Pureblood escrita por MaryCherry


Capítulo 25
Vinte e cinco — Programação de sexta-feira.


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como estão? Espero que estejam bem. Esse é o vigésimo quinto capítulo da fanfic (e a cada capítulo que publico, não acredito que tenha chegado tão longe com isso) *tears* quem diria que eu chegaria até aqui? E isso eu devo a vocês também, por serem uns amores e me incentivarem a continuar escrevendo. Muito obrigada a todos e aproveitem o capítulo compridinho em que minha escrita fluiu perfeitamente e eu não tive problemas para planejá-lo, então ele me deixa orgulhosa. Espero que gostem, um beijo com gosto de chocolate e boa leitura. ♡♥(。´▽`。)♥♡



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Adentrando o Idea preto no fim de tarde, Lucy engoliu em seco ao ver que Erza mostrava-lhe um sorrisinho maroto em meio às risadinhas que demonstravam que algo de diferente havia acontecido.

— O que houve? — perguntou, colocando o cinto de segurança ao se acomodar no banco.

— Eu tenho um presente pra você. — disse Erza, faceira.

— Um presente? — repetiu a loira, confusa. Não era nenhuma uma data especial, tampouco seu aniversário.

Scarlet riu, pisando fundo no acelerador.

— É, e acho que você vai gostar. — respondeu. — Mas isso é algo que vamos ver na hora de chegarmos em casa. E aí, aconteceu algo de legal hoje?

Não conseguia dizer nada, abrindo a boca para falar e logo percebendo que a voz falhava. Vermelha de vergonha, a loira enrijecia os músculos que relaxavam pouco a pouco enquanto ela sentia seus batimentos cardíacos, o movimento devagar de inspiração e expiração da caixa torácica e principalmente, desfrutava do cheiro gostoso do perfume dele ali presente.

Em um ato súbito, Heartfilia pressionou o botão ao lado da porta para que o vidro da janela fosse aberto minimamente. O calor lhe percorria o corpo em ondas que iam de sua cabeça aos dedos dos pés, e o vento frio até aliviou tudo aquilo um pouco.

— N-Não! — ela corou, falando rápido demais. — Não aconteceu nada de diferente. Absolutamente nada. Nadinha. Sem chance.

Erza semicerrou os olhos, desviando o olhar do volante.

— É mesmo?

— E-Erza, você não pode parar de prestar atenção enquanto dirige! — disse Lucy, apontando para a frente.

— Eu sei. Mas... não aconteceu nada hoje? E o Sting, você falou com ele?

Aproximou o rosto do vidro da janela do corredor, abrindo-a para inspirar um pouco do ar lá de fora. Sua vista estava embaçada pelo choro, porém ela viu quando algo dourado parou no gramado... até perceber que era Sting a olhando!

A garota encolheu-se com o rosto vermelho como pimentão.

Com um sorriso acanhado, balançaram a cabeça levemente de um lado para o outro. Um beijo de esquimó, perfeito na tarde da noite fria.

— N-Nós não temos a oportunidade de conversar muito no trabalho. — disse Lucy. — Ele trabalha no jardim...

Scarlet estava um tanto decepcionada. Era engraçado que não conhecia a sra. Dragneel, muito menos Mirajane, porém as três já haviam algo em comum para serem amigas: achavam que Sting e Lucy formavam um belo casal.

— Então tá bom.

— O que pintou hoje? — perguntou a loira para mudar de assunto.

Erza enrusbeceu levemente. Não conseguira criar algo muito inovador, a não ser uma arte abstrata que misturava azul e vermelho em um labirinto conturbado. Azul e vermelho, Jellal e Erza.

Queria bater a cabeça no volante.

— Hoje eu não estava em um dos meus melhores dias, pra falar a verdade. — respondeu, virando o carro bruscamente na curva. A loira já estava acostumada com a sensação do estômago embrulhado a cada vez que havia uma curva pelo caminho.

Após um engarrafamento habitual, finalmente aproximavam-se da rua Kousaka Honoka, localização do prédio onde moravam.

— Eu estava pensando em pedir sushi hoje.

Lucy arregalou os olhos ao ver a amiga desejar jantar algo que não fosse pizza.

— Verdade? — falou casualmente, tentando ocultar sua surpresa.

— Por incrível que pareça, pizza não é a única coisa que eu gosto de comer. — disse Erza, emitindo um riso. — Eu nem sou tão fã de pizza assim. Peço mais por causa da Karen.

