Give Me Love - Cancelada! escrita por Madu Kordei


Capítulo 27
Ny.




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– O filho que eu estou esperando é do Leon.

O silêncio reinou no local por um tempo que para mim parecia horas. Eu não aguentava mais ficar olhando Tio Matias mexendo nos próprios dedos, como se aquilo fosse a coisa mais interessante do mundo, e nem a minha mãe parada no mesmo lugar, sem mover qualquer parte do seu corpo ou rosto. Porra, eu preciso de respostas! Preciso de conselhos! Eu preciso de uma saída para os meus problemas...

– Quando foi que isso começou a acontecer? – Foram as primeiras palavras que minha mãe pronunciou depois da verdade ter sido revelada. Ela não parecia estar com raiva, mas suas feições estavam imparciais, e isso de uma maneira dava mais medo ainda.

– Esse ano, nas férias – Leon falou ao se levantar e permaneceu ao meu lado, segurando minha mão, como se quisesse falar um: “eu estou aqui com você” – No começo, a gente se odiava, literalmente. Mas aos poucos fomos nos tornando amigos e não conseguimos controlar a atração que sentíamos um pelo outro.

– Mas vocês são irmãos... – Minha mãe contestou de maneira calma. Eu estava um pouco assustada pela tranquilidade que reinava em seu corpo e temia que ela estivesse deixando a explosão para depois. Meu coração batia de forma acelerada e Leon parecia ter notado, pois iniciou um carinho de leve em meu braço.

– Não somos irmãos mãe, você sabe disso – Me pronunciei pela primeira vez. Fiquei feliz ao ouvir minha voz, ela saiu calma, porém firme – Sei que devo desculpas pra você, eu queria ter te falado, mas as palavras pareciam presas na minha garganta e eu ficava com medo da sua reação. Eu sei que não sou a filha perfeita que toda mãe deseja, eu tento, mas é difícil...

– Filhos perfeitos não existem – Mamãe levantou-se de onde estava sentada e se aproximou da cama, segurando minha mão que estava livre – Da mesma forma que não existem mães perfeitas, enfim, não existe ninguém perfeito. Não somos bonecos, o que é belo no ser humano são os seus defeitos, suas imperfeições... São elas que fazem a diferença em alguém e como essa pessoa lida com isso – Notei que algumas lágrimas estavam acumuladas em seus olhos castanhos, assim como os meus. Ela apertou minha mão com força – Esse não era o futuro que eu esperava pra você, Violetta. Mas você já é uma adulta, você vai ser mãe, outra vida depende de você agora... São suas responsabilidades que vão me mostrar à filha semi perfeita que você pode ser. Mas querida, fique calma, eu vou estar com você pra tudo – Senti lágrimas saindo dos meus olhos assim como nos dela – Com vocês – Mamãe tocou na minha barriga e em seguida olhou para Leon sorrindo.

– Obrigado Tia... – Leon sorriu ao ouvir as palavras da minha mãe. Vi Tio Matias se aproximar também, com algumas lágrimas espalhadas pelo seu rosto cansado. Ele apertou o ombro de Leon e em seguida os dois se abraçaram. Eu estava muito preocupada com o meu futuro, mas me acalmava saber que eu tinha uma família que me apoiava, independente de qualquer consequência dos meus atos. Era naquela felicidade que eu queria que o meu filho crescesse.

Passamos um bom tempo conversando, quando a médica de plantão que me atendeu entrou no quarto. Ela apenas veio saber como nós estávamos e me liberou para ir para casa à noite. Mas antes eu precisava conversar com a minha mãe.

– Mãe, papai tem um apartamento perto da nossa casa, não é mesmo? – Perguntei enquanto minha mãe preparava o meu banho para que pudéssemos finalmente ir para casa. Tio Matias e Leon foram comer um lanche no restaurante, então estávamos a sós.

– Sim querida – Ela voltou do banheiro e começou a desabotoar as costas da bata azul e feia que eu usava – E eu provavelmente estou pensando na mesma coisa que você.

– E o que você está pensando, Sra. Vargas? – Tirei o conjunto de lingerie que eu usava e fui para dentro do chuveiro, sentindo a água morna tocar o meu corpo de maneira relaxante. Sorri ao falar aquelas palavras. Será que um dia eu teria o “Vargas” no meu sobrenome? Ok Violetta, uma coisa de cada vez. Só quero casar quando tiver certeza do que realmente quero, ou seja, quando eu já tiver acabado minha faculdade.

– Que você quer se mudar pra lá... – Ela sorriu e sentou em cima do vaso sanitário que estava com a tampa fechada. Minha mãe queria certificar-se que eu não iria passar mal ali no banheiro, aposto.

– Sim – Sorri de maneira tímida. Mas não queria me mudar com o Leon, longe disso... Quero morar lá com meu filho.

