Dicrocoelium dendriticum escrita por MarcosFLuder


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Essa é uma história cronologicamente passada bem no começo da parceria entre Mulder e Scully no Arquivo-X, o que irá se refletir em muitos momentos dos dois juntos na histórim agradecimento especial à Daniela, da página do Daniela Design, pela capa maravilhosa que fez para essa fanfic.



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WASHINGTON DC

7:34 Pm

O cair da noite na cidade de Washington trás, além do frio, uma noite lindamente estrelada, iluminada por uma brilhante lua cheia. Toda essa paisagem, no entanto, é ignorada pelo homem que caminha com um andar rápido e cadenciado. Ele pouco se importava com os esbarrões que dava nas pessoas, na verdade as ignorava totalmente. O homem foi seguindo nesse caminhar até atravessar uma rua com o sinal fechado para pedestres, e quase sendo atropelado. Os xingamentos dos motoristas pareciam dirigidas ao vazio, e quem pudesse olhar nos olhos daquele homem, acreditaria ser ele não uma pessoa, mas apenas uma casca vazia, sem vontade ou controle por seus atos. Os olhos eram frios e sem vida, contemplando o nada, como os olhos de um morto.

Foi assim que ele atravessou outra rua, para sua sorte dessa vez o sinal estava aberto; novos esbarrões eram dados, mas ele continuava sem se importar, ou talvez nem percebesse, até chegar a um outro cruzamento. Como já havia feito antes, ignorou o sinal fechado para pedestres. Quem o visse diria que estava jogando com a sua sorte, só que dessa vez ela o abandonou, pois um carro em alta velocidade não teve tempo para frear e atingiu aquele homem com toda a força jogando-o bem alto e fazendo-o chocar-se violentamente contra o asfalto. O socorro demorou quase meia hora para chegar, encontrando um grande tumulto próximo de onde estava o corpo. Alguns policiais afastaram os curiosos, permitindo aos paramédicos apenas constatar o óbito da vítima, cujo sangue espalhava-se pelo asfalto.

— Esse foi um acidente feio cara – disse um dos paramédicos.

— O sujeito que dirigia o carro fugiu sem prestar socorro – respondeu o guarda que se aproxima deles – mas não é só isso.

— Tem mais alguma coisa? – pergunta o outro paramédico.

— Estão dizendo que boa parte desse sangue saiu espirrado da boca e do nariz do cara.

— Como assim espirrado? – A pergunta do paramédico nem precisou ser respondida pois uma golfada do defunto o atinge no rosto.

— Mas que diabo é isso Ben? – o outro paramédico cai sentado com o susto apesar de não ter sido atingido pelo sangue.

— Vamos levá-lo daqui logo – disse Ben, enquanto limpava o rosto.

Na ambulância mais duas golfadas foram dadas pelo defunto, deixando os paramédicos assustados com o inusitado da situação.

— Você já viu um negócio desses antes Ben?

— Sei lá Garry – Ben limpava o rosto, ainda com restos de sangue, quando o carro chegou ao necrotério. Eles levaram o cadáver para colocá-lo numa gaveta quando foram interrompidos por um homem de terno escuro.

— Levem esse homem direto para a sala de autópsia, já tem alguém esperando por ele.

— Como assim? Desde quando as coisas andam tão rápido por aqui?

— Isso não importa – disse o homem – tratem de levá-lo rápido.

— Deixa pra lá Ben, vamos levar logo esse defunto pra ser cortado – eles levaram o cadáver para a sala de autópsia onde um legista já o esperava.

— Quem é esse cara Dr. Crosby? – Ben Ritter não podia evitar de estranhar a presença daquele homem no local bem como suas atitudes.

— O trabalho de vocês termina aqui – disse o homem do terno escuro – agora saiam rápido e deixem o Dr. fazer o seu trabalho.

— Mas quem diabos é você? – Ben Ritter mal continha sua irritação com os modos arrogantes daquele sujeito.

— Vamos embora Ben – Garry tratou de acalmar o colega – eu é que já estou cheio desse defunto que gosta de espirrar sangue na gente – os dois saem e o homem do terno escuro se aproxima do legista.

— Trate de fazer o seu trabalho o mais rápido possível.

— Foi um erro tê-lo trazido para cá Sr. Stiller, é um trabalho muito delicado para ser feito aqui.

— Não podíamos levantar suspeitas sumindo com o cadáver.

— Eu não sei se vou conseguir fazer o que você quer com os recursos que tenho aqui.

— A equipe de apoio já está chegando com todos os equipamentos necessários.

— Tem certeza de que isso é mesmo necessário?

— É claro que sim! – o homem chamado Stiller olha para o cadáver – agora que sabemos que a experiência deu certo precisamos do nosso “amiguinho” que está alojado no cérebro desse infeliz à nossa frente.

