Dossiê Bellatrix escrita por Ly Anne Black


Capítulo 6
Palavras Quebram


Notas iniciais do capítulo

Eu fiquei MUITO feliz com quatro reviews em dois dias ;) Continuem assim!



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– Black – a varinha ergueu-se para ele, apontada para o seu coração – é melhor você sair da minha frente.

A varinha de Sirius também se ergueu instantaneamente, para o rosto dela.

– Eu não vou a lugar algum sem saber o que está matando você.

Ela tentou dar o sorriso irônico de sempre, o que fazia especialmente para ele, mas só conseguiu um esgar torto. Porque ninguém até aquele momento tinha definido tão bem o seu problema.

– Você acha que eu estou morrendo? Você não vai querer saber.

– Eu vou – Sirius se aproximou, o que foi o bastante para seu cheiro chegar até ela. A barriga de Bella se revolveu. Ou teria sido algo dentro dela? Aquele pensamento fez suas pernas tremerem. – Eu tenho motivos para acreditar que você está se metendo com coisas com as quais não pode lidar.

Bella se calou. Porque de alguma forma sabia que uma das palavras que poderia deixar escapar seria a palavra errada. Sirius já estava bem na sua frente, e chegando mais perto.

– Você se esquece de que é apenas uma garota. Eu lhe disse – ele lhe encarou, olhos negros com olhos negros – Uma garota vazia e mimada tentando se fazer enxergar. E enquanto aquele monstro assassino não te dá o mínimo valor – Sirius estava a quatro palmos de distância. – você morre vagarosamente com as besteiras que anda fazendo.

– Eu não estou mais vazia. – ela sussurrou para os lábios acusadores dele.

– Eu não vou permitir que faça isso consigo mesma. – avisou, a segurando pelo braço, apertando os lugares onde o vidro do espelho tinha cortado momentos antes.

– Você já permitiu.

Ele não a estava ouvindo. Estava compenetrado em seu próprio discurso protecionista, ou traído demais pela proximidade, o fato era que não registrava as palavras dela.

– O que você está fazendo? – ele exigiu, apenas uma baforada de hálito adocicado no rosto de Bella. – Mme. Pomfrey disse que você foi envenenada. Mas eu acho que você se acidentou durante um dos seus passeios e não quer admitir.

Foi a primeira vez na conversa que Bella conseguiu dobrar os lábios rígidos para cima.

– Não foi um acidente. Eu fiz e tomei o veneno.

As sobrancelhas dele mudaram o ângulo, demonstrando seu aturdimento. Ele até se afastou um palmo – ainda não o bastante para que ela não achasse que morreria sem ar.

– O quê?

Ela não era de repetir, e o deixou levar alguns momentos para absorver a informação.

– Você tentou se matar?

Bella negou vagarosamente com a cabeça.

– Uma pequena dose de veneno. Suficiente para tirar essa coisa de dentro de mim.

Ele pareceu compreender.

– Madame Pomfrey disse que havia um agravante. – revelou com triunfo.

– Ela disse? – a garota se alarmou, apertando na mão mais forte a varinha que tinha instintivamente abaixado quando Sirius se aproximara demais.

– E você sabe o quê é, Bella? Magia negra. Você é fraca demais para ela, e ela vai destruir você, e nenhuma poção estúpida vai te salvar disso.

Bella riu. Gargalhou até doer a barriga, até ter que se apoiar na cama para não cair. Sirius saberia discernir a gradação de desespero por trás daquela gargalhada, ele saberia. Seus ouvidos eram bem treinados para ela.

– Eu tenho um agravante. – ela disse por fim. A sombra do riso ainda estava em sua face. O cenho dele se ergueu debaixo da luz alaranjada do entardecer que entrava pela janela da enfermaria. Ela esperou até que ele perguntasse, ou se desse satisfeito, ou evaporasse. Sirius não fez isso. Os lábios dela se anteciparam, sem sua autorização. Contar era tudo que eles queriam desde o começo. – Eu não tenho magia negra dentro de mim, Sirius. Eu tenho um bebê.

Ele não movera sequer um músculo da sua face estúpida. Ela parou de olhar naqueles olhos fixos demais.

– Eu estou grávida.

–BD-

– Eu estou grávida.