— Por ela?

Karen era a recepcionista do prédio, todos os dias atrás do balcão mexendo no computador. Vez ou outra, ela ficava penteando os cabelos tingidos de verde, pintando as unhas ou qualquer coisa que fosse relacionada a sua aparência. Apesar de parecer um tanto fútil e extremamente séria, ela era uma pessoa simpática. Lucy gostava dela. Mas o que a pizza tinha a ver?

— Bom… — começou a amiga, hesitante. Não havia porquê, afinal, sabia que Lucy não contaria para ninguém. — Ela é muito apaixonada pelo Loke, o entregador. Ele quase sempre faz entregas pela região, mas o pessoal do prédio costuma pedir de vez em quando… só no fim de semana. E a Karen fica sem fazer nada o dia todo, então pensei que talvez fosse legal pra ela ver o cara que gosta todos os dias. Só que tem vezes que eu fico realmente enjoada de pizza…

— Oh. — disse a loira, maravilhada. — Que atitude bonita, Erza!

Scarlet corou.

— Obrigada. — murmurou, timidamente parando o carro em frente à garagem para apanhar o controle do portão. Abriu-o e quando adentrou o estacionamento, as garotas o ouviram fechar-se atrás de si.

Propositalmente, o Idea ocupou mais da metade da vaga vizinha. A de Jellal.

— Erza… — começou Lucy, pensando na confusão que aquilo poderia ocasionar.

— Ninguém liga pra isso. — Erza puxou a amiga pela mão até a frente do elevador. — Ah, eu quero ver como você vai ficar quando receber o seu presente!

— O que é? — perguntou a loira, fazendo sequer ideia do que poderia ser. De qualquer forma, aquilo era um tanto embaraçoso… receber presentes sem ser o dia de seu aniversário ou qualquer outra data comemorativa.

Scarlet lançou-lhe uma piscadela.

— É surpresa.

Assim que o elevador chegou, as duas viram a sra. Miku – a velha do oitavo andar que gritava mais do que o comum por ter problemas auditivos – com o tal filho que não sabiam o nome. Erza chamava-o de Cara de Paisagem e já ficara de perguntar para Karen qual o nome dele pela simples curiosidade, mas por alguma razão sempre se esquecia de fazer isso.

— Boa tarde, sra. Miku. — cumprimentou Lucy, tímida e educadamente. — Boa tarde, hã… senhor.

Cara de Paisagem não respondeu e a sra. Miku abriu-lhe um sorriso que surpreendeu principalmente a ruiva. Jamais imaginaria que aquela velha surda e gritona poderia ter um sorriso tão gentil.

— Boa tarde, querida! — a velha senhora apertou as bochechas de Lucy. — Como você está?

Se Erza lhe tivesse dito boa tarde, provavelmente seria respondida com um grito dizendo que ela precisava verificar se não estava com problemas de visão. Afinal, o céu já estava mais escuro do que claro, então não poderia ser tarde, não era mesmo?

— Estou bem, sra. Miku… — respondeu a loira, sorridente. — E a senhora?

— Ótima, sempre ótima!. — falou Miku, eufórica. — Ah, como eu adoro você, hã… Lauren?

— É Lucy. — Erza bufou.

A velha a encarou como se olhos estivessem pegando fogo.

— Eu não falei com você, menina mal educada! — gritou. — Francamente, Lauren, por que você não ensina sua amiga a ter boas maneiras? Além de indecente, é uma intrometida de primeira!

— Indecente?

— C-Chega! — Erza enrusbeceu e pegou na mão da amiga mais uma vez; as duas adentraram o elevador e Miku e Cara de Paisagem ficaram do lado de fora. A ruiva apertava os botões do painel de controle na esperança de que agilizasse o processo do fechamento das portas.

— E ainda arrasta a pobre Lauren para tudo quanto é canto! — ouviram as garotas antes do elevador começar a subir. Scarlet emitiu um longo suspiro, aliviada.

— Essa velha maldita me dá nos nervos! — exclamou, temendo por alguma pergunta de Lucy devido ao uso da palavra indecente. Felizmente, isso não aconteceu.

Dentro do apartamento, Scarlet a conduziu cobrindo seus olhos até pararem em frente à mesa da sala.

— Um, dois, três e surpresa! — falou animada, deixando que os olhos de Lucy se focassem em uma caixa de iPhone 5, um celular do qual ela não teria nem nos próprios sonhos. Aparelhos eletrônicos de última geração lhe pareciam algo tão inalcançável, algo que parecia cair perfeitamente nas mãos de pessoas que tinham possibilidade de comprá-lo. Ela simplesmente não se via tendo um daqueles.

