La Princesse Perdue escrita por La Princesse Perdue


Capítulo 2
Bad Dreams In The Night


Notas iniciais do capítulo

• Essa fanfic terá vários trechos de sonhos da personagem principal, Anastasia. Tais momentos estarão descritos em itálico
• Expressões em russo serão utilizadas, mas sempre colocarei seus significados nas notas finais do capítulo.
• Devo reforçar que diversos dados foram alterados tanto em acontecimentos do passado, como também no presente. Mas nada muito drástico. Os costumes de cada país foram preservados. As maiores mudanças estão relacionadas à política e formas de governo.
• Muitos dos sobrenomes utilizados estão relacionados a alguma família nobre do passado.
• Vale ressaltar que a instituição na qual ela estuda é destinada exclusivamente à elite e seus estudantes são jovens, de uma faixa etária entre 18 e 24 anos, de famílias nobres de todas as partes do mundo. Anastasia, por exemplo, é uma duquesa.
• Espero que gostem e fiquem a vontade para comentar e me enviar mensagens, as mesmas serão muito bem recebidas ♥



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Anastasia corria por um vasto corredor. O eco de seus passos contra o chão de mármore misturava-se aos gritos estridentes que a acompanhavam de longe. As obras de arte magníficas que adornavam as paredes passavam por sua vista como um borrão, embaçadas pelas lágrimas. As espessas cortinas de um tom vermelho vívido não permitiam a entrada de luz solar, dificultando sua locomoção.

A loira corria sem cessar, nunca encontrando uma saída. Seu peito já apertava devido ao esforço e a respiração descompassada retardava seus movimentos. — Elena... Elena, Моя принцесса. Elena... – o chamado ecoava pelas paredes, penetrando sua mente. A garota podia distinguir o som melodioso em meio aos ruídos perturbadores, mas tais palavras não faziam sentido. Não pelo sotaque carregado ou palavras em russo, não. Ela sabia o que significavam. Porém, não quem era seu destinatário. Só havia uma certeza naquele momento, a do que deveria fazer: fugir, correr por sua vida, sobreviver por aqueles que amava. Contudo, um pensamento permanecia sem resposta. De quem estava fugindo?

Anya levantou-se abruptamente, os braços abertos como se tentasse livrar-se de algemas e a respiração irregular. O mesmo sonho que tantas noites lhe tirara o sono, agora parecia ainda mais real do que das outras vezes. Seu olhar encontrou irises verdes assustadas, emolduradas por cílios grandes e profundas olheiras, refletidas no espelho a sua frente. Os cachos caramelos formavam um emaranhado irreconhecível e as marcas do travesseiro em seu rosto sinalizavam a péssima noite de sono enfrentada.

A porta de seu quarto abriu abruptamente e ela deparou-se com a expressão preocupada de seu pai. Sua mãe chegou logo em seguida, enrolada no robe branco de seda, com o mesmo olhar aflito misturando-se aos traços presentes em alguém que até pouco estivera em um estágio de sono profundo.

— Anastasia? O que aconteceu? Está tudo bem? – perguntou com certa urgência na voz.

— Hum, o quê? – questionou distraída. — Está. Está tudo bem. Eu estou bem.

— Escutamos um grito. – responderam em uníssono. — E o som de algo se estatelando no chão. – completou a mãe.

Acompanhando o olhar dos pais, Anya viu o abajur, antes em cima de seu criado mudo, despedaçado contra o chão polido. Uma careta formou-se em seu rosto e ao dirigir-se aos dois adultos fez um pedido de desculpas silencioso. Ambos soltaram um pequeno riso, provavelmente mais aliviados do que realmente achando alguma graça da situação.

— Vá se arrumar, Anya. Já está na hora de ir ou chegará atrasada. – seu pai disse antes de fechar a porta e deixá-la sozinha.

A garota executava os mesmo movimentos de sempre, de forma automática e sem atenção. “Que lugar era aquele?” – perguntava-se pela milésima vez, ao sair de casa.