— Eu só espero que... – o rosto do legista é atingido por um pouco de sangue que espirra do cadáver – mas que droga é essa.

O Dr. Cross limpa o sangue do rosto enquanto em outra parte do necrotério o paramédico de nome Ben olha-se num espelho do banheiro. O reflexo mostra um homem maduro e de boa aparência. Os traços do rosto são rudes e expressivos, no entanto, contrastam com os olhos, onde a chama da vida parece estar apagando.

WASHINGTON DC

PRÉDIO DO FBI

DUAS SEMANAS DEPOIS

A agente Dana Scully caminha calmamente pelos corredores do FBI. Ela tem um andar elegante, que combinado com seus traços delicados, chamam a atenção de alguns homens à sua volta. Ela não parece notar esse fato enquanto toma o elevador em direção ao seu novo local de trabalho. A pouco mais de um mês ela foi designada para trabalhar no Arquivo-X, investigando casos que fogem das explicações normais. Sua outra função é também fazer relatórios constantes a respeito da validade do trabalho desenvolvido por seu colega Fox Mulder.

Trabalhando nesse polêmico departamento nas últimas semanas, ela tem convivido quase que diariamente com o agente Mulder, mas ainda não conseguiu avaliar direito a sua impressão a respeito dele. Uma confusão de sentimentos que começa assim que entra na sala deles – “sempre atrasado” – ela pensa enquanto arruma a mesa teimosamente bagunçada por ele no final do expediente anterior. Para uma pessoa tão organizada como ela não se compreende como alguém pode trabalhar diante de tanta bagunça, mas o fato é que ele consegue.

Dana Scully examina a pasta do caso que tinham acabado de investigar e pensa em como se surpreendia com o raciocínio rápido e o instinto apurado do seu parceiro. Não havia como não se impressionar em como ele expunha as suas teorias, que a princípio pareciam absurdas, mas que muitas vezes se mostravam mais corretas que as suposições científicas que Scully procurava contrapor às conclusões dele. Algo diferente, entretanto, ocorreu nesse último caso. Mesmo partindo de opiniões diferentes, eles acabaram chegando a um ponto em comum.

Aquela fora a primeira vez que eles agiram como uma verdadeira dupla e o resultado foi o melhor possível. Nada de relatórios inconclusivos, ou hipóteses não comprovadas, que sempre davam margem a piadinhas e insinuações maldosas pelos corredores do FBI. Tudo isso teve que ser engolido pelos detratores de Mulder, e que já estavam acostumando-se a chamar Scully de “Srta.Estranha”. O fato é que a união das habilidades técnicas dela, com a mente incrivelmente ágil dele, que parecia estar sempre dois ou três passos a frente de qualquer um, foi fundamental para solucionar o caso em questão.

Era um caso dificílimo, e que desafiava o FBI a anos. Elogios foram feitos e pela primeira vez Scully notou no parceiro um olhar de admiração. Foi um olhar que substituiu a desconfiança que ele mantinha em relação a ela, desde o primeiro dia em que começaram a trabalhar juntos. Um pequeno sorriso surge nos lábios de Scully enquanto pensa nisso. Ela não nota quando seu parceiro entra e fica à observa-la, enlevada como estava. Ele não tinha a menor ideia no que ela estava pensando, mas gostou muito de vê-la assim, acabando por assustá-la quando esta percebeu estar sendo notada.

— Oh! Você está aí a muito tempo? – ela tratou de se recompor.

— Acabei de chegar – ele disse – vejo que está com a pasta do nosso último caso.

— Eu vou querer dar uma olhada nela...

— Para fazer os seus relatórios? – um silêncio cortante se forma entre eles e Mulder senta-se em sua cadeira enquanto abre uma pasta que trazia consigo – temos um novo caso para investigar.

— Que pasta é essa?

— Eu a encontrei hoje quando estava saindo de casa – entrega a pasta para Scully, que vê um relatório com fotos de três pessoas.

— O que eu estou vendo aqui é um relatório a respeito do suicídio de três pessoas ocorridos num período de duas semanas – ela se deteve na foto de um dos mortos – o último deles jogou-se na frente de um ônibus em alta velocidade a dois dias atrás.

— O primeiro era Greg Morris, um cientista que trabalhava no departamento de pesquisa de uma empresa de biotecnologia, o segundo é um dos paramédicos que o atenderam e se chamava Ben Ritter.

— E o terceiro... – completou Scully – é o legista que fez a autopsia de Morris.

— O Dr. Jerry Crosby.

— Em que você se baseia para achar que o suicídio de três pessoas possa ser um Arquivo-X?

