Vermelho

Uma vez me perguntaram qual era a minha cor favorita. Na época, eu realmente não me importava o suficiente para escolher, ou muito menos para responder. Afinal, era somente uma cor. Na verdade, constantemente estavam me perguntando sobre as coisas que eu preferia, que eu gostava. Era no mínimo intrigante, apesar de não fazer diferença na minha vida.

Nunca parei para ficar pensando nisso, até que eu me apaixonei. Foi algo até irreal no momento, mas não tinha dúvidas: eu estava apaixonado. Apaixonado por Hyuuga Hinata. Uma garota recatada e tímida, que toda vez que virava o centro das atenções — coisa que não demorei a notar que ela detestava —, suas bochechas ficavam tingidas de um vívido vermelho.

E foi então que eu tive uma espécie de epifania. E magicamente, minha cor favorita tinha se tornado vermelho. Não um simples vermelho, mas todos os tons que envolviam aquela ordinária garota, que começou a povoar meus pensamentos sem permissão.

Teve até um tempo que comecei a odiar o vermelho, porque não conseguia mais parar de pensar nisso. Até que resolvi ir falar com ela e acabar com a polêmica da cor vermelha de vez. Nada aconteceu do jeito que eu tinha planejado. Justamente pelo fato de que: assim que Hinata me viu, suas bochechas voltaram a adquirir àquele tom adorável da cor que eu estava odiando/amando. Sua voz era gentil e baixa, as palavras doces e necessárias.

Ah, porcaria de vermelho! Manchando minhas memórias e bagunçando minha cabeça.

Houve um tempo entre o momento em que passamos de estranhos a amigos, e mais outro até a parte em que roubei um beijo dela. Vermelho. Da cor de sua pele, como em um dia quente de verão, e a cor dos seus lábios macios, com gosto de cappuccino, depois de um dia frio.

Vermelho. Da cor dos dedos dela no meu rosto, pela ousadia e falta de vergonha na cara.

Haha. Tempos engraçados. Tinha sido difícil recuperar a confiança dela, enquanto tentava provar que meus sentimentos eram sinceros. Até provar que, vermelho combinava absurdamente com ela, a ponto de me fazer roubar-lhe incontáveis beijos. Apenas para ver a cor tomar a sua pele pálida e usar isso como desculpa, para todas as vezes que quisesse beijá-la.

Só teve uma vez que me perguntaram qual era a minha cor favorita, que realmente me importei em responder.

— Agora que paro para pensar, eu não sei a sua cor favorita — Hinata murmurou baixinho, a chuva lá fora pingando na janela em um ritmo reconfortante, nós dois enrolados no cobertor, os pés gelados dela tentando se esquentar no meio das minhas pernas. — Me diga, Sasuke.

— Hm... — Fingi pensar. Era vermelho.

— É uma pergunta idiota, não é? Com certeza deve ser preto ou azul. Você usa muito essas cores.

Vermelho, da cor das suas bochechas quando está envergonhada, constrangida, excitada. Da cor da tua boca, pelos meus beijos sedentos por mais. Da cor da sua pele marcada pelos meus dedos urgentes. Da mesma cor do sangue que corre por tuas veias, que percorre seu corpo que sempre pede por mais de mim.

Da cor das rosas que enfeitaram nosso casamento, e das pétalas que foram jogadas na cama em nossa lua de mel. Do prazer estampado em seu rosto — e no meu —, quando me encarou quando amanhecera pela primeira vez na minha cama.

— Vermelho.