— É… é para mim? — perguntou, boquiaberta.

— É sim! — respondeu Erza com um largo sorriso. — Você disse que estava precisando de um celular, então eu me lembrei que eu ainda tinha ele por aqui. Está um pouco usado, mas ainda funciona muito bem.

A loira chegou a sentir tontura.

— Esse… celular é… para mim? — perguntou mais uma vez, olhando para a amiga com os olhos arregalados. Não podia acreditar naquilo.

— Claro que é!

Lucy permaneceu em silêncio.

— Hum… mas precisamos levar o seu chip pro cara da lojinha cortar. É lá na esquina. Sabe, pro iPhone o chip é menor. Hã… Lucy?

— D-Desculpe! — o rosto da loira enrusbecia. — Desculpe, Erza, é gentil demais… m-m-mas não posso aceitar.

— Mas por quê? — perguntou Erza, incrédula. — É um celular muito bom.

Por isso mesmo… — murmurou Lucy. — D-Digo, eu realmente não posso aceitar, Erza. É um celular… demais para mim, me desculpe. Não sei mexer nessas coisas avançadas muito bem e… e… eu tenho medo de derrubá-lo. Pode estragar.

Scarlet riu.

— Se o problema é esse, eu te ensino tudo o que você deve saber. E sobre derrubar, hum… você não é bruta como eu, então tenho certeza de que vai se sair bem. Além do mais, você merece!

— Mereço?

— Sim. — sorriu Scarlet, radiante. — Você merece um presente por ser uma amiga tão legal. E você já está me aguentando por quase três meses! Minhas outras amigas já tentaram morar junto comigo, mas acabaram fugindo na primeira semana. Você é legal, Lucy.

A loira sorriu e sentiu algumas lágrimas escorrerem pelo rosto, emocionada pelas palavras dela. Ainda hesitava a respeito do celular, mas seria uma atitude grosseira continuar recusando o presente depois do que havia ouvido.

— Obrigada, Erza. — sussurrou ela, envolvendo-a em um abraço carinhoso — Muito, muito obrigada. Por tudo. Eu prometo que… vou ficar aqui até quando eu puder.

O até quando eu puder se devia ao fato de que Lucy ainda não havia feito o teste da universidade. Falhar lhe faria voltar para Rosemary, e ela não tinha certeza se estava realmente bem em voltar. Sentia falta da cidade aonde crescera, de todos os seus amigos. Porém agora, ela sabia que possuía uma missão em Magnolia. E todas as pessoas das quais conheceu… não queria perder nada daquilo.

Os olhos escuros de Scarlet fitou os castanhos dela. Era como se dissesse passe no teste por mim também. E Lucy estava decidida a se empenhar, pois tinha ainda muito a fazer naquela cidade.

— Vamos lá cortar o chip pra você poder usar? — falou Erza, quebrando a atmosfera pesada. A loira assentiu com a cabeça e foi até seu quarto para retirá-lo de dentro do antigo aparelho, tão pequenininho e desatualizado comparando a um de tamanha tecnologia… mas ainda assim, sentia-se como se ele ainda a pertencesse. Porque tinha memórias daquele celular, que a acompanhara desde muito tempo e de repente resolveu ficar com a tela em preto para sempre.

Talvez estivesse fazendo uma cena teatral demais por um simples celular. Mas todas as pessoas têm algum objeto do qual sentem que ao não tê-lo mais, uma parte de si vai embora.

E talvez Lucy pensasse que não merecia um celular extremamente caro. Porque ela certamente não valia um centavo do que Erza pagara naquilo… no entanto, não seria educado de sua parte continuar recusando um presente.

As duas saíram do apartamento e encontraram-se com Jellal no corredor, que acabara de voltar do trabalho. Felizmente, ele já estava muito bem desde a cirurgia. Apenas tendo problemas para não ficar tão estressado no trabalho – como havia recomendado o médico –, mas se esforçava. Queria continuar trabalhando.

— Olá, sr. Jellal. — disse Lucy em uma educada e leve reverência, com um sorriso tímido no rosto.

— Boa noite, Lucy. — respondeu ele, propositalmente encontrando seu olhar com o de Scarlet.

