Fraterno enquanto Dure escrita por g_abriel


Capítulo 2
Capítulo 02: Entendendo -Understanding-


Notas iniciais do capítulo

Okay, sou apressadinho =P

OBS: Todos os direitos autorais da canção "Fall To Pieces" pertencem a Arista Records.



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O fato de saber que Gustavo era gay não me abalou por nenhum momento. Eu me senti diferente. Como se eu fosse superior... Algo que preenchesse o meu ego, mesmo eu não dando a mínima para a opção sexual de Gustavo. Ele parecia ser muito feliz, ou demonstrava, sempre que nos vemos ou quando saímos. Ele sempre está com bom humor e alto astral. Pensando melhor agora, é bem visível que ele não curte meninas, pois quando saímos para “caçar”, somente Guilherme e eu ficávamos com as garotas, diferente de Gustavo, que apenas ficava conversando com algum amigo aqui ou ali, até mesmo garotas, mas nunca as beijava.


Naquela noite, eu acabei dormindo na casa dos meninos. Não tive sonho algum. Acho que foi uma das noites mais tranqüilas que tive nos últimos três anos.


Acordamos cedo, comemos alguma coisa e fomos para a praia. Não peguei nenhuma onda, eu estava ainda com ressaca do outro dia. Somente os irmãos foram aproveitar. Aproveitei para ligar para meus pais, avisando que iria jantar na casa dos meninos e depois iria para casa.


-        Alô?


-        Oi, Beni! Onde você está? – Richard atendeu o telefone.


-        Eu to na praia com o Gui e o Guga.


-        Guga? Qual Guga?


-        O irmão do Guilherme, Richard. – Uma onda derrubou Guilherme, me rendendo um sorriso.


-        Vocês estão surfando juntos? – preocupação ou curiosidade?


-        Não hoje...


-        Cuidado com ele, cara... – Preocupação desnecessária.


-        Como assim cuidado, Richard? Nós surfamos juntos desde quando eu tinha dez anos!


-        É que não fica bem você saindo com esse cara, pelados e juntos...


-        Pelados? Nós usamos vestes de surfe, Richard!


-        Você sabe que ele é...


-        Gay? – fiquei com uma vontade imensa de juntar Richard pelo pescoço e dar umas belas palmadas. – Sim, eu sei. Mas isso não muda o fato que sempre fomos amigos desde criança. – Não tem fundamento a preocupação dele... – Nada vai acontecer entre nós...


-        Nada vai acontecer entre você e quem, Beni? – Quase jogo o celular na areia, tamanho o susto que levei. Gustavo estava parado na minha frente e nem percebi sua aproximação.


-        Olha, Richard, nos falamos mais tarde... – mal espero ele responder e já desligo em sua cara.


-        Está tudo bem, Beni?


-        Claro... – quanto ênfase nesse claro.


Era evidente que não estava nada bem. Seu irmão mais velho deduzindo que você é gay só por ter um amigo gay, mesmo você sabendo somente agora. Besteira.


-        Você parece meio alterado... Você tá bem mesmo?


-        To sim, Guga. Não se preocupe não.


-        Então, vai ficar torrando ai na areia ou vai entrar um pouco?


-        To de boa, cara. Só com um pouco de dor de cabeça de ontem, mas passa logo.


-        Quando chegarmos em casa vou preparar um suco de abacaxi pra você. É ótimo para pessoas que não sabem beber quando estão de ressaca.


-        Cala a boca. – rimos.


A praia estava meio fazia. O dia estava meio frio. O céu pouco nublado, mas o sol estava fraco. A maré estava começando a ficar agitada e Guilherme saiu do mar. Vinha em nossa direção quando foi parado por um trio de garotas. Começou a flertar com elas e depois saiu, acenando para elas e elas somente rindo.


-        Galera, descolei uma festa para irmos hoje de noite.


-        Não estou muito a fim, Gui. – recusei – To de ressaca de ontem e é a minha ultima semana de férias.


-        Eu tenho que trabalhar hoje a noite, mano.


-        Ah! Parem com de mentir e venham. Bebida de graça, gatinhas...


-        Soa tentador... – debochou Gustavo. Guilherme mostrou a língua para o seu irmão.


-        Vamos, Beni?


-        Nem vai rolar, de qualquer maneira tenho que ir pra casa.


-        Eu te deixo em casa, cara. Vai me deixar na mão?


-        Pior que vou! – rimos.


-        Então vou te dar uma lição!


E Guilherme saiu correndo atrás de mim.