Por um segundo de diferença, o som da porta se abrindo não foi capaz de abafar a confissão. O diretor Dippet entrou, seguido de Mme. Pomfrey e professor Demécio Bletchley, o diretor da Sonserina. Ele olhou de um para o outro e deu um suspiro aliviado e estremecido ao perceber que Bellatrix não estava mais gritando, como a enfermeira com certeza lhe alegara.

– Senhorita Black, vejo que já está mais calma.

Bella virou-se inexpressiva para o velho que era dois palmos mais baixo que ela.

– Estou bem. – disse com a voz branda.

– É esperado que esteja um pouco confusa depois de tanto tempo inconsciente. Mme. Pomfrey prefere que fique para que ela possa lhe examinar e descobrir o que causou a sua súbita crise.

– Não será necessário, diretor. Eu venho me alimentando mal, estou certa de que é algo relacionado a isso. Me sinto ótima, graças às poções fortificantes da Mme. Pomfrey e creio que já perdi dias demais nessa enfermaria. O senhor me entende – disse incisiva – Nós não queremos que isso atrapalhe meus estudos.

– Claro, claro, senhorita, se assim prefere...

– Obrigada.

Bella saiu a passos firmes e calmos, sem olhar para Sirius mais uma vez. Ela andou até as masmorras do seu salão comunal automaticamente, por caminhos que lhe pouparam do encontro com Rodolphos, Regulus ou qualquer outra pessoa que pudesse se espantar com sua volta à consciência. Sentou na cama, fechou o dossel e o ficou fitando longamente. A impressão era de que largara um pedaço de si mesma na enfermaria – aquele extra, que vinha carregando desde o primeiro enjôo, da primeira suposição. Era bom não sentir aquele peso sobre os ombros a fazendo se curvar em latrinas para pôr para fora suas refeições.

Simplesmente vazia. Deitou sobre as costas, curtindo a nova sensação de alívio. Aquela palavra tão estúpida que tinha colocado para fora.

Grávida.

–BD-

Sirius chegou ao salão da Grifinória junto com o entardecer. O sol derramava calmamente suas cores quente pelo salão através das janelas; já Sirius, tremia da cabeça aos pés. James, Remus e Olívia arregalaram os olhos em exatas expressões de sobressalto quando ele passou zunindo pelo salão e entrou para o dormitório, um estrondo indicando que batera a porta com toda força.

– Ele estava tão branco – Remus constatou, a preocupação nítida na voz.

– E acho que você estava certa, Olie – James confirmou as suspeitas da garota, engolindo em seco.

Os punhos dela se fecharam, e ela se levantou num impulso raivoso.

– Ele me prometeu... – ela grunhiu num misto de raiva e decepção – Como é que ele pode fazer isso comigo?

Remus balançou a cabeça, dando batatinhas consoladoras no ombro da amiga.

– Isso não é sobre você, Olie, sinceramente...

– Remus, acho que você não está ajudando. – James constatou ao ver os olhos da garota se encherem de lágrimas.

– Eu vou falar com ele – ela disse, a voz nem de longe tão firme quanto estivera há segundos atrás – Eu simplesmente não consigo conviver com isso.

– Não faça nenhuma besteira, ok? – James teve que recomendar ao assistir, bastante temeroso, Olivia se encaminhar para o dormitório masculino. Ele bem sabia que era Sirius quem tinha feito a grande besteira, e trocou um olhar tenso com Remus, ambos certos de que aquilo não podia terminar bem.

Olívia entrou no dormitório vazio – o único ocupante, seu namorado, estava de costas para a porta, fitando-se no espelho pregado à parede, tenso. Ele também serrara ambos os punhos firmemente, os braços rígidos ao longo do corpo, mas ela podia ver que os ombros dele tremiam. Aquela imagem a deixaria preocupada, e ela certamente tentaria acalmá-lo se a situação fosse outra. Mas naquelas circunstâncias, ela só conseguia ser levada por um peculiar fogo de raiva que aparecia quando o assunto envolvia a prima mais nova do rapaz.

– Então você foi vê-la – ela disse agressiva – Mesmo depois de jurar para mim que não ia pisar os pés naquela enfermaria.

Silêncio.

