Conto De Fadas Moderno escrita por Letícia Matias


Capítulo 6
Capítulo 6




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Quando Noah saiu do banheiro eu ainda estava bebendo minha taça de vinho. Ele olhou para mim e disse:

– Começou sem mim¿

Sorri e tomei o último gole antes de colocar a taça na pia. Virei-me e andei até ele. Ele estava cheirando tão bem... Como sempre!

– Eu estava com sede. – eu disse com o rosto a centímetros do dele.

Ele tinha vestido sua jaqueta de couro, uma calça jeans azul escura e seu All-Star preto. Ele estava lindo.

Agarrei a gola da sua jaqueta e puxei-o para lhe dar um beijo. Ele ficou surpreso, mas retribuiu o beijo e depois me olhou sorrindo maliciosamente.

– Vamos¿ - perguntei.

– Não podemos comemorar só nós dois¿

Sorri.

– Não.

Ele suspirou.

– Você me ataca desse jeito e depois quer que eu saia de casa com você. Não te entendo algumas vezes.

Ignorei-o e fui até a porta.

– Vamos no seu carro ou no meu¿

– No meu. Depois eu vou para casa.

Assenti e abri a porta. Ele veio logo atrás de mim.

Estava bem frio na rua e já estava praticamente de noite. Jack me ligou quando entramos no carro.

– Oi. – eu disse.

– E aí, você vem ou não¿

– Estou no caminho.

– Então tá. Estamos esperando. Até mais, Gen.

– Até.

Olhei para Noah que dirigia com uma mão no volante e a outra na minha perna.

– Estava relembrando momentos antigos hoje, Gen¿ - ele perguntou.

Franzi o cenho.

– Não, por que¿

– Eu vi a caixa de fotos encima da cama, a nossa foto.

– Ah, eu me esqueci de guardar a caixa. Eu peguei para ver algumas fotos.

Ele não disse nada.

– Tem um cigarro aí¿ - perguntei.

Ele olhou para mim surpreso.

– Estou um pouco ansiosa, não sei o por que. – disse me explicando.

Ele tirou o maço de cigarros e o isqueiro do seu bolso e me entregou. Tirei um e acendi. Devolvi o maço para ele e abri a janela.

Dei uma tragada e depois a soprei em direção a janela aberta.

– Está bonita hoje, Gen.

Olhei para ele, ele estava olhando para mim.

Sorri.

– Obrigada, você também está. Sempre está.

Ele sorriu e pegou minha mão.

Nós não demoramos muito para chegar ao karaokê. Quando entramos fiquei surpresa com a quantidade de pessoas que estava no lugar. Estava muito cheio.

Jack, James, Andrew e Mark nos esperavam e todos acenaram para nós quando chegamos. Quando chegamos perto o suficiente Jack levantou-se para me dar um abraço apertado me rodando junto com ele.

Sorri.

– Conseguimos! – ele gritou.

– Eu sei, parabéns pessoal! – gritei.

Os meninos e eu também trocamos abraços apertados e depois nós nos sentamos em frente ao balcão do bar. Os meninos não eram muito próximos de Noah. Muito menos Jack, eles já haviam discutido uma vez e quase socado a cara um do outro, mas, hoje eles se cumprimentaram normalmente e Noah até disse “Parabéns” para os meninos.

– E então, vamos nos encontrar com o produtor na quarta-feira, é isso mesmo¿ - perguntei.

– Sim. – Jack disse. – Mal posso esperar, acho que não vou dormir até quarta-feira.

James riu.

– É incrível, não é¿ Depois de mais de um ano. Ele disse que amou a sua voz, Gen.

Sorri e mordi a boca.

– Mas quem não amava a voz da Gen¿ - Mark disse.

– Ah meninos, eu amo vocês. Vocês são os melhores.

– Acho que ele te achou bem bonita também. – Andrew disse.

Fiz cara feia para ele e ele deu de ombros e franziu o cenho. Antes que eu pudesse dizer algo, Noah disse:

– Como assim, ele já a viu¿

Andrew gaguejou.

– Ah bem, ele viu uma foto dela que está lá na rádio.

– Que foto¿ - Noah perguntou.

Olhei para ele e disse:

– Noah, para com isso. Que bobeira!

Ele olhou para mim e depois olhou para Andrew.

– Que foto¿

– Ah... – Andrew disse. – É uma foto que a Gen está com uma roupa de couro sabe¿ Aquela que você tirou Noah. Que estávamos todos nós da banda.

Suspirei ao lembrar que nessa foto eu estava com uma calça de couro, um cropped branco, com os cabelos soltos e com uma bota preta.