Ficamos mais alguns minutos na praia e fomos para a casa deles. Guilherme foi se arrumar para ir na festa que tivemos que passar e Gustavo fez o suco de abacaxi.


-        Cara, está delicioso! – realmente, o suco estava muito bom.


-        O meu segredo é o amor. – rimos – Sério, eu coloco leite condensado e bato no liquidificador, mas sem as fibras, pois elas deixam o gosto mais amargo.


-        Bom saber, agora sempre que eu for beber sem saber, vou fazer um deste no dia seguinte.


Fazia tempo que não conversava com Gustavo. Ele é um cara muito gente fina. Sempre preocupado com os outros, inteligente. Sabe cozinhar muito bem. Sempre brincávamos dizendo que ele já poderia casar.


Pensando bem, agora eu me sinto mal por dizer isto.


No nosso país ainda é proibido o matrimônio entre duas pessoas do mesmo sexo, seja judicialmente ou pela igreja.


-        O que tanto pensa tão calado, olhando para o nada? – indagou Gustavo com um belo sorriso.


-        Porque você voltou para o Litoral? – foi a primeira coisa que pensei – Você nunca gostou da tranquilidade daqui.


-        Eu somente gostaria de relaxar um pouco. É complicado ter que ficar compondo e escrevendo músicas e seriados. Pinto sempre que posso, mas não é a minha vocação.


-        Mas você faz Artes, não faz?


-        Sim, eu faço Artes, mas isso não me reduz somente a pintor. Eu prefiro arte escrita e música.


-        Interessante, mas você não me deu a resposta correta ainda. – alfinetei, levantando uma sobrancelha.


-        Okay... Eu terminei com o segundo cara que amei. – tristeza em seus olhos.


-        Sinto muito... – Estava corado. Como sou insensível, tocando em um assunto complicado para ele.


-        Não sinta. – respondeu de pronto. – Ele era um babaca. Me traiu diversas vezes e mentia para mim. Nunca me senti tão humilhado em minha vida... – eu não tinha o que dizer. Não precisava dizer nada. – Mas estou superando isso...


-        Agora fiquei curioso. Quem foi o seu primeiro amor? – eu e minha boca grande. Quando terminei a pergunta, vi que Gustavo corou e quase se engasgou, mas respirou fundo e repetiu a pergunta, eu apenas confirmei com a cabeça.


-        Bem, quem foi não importa... Somente sei que seria um “nunca felizes para sempre”.


-        Mas vocês tentaram?


-        Não foi possível, pois...


-        Meninas, o que tanto fofocam na cozinha? Vão lavar a roupa! – gritou Guilherme enquanto entrava pela porta. Rimos e logo Guilherme estava indo:


-        Pessoal, estou indo para a festa.


-        Eu aproveito para ir pra casa, já está tarde... – já disse me levantando, indo em direção a porta.


-        Fica ai mais esta noite, Beni. – Eu parei. Meu coração acelerou. Olhei para trás e vi que Guilherme também encarava Gustavo. Gustavo corou. – Eu tenho umas composições que eu gostaria que você cantasse. Sua voz combina perfeitamente com a melodia...


-        Ou-outro – pigarreei – dia, certo?


-        Combinado. – Mais uma vez um belo sorriso de Gustavo.


-        Vamos, Guilherme?


-        Beleza. – Guilherme foi até o irmão e deu um abraço.


-        Tchau, Gustavo.


-        Tchau, Beni.


Saímos pela porta e fomos para o meu carro. A casa onde seria a festa era em uma praia perto da minha casa. Durante o caminho, houve silêncio. Isso nunca havia acontecido antes. Minhas mãos suaram e eu comecei a bater os dedos no volante. Guilherme, percebendo a minha ansiedade, logo perguntou o que acontecia.


-        Sei lá, cara. To de boa.


-        Mas e esse silêncio? O que ta acontecendo? – Droga, ele percebeu o silêncio.


-        To meio sem papo e a dor ainda não passou. – Verdade, somente pelo papo, pois a dor tinha sumido logo após que tomei o suco de abacaxi do Gustavo.


-        De boa...


Silêncio novamente. Ainda estávamos no meio do caminho. Guilherme começou a rir sozinho.


-        O que está tão engraçado ai, cara?


-        Pensamentos doidos, só isso.


-        Me conta ai, cara! – dei um tapa no braço dele.


-        Nada demais... – riu novamente. – A Sophie ainda ta namorando o Robert?


