Violetta’s POV

– Calma, minha filha – León praticamente gritou depois da tapa que eu dei em seu rosto. Devia estar doendo, pois o local lesionado estava bastante vermelho.

– Não me chama de minha filha – Grunhi quando ouvi sua resposta. Eu estava com um ódio eterno de León – Quem você pensa que é pra sair beijando os outros à toa?

– Eu não sei por que eu fiz isso, ta legal? – Ele sussurrou dessa vez, percebendo que olhares curiosos já estavam em volta de nós dois – O quanto você tem de linda tem de chata, eu não aguentaria nunca ter um relacionamento com você.

– Idem.

Um silêncio tenebroso de longos minutos permaneceu.

– Acho que já está na hora de irmos, tia Maria deve estar preocupada – León disse quebrando o silêncio. Ele se levantou para poder irmos, mas estranhou o fato de eu continuar sentada, fitando-o – Você não vem?

– Não.

– Vai ficar aí pra sempre?

– Olhe minha cara de que vai ficar plantada aqui – Resmunguei e ele continuou com uma expressão confusa no rosto – Vou chamar um taxi.

– Qual é Violetta, vai gastar dinheiro à toa? – León perguntou cruzando os braços. É, era isso mesmo, preferia gastar 30 reais em um taxi do que voltar para casa na garupa de sua moto, principalmente segurando seu abdômen definido.

– Vou – Respondi fria – Mas com você eu não volto.

– Ok, te vejo mais tarde – León respondeu simples e deu meia volta, saindo da padaria e atravessando a rua, onde sua moto estava estacionada.

Por um tempo, fiquei parada em apenas uma posição, tentando decifrar os últimos acontecimentos. Era isso mesmo que eu tinha vivenciado? León havia me beijado? Tudo bem que fora apenas um roçar de lábios, mas, mesmo assim, houve um contato íntimo.

Isso pode ser até clichê, mas quando ele se aproximou daquela maneira, meu coração voou até minha garganta. Eu não conseguia entender os sentimentos que eu estava tendo por León, era tudo tão recente, tão esquisito... Fora que ele é um idiota, eu não posso e nem quero sentir nada por ele.

Violetta, o León é um idiota, não caí nesse papinho tosco de que ele mudou. Aquele garoto nunca vai mudar por dentro – Essa vozinha ecoava em minha mente, de uma maneira quase que frenética. Mas, também havia outro lado da história, onde outra voz falava comigo mesma – Violetta, você precisa amaciar esse teu coração de pedra. O León mudou sim, você precisa dá-lo uma chance, para mostrar que não é mais idiota assim. Hoje vocês quase se beijaram! Será que pode rolar um sentimento a mais nessa relação, hein?

Bufei de raiva por estar pensando nessas idiotices e resolvi deixar esses pensamentos de lado e chamar logo um taxi, senão chegaria em casa apenas de madrugada.

Peguei minha bolsa e a pendurei no meu braço esquerdo, caminhando até a calçada da padaria, onde alguns taxis estavam estacionados. Entrei dentro de um dos transportes e informei o endereço lá de casa, para que o motorista pudesse ir.

*

Demorei uns trinta minutos para poder chegar em casa, apesar de ser final de semana e a praia ser perto, parecia que o trânsito estava mais caótico do que no pico semanal.

Assim que pus os pés em casa, minha mãe veio praticamente correndo, com os olhos chocolates arregalados e os cabelos negros despenteados.

– Filha, graças a Deus você chegou! – Ela gritou e me puxou para um abraço forte, provavelmente para se certificar que eu estava viva mesmo, sem alguma lesão ou arranhão em meu corpo – O León disse que você não quis vir com ele! O que te deu, Violetta? Você não conhece o Rio direito.

Eu vou matar o León, escreve aí!

– Mãe, menos, por favor – Revirei os olhos – Eu sei o endereço daqui de casa, sei pegar taxi e tenho celular.

– Desculpa, filha – Minha mãe soltou-se do abraço – Mesmo assim fiquei preocupada. Se fosse de manhã, no shopping ou qualquer coisa, tudo bem... Mas já estava escurecendo!

– Ok, mãe. Eu já entendi! Prometo que não vou sair de perto do León em qualquer quanto parecido com esse em que estávamos ou por essa hora.

– Assim fico bem mais tranquila, pequena – Minha mãe sorriu – O jantar está pronto.

