Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 20
Capítulo 20




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Dormir sem pesadelos. Faz tempo que isso não acontecia comigo. Mas esse é o lado bom de estar muito cansado, abatido, preocupado, e sem dormir há muito tempo. Acordo faminto, e vou direto para a cozinha preparar meu almoço. Quisera eu ser tão bom com qualquer tipo de refeição, mas visto que o que eu sei de verdade é fazer pães, bolos, ou qualquer outra guloseima que se possa imaginar, meu almoço se resume a uma sopa, com os restos que encontrei em minha dispensa. O gosto não é dos melhores mas pelo menos sacia minha fome. Tomo um banho rápido depois disso, e vou para a casa de Haymitch, pois tenho muito trabalho a fazer.

– Hora da faxina – anuncio quando adentro sua casa, e o encontro na mesma posição que o deixei de madrugada. Me certifico de que ele não esteja armado com sua velha faca e o sento numa cadeira. Faço – o engolir alguns pedaços de pão que encontrei em sua cozinha, e começo a minha tarefa, tirando a garrafa que está em suas mãos.

Subo para o andar de cima, e recolho todas as garrafas que encontro. Faço uma varredura completa pela casa até que todas as garrafas, que são muitas, ficam empilhadas no banheiro. Aí, uma por uma, despejo todo o líquido pelo ralo do banheiro. É uma tarefa que me custa bastante tempo, mas me proporciona muito prazer. O sol está se pondo quando esvazio a última garrafa. Orgulhoso, desço com as caixas vazias, e encontro Katniss na cozinha, tomando sopa com um Haymitch muito sombrio.

Jogo as caixas vazias sobre a mesa, e eles me olham intrigados. Katniss está pálida, e suas mãos tremem ligeiramente segurando a caneca de sopa. Vê-la assim, só reforça a minha ideia de que o que fiz, foi certo.

— Veja, já terminei — digo.

— O que você terminou? – ela pergunta.

— Eu já derramei o licor pelo ralo — respondo.

Haymitch parece acordar de seu transe, e me encara perplexo.

— Você o quê? – ele rosna.

— Atirei o lote — respondo impassível.

— Ele vai comprar mais — Katniss diz friamente.

— Não, ele não vai — rebato. — Eu fui atrás de Ripper esta manhã e disse a ela que eu ia entregá-la num estante se ela vendesse a qualquer um de vocês. Paguei a ela, também, apenas para prevenir, mas não acho que ela esteja ansiosa por voltar à custódia dos Pacificadores.

Haymitch localiza sua faca, e tenta atirá-la em mim. Mas ele está tão devastado pela bebida, que eu desvio com muita facilidade.

— E é problema seu o que ele faz? – Katniss grita.

— É completamente problema meu. Seja como acabar, dois de nós vamos estar na arena de novo com o outro como mentor. Não podemos permitir qualquer bêbado nesta equipe. Especialmente você, Katniss – respondo, olhando em seus olhos.

— O quê? — ela explode, indignada. — A noite passada foi a única vez que eu sequer bebi.

— Sim, e olha para a forma que você está – digo isso apontando para ela, que parece fraca demais até para falar.

— Não se preocupe, eu vou te dar mais bebida – ela diz para Haymitch que parece inconsolável.

— Então vou entregar vocês dois. Deixá-los sóbrios na cadeia.

— Qual é o sentido disso? — Pergunta Haymitch.

— O ponto é que nós dois estamos indo para casa da Capital. Um mentor e um vencedor. Effie está me enviando as gravações de todos os vencedores vivos. Vamos ver os seus jogos e aprender tudo o que pudermos sobre como eles lutam. Estamos indo para ganhar peso e ficar mais forte. Nós vamos começar a agir como Carreiristas. E um de nós vai ser vencedor novamente, vocês dois gostem ou não! – grito.

Saio de lá irritado, bato a porta da frente, e só quando chego em casa, me arrependo dessa discussão. Não era isso que eu esperava que acontecesse no meu reencontro com Katniss. Mas o que eu poderia fazer? Me convenço de que isso, será bom para todos nós no futuro.