Olhei para Noah que tomou um gole de cerveja e depois me olhou de cara feia.

Revirei os olhos.

– Bom, se vamos gravar o cd, que seja pela qualidade da banda e não pela beleza de ninguém.

– É isso aí, Gen! – Jack disse.

Olhei para Andrew e ele falou “Desculpa” para que só eu pudesse ouvir. Sorri e balancei a cabeça. “Está tudo bem”, sussurrei.

Andrew era um pouco mais novo que todos nós. Tinha os cabelos castanhos, olhos cor de mel e era um amor de pessoa. Era o baterista. Já o James e o Mark tinham cabelos grandes até o ombro. James tinha o cabelo descolorido de loiro e olhos azuis. Mark tinha a pele mais morena e cabelos escuros, seus olhos eram escuros também.

Os meninos começaram a falar de algo entre si que eu não entendi muito então olhei para Noah que estava já na segunda cerveja olhando para qualquer lado menos para mim.

– Noah. – eu disse perto do seu ombro. – Qual é! Você vai ficar emburrado por causa de uma bobeira dessas¿

Ele continuou a não me olhar.

Abri a boca para falar mais alguma coisa quando alguém chamou meu nome.

Olhei para o lado e sorri.

– Ah meu Deus! Nate, oi! – eu disse me levantando e dando um abraço nele.

– Como você está linda! Tudo bem¿

Ri.

– Estou bem sim, e você¿

– Ótimo.

Sorri.

Noah estava me olhando de cara feia.

– Ah... Pessoal, esse é o Nate que fez faculdade comigo, na mesma sala.

– Ah eu me lembro de você! – Jack disse. – Como vai¿

Nate foi cumprimentar Jack e os meninos e depois se virou para mim.

– E então, o que está fazendo aqui¿ - ele perguntou.

– Comemorando.

Ele riu. Nate era alto, tinha o cabelo loiro natural, era forte e tinha olhos muito bonitos.

– Comemorando o que¿

– Vou gravar um cd com eles.

Ele abriu a boca surpreso.

– Nossa Gen, isso é incrível! Meus parabéns!

Sorri.

– Obrigada.

Ele sorriu e ficamos nos olhando por um tempinho. Ele era um cara muito legal e nós sempre saíamos juntos na faculdade.

– Ah, porque não se junta conosco¿ - perguntei.

– É, por que não se junta conosco¿ - Noah disse levando a garrafa de cerveja até a boca.

Nate olhou para ele e depois para mim.

– Ah, esse é o meu namorado, Noah. – eu disse.

Nate pareceu surpreso.

– Ah, é um prazer, Noah. Eu sou o Nate. – ele estendeu a mão para Noah que o ignorou.

Nate baixou a mão sem graça.

Olhei para Noah de cara feia. Ele olhava para mim com os olhos estreitados. Tornei a olhar para Nate.

– Então, vamos conversar. O que está fazendo da vida¿

Ele se sentou entre Jack e eu.

– Eu estou dando aula na faculdade.

– Jura¿ Do que¿

Ele deu de ombros.

– Música.

– Ah, claro. – assenti e nós dois rimos. – Mas não é o que você queria, não é¿

– Com certeza não. Mas, eu tinha a visão que tudo ia dar certo, antes de sair da faculdade. Que nós íamos sair e já íamos montar uma banda e acontecer, sabe¿ E aí, não aconteceu e eu fiquei...

– Frustrado. – completei e ele assentiu. – É eu sei. Aconteceu com a gente também, não é meninos¿

Eles assentiram.

– E agora, vão conseguir gravar um cd. – Nate disse. – É maravilhoso, Gen! Você sempre cantou bem.

Sorri e balancei a cabeça envergonhada.

– Obrigada.

– Mas você gosta de trabalhar na rádio, não é¿

– Sim. – respondi. – Mas não era isso o que eu sempre quis pra mim.

Nate assentiu.

– É eu sei. Bom, e você Noah, faz o que¿

– Noah fez faculdade de fotografia. – eu disse.

– É mesmo¿ - Nate perguntou e Noah assentiu. – Nossa, que legal! Então você trabalha fotografando o que¿

– Ah, hoje ele trabalha numa oficina perto do apartamento dele. Não apareceu o emprego certo ainda, sabe¿ - eu disse.

Nate assentiu e pigarreou.

– Mas, ele é super talentoso. Ele é de Los Angeles. Ele já tirou cada foto linda. Ele tem um ótimo olho para paisagens. – eu disse.

– Isso é muito legal. – Nate disse. – Los Angeles é ótima. – olhou no relógio e depois para mim. – Ah Gen, eu tenho que ir. Foi ótimo te reencontrar, mas, amanhã dou aula. – ele disse revirando os olhos.

