Paz Temporária - Chama Imortal escrita por HellFromHeaven


Capítulo 21
Quebra de realidade




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Consegui “fugir” de um possível reencontro indesejado (pelo menos naquele momento) usando a responsabilidade ligada ao meu posto na Organização e voltei para a base mais próxima. Tentei não pensar em nada no caminho, mas minha mente ficou ocupada com uma sensação terrível. Na verdade não foi com ela em si, mas sim com seu motivo, já que eu não tinha ideia de qual seria. Por sorte as ruínas não eram muito distantes da base e eu logo pude ocupar meus pensamentos com outras coisas.

Chegando lá, percebi uma grande movimentação de civis e alguns soldados, porém não parecia nada importante (ou pelo menos não cheirava a um desastre). Como precisava me distrair, resolvi seguir o fluxo e verificar o que estava ocorrendo. Depois de andar por algumas ruas e atravessar a multidão percebi que todo aquele alvoroço estava direcionado ao palanque que utilizávamos para dar notícias importantes ao povo. Roward estava lá com um microfone e fazia um de seus “discursos motivacionais” (como Sayumi se referia). Isso não era novidade e nem me interessava, uma vez que a todos eram a mesma coisa falada de um jeito diferente. Cheguei a comentar isso com ele uma vez e ele ficou muito irritado. Discutimos um pouco e depois ele pediu desculpas e prometeu que “o próximo discurso que você ouvirá de mim será totalmente diferente”. Pena que tais palavras nunca se concretizaram.

Ele já estava terminando de falar quando cheguei (o que foi um alívio) e logo após um dos responsáveis pela comunicação e estratégia da Organização pegou o microfone e começou a explicar a nossa situação na guerra, algo que realmente me interessava:

– As batalhas no oeste tem se intensificado cada vez mais, porém de acordo com nossa comandante Sayumi a batalha acabará em poucos dias. Ela disse que as tropas dos Fallen Ones se refugiaram em uma pequena vila perto da fronteira com Gran Alma e que eles cairão lá mesmo.

A notícia foi recebida com gritos de felicidade vindos da plateia. Algumas pessoas começaram a pular enquanto outras apenas pareciam estar aliviadas e erguiam suas mãos aos céus em forma de agradecimento. Mantive minha postura normal e apenas continuei prestando atenção no comunicado:

– Uma das tropas que estava guerreando ao sul retornou hoje com um número de baixas de apenas quinze por cento! Esses soldados retornaram vitoriosos e amanhã mesmo retornaram à linha de frente no litoral.

Mais gritos e “gestos de alegria” se espalharam pelo povo. Porém havia algumas pessoas tensas no meio da plateia. Provavelmente possuíam parentes naquela tropa e estavam se perguntando se seus entes queridos estavam naquela “pequena” porcentagem de mortos.

– E a última notícia do dia é que de acordo com as últimas pesquisas realizadas por espiões e pelos membros da área de estratégia da Organização... Nós estamos ganhando! Cada vez mais Fallen Ones têm se rendido ou morrido no campo de batalha e suas forças estão cada vez mais fracas. É só uma questão de tempo até anunciarmos a vitória contra aqueles fanáticos malditos!

Essa última notícia até me animou um pouco, uma vez que eu já estava ficando cansada daquela guerra. E nem preciso dizer que a multidão foi à loucura. Ignorei as manifestações de euforia e apenas fui até comandante e fundador de nossa digníssima organização no intuito de verificar se havia informações que o povo não poderia saber. Ele me recebeu como sempre, com um sorriso e um jeito amigável. Porém, era visível que ele estava preocupado e cansado. Mas isso não era nada imprevisível, uma vez que guiar uma “revolução” deveria ser uma tarefa deveras estressante e desgastante.