Demora alguns dias para que a raiva deles passe. Quando Haymitch se recupera da sua crise de abstinência, convence a Katniss de que é hora de nos prepararmos. Todas as noites nos reunimos em minha casa, para assistir aos jogos dos outros vencedores. Durante o dia nos exercitamos, pegamos pesos, fazemos de tudo, para ficarmos mais fortes e ágeis. Não entendo se Haymitch está mesmo se esforçando, ou se está apenas fingindo, pois ele não vai para a arena. Espero que ele esteja disposto a cumprir a promessa que me fez. Aos domingos, até Gale se junta a nós, para ensinar tudo o que sabe sobre armadilhas. Agora eu consigo entender por que não posso competir com ele pelo amor de Katniss. Ele é forte, hábil, inteligente, e digamos que qualquer mulher se sentiria atraída por ele. Já eu... Bem... sei confeitar.

Todos parecem envolvidos no nosso treinamento. A mãe de Katniss cuida de nossa alimentação. Prim, cuida de nossos músculos doloridos. Madge, a amiga de Katniss nos mantém informados sobre as coisas da capital, já que seu pai é o prefeito e está por dentro das notícias que o restante de nós não pode saber.

Na noite que antecede o dia da colheita, vou até minha casa para me despedir. Eu não sei o que eu esperava encontrar, mas nunca imaginei que seria recebido assim. As palavras de minha mãe, e o silêncio do meu pai e meus irmãos, irão ficar para sempre em minha memória.

– Desde que você foi sorteado, as vendas na padaria caíram mais e mais a cada dia. Houve vezes em que tínhamos tão pouco para se alimentar, que passávamos fome. Quando você voltou, as coisas começaram a melhorar. Mas graças aquela garota, que você disse amar, perante toda a Panem, nosso distrito está em desgraça. E logo não teremos pães para fazer, nem para comer. Por isso, agora que você pode voltar para aquele lugar desgraçado, peço que esqueça que somos sua família, de desvincule de nós, pois não queremos o seu dinheiro, nem morrer de fome por sua causa – essas foram suas palavras.

Saí da casa dos meus pais atônito, com a constatação de que estou ainda mais sozinho no mundo. Penso em ir até a casa de Delly, mas seria muita injustiça com ela. Penso em ir até Haymitch, mas ele deve estar transtornado pelo que irá acontecer amanhã, e por estar sem bebidas. Penso em ir até a casa de Katniss, mas não quero atrapalhar sua última noite com sua família. O que me resta, é uma noite de solidão, medo, e desapego. Tenho que me desapegar do amor que sinto pela família que eu tinha, e me desapegar de qualquer coisa que me ligue á vida. Tudo que me resta é um caminho traçado para a morte, e esse amor tão forte que eu sinto por Katniss.

E então, chega o dia da colheita. Vou com Haymitch até a praça, onde somos guiados por pacificadores para uma área demarcada no palco.

– Você vai fazer o que prometeu, não vai? – sussurro para ele.

– Eu já deixei de cumprir alguma promessa que fiz á você? – ele responde.

– Obrigado Haymitch.

– Só você, para me agradecer por deixar você ir para um massacre.

Katniss está a nossa esquerda. A população reunida na praça, aguarda o sorteio calada, como se estivessem de luto. Todos parecem inconformados com esse massacre, inclusive a capital, segundo Madge nos informou. A segurança está reforçada com muitos pacificadores com metralhadoras nos braços. Uma olhada rápida na praça, e vejo o que costumava ser minha família. Meu pai enxuga uma lágrima discretamente. Prim, chora nos ombros de sua mãe. Gale, não tira os olhos de Katniss. E vejo Delly, que apesar do calor está vestida com meu casaco.

Effie, sobe ao palco, com sua peruca dourada reluzindo devido ao sol. Ela tenta conduzir o sorteio com alegria, mas consigo perceber a tristeza em sua voz. Com receio, ela pega de uma esfera o único papel que contém o nome de Katniss. Então, Effie se encaminha para a segunda esfera, e tira um papel dos dois que contém lá dentro. Foco em seus lábios, suor frio escorre em minha testa, e quando ela pronuncia as primeiras letras do nome de Haymitch, dou um passo a frente e profiro as palavras que nunca pensei serem possíveis de sair de minha boca.

– Eu me ofereço como voluntário.

O silencio paira na praça, a não ser pelo choro de Delly. Mas o que realmente prende minha atenção, são os olhos marejados de Katniss focados em mim, e a tristeza como eu nunca havia visto antes, estampada em seu rosto.


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