– Como é que eu posso confiar em você, Sirius? – exclamou, enfiando os dedos pela franja num gesto de frustração – se você não consegue nem controlar os seus impulsos por aquela sonserina desequilibrada?

– Isso não é sobre impulsos, Olie, pelo amor de Merlim – ele disse, a voz parecendo sair do fundo de um túnel – Você nem se importa em compreender...

– O quê? Me diga qual a sua justificativa para não conseguir ficar longe da garota que odeia você! O quê, é porque ela tem o seu sangue? Porque é a sua priminha, é isso?


– É isso. – ele se virou, o rosto impassível – ela é minha prima. E está doente. Você não faria o mesmo se fosse alguém da sua família?

– Sim, eu faria! Mas a minha família nunca me torturou com uma história insana de superioridade que, até onde eu me lembro, você costumava repudiar! Você me disse que odeia a sua família, então o quê? Descobriu que ainda há algo de amor fraternal entre vocês? – ela, para a sua própria consternação, estava chorando novamente – você pensa que eu não sei que você e Bellatrix costumavam fazer coisas quando eram menores? – comunicou, a voz estrangulada.

– Nós éramos crianças! – ele exclamou, os olhos arregalados – E sim, eu os odeio, todos eles, inclusive a ela!

– Mas você foi lá. Como isso pode fazer sentido?

– Eu não sei, Olívia. Não sei o que eu fui fazer lá, está bem? Eu tentei não pensar sobre isso, como você me pediu, mas de repente eu estava naquela enfermaria.

– Você está falando de hoje – ela disse secamente – ou da outra noite onde se esgueirou para visitá-la, em sua forma animaga, depois do toque de recolher?

Ele suspirou profundamente, derrotado, deixando-se cair sentado no colchão, a cabeça apoiada nas palmas. Não conseguia encarar a expressão de decepção no rosto da namorada. Sabia que ela se sentia traída, e lhe dava razão, embora nunca tivesse querido magoá-la. Ele amaldiçoava a sua atração magnética irascível por Bellatrix. O que aquela garota tinha que, mesmo inconsciente numa cama, conseguia removê-lo da sua rotina confortável para perto do turbilhão que era a vida dela?

– Sirius, eu sinto muito. – disse a garota, a voz ainda entrecortada pela respiração – mas eu não consigo dividir você com ela. Já era bastante ruim quando era só em pensamentos, mas agora, sinceramente...

A voz de Olívia morreu e ela girou dos calcanhares, querendo deixar o quarto para não começar a chorar na frente dele.

– Bellatrix está grávida. – ele disse, então percebendo que aquilo através da sua voz era ainda pior do que ecoando em sua cabeça. A garota se virou, perplexa.

– Eu pensei ter ouvido que ela está...

– Você ouviu certo. Ela está grávida. E tentou se envenenar para abortar, mas por algum motivo, não funcionou muito bem.

– Oh, meu deus. – levou as mãos à boca, se esquecendo por alguns momentos que estava magoada e enraivada com ele, e dando alguns passos de volta. – Ela só tem dezesseis anos.

– Eu sei. – ele disse, rouco. – Ela está pirando. Hum, mais do que normalmente, quero dizer.

– Mas... os pais dela já sabem? O que eles vão fazer com ela? – perguntou, imaginando como uma família como a de Sirius lidaria numa situação assim. Não iria admitir, mas estava sentindo quase compaixão por Bellatrix naquele momento – Devem forçá-la a casar o mais cedo possível, agora, não é? Talvez ainda nesse verão! – concluiu – Provavelmente Bellatrix não vai voltar à Hogwarts ano que vem.

– Imagino que não. – ele se forçou a concordar.

– Eu quero dizer – os olhos grandes e expressivos de Olívia se abriram para aquela possibilidade – se o bebê for de Lestrange. É de Lestrange, não é?

O grifinório abriu a boca para responder um malcriado “Como eu vou saber?”, mas ele a fechou, em seguida, quando um sentimento gelado invadiu seu peito. O pensamento insano, improvável, mas loucamente possível, piscou em sua cabeça ofuscando o resto do seu raciocínio. Ele começou a fazer o calculo mental mais temido de sua vida.

– O que foi? - ela franziu para a súbita palidez dele.

– Olie – Sirius se levantou num pulo, sentindo-se tonto – Eu tenho que ir. Sinto muito.