Trocamos algumas palavras e decidimos prosseguir com a conversa em um local mais reservado para garantir a segurança das informações. Então fomos até o local onde eu estava hospedada há alguns dias. Era um pequeno chalé de madeira muito simples e aconchegante que ficava afastado do centro da cidade. Não havia outras construções numa distância de, pelo menos, quinhentos metros, então era um local seguro. Servi um pouco de chá para meu “convidado” e ambos nos sentamos na varanda.

– Então... O que mais eu deveria saber além do que foi anunciado no centro?

– Fiquei sabendo que você liderou um grupo de resgate hoje, não?

– Não desconverse. E sim, liderei.

– Heh, me desculpe. Eu só queria descontrair comentar isso. É bom ver você na linha de frente de novo.

– Concordo. Dar-lhe-ei os detalhes assim que estiver completamente informada.

– Tudo bem, tudo bem. É basicamente o que o Spiegel falou: estamos ganhando a guerra e não parece que vai demorar muito para que tudo acabe.

– E...?

– Bem, ainda não encontramos o esconderijo do líder deles e como nossos exércitos estão espalhados pelo país a procura tem sido uma tarefa árdua.

– Entendo...

– Mas há uma boa notícia e o fato de você ainda estar “em forma” para atuar no campo de batalha apenas me deixa mais confiante quanto a isso.

– Vou ignorar seu comentário direcionado à minha capacidade apenas a pedido da minha curiosidade.

– Lembre-me de agradecê-la mais tarde. Enfim, um pequeno grupo de patrulha localizou um arcebispo junto com uma tropa de Fallen Ones e os seguiu até um vilarejo mais ao norte. As descrições dele batem com alguém que Ronmanoth disse ser um dos “chegados” do líder supremo e isso significa que ele deve saber onde nosso maior inimigo está.

– Entendi aonde você quer chegar. Apenas me dê as coordenadas do local e me arranje um grupo de uns vinte homens que saibam o que estão fazendo e eu farei esse infeliz falar.

– Era exatamente o que eu queria ouvir. Esse lugar não é muito distante daqui. Apenas algumas horas de carro na estrada para o norte. Ela passa por dentro do vilarejo, então não tem erro. E quanto aos homens, já providenciei tudo.

– Gostei de ver. Então partiremos agora mesmo.

– Hey! Conte-me mais sobre suas últimas “aventuras” antes.

– Tudo bem... – disse depois de suspirar profundamente.

Contei detalhadamente como eu resgatei um velho conhecido e impedi a morte de outros enquanto ele ouvia atenciosamente. Como quase nunca tinha a oportunidade de estar na linha de frente, Roward gostava de ouvir histórias relacionadas a isso e sempre ocupava o meu tempo e o de Sayumi com esses pedidos “infantis”.

Enfim, saí dali e fui de encontro com os soldados que me acompanhariam na missão. Todos já estavam me esperando, o que significava que Roward me conhecia bem. Entramos em um veículo e seguimos viagem rumo à localização do suposto arcebispo. Demorou um pouco mais do que o esperado (tivemos que fazer uns desvios e pegar algumas rotas alternativas para evitar possíveis patrulhas inimigas), mas finalmente chegamos a uma distância acessível para se chegar até o local a pé.

Prosseguimos com muita cautela e apenas nos deparamos com um grupo de cinco guardas que repousava ao redor de uma fogueira. Interrogamo-los e confirmamos as informações que desejávamos. Feito isso, adentramos a cidade sem encontrar muita resistência. Pelo o que os guardas disseram, não havia muitos soldados lá no intuito de não levantar suspeitas. Infelizmente para eles, isso não adiantou muito. Nosso alvo supostamente estaria escondido na igreja da cidade, juntamente com um grupo de Fallen Ones muito bem treinados e armados. É claro que tal informação nunca me impediria de cumprir a missão, então apenas prosseguimos.