Sorri e assenti.

– É, amanhã é dia! Bom, me passa seu celular, assim a gente não perde o contato.

Ele assentiu e tirou um cartão do bolso da calça.

– Me liga, ok¿ - ele disse me dando um beijo no rosto e um abraço. – Boa sorte, Gen e parabéns para vocês meninos! – ele disse trocando aperto de mão com os meninos. – Prazer em conhecê-lo, Noah. – ele disse e estendeu a mão para Noah novamente.

Noah olhou para ele e depois para mim. Olhei de cara feia para ele e ele apertou a mão de Nate.

– O prazer foi meu, cara.

Nate sorriu e olhou para mim de novo.

– Tchau, Gen. A gente se vê.

– Ok, tchau, Nate. Boa aula amanhã.

Ele já estava um pouco mais longe, mas ouviu e virou-se para sorrir para mim antes de sair do bar.

Olhei para Noah e disse:

–Precisava ser mal educado, Noah¿

Ele riu.

– O cara flertando com você na minha cara e você queria que eu fosse educado com ele¿ Ele deu sorte de não levar um murro na cara.

– Ele não estava flertando comigo, Noah. Ele é um velho amigo.

Ele assentiu e tornou a tomar sua cerveja.

Bufei e olhei para os meninos que olhavam para mim.

– Ah aqui está bem lotado hoje. – comentei mudando de assunto.

– Verdade. – Andrew disse. – Nunca vi o lugar tão cheio, nem mesmo quando nós tocávamos. Acho que a voz da Gen espantava o pessoal.

Os meninos riram e eu também.

– Ah, cale a boca Andrew! Aqui ficava bem cheio quando vínhamos cantar.

– É verdade. – Jack disse.

– Noah, você vinha muito aqui antes de... – virei-me para olhar para Noah e ele se levantou se enfiando entre a multidão que dançava e foi para a saída do bar.

Respirei fundo e olhei para as minhas mãos. Eu estava morta de vergonha. Não sabia onde enfiar a cara e já não estava com clima de comemorar mais nada.

Olhei para Jack que já me olhava balançando a cabeça negativamente devagar.

Forcei um sorriso e baixei a cabeça.

– Por que você ainda está com ele, Genevieve¿ É só isso que eu queria entender.

– Eu amo ele, Jack. – respondi olhando para ele novamente. – Eu já lhe disse isso e nós já tivemos essa conversa. Ele só é... Uma pessoa difícil!

Jack revirou os olhos e abriu a boca para falar algo, mas decidiu não falar.

– Eu acho que já vou embora, eu estou bem cansada também e preciso acordar cedo amanhã, certo¿

Ele assentiu.

– Tudo bem, Gen. Então vá.

Suspirei.

– Meninos, eu já vou embora. Mas foi boa ideia a gente se encontrar aqui.

Dei um abraço rápido em cada um deles. Eu me virei para ir embora quando Jack segurou meu braço. Franzi o cenho e olhei para ele.

– Não vai ficar se estressando com isso não, ok¿ Hoje é um bom dia, recebemos uma boa notícia então não deixe que seu namorado querido estrague seu dia.

Sorri murchamente e lhe dei outro abraço.

– Boa noite, Jack. Até amanhã.

Ele soltou meu braço e eu passei pela multidão pedindo licença e sendo empurrada e espremida por alguns até conseguir chegar até a saída.

Recebi uma lufada de ar gelado quando saí de dentro do bar. Tremi da cabeça aos pés e me arrependi por ter vindo com apenas um cropped e não ter trago blusa de frio.

Olhei para meu lado esquerdo e não vi Noah depois olhei para o outro lado da rua e vi-o parado do lado de fora do seu carro fumando um cigarro e me olhando.

Suspirei e esperei alguns carros passarem para eu atravessar a rua. Estava ventando muito. Encolhi-me, me abraçando para tentar me proteger do frio, o que não deu muito certo.

Quando eu estava chegando perto do carro, Noah tirou a jaqueta, segurando o cigarro entre os dentes e me deu para vestir. Olhei para a jaqueta e depois para ele. Peguei-a e vesti. Estava com o cheiro dele.

Ele jogou o cigarro no chão e pisou em cima.

– A gente pode ir embora¿ - perguntei.

– Podemos. – ele disse e deu a volta no carro para entrar.

Abri a porta do carro e sentei-me no banco do carona. Noah bateu a porta com força e eu me assustei.

Olhei para ele e decidi não falar nada por ora.