O carro preto lustroso a aguardava em frente ao jardim da mansão. Um homem alto estava encostado contra o automóvel. Seus olhos tinham um tom de castanho penetrante, os quais seriam amedrontadores se não fossem tão carinhosos; o chapéu de chofer escondia os cabelos grisalhos que denunciavam sua idade avançada; o terno preto bem passado contrastava com sua pele clara; e o sorriso caloroso era capaz de envolver a qualquer um.

— Bom dia, Lady Vignerot du Plessis. – falou educadamente.

— Giuseppe, eu já não lhe pedi para me chamar de Anya? O senhor já é da família! – respondeu com um tom de indignação e levantou os braços de forma teatral, fazendo ambos caírem na gargalhada.

O resto do caminho foi silencioso e logo Anya se viu parada, admirando a construção majestosa. O local parecia um palácio, com detalhes em dourado e flores dos mais diversos tipos adornando a entrada. Fazia apenas um ano que estudava naquela instituição destinada a membros da elite e por mais que gostasse muito do ensino e tivesse ótimos amigos, Anastasia sentia que não pertencia àquele lugar. Seus pensamentos começavam a se perder em meio às dúvidas quando foi interrompida por uma voz aveludada.

— Bom dia, princesa. – Louis falou com um sorriso malicioso esboçado no rosto.

Anastasia revirou os olhos, contudo, um sorriso discreto formava-se em sua boca. Se não conhecesse Louis o suficiente, já teria lhe dado um tapa por chamá-la assim pelo simples fato de saber que desagradava à garota. De acordo com ela, ser comparada a uma princesa não era um elogio, mas uma forma bonitinha de caracterizá-la como fraca.

— Sempre soube que você adorava esse apelido. – o rapaz disse provocando ainda mais.

— Gosto tanto quanto gosto de você. – retrucou sarcástica, mas com um tom divertido.

— Então você deve amar muito.

— Ou desgostar demais. – afirmou com um sorrisinho presunçoso e deu de ombros, virando-se logo em seguida e deixando-o sozinho.

Anastasia só escutou um resmungo vindo de seu amigo antes de subir pela enorme rampa que levava ao andar onde ficavam as salas de aula. A garota virou-se uma ultima vez para encontrar o olhar do jovem e terminou esbarrando em alguém e derrubando todos os livros que segurava.

— Por que não olha por onde... – a pessoa com quem trombara começou a dizer em um tom rude, até seus olhos se encontrarem e a expressão do rapaz se suavizar. — Olá, gatinha. – murmurou lançando-lhe um sorriso sedutor.

O garoto parado a sua frente era Aaron, um dos mais populares e cafajestes de toda a instituição. Não era de se estranhar que com seus olhos tão azuis quanto o céu, pele branca e cabelos escuros como a noite, ele atraísse a atenção de todas as garotas, o que Anastasia não conseguia entender era como elas perdiam seu tempo com alguém como ele.

— Já disse para não me chamar assim.

— Gosto do apelido. Combina com a dona. – justificou-se dando de ombros.

— E o que a sua namorada acha dele? Duvido que goste de saber que você chama outras dessa forma.

— Sinto cheiro de ciúmes, Lady Anya? – ele perguntou e deu um passo a frente, aproximando seus rostos. — Já disse que é só você me pedir e eu acabo com ela.

— Pode esperar deitado. – rebateu e deu-lhe as costas, seguindo seu caminho para a aula de Ciências Políticas.

O sinal já havia tocado quando finalmente chegou à sala. Anya esbravejou mentalmente, culpando Aaron por seu atraso. Sem mais delongas, ela pediu licença ao professor e adentrou o ambiente rapidamente.

