sorriu.

— Temos muito o que conversar, suponho — o Rei Anão disse-lhe, estreitando os olhos e passando as mãos nas barbas.

— Suponho que sim, mas isso terá de ser adiado. É de urgência chegar em Ellesméra — Eragon pareceu cansado.

— Eu sei. Por isso, se me permite, vou lhe acompanhar. E se não me permite, lamento dizer que irei assim mesmo — o anão sorriu fracamente — foi a decisão dos clãs. Ficamos fora disso por tempo demais.


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Notas finais do capítulo

Eu sinto que estão me abandonando :( Digo isso porque muitos que antes comentavam com frequência, pararam. Não interpretem como um "comenta aí, vai", porque eu realmente não tenho reviews como prioridade, jamais! Mas eu queria que, pelo menos, me dessem sinal de vida, pode até ser por MP, porque eu sinto que de alguma maneira devo estar decepcionando, para sumirem assim, e isso me deixa desanimada. Pode ser paranóia, eu sei, mas é insegurança.
Enfim. O que estão achando? Esse capítulo parece meio parado, né? Mas tem uma intenção aí, e como podem ver: OLÁ ALAGAËSIA. Pois é, Eragon voltou e nada aconteceu (ainda).
No próximo, como ele já está na Alagaësia, as coisas começam a tomar rumo. Acho que a fanfic se aproxima do fim (ACHO), então darei um jeito de escrever bastante para postar logo. Tentarei.
Aliás, se aproximar do fim não significa que só terão uns três capítulos, hein? Digo isso porque já passou da metade.
Ah, aos novos leitores, sejam bem-vindos (se bem que provavelmente eles não chegaram aqui... mas enfim, bem-vindos de qualquer maneira hahah).
Acho que é só. Qualquer dúvida, estou quase sempre por aqui, por serem férias.
Espero (muito mesmo), que vocês estejam gostando da história. Até mais!
Atra du evarínya ono varda!



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