Gaara não estava cansado, mas resolveu parar o ritmo da viagem para conferir qual estratégia usariam ao chegar ao norte. Releu a mensagem mandada pelo hogake de Konoha, Hatake Kakashi. No papel estava uma notícia que Gaara não esperava: A paz que tanto desfrutaram durante dois anos havia acabado, pois um misterioso inimigo havia surgido. Esse ninja desconhecido invadira Konoha e sequestrara ninjas do clã Hyuuga, inclusive Hinata, que agora era namorada de seu grande amigo Naruto. Na mensagem, o hokage também pede ajuda e colaboração de Suna para deter esse inimigo. Porém, nada mais sobre esse ninja foi revelado.

Kankuro e Temari caminhavam ao seu lado e também pareciam um pouco ansiosos. A equipe de chunnins que vinha logo atrás parecia concentrada na missão que logo viria. Entre os chunnins estavam Himui e Sora, um jovem casal que pertencia ao mais novo clã de Suna, os Fujiwara.

Após a Quarta Grande Guerra Ninja, muitas vilas cresceram e prosperaram. A vila da areia foi uma delas. Após assinar inúmeros tratados de paz, Gaara conseguiu aliança com três clãs estrangeiros que vinham de ilhas pequenas ao sul do país do Vento. Os Fujiwara foram os primeiros a aceitar o acordo com o kazekage. Esse clã possuía um domínio incrível de taijutsu. Porém, o que mais intrigava com relação a esse clã era que eles possuíam a capacidade de usar ninjutsu, mas preferiam não fazê-lo. Os Fujiwara também possuem técnicas milenares que permanecem em segredo desde os primórdios do clã e são passadas de geração em geração somente por seus líderes. O clã também possui muitos ninjas e em menos de um ano após chegarem à Suna, metade do clã Fujiwara já estava entre os chunnins da vila.

O segundo clã a assinar o tratado de aliança foi o Yieming. Esse clã possui técnicas peculiares e são os únicos capazes de usar genjutsu na vila da Areia. Porém, os Yieming possuem uma antiga rixa contra os Fujiwara. Ambos viviam na mesma ilha, sendo metade do território dos Yieming e a outra metade dos Fujiwara. Desde sua criação, ambos os clãs já eram inimigos. Os Yieming desprezam as habilidades dos Fujiwara e a rixa se tornou cada vez mais forte com o passar dos anos.

Os Sakai foram o terceiro clã a se juntar à vila. Os ninjas desse clã possuem uma misteriosa linhagem avançada que os dão um poder de cura inigualável. Suas habilidades médicas são incrivelmente avançadas, porém, nada mais sobre esse clã foi descoberto. O clã Sakai jamais revela os segredos de seus misteriosos poderes medicinais e evitam usá-lo o máximo possível.

Já haviam se passado cerca de dois dias desde que saíram de Suna. Os conselheiros não gostaram nada da ideia de ter seu kazekage fora da vila, mas Gaara estava disposto a ajudar seus amigos e assim começaram sua longa viagem até o norte. O País da Neve é extremamente pequeno, não possui aliança com nenhuma vila e fica quase no extremo norte. Por conta de seu clima congelante, não se tem notícias de vilas naquela região. Era o esconderijo perfeito para um ninja renegado. Os ninjas de Suna não estavam adaptados ao clima frio, portanto, quanto mais próximo ficavam do norte, mais difícil ficava para os ninjas se adaptarem em tão curto período de tempo.

Gaara surpreendeu-se ao ver os pequenos flocos de neve caindo em seu rosto. Estavam cada vez mais próximos do País da Neve. Esticou uma das mãos e deixou que a neve caísse sobre ela livremente. Sabia que não podia ficar ali por muito tempo, precisavam andar, só assim conseguiriam se manter aquecidos até chegarem ao ponto de encontro com Konoha. Naruto e seus amigos já haviam partido e provavelmente haviam chegado há dias atrás.

– Gaara, temos que continuar... – Temari desperta o irmão de seus pensamentos. – Se ficarmos muito tempo parados vamos congelar. Droga, aqui é muito frio. Que tipo de ninjas vive aqui?

– Não sei. – Respondeu Gaara. Os olhos verdes do Kazekage voltaram a fitar o horizonte pálido. – Mas vamos descobrir.

– Ei, Gaara. – Kankuro caminha até os irmãos com os ombros ligeiramente encolhidos de frio. – Parece que já estamos na fronteira do País da Neve. Nossa missão começa aqui, não é?

– Sim. Temos que nos preparar. Não sabemos quando o inimigo vai chegar. Kankurou, Temari, organizem as equipes. Vamos para o ponto de encontro. Temos que nos encontrar com os shinobis de Konoha o mais rápido possível.

– Pode deixar. Vocês ouviram, pessoal! Vamos terminar logo com isso e depois vamos pra casa! – Gritou Temari. Num instante, os ninjas de Suna já estavam de pé e posicionados. Gaara tomou a frente.

– Vamos tomar o máximo de cautela possível daqui pra frente. – Começou. Sua voz conseguia atingir a todos e estimulá-los a segui-lo. – O inimigo vive neste território. Nossa missão começa agora. Vamos!

Os ninjas de Suna concordaram, demonstrando uma grande ansiedade. Desde que se tornara Kazekage, Gaara havia ganhado um grande poder com suas palavras, pois elas conseguiam estimular os ninjas á segui-lo.

Continuaram seu caminho pela imensidão gelada. O kazekage conseguia sentir o calor se esvaindo de seu corpo, mas logo essa sensação de frio passaria. Precisava se adaptar aquele clima hostil. Kankurou e Temari corriam logo atrás de si junto com as equipes de chunnins.