Ele não se virou para ver a expressão de surpresa, e depois revolta, com que a grifinória lhe assistiu ir embora. Ele voou até a enfermaria, mas a prima já não estava lá. Nem estava em qualquer outro lugar daquele imenso castelo, incluindo os esconderijos em comum que conheciam. Ele imaginou que ela teria voltado para seu salão comunal, mas preferia descartar todas as outras possibilidades.

Quando procurava na torre de astronomia, Sirius viu lá embaixo Regulus se despedir de Rodolphos Lestrange, que sentava no barco que o levaria a atravessar o lago até Hogsmeade. Sem poder usar o formato animago durante o dia, Sirius demorou para chegar até o exterior do castelo, e o Lestrange já se afastava quando alcançou o irmão mais novo.

Regulus imediatamente retorceu o rosto numa careta quando viu que ele se aproximava.

– O que você quer? – perguntou de má vontade.

– Não fale comigo nesse tom, pirralho. – Sirius lhe deu um tapa na nuca, ascendendo uma raiva pulsante nos olhos estreitos do garoto. – É importante, venha comigo.

– Eu não vou com você a lugar nenhum! – ele disse com desprezo – não vou atrás de amantes de sangues-ruins.

Sirius rolou os olhos, tentando encontrar a paciência que nem tinha, para evitar quebrar a cara do garoto mimado. Ele abaixou o tom de voz, não queria chamar atenção dos colegas, já bastava todos os boatos que estavam circundando a súbita "doença" da sua prima mais nova.

– Escute, é importante. É sobre Bella.

Regulus pareceu imediatamente mais disposto a conversar.

Os dois andaram até a beira do lago, próximos a uma árvore, onde os alunos não tinham chegado por causa do frio. Apesar de já ser começo de primavera, o vento ainda enregelava todo pobre mortal que ousasse ficar fora do castelo, ainda mais na beira do lago, onde a temperatura desafiava qualquer feitiço de aquecimento.

– Então, o que é, sobre a Bella? – inquiriu o quartanista com impaciência. Não queria que Sirius pensasse que estava se submetendo às suas ordens, por acompanhá-lo até ali.

– Você sabe o que ela tem?

– Não. – ele disse. – Mas ela parece bem agora. Mme. Pomfrey disse que ela saiu andando da enfermaria, deve estar no salão comunal.

– Certo. – disse nervoso, revolvendo a parte da frente do cabelo com os dedos – Eu quero que fique de olho nela.

O que Sirius queria pedir, na verdade, era para que o irmão obrigasse Bellatrix a sair do seu salão comunal e vir falar com ele. Mas não poderia fazer Regulus achar que ele tinha qualquer coisa haver com o problema dela. Ele próprio estava tentando se convencer de que não tinha. Não podia ter.

– Eu já estou de olho nela, cara. – ele disse estufando o peito – muito antes de você perceber que qualquer coisa está errada e resolver se meter. Fui eu quem a levou para a enfermaria quando ela teve o treco, se quer mesmo saber.

– Ok. – rolou os olhos, impaciente com toda a atitude pedante do caçula – mas você só tem quatorze anos. Não vai saber se algo realmente grave estiver acontecendo com ela.

– Estou te dizendo, ela está bem agora.

Sirius perdeu a paciência, agarrando Regulus pela gola da camisa. Trocaram um olhar idêntico de desafio, e o mais velho o soltou a contragosto.

– Só faça o que eu estou dizendo. Tenho certeza de que não quer que algo ruim aconteça com ela. – inferiu, uma sobrancelha erguida, provocando-o – Então é melhor me manter informado sobre o que ela anda fazendo.

– Eu pensei – disse o sonserino ajeitando a gola da camisa – que fosse você quem não se importava se algo ruim acontecesse com ela.

– Isso não é da sua conta, ao que me consta. – apesar do tom ferino do irmão, Regulus achou graça.

– E o que eu ganho em troca de lhe manter informado sobre Bellatrix? Você sabe, tem que ser algo muito bom, para eu não contar a ela o absurdo que está me pedindo. Por que, oh cara, ela vai ficar muito irritada se descobrir.

– O que você quer? - ele rolou os olhos.