Corada, ela continuou a puxar a amiga pela mão até chegarem em frente ao elevador. A loira apertou o botão para fazê-lo subir e depois de aguardarem um pouco, adentraram a cabine após cumprimentarem uma moça que chegava no mesmo andar.

No térreo, viram Karen lixando as unhas pintadas com esmalte vermelho detrás do balcão. A recepcionista retirou os fios verde-claros do rosto e sorriu.

— Boa noite, senhoritas.

Lucy notou que era a única que ainda dizia boa tarde naquele horário e tal coisa a deixou envergonhada.

Erza sentiu-se mal ao passar por ela, pensando que a recepcionista ficaria triste por não ver Loke naquele dia.

A tal loja da esquina que Erza falara era um estabelecimento um tanto claustrofóbico com uma variedade incrível de jogos para diversos aparelhos de video-game a um preço ridiculamente baixo – eram piratas, claro. Também haviam toucas com orelhas de gato e afins, além de milhares bichos de pelúcia amontoados. Diversos produtos de séries de televisão, desenhos animados, cantores e bandas famosas. Era incrível a quantidade de coisas que cabiam em um lugar tão minúsculo.

No balcão, um homem magro e sorridente de olhos naturalmente não tão abertos as recebeu com boas-vindas.

— E aí, Hiro? — disse a ruiva, cumprimentando-o ao estilo de moleques de rua.

— O que traz você aqui, Erza? — perguntou ele em tom brincalhão. — Você e sua amiga.

— B-Boa noite, senhor. — Lucy falou baixinho, tímida.

— Lucy, Hiro. Hiro, Lucy. — apresentou Scarlet antes de responder a pergunta do dono da loja. Sacou uma moeda de cinquenta ienes do bolso e colocou-a sobre a madeira do balcão. — Dá pra cortar um chip pra gente?

— Aqui está. — disse a loira, entregando-lhe o chip que outrora estivera em seu celularzinho antigo e que a deixaria saudades. Viu Hiro apanhar algo parecido com um grampeador e em um segundo, o serviço estava pronto.

— Valeu! — falou Erza, pegando a pecinha. Lucy fez uma reverência ao atendente da loja por tamanha gentileza e as garotas se despediram dele.

Depois de telefonarem pedindo sushi para entrega, a loira pôs o chip com cuidado no local indicado do iPhone com as mãos trêmulas. Sentia-se nervosa apenas por estar segurando o aparelho, com medo de fazê-lo cair.

Enquanto aguardavam Karen interfonar para o apartamento informando que o jantar estava aguardando na recepção, a ruiva ensinou a amiga absolutamente tudo o que ela precisava saber sobre o celular. Lucy ficou tonta com tantas informações e esperava que uma hora pudesse se acostumar com o fato de que portava um aparelho eletrônico tão caro. E desejava do fundo do coração que jamais estivesse distraída demais para deixá-lo cair no chão! O conserto também custava muito dinheiro, e como conhecia Erza, ela iria querer pagar a arrumação.

O telefone fixo tocou e a ruiva correu para atender, sem sequer verificar o número que aparecia na tela.

— Alô?

Fazia um leve chiado ao fundo enquanto uma voz masculina falava do outro lado da linha desculpando-se pelo incômodo e perguntando se poderia falar com Lucy. Era Sting.

— Olá, Sting… — disse Erza com um tom de voz maligno. — É bom que eu ainda possa ouvir sua voz, não acha? Você está vivo. Significa que foi um bom menino.

Heartfilia arregalou os olhos por um momento e se aproximou, sentindo o rosto esquentar.

Corando, a loira caminhou devagar até seu quarto com o coração batendo mais rápido do que de costume com o telefone em mãos.

— A-Alô? — disse baixinho, assim que fechou a porta atrás de si.

O-Oi. Desculpe incomodar, te ligando assim…

— Não incomoda. — sussurrou Lucy. — Como está?

Ah, bem… mas e você? Você não parecia muito legal hoje. E isso me deixou… é… p-preocupado.

A temperatura ambiente parecia ter aumentado drasticamente para cem graus celsius.

— Preocupado? — murmurou ela, zonza. — A-Ah, está tudo bem comigo. De verdade.

Mesmo? É que você estava chorando. — disse Sting do outro lado da linha.

A loira engoliu em seco, revivendo as sensações de constrangimento quando Mirajane a viu com Natsu em um momento tão… íntimo na cabeça de qualquer um que olhasse. Um momento do qual ninguém acreditaria nela se dissesse que não havia más intenções; por sua parte, ao menos.