– Finalmente chegaram, ninjas de Suna.- A voz grave os fez parar bruscamente. Uma silhueta caminhava em sua direção em meio a neve, mas não era possível ver qualquer parte de seu rosto. Gaara estreitou os olhos verdes, tentando enxergar mais do que lhe era possível. Não reconheceu aquela voz. Com certeza não era a voz de nenhum dos seus amigos de Konoha, por isso, o kazekage se colocou em uma postura de alerta e fez um breve sinal para os ninjas atrás de si tomarem cuidado. Logo, todos os ninjas de Suna já estavam prontos para a batalha.

– Quem é você? – Perguntou Gaara, ainda tentando enxergar e distinguir algum traço da silhueta em meio à neve. Já estava com areia preparada para atacar. Precisava proteger os ninjas de sua vila. O homem na neve apenas riu. Gaara não gostou nenhum pouco da voz do homem na neve. O som o trazia leve arrepios e a brisa gélida que veio com ele deixou o kazekage mais apreensivo. Precisava estudar o inimigo.

– Eu? Eu sou Syren Ootsutsuki. – A silhueta finalmente se tornou visível e Gaara pode distinguir seus cabelos curtos e tão claros quanto a neve. Os olhos eram tão verdes quantos os dele. Porém, o que mais surpreendeu o kazekage foi o nome do homem.

– Ootsutsuki!? – Gaara conhecia aquele nome. Era o clã da primeira mulher a carregar chakra, Kaguya Ootsutsuki. Ele se lembra de ter ouvido sua história durante a guerra. – Esse clã ainda existe?

– Mas é claro, Kazekage! Somos herdeiros da vontade de nossa mãe, a Deusa Coelho! Vocês, ninjas, são patéticos por cometerem o erro de usarem o chakra como uma arma! Por isso, nós vamos tomar o que é nosso por direito!

– Nós..,? – Perguntou Gaara, mas não houve tempo de resposta. Os inimigos vieram de todos os lados. Como não havia conseguido sentir o chakra deles? Balançou a cabeça, não havia tempo pra pensar. - Aí vêm eles, preparem-se!

Temari e Kankuro começaram os ataques junto com suas respectivas equipes. A batalha havia começado. Gaara concentrou-se em Syren que permanecia no mesmo lugar. O kazekage nem precisou se mover para que a areia fosse em direção ao homem em grande velocidade. Entretanto, Syren era veloz e conseguia desviar de todas as investidas de Gaara.

– É só isso que consegue fazer, kazekage? – Desafiou Syren, desviando de mais um ataque de areia. Gaara esticou os braços e preparou-se para prendê-lo em seu jutsu, Sabaku Kyu. A areia moveu-se tão rápida quanto antes e Syren fez um pouco mais de esforço para desviar. Gaara sabia que conseguiria vencê-lo, mas o grito de Temari o fez desviar a atenção da luta.

– Temari? – Virou o rosto e viu a irmã ser cercada de ninjas da neve, deslocou a areia para ajuda-la, mas foi surpreendido pela voz de Syren muito próxima.

– Nunca vire o rosto para o seu inimigo, Kazekage.

Ele estava a pouco mais de um metro de Gaara e logo usou uma espada para ataca-lo, mas instintivamente, a areia protegeu Gaara antes que fosse gravemente ferido. O kazekage se aproveitou da aproximação do inimigo para atacá-lo, cercando ele com sua areia. Agora Syren não poderia mais fugir. Entretanto, o ninja apenas sorriu e seu corpo se desfez, transformando-se em neve.

– Até breve, Kazekage. Nos enfrentaremos de novo.

E tudo terminou tão rápido quanto começou. Os ninjas de Suna suspiraram aliviados e comemoraram brevemente a vitória. Mas Gaara não estava satisfeito. O inimigo havia fugido e, sem qualquer dano. A luta não terminaria ali.

– Gaara! – Gritou Kankuro, correndo ao encontro do irmão.

– O que foi?

– Temari! Ela foi levada pelos ninjas da neve!

Gaara arregalou os olhos. Eles conseguiram levar sua irmã? Apertou os punhos. Agora os ninjas de Suna não voltariam para a vila sem a vitória. A vida de Temari depende deles agora.

– Entendo. Kankuro, vamos ao ponto de encontro. Não vamos recuar. Encontraremos os ninjas de Konoha e salvaremos Temari. Vamos.

*****

Continuaram o caminho pela imensidão gelada do País da Neve. Gaara não deixava de pensar no confronto contra Syren. A ideia de que aquele ninja era realmente um Ootsutsuki não lhe agradava nenhum pouco. Algumas dúvidas também rondavam a mente do kazekage. Porque eles levaram Temari? Seria alguma armadilha? Uma forma de mantê-los presos no País da Neve? Gaara não tinha quaisquer respostas. Mas precisava encontra-las.

A luz começava a se despedir dos shinobis de Suna quando finalmente alcançaram os ninjas de Konoha. Naruto os recebeu, mas nenhum dos lados estava feliz pelo reencontro. Shikamaru não gostou nada da notícia do sequestro de Temari. Ele nem precisava explicar o motivo. Já havia um tempo que ele e Temari estavam cada vez mais próximos.

A preocupação com os reféns era grande, principalmente para Naruto, que estava disposto a lutar outra guerra para resgatar Hinata. Gaara apenas observou a determinação nos olhos do amigo. Será essa a grande determinação de fogo dos ninjas de konoha?

No fundo Gaara apenas se perguntava se algum dia iria ter essa mesma determinação para salvar alguém que ama. Será que um dia teria essa chance? Novamente ele não tinha respostas.

Mas tinha uma certeza...Um dia iria encontrá-las.