– Que você volte para casa nas férias. – ele disse sem precisar pensar.

Sirius deu uma risada curta e sem emoção.

– Eu nunca vou pisar os pés naquele antro novamente, garoto. Nem que toda a família me peça perdão arrastando os joelhos e as caras na terra.

– Eles nunca vão fazer isso por um porco imundo como você. Que aliás, não faz a menor falta.

– Percebo – disse, esticando uma sobrancelha para o outro. Então fez um gesto circular com as mãos – vamos lá, qualquer coisa possível, pirralho.

– Certo. Eu quero um encontro com McKinnon.

– O quê? – a voz de Sirius falhou – você quer um encontro com Marlene? A da Corvinal?

Essa mesma, Sirius, não se faça de desentendido. – ele deu um sorrisinho satisfeito, e até cafajeste, Sirius diria. Sirius conhecia aquele sorrisinho do seu próprio reflexo no espelho. – Se eu não me engano você saiu com ela algumas vezes, estou certo?

– Ela nunca vai querer alguma coisa com você! – ele disse, achando graça agora daquela tamanha pretensão do irmão.

– O quê? Está com ciúmes?

– Eu não estou com ciúmes! – reclamou – Eu não tenho nada haver com Marlene, agora. Mas francamente, você é um quartanista, e Lene gosta de caras mais velhos. Não de bebês.

– Eu tenho certeza de que você vai dar um jeito, Sirius. – disse o garoto sem se abalar, dando tapinhas no ombro dele – avise a ela que estarei esperando no Três Vassouras, amanhã à tarde, e se ela não aparecer, bem, então a Bella vai ficar muito interessada na sua súbita preocupação.

– Quando eu penso que nada mais pode me surpreender vindo de vocês… – o grifinório grunhiu, com um suspiro pesaroso.

–BD-

Bellatrix continuou sumida ao longo da tarde, o que forçou Sirius a se aquietar. Ele até pensou em fazer uma vigia nas masmorras, até que ela saísse, mas ele achou que isso não ia fazer maravilhas por sua imagem naquele momento, então ele escolheu um canto na biblioteca, onde ninguém ia procurá-lo, tinha certeza. Incapaz de descrever os 13 Erros Mais Comuns em Poções do Amor, ficou torcendo a ponta de sua pena em agonia.

Não podia parar de pensar que era culpa sua. Continuava reassistindo em sua cabeça a sua “conversa” com a prima na enfermaria mais cedo, e se perguntando se, caso a culpa fosse dela, ela não teria lhe atacado ali e lhe azarado. Isso o acalmou por um momento, mas então… talvez ela não soubesse de quem estava grávida. Bem, a cabeça de sua prima era um mistério. Talvez ela quisesse fazê-lo acreditar que estava grávida de Rodolphos, talvez quisesse fazer o próprio noivo acreditar nisso para casarem-se mais rápido, para fazê-lo se sentir culpado, ou qualquer outro requinte de crueldade no qual ela pudesse pensar.

Mas então, porque ela teria tomado o veneno se fosse querer usar a gravidez ao seu favor? E agora que não tinha funcionado? Talvez agora Bellatrix fosse usar aquilo contra ele. Se todos soubessem que ele a tinha engravidado, então sua vida certamente estaria acabada, e o que aquela garota horrível mais poderia desejar do que uma chance tão boa de arruinar a vida dele?

Se sentindo muito confuso e assustado, que não eram dois sentimentos com os quais estava habituado, ele esfregou seu rosto. Não, estava sendo precipitado – as chances de o bebê ser de Rodolphos eram muito maiores, afinal – por Merlin – aqueles dois se encontravam em todas as visitas à Hogsmeade, e sabe deus o que faziam quando não havia ninguém por perto.

Absorto na sua espiral de pensamentos, Sirius mal percebeu quando James e Remus se sentaram um de cada lado seu, na mesa da Grifinória, na hora do jantar. Peter estava logo à frente, perdido no mundo encantado dos carboidratos, como costumava acontecer durante as refeições.

– Onde você estava, cara? – James deu uma batida no ombro de Sirius – Sua namorada está puta da vida. Ela disse que vocês estavam brigando e que de repente você saiu e a deixou falando sozinha.