-        Ta sim. Porque? Ta de olho na minha irmã, seu safado? – rimos. Guilherme murmurou algo, mas não consegui entender, pois um carro buzinou para o outro:


-        O que você falou? Eu não entendi por causa da buzina...


-        Nada demais. – atrapalho na voz dele. – Só que aquele cara é um idiota.


-        Finalmente alguém que pensa igual a mim!


-        Afinal, somos amigos por isso, não é?


-        Exatamente!


Voltamos a conversar normalmente, mas logo chegamos na casa. Guilherme insistiu para que eu entrasse, mas neguei. Disse a ele que se ele precisasse de carona de volta pra casa, eu o levaria e era somente ele me ligar. Ele agradeceu e foi para a festa. Eu voltei para a estrada e fui para casa.


A cada metro que se aproximava, eu me sentia mal. Ânsia. Queria vomitar, mas não podia. Me sentia como se não devesse ter que entrar ali. Iria acontecer algo de ruim. Estacionei o carro dentro do pátio e fui para dentro. Todos tinham saído, com exceção de Richard. Ele estava sentado na mesa e pediu para que me sentasse ali também. Me sentei e esperei ele começar a falar. Quando começou, ele riu nervoso, mas continuou.


-        Eu, como seu irmão mais velho, quero somente o seu bem. Eu não acho apropriado que você ande ou namore o irmão mais velho do Guilherme. Vocês estão namorando? – Ele falava sério.


-        Se você realmente leva em conta o meu bem, me deixe tomar as decisões por mim mesmo. Sim, eu vou continuar andando com o Gustavo, ele, assim como o Guilherme, é meu amigo de infância. Além do mais, nós somos apenas amigos. – retomei o fôlego. – Diferente de você, que quando eu precisava, sempre estava com seus amigos e namoradinhas, eles sempre estavam comigo.


-        Você não está entendendo, Bernardo! – Richard estava com muita raiva, levantou-se da cadeira e ficou de costas para mim. – Se você se assumir gay, pode acabar prejudicando a nossa família.


-        Eu não vou me assumir porque eu não sou, caramba! – ri nervoso – Até se eu fosse eu não iria assumir pro mundo inteiro.


-        Está vendo? Como já pensa na possibilidade de ser gay!


-        Pára com isso, Richard! – gritei me levantando. – Eu já sou maior de idade e sei bem o que eu quero da minha vida. Não adianta você interferir porque eu vou ser quem eu quero ser. Independente do que você ou o resto da família pense, eu vou ser feliz, fazer o que eu gosto e estar com quem eu amo.


-        Você não sabe o que está falando... – Richard virou-se e vi seu rosto, totalmente úmido. Ele estava chorando. – Você não pensa na Alice?


-        Eu e a Alice não temos mais nada. Deveríamos ter ficado somente com o título de “Melhores Amigos”...


-        Você não dá a mínima pra tudo isso, não é?


-        Se eu não desse, eu não estaria tendo essa conversa com você, que por hora já está acabada. – Me virei e sai de casa.


Richard me seguiu até a porta gritando para que eu voltasse, mas não iria ficar sozinho com ele, principalmente quando nós dois estamos a ponto de nos matar. Liguei o carro e fui para a casa do Gui. Chegando lá, toquei a campainha. Gustavo atendeu a porta somente de cueca.


-        Beni? O que aconteceu? Você está tremendo! – Gustavo me colocou pra dentro e eu não conseguia dizer nada:


-        Aconteceu alguma coisa com o Guilherme? – Balancei a cabeça negativamente. – O que fizeram com você? – não respondi, não podia... era muito embaraçoso. – Cara, pelo amor de Deus, fala comigo! Eu to morrendo de preocupação. – Gustavo ficou com os olhos vermelhos, lágrimas começaram a deslizar por sua face.


Abracei Gustavo com todas as minhas forças. Seu choro intensificou e o meu iniciou.


Não falar com ele o causava dor. Tanto em mim, quanto nele. Eu sinto isso.


Mas como eu iria falar para ele que meu irmão me proibiu de falar e estar com ele somente porque ele era gay? Como eu iria falar que não iria aceitar esse absurdo?


Nesse meio tempo, ele parou de chorar e começou a acariciar minha cabeça. Eu esperava pelo menos parar de chorar, mas apenas forçou as lágrimas a saírem mais ainda.


Gustavo me tirou do ombro dele e saiu. Me encolhi e comecei a respirar fundo, para tentar me acalmar, Logo ele voltou com dois copos e uma jarra  de água. Me deu um copo d’água e esperou que eu me acalmasse. Quando eu estava mais calmo, bebi um pouco de água e deixei o copo sobre a mesa de centro.