— Você não… não deveria se preocupar… — enrusbeceu ainda mais ao ouvir a palavra preocupar saindo de sua boca. Imaginar que ele se preocupava com ela era uma ideia tão embaraçosa e que a deixava feliz ao mesmo tempo! — Eu estou bem agora.

Espero que esteja mesmo… — murmurou o loiro ao telefone. — Digo, então eu fico mais tranquilo. M-M-Mas sempre que quiser conversar sobre algo que estiver te incomodando, não tem problema de falar comigo… t-tá bom?

— S-Sim. — Lucy sentou-se na cama com as pernas bambas de nervosismo. — Obrigada, Sting. Você é r-realmente… muito gentil.

Em sua casa, praticamente do outro lado da cidade, o rapaz abriu uma fresta da janela para que pudesse sentir que havia um pouco de ar. Vermelho como um pimentão, mal imaginava que ela estava tão tímida quanto ele.

E-Eu liguei para saber se você estava bem. Já que você diz que está, n-não quero tomar muito do seu tempo. Então eu…

— Espere! — disse a garota, sem pensar. — V-Você gostaria do meu número de celular? E-Eu tenho um agora.

Depois de passar o número, os dois se despediram e Lucy fitou o teto agora deitada, sentindo as borboletas agitarem-se em seu estômago.

As mesmas borboletas que sentira quando estava deitada sobre a cama de Natsu, envolta em seus braços. Aquilo a estava deixando tão confusa…

Após um tempo inspirando e expirando profundamente, se levantou e voltou à sala para pôr o telefone no lugar. Um pouco mais tarde, o sushi chegara e Erza pediu para que Lucy fosse com ela, pois estava com medo de que Karen estivesse brava. No entanto, a recepcionista continuava com seu jeitinho adorável.

Depois de comer algo que não era pizza no jantar, a loira foi até o quarto para começar os estudos daquele dia com o novo iPhone em mãos, que agora era protegido por uma capa de borracha com uma Hello Kitty. A ideia de mexer naquele celular e descobrir sozinha suas mil e uma funcionalidades era tentador, porém precisava se concentrar.

Colocou o aparelho cuidadosamente sobre a mesa de cabeceira e, tentando tirar Natsu e Sting da cabeça, abriu uma das apostilas na escrivaninha. Depois de estudar, desejou boa noite a Erza e configurou o despertador do celular para tocar no horário em que sempre acordava; nunca se sabe quando se pode dormir até mais tarde sem querer.

Rezou e sentiu por um momento a textura da pedra azul habitualmente debaixo de seu travesseiro até adormecer pacificamente.

Na sala, Scarlet continuou tentando criar um quadro consideravelmente bom até que lá perto das duas horas da manhã, tomou um choque ao lembrar da incrível festa que havia programada para sexta-feira. A página oficial da casa noturna Kaneki – a mais cara e populosa de Magnolia – publicou a notícia durante a tarde do dia anterior. Erza estava quase se esquecendo de avisar Levy McGarden, uma de suas melhores amigas! Normalmente, não a chamaria para ir à festas simplesmente por causa de Gajeel, o namorado mais grudento que a ruiva já vira. Ele não a deixaria ir, e se deixasse, ficaria agarrado ao braço de Levy a noite toda. Um horror.

Porém, ela estava solteira há pouquíssimo tempo. E a ruiva entendia como um término de relacionamento podia ser doloroso, mas talvez um pouco de música eletrônica a fizesse esquecer Gajeel ao menos por algumas horas. Ficar isolada do mundo como ela estava fazendo pioraria sua situação ainda mais. Não custava nada tentar, e ainda faltava tempo para a balada. No último minuto, Levy poderia mudar de ideia caso recusasse.

Sem perceber que estava ligando para alguém às duas da madrugada, aguardou que a amiga atendesse a chamada.

Oi, Erza. — ouviu-se uma voz minimamente infantil, um pouco mais rouca do que de costume.

— E aí? Hã… você estava dormindo?

São duas da manhã, é óbvio que… — Levy fungou e seu tom passou a ser o de alguém que estava chorando. — Não, eu não estava dormindo. Eu não consigo mais dormir…

— Ah, Levy… — começou a ruiva, sentindo vontade de chorar por ela. Mas fazer isso não a ajudaria a se sentir melhor. — Bom, eu não sei se você viu, mas o Kira vai tocar lá na Kaneki. Na sexta.

A amiga de Erza fungou mais uma vez antes de responder.

