Ela coçou os olhos na tentativa de clarear sua mente. Mas não, aquilo não era uma ilusão ou visão.

Era Gale parado em sua porta.

– Catnip – falou com um sorriso de orelha a orelha.

Katniss por um momento permaneceu parada, pasmada com o que estava a sua frente. Seu pulso latejava à medida que a mente processava o que lhe estava acontecendo.

Gale estendeu os braços abertamente ao seu encontro.

– Gale...- murmurejou desatinada.

Katniss foi de encontro aos seus braços e os apertou forte. Sentia ali o calor de seu velho amigo e enquanto envolta nele, lembranças de um passado vieram-lhe inevitavelmente a cabeça. Estava absolutamente esmorecida com sua presença. A impressão é de que havia visto um fantasma, na verdade, Gale era parte de uma época que tanto queria desprezar.

– Eu senti tanto sua falta... – falou em voz baixa cheirando seus cabelos.

Sua resposta foi apertar mais seu corpo ao dela.

E então ficaram ali, cada um entendendo a si mesmo o que estava sentindo nesse encontro. Para Gale, reconhecia que, inegavelmente, seus antigos sentimentos por Katniss nunca ficaram tão vivos como agora. Sim, ele ainda a amava. Estar entrelaçado em seus braços ainda tinha pleno efeito sobre ele, seu coração pulsava com tamanha intensidade tanto quanto fazia ao roçar seus lábios nos dela no passado.

Katniss não sabia distinguir ao certo seus sentimentos em tona. Parecia ser mais uma amálgama de afeto e medo, como se estivesse à deriva num oceano de confusão. Por um lado, ficar com ele lhe remetia a perda que havia sofrido no passado. Por outro, ainda sentia reconforto ao estar com ele, apesar de tudo, era seu amigo, seu Gale.

Permaneceram entrelaçados por muito tempo, desfrutando da presença um do outro.

Até que cálidos olhos azuis os inundassem.

– Gale? – uma voz fria o chamou, fazendo-os rapidamente se desvencilharem.

Katniss sentiu o coração pular de sua boca quando a voz de Peeta chegou aos seus ouvidos.

Gale caminhou até Peeta e os dois apertaram as mãos. O garoto do pão o encarava como pedindo uma explicação de sua presença ali.

– Fui convocado pelo Presidente Paylor, vou fazer parte do evento junto com vocês.

– Ah.

Agora fazia tudo mais sentido. Sabia que Gale foi uma peça fundamental na Revolução. Ficou sempre ao lado de Katniss durante todo esse tempo, e ele era grato por isso. Também reconhecia que Gale havia arriscado a sua vida para resgatá-lo.

Entretanto, apesar de tudo isso, a centelha quente que lhe veio ao corpo ao ver os dois juntos era algo que não pode se desviar.

– É bom te ver. – disse ele. – Nem tive a chance de te agradecer, por tudo. Obrigado.

Gale esboçou um largo sorriso.

– De nada amigo. Você está melhor, certo?

– Sim, eu progrido com o passar dos dias, sabe, é uma luta contra eu mesmo, o que deixa tudo mais difícil, mas estou melhorando.

– Entendo Peeta.

Katniss observava quieta, os dois conversarem. Desde quando Peeta entrou no quarto, ela não havia dito sequer uma palavra.

Seu velho amigo virou-se para ela.

– Catnip, preciso conversar agora com Haymitch. Você sabe onde ele está? Procurei-o aqui, mas não achei.

Ela pensou.

– Bom, se ele não está aqui, então provavelmente ele vai estar no botequim. O botequim central.

– Certo, vou até lá agora. Tchau, nos vemos depois, ok? – ele deu um caloroso beijo em sua bochecha e então saiu. Katniss sentia seu rosto entrar em chamas, não pelo carinho de Gale, mas sim pelos olhos azuis que a cravavam duramente.

Ela moveu a cabeça lentamente até Peeta, o fitando, mas ele desviou o olhar rapidamente ao perceber a movimentação.

Ele foi até a porta para sair, mas parou e se virou para ela.

– Deixei alguns doces que fiz na cozinha. Vou para a padaria, até mais. – se despediu com uma frieza que não lhe era habitual.

Ele saiu e deixou-a sozinha no quarto.

–---

Finalmente havia chegado ao seu destino: Botequim Central.

Era um lugar pitoresco e escuro, ambiente ideal para os bebuns do distrito, principalmente para aqueles que queriam se esconder. Gale adentrou naquele lugar que emanava álcool e corações quebrantados. Na verdade, era sua primeira vez ali.

Ele caminhou rapidamente pelo local. Não foi uma tarefa difícil achar Haymitch. Encontrava-se sentado na extremidade do bar com uma garrafa de Whicky na mão.

– Posso sentar?

– Gale! – exclamou Haymicth rindo- Você chegou! Senta aí, garoto.

Ele sentou ao seu lado.

– Cheguei há uma hora.

– Já falou com Katniss?

– Sim, e com Peeta também.

Haymitch pausou por um momento imaginando os três juntos, ele se divertiu mentalmente ao pensar na ideia.

– Você não tinha avisado para Katniss que eu viria? – indagou quebrando os pensamentos.

– Ah garoto, esqueci completamente. – respondeu pondo a mão na cabeça, lamentando - Acho que o álcool já está fazendo seus efeitos.

– Tudo bem. – sorriu gentilmente. – Mas, seria melhor se tivesse avisado, ela ficou branca quando me viu.

Haymitch riu ainda mais ao idealizar a cena.

– Garoto, a entenda, fazia um tempo que vocês não se viam, e também, tem toda a maldita da Guerra que vocês dois fizeram parte, isso deve afligir ela.

Gale acenou a cabeça em concordância. Porém, um súbito sentimento de tristeza o golpeou em cheio.

– Eu só queria que ela se sentisse confortável comigo de novo, como antes, sabe? – disse mirando seus olhos escuros à mesa.

Apesar da embriaguez, Haymitch ainda tinha perfeito juízo e percebeu logo o que estava acontecendo.

– Você ainda a ama? – inquiriu .

– Sim – Gale sussurrou.

Haymitch estendeu a garrafa para Gale, que aceitou. Ele deu um rápido gole, mas não gostou do que havia provado. Apenas devolveu a garrafa para ele de volta.

– Eu a amo ainda, não sei se consigo deixar ela de novo Haymitch.

Ele refletiu por um momento e então soube exatamente o que ele estava pensando.

– Deixe-me adivinhar, você vai tentar conquistar ela nesses três dias. Certo?

– Exatamente, e no final do terceiro dia vou pedir para ela ir comigo para o Distrito 2.