– Olha, vou te confessar uma coisa – Minha mãe passou as mãos nos cabelos castanhos iguais aos meus e fixou o olhar nos próprios pés – Eu mobiliei todo aquele apartamento, já que ele está no seu nome. Sempre tive o sonho de que você iria fazer a faculdade aqui no Rio e deixei pronto para você morar lá. Mas como nossas prioridades mudaram, um dos quartos está sobrando, e vai servir como o quarto do bebê...

– Oh mãe, que coisa linda! – Senti meus olhos lacrimejarem. Eu iria ser independente! I-N-D-E-P-E-N-D-E-N-T-E! – Obrigada.

– Imagina, filha – Ela sorriu e levantou-se, ficando de pé escorada na parede branca – Ele é um pouco pequeno e tem dois quartos.

– Perfeito!

– Mas você vai morar com o Leon?

– Claro que não – Me apressei ao desmentir qualquer pensamento que estivesse em sua cabeça – Eu e o Leon estávamos dando um tempo, muito mesmo antes de eu descobrir que estava grávida. Apesar de nos amarmos, temos que ter paciência pra deixar o tempo fazer o seu serviço... Precisamos nos concentrar com o bebê agora e como vamos sustentá-lo, é claro.

– Melhor assim. Depois conversamos sobre isso.

Confirmei com a cabeça e voltei a tomar o meu banho. Minha cabeça estava lotada de pensamentos e, infelizmente, eu não conseguia formar nenhuma ideia coerente. Como o meu querido John Green escreveu: “Meus pensamentos são estrelas que eu não consigo arrumar em constelações.” É, é bem isso mesmo.

2 semanas depois

Joguei a toalha em cima da cama logo após eu ter saído do meu banho. Já se passaram duas semanas desde que eu havia descoberto minha gravidez e tudo parecia ter mudado. Agora meus enjoos e desmaios estavam explicados, e uma sensação de felicidade crescia do nada, principalmente quando eu estava só. Até parecia que o meu filho estava mostrando que ele permanecia ali, crescendo dentro de mim e fazendo com que eu já o amasse.

Leon estava muito bobo. Acredita que ele comprou várias roupas de bebê? E nem sabíamos qual era o sexo da criança! Mas não queria estragar com a sua felicidade. Tempos difíceis estavam chegando, mas a felicidade era maior que qualquer problema ou preocupação. Ele continuaria estudando pela manhã e passaria a trabalhar na empresa de Tio Matias, recebendo um bom salário no final do mês.

E hoje eu estaria indo para Nova York, fazer a prova da Faculdade de Letras em que eu fui selecionada. Não havia mais possibilidades de eu estudar lá, mas mamãe fez questão que eu comparecesse à prova, pelo menos para testar os meus conhecimentos. Fiquei feliz porque iria rever Carla e Liz, já que a mesma falou para dispensar qualquer hotel na cidade, eu tinha que ficar em sua casa.

– Você vai com qual roupa, Vilu? – Francesca perguntou entrando no quarto, depois de ter ido à cozinha beber um copo de água. Ela era a mais feliz pela gravidez, não parava de falar na princesa que iria nascer. E quando eu contestava que não sabíamos qual era o sexo, ela teimava e continuava afirmando que seria uma menina. Louca de verdade!

– Com essa – Apontei para a roupa que estava em cima da cama. Era uma calça legging preta, um blusão de renda bege e iria calçar os meus Vans vinhos. Não iria de salto para uma viagem, por favor, né.

– Que coisa mais fofa, gente. Já tá usando roupa de gravidinha! – Fran me abraçou como se eu fosse uma criança. Ri gostosamente ao ver ela daquela maneira.

– Menos amiga, bem menos – Passei a mão nos seus cabelos compridos e negros, mexendo nas pontas. Ela me olhou com aqueles olhos únicos, fazendo com que eu prestasse atenção nas palavras que ela provavelmente iria dizer.

– Eu sei que a nossa amizade não começou da melhor maneira – Fran sorriu e eu ri baixo, confirmando suas palavras – Mas você se tornou minha melhor amiga. Você já passou por tanta coisa, baixinha... Perdeu seu pai, mudou de cidade, sua ex melhor amiga te traiu, Leon fez uma sacanagem com você, agora você vai ter que criar um bebê e tudo isso em menos de um ano... Mas mesmo assim você continua com esse sorriso estampado no rosto, mostrando que mesmo que todos os problemas estejam na sua vida, ainda há esperança. Eu tenho muito orgulho de você, de verdade.

Senti meus olhos ficarem marejados depois de ouvir aquilo. Não sabia se a gravidez havia me deixado mais chorona, mas com certeza aquelas palavras de Francesca eram de arrepiar qualquer um. A abracei com mais força, que retribuiu o gesto do mesmo jeito.