Legal.

— O melhor DJ de todos vai estar tocando na sexta, e ele só vem aqui de dois em dois anos. A gente não pode perder isso, Levy! — exclamou a ruiva, lembrando de repente que Lucy estava dormindo no quarto ao lado. Diminuiu o volume da voz. — Escuta, não precisa decidir agora, tá bom? Ainda tem a semana toda pra pensar sobre isso.

Tudo bem. — sussurrou Levy do outro lado da linha emitindo um som que deixava claro que estava realmente começando a chorar. — Eu vou pensar… mas não espere muito, ok? Está tudo sendo difícil para mim.

— Eu entendo. — respondeu Erza em tom brincalhão sucessivamente. — Só quero que prometa que vai pensar com carinho. Promete?

Em meio ao barulho de choro, ela emitiu uma risadinha.

Prometo.

A ruiva sorriu ao ouvir o riso dela.

— Então combinado. — falou. — E mais uma coisa. Saiba que eu estou aqui pra você e posso ir aí a qualquer hora se precisar de um abraço que não seja via Whatsapp.

Sim, sim! — respondeu Levy, rindo mais uma vez. — Obrigada, Erza. Eu amo você.

— Não é novidade. — disse Scarlet, ainda brincando.

Mas você é uma grande convencida!

Erza riu por um momento antes de responder.

— Eu te amo também. E vê se dorme um pouco.

Certo, mamãe…

As duas riram e depois de conversar por alguns minutos, despediram-se e a ruiva tornou a colocar a mente para trabalhar para a criação de uma tela. Queria pintar algo que jamais havia pintado antes, algo realmente inovador.

No entanto, não pôde parar de pensar na amiga da qual tanto amava e agora, estava passando os dias quase sem sair do quarto, chorando por um verdadeiro estúpido que não a merecia.

DOIS DIAS DEPOIS

Às cinco horas da manhã, estava Gray tomando café da manhã com Mikasa. O rapaz detestava acordar cedo,– já que era tão viciado em video-game até tarde quanto Natsu –, mas fazia um esforço tremendo para se manter em pé naquele horário. A refeição matinal era a única que faziam juntos, já que a mãe almoçava na escola em que trabalhava e ao chegar em casa passava a tarde absorta em seu trabalho. Se não estava corrigindo isso ou aquilo, estava procurando o melhor conteúdo complementar para oferecer aos alunos; logo no início da noite, ele ia para a faculdade e ela já dormia quando o filho retornava.

Gray queria aproveitar o tempo que podia passar realmente a seu lado, mesmo que fosse mínimo. Apesar de já se ter passado tantos anos desde que Mikasa havia se tornado professora, no fundo ele não conseguia se acostumar com o fato de não ser mais o filhinho mimado pela mamãe. Quando o rapaz era criança, a mãe dedicava-se especialmente a ele e passava os dias mantendo a casa organizada enquanto Silver viajava por aí por conta de negócios. Sentia falta daquilo, mas Mika estava mais feliz como as coisas eram no momento. E era tudo o que importava.

— Você… sabe se vai no Desfile? — perguntou o rapaz, mordiscando um pedaço de pão.

— Filho, essa é vigésima vez que me pergunta! — exclamou a mãe, e ele estremeceu pois não se dera conta disso. — Desde segunda-feira, quando Ultear nos entregou os convites… não sei se vou poder ir, e ainda falta algum tempo. Estou tentando fazer o máximo para conseguir.

Gray suspirou.

— Desculpe.

— E bom, mesmo se eu não puder ir, você terá alguém para ir com você. Certo? — disse a mãe depois de beber um gole de café.

O rapaz tossiu, quase se engasgando com o pão.

— Tenho?

— Você não tem um amigo que sempre foi todo interessado no mundo da moda? — Mikasa tocou no próprio queixo olhando para cima, como se tentasse se lembrar de algo. — Hum… Freed, não?

Gray respirou aliviado. Pensou que ela estava falando de Lucy, mas aquilo não faria sentido algum. As duas não se conheciam e ele sequer já falara dela… porém a ideia de levá-la ao desfile lhe era agradável. Ao mesmo tempo, desejava que a mãe fosse também.

Poderia pedir mais um convite para Lucy?

— Ah, é… — respondeu o rapaz, lembrando do amigo Freed por um momento.