A porta ficava ao lado do quadro digital, no qual o professor já havia ressaltado algumas partes importantes do texto que deveriam ter lido em casa, portanto, Anya teve que passar em frente a todos os alunos, tentando chamar o mínimo de atenção possível. A sala era composta por cinco longas mesas curvas, as quais abrigavam de oito a dez cadeiras típicas de escritório. Os móveis de madeira escura foram distribuídos em degraus, os quais aumentavam de tamanho à medida que se distanciavam da frente da sala. Anya sentava-se em uma das cadeiras mais afastadas, o que lhe proporcionava uma ótima visão da sala, mas, naquele momento, não ajudava em nada a tarefa de passar despercebida.

— Sr. Scheffer? – ouviu-se uma voz vinda do outro lado da sala. O professor dirigiu seu olhar para a menina de cabelos arruivados e grandes olhos azuis, concedendo-lhe permissão para prosseguir. — O senhor não concorda que, por ter chegado atrasada, a Anastasia deveria ir à coordenação? – Sirlene questionou sem mais delongas.

— O que eu acho ou deixo de achar em minha aula só diz respeito a mim. Lady Anastasia, sente-se.

Anya apressou o passo até seu lugar, soltando uma risadinha discreta ao sentar-se na cadeira acolchoada.

Sirlene, em contrapartida, ficou indignada com a resposta recebida, fez menção de se levantar e confrontar o professor, mas sua razão falou mais alto, deixando-a sentada. Seus olhos irradiavam raiva, a qual foi diretamente direcionada a Anastasia. Qualquer outra pessoa teria medo de Sirlene e de sua influência sobre a academia, mas não aquela duquesa. A loira limitou-se a sustentar seu olhar por alguns segundos e virar o rosto, claramente desprezando a sua presença.

— Lady Anastasia, poderia explicar à sala um pouco a respeito dos conflitos ocorridos na Inglaterra nesses últimos meses? – exigiu o professor, fazendo com que todos os olhares se dirigissem a ela.

Por uma fração de segundo, a duquesa sentiu-se intimidada devido aos pares de olhos que a fitavam, analisando-a de cima a baixo. Com um pequeno sorriso se formando nos lábios, subitamente toda a tensão se dispersou. Seus dedos começaram a teclar em seu notebook agilmente, projetando a apresentação que preparara no quadro digital da sala.

— É da ciência de todos que são poucos os governos que contam com a presença de monarcas restantes no mundo, dentre eles temos a França, a Inglaterra, a Alemanha e a Itália. – começou, se dirigindo à frente de sala com o notebook em mãos. No entanto, muitos pensadores acreditam que tal forma de regência é ultrapassada e, por consequência, esses países estão fadados ao fracasso. Tais ideias têm agitado a população, em especial aos britânicos, os quais vêm sofrendo devido a uma crise econômica intensa que se prolonga há cinco anos. Na semana passada, um grupo de rebeldes intitulado R.D.N. invadiu o Palácio de Westminster, sede do parlamento britânico, e destruiu alguns dos estabelecimentos, antes de ser contido pela força militar nacional. Há rumores de que eles procuravam algo específico, mas nada foi comprovado ao certo. Porém, essa não é a parte mais interessante. Ao contrário do que muitos acreditam, esse grupo não foi formado na Inglaterra. R.D.N. é uma sigla para Revolucionários Democratas do Norte, a tradução equivalente para Революционная демократия Северная. – falou em uma pronuncia perfeita — Tal grupo formado na Rússia foi responsável por tomar o governo russo e assassinar a família czarina em um golpe conhecido como a Revolução de 2001. – Anastasia apresentou o tema, mostrando imagens, vídeos e depoimentos relatando o atentado.

Em poucos minutos o que antes eram apenas murmurinhos e uma troca de opiniões entre duas ou três pessoas, transformou-se em um debate acalorado e desorganizado entre toda a turma, capaz, inclusive, de abafar o som do sinal avisando o final da aula. O Sr. Scheffer, mesmo com toda a sua autoridade dentro de sala, precisou de alguns minutos para acalmar os alunos que aos poucos retornaram aos seus lugares para aguardar o início da segunda aula.

Louis, sentado ao seu lado, encarava Anastasia com admiração.