– Isso não é bom – Remus informou, pegando um pouco de purê e arrumando em seu prato – Até eu sei que garotas não gostam de ser deixadas falando sozinha.

– Onde ela está? – só então o maroto se tocou que a namorada não estava na mesa.

– Disse que preferia ficar sem comer a ver a sua cara. Sinto muito, mas ela disse essas exatas palavras.

Ele repetiu o gesto que tinha feito boa parte do dia – enfiou o rosto nas mãos, desejando que o mundo se dissolvesse ao redor. Nada se dissolveu, e ele se achou na obrigação de falar alguma coisa.

– Eu não quis deixar ela zangada. – justificou.

– Então ir visitar a sua prima não foi a sua melhor escolha. – Remus tentou ser casual, mas não conseguiu esconder o tom acusatório.

Os seus dois amigos entendiam um pouco mais sobre a incapacidade de Sirius de se livrar da prima, e tinham acompanhado a relação intempestiva deles, farpas, gênios difíceis, brigas e todo o pacote. No entanto a tolerância deles sobre aquilo tinha diminuído sensivelmente quando a garota passara a agir de modo suspeito, e então agressivo, chegando a zero quando Bellatrix tentara azarar Olívia dois meses atrás.

Eles tinham realmente acreditado que a ocasião faria até mesmo com que Sirius cortasse qualquer laço com ela – até saberem que Sirius a visitara na sonserina, não uma, mas duas vezes, uma delas escondido.

Remus estava do lado de Olívia nessa. A fixação de Sirius por Bellatrix não podia resultar em nada bom. Qualquer um podia ver disso, era só observar como aquela garota era a única que tirava Sirius do sério e o fazia não agir como ele mesmo.

– Vocês acham que ela vai me chutar? – Sirius perguntou, genuinamente desesperado.

– Cara, eu não sei – James suspirou – Eu não sei o que está acontecendo de verdade com vocês.

Aquela era uma deixa, que Sirius ignorou. Não tinha a menor intenção de revelar suas dúvidas para os amigos, se isso incluía confessar que ele tinha dormido com a prima antes do Natal.

A conversa morreu até o fim do jantar, quando os quatro deixaram a mesa para jogar cartas no salão comunal. Sirius não estava empolgado, tinha plena certeza que ia perder até no Snap Explosivo, e quando avistou Marlene McKinnon indo para a sua própria sala comunal, viu nela o motivo perfeito para se safar do jogo.

– Sirius, isso seria a sua segunda péssima ideia – James balançou a cabeça, relutante.

– Seja lá o que esteja passando pela sua cabeça... – Remus começou a advertir.

– Não é nada disso que vocês estão pensando nessas mentes sujas – ele praguejou – Eu não vou afogar meus problemas na Marlene nem nada.

– Que bom, porque você sabe que ela não se recusaria se você fosse. – James parou de falar, porque Remus lhe deu uma cotovelada.

– Sirius, ainda assim – pediu, tentando colocar algo de sensatez na cabeça do amigo – se alguém visse, poderia pensar que...

– Confiem em mim, não é nada disso. Só não contem para Olie, ok? Ela pode tirar más conclusões.

– E quem não tiraria. – resmungou o outro, agora zangado, mas Sirius já estava indo na direção de Marlene.

Ele apressou o passo, conseguindo pegá-la pelo antebraço na virada de um corredor. A garota exclamou "Sirius!", os olhos verdes arregalados de surpresa.

– Lene, preciso falar com você, pode ser?

– C-claro – gaguejou.

Como se ela fosse negar qualquer pedido de Sirius. Andaram para o pátio, fora do caminho do salão comunal dos corvinais..

– Eu preciso de um favor – ele falou suavemente, os olhos brilhando sob o luar fraco.

– Qualquer coisa – disse antes que pudesse se conter, fazendo-o achar graça. – Quero dizer, não qualquer coisa. – ela corrigiu-se, corando – Você me entendeu.

Sirius sabia que era qualquer coisa, sim. McKinnon tinha se encostado na amurada que cercava o pátio descoberto, o cabelo longo e escuro caindo em ondulações sobre a camiseta justa. Ela era bonita, muito bonita, e ele pensou, com um pouco de diversão, que o irmão tinha um gosto tão apurado quanto o seu próprio. Sirius enlanguesceu seu melhor sorriso.