Eram ótimos amigos na época colegial e estudavam na mesma faculdade, mas não eram mais tão próximos. Seus interesses eram bastante distintos e Freed andava com outras pessoas de sua classe agora. Algo normal que se acontece quando cada um resolve tomar um rumo diferente em sua vida. O contato diminui; e como mal falava com ele, Gray não pensava nele como uma possibilidade…

Mas seu anjo de cabelos louros era uma possibilidade. Será que se interessaria por um desfile de modelos? Será que aceitaria sair com ele, considerando que já estava saindo com Sting? Essas e muitas outras questões faziam sua mente trabalhar a mil por hora.

Ela já está saindo com outro, seu idiota! — gritou ele na mesa, percebendo o que havia dito apenas depois do silêncio mortal que pairou na cozinha.

A mãe continuou bebendo o café como se não tivesse ouvido nada. Não faria perguntas, pois não queria se intrometer na vida do filho; se ele sentisse vontade de lhe contar sobre qualquer coisa – como garotas –, ela ouviria de prontidão. Mas se não, não tinha nada a fazer. E agiu como se nada tivesse acontecido porque tinha certeza de que Gray pensara alto demais. Sempre o fazia.

Não muito depois dessa hora, na mansão Dragneel, Natsu acordou com o coração prestes a rasgar seu peito. Em um segundo encarava o teto e no outro, já estava sentado na cama. Sentia-se agitado e confuso, demorando um pouco para se dar conta de que as cenas que havia visto eram parte de um sonho. Um sonho que reunía lembranças reais das quais ele jamais apagaria, memórias de um verão perdido.

A sensação da pele queimando sob o Sol escaldante, de ver e inalar o aroma do verde infinito; e também a frustração por saber que teria de ficar ali durante as férias inteiras, sem qualquer tipo de internet. O pensamento de que aquele verão seria o mais tedioso de todos. Até vê-la se aproximando dele, timidamente quase tropeçando nos próprios pés. Ainda que parecesse envergonhada, possuía um sorriso no rosto. Um dos mais lindos que já vira.

E agora, um tanto desnorteado, o rapaz apanhou o celular sobre a mesa de cabeceira e foi até seus contatos do telefone. Procurou-a na lista com a inicial de seu nome e quando a encontrou, teve de resistir ao impulso de enviar uma mensagem.

Que grande idiota era. Claro que não podia enviar uma mensagem. Sobre o que conversaria com ela, depois de tanto tempo sem contato? E certamente, aquilo não lhe faria a mínima diferença. Ela tinha um namorado e parecia estar feliz com ele.

Largou o aparelho em qualquer lugar da cama e tentou voltar a dormir com mau humor.

Como já era quarta-feira e Erza sequer havia recebido uma resposta de Levy a respeito da festa, a ruiva pensou que seria melhor convidar Lucy para ir junto apesar de saber que ela tinha de estudar. Porque ninguém mais se dispunha a levá-la para casa se ficasse bêbada. E ela ia ficar bêbada.

— Lucy… — começou Scarlet utilizando um tom de voz semelhante ao ronronado de um gato. Diminuiu o volume do som do carro para que pudessem conversar melhor.

— S-Sim? — respondeu a loira, estranhando aquele modo de falar.

— Você sabe… — Erza tentou aparentar ser uma criança inocente para derreter seu coração. — Sexta à noite, vai rolar uma festinha muito legal. O DJ que eu gosto vai estar lá, e ele é incrível. Ele só vem pra cá de dois em dois anos.

— Ah, é m-mesmo? — Lucy já fazia uma ideia do que a amiga queria dizer. — Que legal!

Quando pararam em um sinal vermelho, a ruiva retirou as mãos do volante para colocá-las em seus ombros. A sacudia para frente e para trás, deixando-a completamente confusa.

— Por favor, por favor! — repetia, falando rápido demais. — Vai ser super legal, e se você não for pode ser que eu não tenha ninguém pra me levar pra casa… além do mais, o Kira vai fazer um striptease depois e se tivermos sorte, podemos pegar alguma roupa dele. Mas por favor, por favor, diga que vai comigo! Por favor, eu te imploro!

Heartfilia sacudiu a cabeça por um momento, zonza.

— Erza, fique calma... — disse, piscando repetidamente. — Você está dizendo que terá uma festa na sexta-feira… e que que eu vá?!

— Isso mesmo! — respondeu Scarlet euforicamente. — E eu queria que você fosse porque vai ser incrível. E também… ahn… você sabe dirigir?