— Como você falou aquilo? Seu sotaque... Era quase como se você soubesse exatamente o que fazia. Falar russo fluentemente é mais uma de suas habilidades secretas? – perguntou com um tom ligeiramente brincalhão, mas havia um fundo de verdade em suas palavras.

Anastasia apenas deu de ombros. “Será um dia interessante.” – pensou, mordendo o canto do lábio.

Anastasia estava apoiada contra o parapeito da varanda de seu quarto, observando a paisagem. Os poucos carros que passavam pela rua o faziam de forma silenciosa, afinal, eram todos modelos de última geração, pouco poluidores e com tecnologia avançada. A região onde morava era composta por diversas mansões luxuosas, com jardins magníficos e vários andares. Ao fundo era possível ver inúmeros prédios estendendo-se pelo céu, como se o objetivo de seus inquilinos fosse tocar a mistura de cores formadas durante o amanhecer e pôr do sol. E, ainda mais ao fundo, mesmo que não pudesse enxergar, Anya sabia que ali ficavam os sem teto. Embaixo de viadutos, escondidos em meio ao lixo, habitando lugares pequenos demais para suas largas famílias. Tais elementos formavam um contraste perturbador.

O som da porta se fechando a despertou de seus devaneios. As imagens desconcertantes se dissolveram em seus pensamentos e foram substituídas por uma alegria genuína.

— Anya? – as duas menininhas de cabelos castanhos claros chamaram ao mesmo tempo.

A loira sorriu e correu ao encontro de suas irmãs. Pegando-as no colo e girando, uma de cada vez.

— Bellinha! Nique! – respondeu bagunçando seus cabelos, fazendo as duas garotinhas caírem na gargalhada. — E então, nós vamos brincar de contos de fadas hoje?

— Sim! – responderam em uníssono. — Eu serei a princesa! – gritou Isabelle, vitoriosa.

— Mas você sempre é a princesa, Belle! – protestou Dominique, a mais nova.

— Sem brigas meninas. Já para o banho, após o jantar podem brincar. – Jean, o pai, interveio antes que a situação acarretasse uma briga.

Isabelle e Dominique não pareceram nada satisfeitas com o estipulado, mas concordaram sem discutir, dirigindo-se aos seus respectivos quartos e deixando-os sozinhos. No mesmo instante, a expressão de Jean se desfez em preocupação e angústia, algo claramente o incomodava. Com um sorriso cansado e um olhar de súplica, seu pai pediu que não comentasse nada por hora, preferindo guardar os problemas para si. Relutantemente, Anastasia assentiu e o observou se dirigir ao escritório e desaparecer em meio à escuridão do cômodo.

O relógio na parede de seu quarto anunciava a hora tardia. Todos os membros da família já se encontravam dormindo àquele momento, exceto Anastasia. Os pensamentos inquietantes não permitiam que a loira pregasse os olhos. Não que ela se importasse em continuar acordada, pois isso a preveniria de ter o mesmo pesadelo de sempre.

Ela se virou na cama de casal pela milésima vez e seu olhar encontrou o retrato de um dos momentos mais felizes da família Vignerot du Plessis, emoldurado em um porta retrato revestido de ouro sob a sua cabeceira. Os dedos finos contornaram a silhueta de cada uma das pessoas, focando em memorizar cada detalhe de suas expressões sorridentes. Sorrisos tão sinceros... Os mesmos já não mais tão presente na vida deles. Não após a morte de Julie, sua tia.

As lágrimas começaram a escorrer por seu rosto silenciosamente; sua dor era intensa e quase sufocante. Logo a tristeza foi sobreposta pelo cansaço, mergulhando-a em um sono profundo e sem sonhos.


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Notas finais do capítulo

- Моя принцесса significa minha princesa, em russo.
— Революционная демократия Северная significa Revolucionários Democratas do Norte.
Ambas traduções foram feitas pelo Google Tradutor.
Espero que tenham gostado! Comentem ♥