– Não quero comer mãe, estou cheia – Falei e troquei minha bolsa de lado, devido o peso estava incomodando – Vou descansar, ok?

– Tudo bem – Ela deu um beijo no meu rosto – Mais tarde te levo um chocolate quente.

– Ok.

Subi as escadas da casa e fui direto para o meu quarto. Estava precisando de um banho e de uma cama bem quentinha e aconchegante. Joguei minhas coisas em cima da mesa e me despi ali mesmo, indo para o chuveiro e ligando-o na água quente.

Não sei exatamente quanto tempo eu passei ali dentro, mas o bastante para meus dedos ficarem enrugados. Minha cabeça doía um pouco e meus olhos pediam descanso. Desliguei o chuveiro, me enrolei numa toalha, e voltei para o meu quarto, vestindo um pijama confortável.

Me deitei na minha cama, ligando a televisão em qualquer canal de filme e enrolando-me em um cobertor fofinho e quentinho. Estava prestando atenção na minha leitura, quando ouvi barulhos na porta.

– Entra.

– Violetta? – Ouvi aquela voz familiar e me estiquei, para ter certeza se era ele mesmo que estava ali. E realmente era ele, era León que estava parado em minha porta.

– O que foi?

– Posso entrar?

Parei para pensar, mas decidi deixar de ser marrenta por um tempo.

– Tudo bem.

– Será que a gente pode conversar? – Ele se sentou na cama e ficou olhando para mim. Confesso que eu fiquei meio constrangida com essa aproximação, mas relevei.

– Claro – Disse esboçando o máximo de sorriso que ele merecia, ou seja, quase nada.

– Sério, queria me desculpar pelo o que fiz hoje mais cedo – León disse baixinho, enquanto fazia desenhos indecifráveis em minha cama com o dedo.

– Eu te desculpo, mas León, eu não quero que isso se repita nunca mais! – Respondi sincera. Eu ainda estava com raiva dele, mas não poderia ser tão grossa assim. Oi? Violetta Castillo, é você mesma? Não querendo ser grossa com León? É, eu estava realmente perdida.

– Eu te respeito – Ele falou e sorriu em seguida. Suspirou pesadamente e me encarou com os seus olhos castanhos – Mas, por curiosidade minha, você ficaria comigo?

Ok, agora sim eu estava assustada com isso. Para quê ele queria saber se eu ficaria com ele? A resposta de imediato, sem pensar, seria sim. Mas ele não merecia esse gostinho.

– Isso te interessa? – Perguntei cruzando os braços e estreitando os meus olhos. Ele me fitava.

– É porque você reagiu de uma forma muito exaltada quanto eu te beijei. Como se eu fosse um bicho... – León respondeu.

– Olha, é complicado... – Eu tentava de alguma maneira explicar o que aconteceu e o que acontece comigo, mas nada coerente saía da minha boca – Eu sinto que você é o tipo de menino que está cantando uma e ficando com a outra duas horas depois, sabe? Talvez eu esteja enganada, mas sempre foi essa imagem que você passou pra mim. E, bem, eu já sofri por isso... Não quero comentar, mas eu estou fechada para esse aspecto.

– Entendi.

Porra, eu não acredito que eu estava falando isso para León! O que estava dando em mim? Por que de alguma maneira eu estava ficando vulnerável a ele? Isso só pode ser macumba, sério mesmo.

– Mas fique sabendo que eu não sou assim. Se eu tivesse ficado realmente com você, não teria outra na jogada – León respondeu. E, naquele momento, eu senti que o que ele tinha falado, era sincero. Tomara que ele não me decepcione no futuro.

– Tudo bem – Sorri. Queria que ele fosse embora logo, estava explodindo de dor de cabeça e me sentia esquisita por estarmos tendo uma conversa civilizada.

– Acho que é só isso mesmo – León levantou-se da cama e ajeitou a camisa quando ficou de pé – Boa noite.

– Boa noite – Respondi e em frações de segundo, León praticamente se jogou por cima de mim e deu-me um beijo estalado na bochecha. Sorrimos sem graça e ele saiu em seguida do quarto, fechando a porta.

Fiquei um bom tempo apenas deitada na cama, sem prestar atenção em nada em volta de mim. Eu e León estávamos começando a virar amigos? É isso mesmo? Bom, não quero me reter a isso não. León parecia ter mudado, mas ele precisaria provar em vários momentos que não era mais o idiota de antes.