Mandei que os homens se espalhassem e vasculhassem a cidade para ter certeza de que não seríamos pegos de surpresa por ninguém. No final, tudo parecia normal e tranquilo. Logo, apenas nos restava invadir a igreja. Deixei alguns soldados do lado de fora cercando o prédio para impedir que escapassem e adentrei o local pela porta da frente sozinha. Pedi para que os outros esperassem um pouco para entrar porque se houvesse uma emboscada ninguém morreria. E meus instintos não me traíram, pois foi exatamente o que aconteceu.

Assim que dei três passos dentro do local, recebi uma saraivada de balas vindas de todos os lados possíveis. Saquei minha espada, bloqueei o que consegui e desviei o máximo possível, avançando contra os inimigos. Senti minha lâmina perfurando a garganta do primeiro Fallen One assim que todos pararam para recarregar. Essa foi a deixa para o restante dos meus aliados entrarem em ação. Todos avançaram rapidamente atirando em todos que portavam uma arma dentro daquele lugar. Não queria ficar para trás, então logo retirei a espada do pescoço daquele infeliz e comecei a fatiar aqueles que estavam ao meu alcance. Acho que decapitei uns três e desmembrei cerca de cinco pessoas naquele dia.

A ação foi rápida e implacável. Em questão de pouco minutos restava apenas uma poeira proveniente das armas pairando no ar e vários corpos estirados no chão. Adentrei o quarto que ficava no segundo andar e encontrei o arcebispo encolhido em um canto apontando uma arma para a porta. Suas mãos tremiam e ele nem sequer era capaz de apertar o gatilho. Aproximei-me lentamente dele e o desarmei. Cravei minha espada no chão de madeira e coloquei o cano da arma na cabeça dele:

– Olá, senhor arcebispo. Gostaria de pedir a sua colaboração.

– O-o que você quer?

– Apenas uma simples informação: onde está seu líder?

O homem arregalou os olhos e pude sentir que sua vontade era gritar comigo ou coisa do tipo. Mas como era um covarde, apenas tremeu em silêncio. Neste momento, meus ouvidos captaram um movimento dentro de um armário que estava no quarto e antes que pudesse fazer qualquer coisa, recebi dois disparos:

– A ira dos Deuses cairá sobre vocês, seus monstros!

Não podia me deixar abalar, então rapidamente peguei minha espada e a arremessei contra o armário, fazendo com que sua lâmina perfurasse a porta do mesmo. Como não havia garantias de que aquilo teria sido o suficiente, usei a arma que acabara de roubar do arcebispo e disparei cinco vezes. O membro do clero apenas ficou paralisado e colocou suas mãos sobre os olhos. Dois de meus homens entraram, o que significava que a lua já havia acabado e o covarde se desesperou ainda mais. Aproveitei a oportunidade e fui checar quem estava escondido no armário. Mas a visão que tive ao abrir a porta me chocou profundamente, de uma forma que eu nem imaginava mais ser possível.

A espada estava cravada... Não, ela havia atravessado a cabeça de uma criança de, no máximo, uns dez anos de idade. Suas roupas sujas indicavam que ela deveria ser pobre ou que simplesmente tinha sido bastante afetada pela guerra. Os disparos atingiram o olho esquerdo a barriga daquele pobre ser. Isso revirou meu estômago e me fez largar minha arma. Olhei para minhas mãos e estas estavam completamente cobertas de sangue. Foi aí que tudo desmoronou.

Eu me perdi em algum lugar no meio do caminho da vida e, como resultado, tudo estava errado. Rapidamente sai do quarto e olhei para os corpos. Havia alguns soldados Fallen Ones trajados com suas vestes características, mas a maioria não passava de mulheres, crianças e jovens que não aparentavam estar se alimentando bem. Levei minhas mãos até minha cabeça e gritei o mais alto eu pude para extravasar meu desespero. Aquilo não poderia ter saído de uma maneira pior.


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Notas finais do capítulo

Agora sim este é o capítulo da semana. Até demorei mais do que o previsto para terminar devido a um problema muito comum em universitários chamado: sono.
Enfim, finalmente a ficha da tia Tsuya caiu e as tretas tretarão de outra maneira agora.
Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



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