Ele começou a dirigir sem falar nada assim como eu. Quando paramos no semáforo, a chuva já começava a cair. Olhei para ele que estava olhando para frente.

Suspirei.

– Noah, o que foi¿ Por que você está assim¿

– Por que, Genevieve¿ Por que¿

– É, por que¿

Ele balançou a cabeça dando um sorriso debochado. O semáforo se abriu novamente e ele começou a dirigir.

– Noah, não faz isso, por favor! A gente estava bem...

– Eu não fiz nada e não estou fazendo nada, mas deveria ter feito.

Balancei a cabeça.

– O Nate é só um amigo que eu não via há anos, Noah. Há anos!

– Ele deu encima de você na minha frente! Eu devia ter socado a cara dele e juro que não fiz por você. E você ainda ficou de conversinha.

Ri.

– Não, sinceramente você não quer entrar nessa discussão. Que hipocrisia! Como você é hipócrita, Noah! Quando você vai para aquelas festas estúpida que o Austin dá, que vai um monte de vadias pra lá que ficam se engraçando com você na minha frente, aí eu não posso falar nada. Se eu falo que você está dando atenção para elas, flertando com elas na minha frente, aí eu sou a louca. Aí porque um velho amigo meu estava conversando comigo, aí eu fiquei de conversinha, flertando com ele¿ Ah Noah, me poupe!

– Você não sabe o que está dizendo, Genevieve. Eu nunca flertei com ninguém em festa nenhuma.

Dei um sorriso debochado e decidi não falar mais nada.

Ele tinha conseguido estragar tudo. Como sempre nossa felicidade era assim. Vinte minutos ou meia hora bem e depois já estávamos discutindo novamente. Sempre assim. Era cansativo.

Depois de mais alguns minutos, ele estacionou em frente ao meu prédio. Peguei minha bolsa no banco de trás do carro e coloquei no colo.

– Toma sua jaqueta. – eu disse começando a tirá-la.

– Não, pode ficar. Se você tirar agora e sair na chuva e no vento vai ficar doente. Depois eu pego.

Olhei para ele.

– Você não vai subir¿

– Não, tenho que ir para casa descansar. Amanhã é segunda e tenho que trabalhar.

Continuei a olhar para ele, pasma. Eu estava com tanta raiva dele naquele momento.

– Você pode descansar aqui, Noah. Você tem roupa aqui, escova de dente, tudo.

– Não, eu quero ir pra casa.

Senti uma raiva crescendo mais e mais.

– Quer saber, Noah. Foda-se. Cansei! – eu disse tirando a jaqueta dele e jogando-a na sua perna.

Tirei o cinto de segurança e abri a porta saltando para fora do carro. Bati a porta com força e tirei o sapato para subir as escadas da frente do prédio. Estava chovendo muito agora. Abri o portão com a chave e depois de entrar no prédio, bati o portão com força também.

Noah já havia saído do carro e estava no portão sacudindo-o.

– Genevieve, abre o portão.

– Não. Vai embora. Você não quer ir pra sua casa, então vai. Foda-se, cansei! – eu disse e virei-me para subir as escadas.

Eu estava encharcada.

Subi alguns lances de escada até chegar ao meu apartamento. Entrei e tranquei a porta jogando minha bolsa encima do sofá.

Fui até a janela e vi que o carro de Noah não estava mais ali. Parti para o quarto e peguei o pijama que eu tinha vestido mais cedo. Fui para o banheiro e tomei um banho rápido e quente.

Eu estava com tanta raiva de Noah. Ele fazia e falava coisas tão absurdas.

Depois de pentear o cabelo, fui até a geladeira e peguei a garrafa de vinho que estava um pouco abaixo da metade. Sentei-me no sofá e liguei a televisão. Estava passando algum reality show muito chato que eu não estava prestando muita atenção. Coloquei o celular no silencioso e tomei a garrafa de vinho depois fui até a geladeira e peguei duas garrafas de cerveja. Não aguentei tomar as duas. Apenas a primeira e um pouco da segunda até eu ficar tonta.

Desliguei a televisão e decidi que era hora de ir dormir. Levantei-me do sofá cambaleando e segurando nas paredes. Antes de deitar na cama vi o casaco jeans de Noah jogado encima dela. Fechei a cara. Peguei o casaco e joguei=o no chão pisando nele diversas vezes e murmurando um palavrão com a fala incoerente.

Depois, sentei-me na cama e peguei o casaco do chão, levei até o nariz inalando o perfume dele. As lágrimas sem sentido começaram a cair pelo meu rosto e então eu deitei-me na cama desmaiando antes que alguma coisa pudesse começar a fazer sentido.


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