– Você está sozinha, Lene? Ouvi dizer que terminou o namoro com o aquele batedor Truman.

– Não era bem um namoro, você sabe – se apressou a corrigir, curvando um pouco o tronco para trás, displicente, as mãos espalmadas no muro baixo – e isso já faz tempo. Desde lá eu estou mesmo sozinha.

– Que pena. – ele disse, a voz suave.

Guardou um minuto de silêncio para fazer um suspense. Mas ela sabia usar bem os lindos olhos de gata para perscrutá-lo, pacientemente, de cima a baixo, enquanto ele não falava nada.

– Então – ele perguntou, como quem não quer nada – Sente falta de nós?

Ela ergueu uma sobrancelha, sem acreditar que ele estava tocando no assunto.

– Não acho que isso importe – falou, desviando rapidamente o olhar, mas não conseguia manter a visão longe dele por muito tempo. – até onde eu sei você está namorando firme... certo?

Havia alguma esperança nela, de que ele dissesse não. Mas ele continuou em silêncio, e ela suspirou.

– É óbvio que eu sinto. – ela rolou os olhos. – Por que? Você me chamou aqui só para amaciar o seu ego?

– Hey, hey, que é isso, Lene? Vim lhe dar uma boa notícia, meu bem. Não fique assim, hum? – ele tocou o queixo dela, fazendo com que a garota voltasse a olhá-lo nos olhos. – Sei de alguém que está interessado em você.

– Alguém? – ela torceu os lábios em dúvida – Você é o que, o meu cafetão agora?

Ele riu, divertido.

– Nada como isso. Só pensei que você fosse querer ter mais uma prova do sabor Black?

Marlene se desencostou do muro, ajeitando o corpo.

– Do que exatamente você está falando, Sirius Black?

– Do meu irmão. – ele disse com um enorme sorriso de oferta.

A morena pensou um pouco antes de erguer não uma, mas duas sobrancelhas, de incredulidade.

– Você não pode estar falando daquele guri da sonserina, né? Quantos anos ele tem, doze?

– Quase quinze. Você é só pouco mais de um ano mais velha.

– Sirius, sinceramente, você perdeu o juízo?

– Lene – ele interpelou, na voz macia e aduladora que sabia que mexia com ela – vamos lá, dê uma chance ao garoto. Eu sei que você não o tem observado ultimamente, ele cresceu um bocado. – e – deu seu melhor sorriso persuasivo – ele se parece bastante comigo.

Tem certeza? – ela piscou, tentando sair dor torpor-Sirius-Black e pensar claramente – Quero dizer, tem certeza que ele não é crianção, abestalhado e não vai me fazer passar a tarde inteira na Zoko's? Por que se isso acontecer, eu mando matar você, Sirius Black, e eu estou falando sério.

– Ele não vai fazer isso. Vamos lá, Lene, o garoto tem o mesmo sangue que eu – Sirius deu uma piscadela para a garota – não vai te decepcionar.

Ela pareceu tentada com o argumento. Talvez estivesse se lembrando como Sirius não decepcionara nadinha. Quando McKinnon foi embora, ele ficou um tempo nas sombras, acompanhando o suave ondular dos quadris dela, que a saia - mais curta que o padrão escolar - acompanhava. As pernas morenas e longas sumiram na curva o corredor e o Sirius pensou em como Regulus seria malditamente sortudo na tarde seguinte.

E o próprio Sirius, no entanto, não parecia ter alguma perspectiva de ter a sua namorada nos braços até o dia seguinte. Olivia ainda o estava evitando e até ela esfriar a cabeça, poderia levar dias. Se ela o perdoasse dessa vez, quer dizer.

Ele sentiu um arrepio involuntário ao pensar no tempo que levaria para Olívia esfriar a cabeça se ela ficasse sabendo que ele podia ser o culpado da gravidez de Bellatrix. O pensamento fez voltar aquela sensação pulsante de desespero, e o maroto deixou o pátio, cheio de perturbações, de volta para o salão comunal da Grifinória.

(Continua...)


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Notas finais do capítulo

Me digam o que mais gostaram no capítulo, ok? (Pra mim é o Regulus, só quero morder as bochechas dele, xesuss *.*)

Até semana que vem!



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