– Eu amo você, amiga – Sussurrei as palavras em seu ouvido. Aquilo estava parecendo uma despedida, como se eu fosse passar um ano fora do país. Mas não, eu iria viajar por 4 dias só. Até porque eu iria ter minha primeira consulta com a minha ginecologista e obstetra uma semana depois da viagem.

– Eu também amo você, morena... Ops, agora que não está mais totalmente morena! – Fran falou rindo assim que nos soltamos do abraço. Pois é, finalmente tomei coragem pra mudar o visual e assim que saí do hospital, marquei logo um horário no salão de beleza para dar um trato no meu cabelo. Gente, eu posso ser mãe agora, mas ainda sou uma adolescente!

Então, fui ao salão e fiz tratamento nos cabelos, além de pintá-los. Agora a raiz estava com um castanho claro, com cachos e um tom de loiro nas pontas. Eu havia gostado do resultado, principalmente Leon.

Terminei de me arrumar e Fran desceu com as minhas malas para a sala. Todo mundo nos esperava... Iria mamãe, tio Matias, Leon e Francesca me deixar no aeroporto. Realmente parecia que eu ia passar muito tempo fora, mas era só o amor e todo o cuidado que eles tinham por mim.

Tio Matias e mamãe foram nos bancos da frente, enquanto Fran, eu e Leon íamos atrás, respectivamente. Fran e Leon foram discutindo os nomes de meninos e meninas, eu só fazia ignorar, já que eu iria só escolher quando visse seu rostinho mesmo. Minha mãe permanecia quieta, ela não gostava muito de falar sobre o assunto, isso nós percebíamos claramente. Mas eu a respeito, já que toda essa história deve ser muito difícil para ela.

Chegamos ao aeroporto em pouco tempo, fiz o check-in e tudo estava certo com a minha passagem e as bagagens. Antes de embarcar, comprei um suco de uva em uma lanchonete e tirei várias fotos com Fran, pra ela postar no Instagram. Francesca é tipo a “deusa do Instagram”, posta fotos praticamente todos os dias, uma mais linda que a outra.

– Promete que vai me ligar todos os dias e avisar se encontrou com algum bofe lá? – Fran perguntou enquanto estávamos nos despedindo antes que eu embarcasse. Comecei a rir ainda abraçada com ela, porque ela falou de maneira séria.

– Pode deixar amiga. Se quiser, eu ainda tiro uma foto – Sorri ao me afastar dela e toquei nos seus cabelos, deslizando meus dedos até o final.

– Ótimo – Ela falou animada – Só não se esquece de tirar o flash, ok? Imagina o mico...

Todos riram ao ouvir Francesca, meu Deus, como aquela criatura é palhaça. Dei um longo abraço na minha mãe, que fez um carinho na minha barriga, assim como tio Matias. Eu percebi que ela estava muito fria, mas não tiro sua razão, até porque eu sou uma “menina” que ainda vai fazer 18 anos e já estou grávida. Mas Leon vai começar a trabalhar, eu também... Tudo vai se ajeitar, eu tenho fé nisso.

Deixei o melhor para o final. Já estava fazendo o último aviso dos passageiros para o meu voo, mas eu não poderia deixar de me despedir da pessoa que tira todo o oxigênio do meu mundo.

– Ei sua maluquinha, se cuida tá? – Ele falou sorrindo e me puxou para um abraço. Fechei os olhos ao sentir o aroma que exalava do seu corpo, como é que pode tudo nele ser maravilhoso? É lindo, educado, cheiroso, gostoso... Só tem o problema de ser um pouco filha da puta, mas né, eu gosto dos cafajestes mesmo.

– Pode deixar... E você também.

– Olhe sempre o horário dos seus remédios, você ainda tá com um pouco de anemia – Ele me olhou sério, mas logo em seguida seu rosto suavizou - E cuida desse moleque aqui – E tocou minha barriga da maneira mais surpreendente possível. Parecia que havia soltado raios do seu toque, algo totalmente mágico.

Apenas sorri e vi que os seus olhos ficaram um pouco marejados. Eu sei que eu estava o confundindo, mas naquele momento, a única coisa que eu queria era tocar minha boca na sua. Não foi o beijo que eu realmente queria dar, apenas um roçar de lábios que fez com que minhas pernas tremessem um pouco. Afastei meu rosto novamente e vi que ele estava sorrindo ternamente, seus olhos possuíam um brilho especial.

“Última chamada do voo para Nova York. Violetta Castillo, favor comparecer ao portão de embarque.”

– Volta logo... – Leon deslizou suas mãos pelo meu braço, até chegar a minhas mãos e segurá-las – Pra mim.

Sorri de forma terna e apenas afirmei com a cabeça, dando um último aceno para a minha família. Entrei no portão de embarque, rumo à uma pequena parte dos meus sonhos.


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