Olhei para Gustavo e ele me observava. Fiquei envergonhado. Queria que tudo isso voltasse a ser como antes. Mas se está tudo bagunçado, é porque temos que arrumar algo novamente, mas no final de tudo vai ter algo diferente e novo.


-        Meu irmão mais velho me proibiu de andar, falar e estar com você.


A frase saiu em uma linha. O choque na face de Gustavo estava me matando. Ele não conseguia me olhar, mas tentou se manter firme.


-        Porque ele não nos quer juntos?


-        Por você ser gay...


-        Só porque sou gay?


-        Não, mas... – Respirei fundo.


Eu não conseguiria falar, então eu precisava do violão naquele exato momento... Corri no quarto dele e peguei o violão em cima da cama e voltei rapidamente, ele estava de pé, vindo para a escada. Parei em um degrau e apoiei o violão em uma perna e comecei a tocar...


 


Fall to Pieces - Avril Lavigne


I looked away / Then I looked back at you


(Eu olhei para longe, / então olhei novamente para você)


 


You tried to say / Things that you can't undo


(Você tenta dizer / coisas que não pode retirar)


 


If I had my way / I'd never get over you


(Se fosse pela minha maneira / eu nunca me aproximaria de você)


 


Today's the day / I pray that we make it through


(Hoje é o dia. / Rezo para que passemos por isso)


 


Make it through the fall / Make it through it all


(Passemos pela queda / passemos por aquilo tudo)


 


 


You're the only one / I'd be with 'till the end


(Você é o único / que eu estarei até o fim)


 


When I come undone / You bring me back again


(Quando eu desatar / você me trará novamente)


 


Back under the stars / Back into your arms


(Me trará para debaixo das estrelas / de volta aos seus braços)


 


 


Wanna know who you are / Wanna know where to start


(Quero saber quem você é. / Quero saber por onde começar)


 


I wanna know what this means / Wanna know how you feel


(Quero saber o que isso significa / Quero saber como você sente)


 


Wanna know what is real / I wanna know everything


(Quero saber o que é real / Quero saber tudo)


 


Everything


(Tudo)


 


 


And I don't wanna fall to pieces / I just wanna sit and stare at you


(E eu não quero cair aos pedaços / Eu quero apenas sentar e encarar você)


 


I don't wanna talk about it / And I don't wanna conversation


(Eu não quero falar sobre isso / e eu não quero conversar)


 


I just wanna cry in front of you / I don't wanna talk about it


(Apenas quero chorar em sua frente / Eu não quero falar sobre isso)


 


Because I'm in love with you / I'm in love with you...


(Porque eu estou apaixonado por você / Estou apaixonado por você...)


 


-        Gustavo, eu te amo!


Eu tremia por inteiro. Me sentia mais leve. Mas isso não significava que estava tudo terminado. Era apenas o começo de todos os problemas e, espero, de todas as felicidades.


Eu não conseguia olhar para Gustavo. O que eu acabei de dizer e cantar foi muito embaraçoso. Minhas mãos suavam, ele não dizia nada. Ele subiu até onde eu estava e retirou o violão de minhas mãos e me levou até o sofá, já que parecia ser o local mais próximo e rápido para dizer algo. Ele se aproximou e pegou em meu queixo e fez com que eu olhasse para ele. Ele estava corado. Seus olhos estavam claros, marejados e nublados.


-        Beni, quero que você saiba que você é, e sempre foi e será, a pessoa mais importante para mim neste mundo.


 Gustavo aproximou os seus lábios rosados e carnudos dos meus. Meu coração batia forte. A insegurança tomou o meu corpo completamente. Quando eu senti o doce hálito de sua boca penetrar minhas narinas, eu desviei e o abracei.


Gustavo chorou silenciosamente. Eu podia sentir as lágrimas molhando o meu pescoço e a sua respiração alterada. Me senti o maior idiota do mundo, mas eu estava inseguro. E se ele não gostasse do meu beijo. E se ele não gostasse de mim da maneira que eu gosto dele? De qualquer maneira, essas dúvidas poderiam ser respondidas com o tempo.


Mas no momento, eu apenas sabia que eu tinha entendido tudo.


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Notas finais do capítulo

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Final do Capítulo


Espero que a minha demora para postar não os desistimulem a terminar a história.
Agora eu preciso ir =D

Beijos,
Gabriel.



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