Lucy se lembrou do ano passado, quando tia Juvia a deixara dirigir seu carro pela cidade depois de muita prática. Fora um passeio tranquilo já que em Rosemary as pessoas não costumavam utilizar automóveis.

— V-Você está pensando em me deixar dirigir seu carro? — falou, boquiaberta.

A ruiva lançou-lhe um sorrisinho nervoso.

— Se beber, não dirija.

A loira suspirou e avisou a amiga de que o sinal havia ficado verde há um bom tempo e os motoristas de trás estavam ficando realmente aborrecidos. Erza pisou fundo no acelerador.

— Mas… não há ninguém para te acompanhar? — perguntou Lucy.

— Eu convidei a Levy. Mas é quase certo de que ela não vai.

Lucy tinha de admitir que era um tanto curiosa a respeito de Levy. Ouvia seu nome vindo de Erza e também na Mansão Dragneel. Conhecera sua mãe, Umi, em um chá da tarde da sra. Dragneel. No entanto, nem sabia como era seu rosto. Não sabia bem o porquê, mas gostaria de conhecê-la.

Seu estômago revirou ao pensar em uma balada. Luzes piscando a todo momento, música ensurdecedora e agitada, um mar de pessoas dançando em meio a bebidas alcoólicas, muito provavelmente sob efeitos de drogas e algumas até beijando-se de modo ousado em público. Tudo aquilo lhe deixava em um estado de tensão, sem falar do pânico de estar dentro de um lugar tão grande como imaginava que a casa noturna deveria ser. Com certeza, perderia Erza de vista e não sabia se conseguiria encontrá-la mais tarde.

No entanto, não queria que a amiga bebesse e depois saísse dirigindo por aí. E sequer desejava imaginar o desfecho da situação. Juntando isso com o fato de não conseguir dizer não para as pessoas por ter um coração derretido, assentiu com a cabeça pensando na loucura que poderia estar cometendo. Só esperava que pudesse sobreviver até o fim da festa.

Até chegar em frente à Mansão, ouviu Scarlet tagarelar em conjunto com a música alta sobre suas expectativas para o final de semana, como o DJ Kira era um homem simplesmente divino, que a festa seria divertidíssima e afins.

— Entendi. — apenas era o que respondia, com as pernas trêmulas. Ah, mas em que situação havia se metido!

Natsu continuava aborrecido sem conseguir dormir. Começava a sentir fome, porém não estava com a mínima vontade de descer e comer alguma coisa; se distraía mexendo no celular lendo qualquer notícia que viu na internet até que recebeu uma mensagem de Gray via Whatsapp. Era o link para uma página do Facebook.

Pensou em ignorar o recado para não mandá-lo se foder, mas tudo mudou assim que percebeu que era o link da página da Kaneki. Ansioso, aguardou poucos segundos até que pudesse visualizar a publicação completa.

Bufou ao ler que Kira, o famoso DJ que tocava por lá uma vez a cada dois anos estaria na casa noturna na sexta-feira. Natsu definitivamente odiava o cara por ele parecer um idiota a maior parte do tempo se exibindo para as garotas, mas que era um bom DJ não podia negar. E estava mesmo a fim de sair naquele final de semana para beber e se drogar em meio às luzes piscantes sem Flare a seu lado o tempo todo. Queria aproveitar a liberdade de não ter garota alguma em sua cola; não precisava disso. Sabia que encontraria uma no meio da multidão e depois de uma noite, acabaria. E ambos partiriam para outra, porque era assim que as coisas funcionavam melhor.

Se esquecendo por um momento do sonho que não o deixara mais dormir, sorriu consigo mesmo e respondeu ao amigo que perguntara se ele topava ir ou não.

Mas era claro que sim.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que estão achando? Quais as expectativas de vocês pra essa baladinha na sexta? LKASDJNFMSDFJGKJ Lembrem-se, já sabemos que vai: Erza; Lucy; Natsu; Gray. Mas é muito possível que outros personagens também vão, já que é um local bastante popular (apesar de caro!). Quem vocês gostariam que também fosse? Me contem tudo nos comentários, ok? Nos vemos no capítulo 26. (●`・ω・)ゞ✦ ✧  * ✧  ゜
OBS: O próximo capítulo demorará um pouco mais de tempo comparado aos anteriores para ser publicado porque eu quero trabalhar muito nos detalhes dele. Espero que entendam, porque isso é para que eu traga mais um pedacinho da história do Natsu e da Lucy com mais qualidade e mais riqueza em detalhes.



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