— Acredita em coincidências agente Scully? – mais de um mês trabalhando juntos e Mulder ainda a chamava dessa forma empregando um tom levemente irônico, que pela primeira vez deixou Scully incomodada.

— As vezes sim M...agente Mulder.

Um novo silêncio se estabeleceu entre eles e isso já estava se tornando comum. Era uma parede de desconfianças que ele havia erguido e ela não tinha coragem de derrubar. Nos últimos dias isso a estava incomodando muito. Isso passou a incomodá-la ainda mais, desde que ele salvara sua vida, quando foi atacada por Eugene Toons naquele hotel em Baltimore

— As fichas médicas deles estão anexas ao relatório. Todos eram pessoas saudáveis e sem qualquer distúrbio psicológico.

— Quer dizer que não havia razão aparente para eles cometerem suicídio?

— Exatamente! E você reparou como os suicídios ocorreram praticamente da mesma maneira? Todos praticamente se jogaram na frente de veículos em alta velocidade.

— Devo concordar que são coincidências demais – ela continuou lendo o relatório – quem foi que mandou-lhe esse relatório?

— Eu já disse que tropecei nele quando estava saindo do meu apartamento.

— Por acaso não foi aquele seu informante?

— Talvez tenha sido ele, mas isso não vem ao caso agora.

— Acha mesmo que pode confiar nele?

— Eu não confio em ninguém.

— Oh claro! Eu havia esquecido da sua filosofia de vida.

— O corpo de Jerry Crosby ainda está no necrotério – ele disse se levantado – o que acha de dar-mos uma olhada nele?

O caminho para o necrotério foi percorrido num silêncio opressivo, pois nenhum dos dois parecia saber como iniciar uma conversa quando o assunto não era o trabalho. Isso era algo que cada vez mais incomodava Scully, pois ela queria muito quebrar a parede de desconfianças que havia entre eles. Mas isso não iria ocorrer se ambos falassem sobre o assunto, algo que nenhum dos dois parecia ter coragem de fazer. Foi nesse silêncio que eles chegaram ao necrotério. Scully foi preparar-se para fazer a autopsia enquanto Mulder foi conversar com o colega de Ben Ritter.

— Eu até agora não entendi como isso foi acontecer com o Ben.

— Ele estava com algum problema ou parecia deprimido?

— Nada disso agente Mulder, o Ben era o cara mais cuca-fresca que eu já conheci, a última pessoa que eu imaginaria cometendo suicídio.

— Fale-me sobre o sujeito que vocês trouxeram para cá duas semanas atrás.

— Foi um caso estranho desde o início. Disseram que o cara parecia um zumbi ao atravessar a rua e ser atropelado, mais esquisito ainda foi quando chegamos aqui no necrotério e já tinha alguém para fazer a autopsia. Isso sem falar que o cara espirrava sangue pela boca e nariz.

— Espirrava sangue?

— Eu nunca tinha visto aquilo, mas tudo foi estranho nessa história, principalmente depois que chegou um pessoal que depois levou o corpo.

— Que pessoal era esse?

— Parece que eram da empresa onde ele trabalhava... – faz uma força para se lembrar – BIOTEC! Era esse o nome da empresa.

— O Ben chegou a ser atingido por esse sangue?

— Foi sim porque?

— Uma idéia que passou pela minha cabeça. Você sabe se o mesmo aconteceu com o legista também?

— Nós fomos praticamente expulsos da sala por um sujeito que eu não tinha visto antes – o celular de Mulder toca.

— Mulder!

— Vejo que recebeu o meu relatório agente Mulder – disse o Garganta Profunda.

— Estamos aqui não estamos?

— Há mais uma coisa que precisa saber ou melhor que a sua parceira precisa saber antes de começar a autopsia daquele corpo.

— Do que está falando?

— Ela precisa tomar cuidado para não ser atingida pelo sangue da vítima.

— Porque está me dizendo isso? – Mulder sente um estranho arrepio percorrendo o seu corpo.

— Para o próprio bem dela.

— O que há naquele corpo? – ele quase grita.

— O mesmo que havia nos outros dois e que pode passar para ela se for atingida pelo sangue da vítima – ele disse – mande-a procurar no cérebro, é lá que está a resposta.

Mulder sai correndo em direção a sala de autopsia e encontra Scully já bem próxima do corpo e se preparando para examina-lo quando Mulder a tira de perto dele.

— Mas o que há com você ?

— Tem sangue do cadáver em você ?

— Do que está falando ?

— Responda Scully – ele estava bem nervoso enquanto a segurava pelos braços.

— Eu...eu ia começar a examina-lo agora – ele a solta mais aliviado.

— Desculpe eu...eu recebi uma informação de que você em hipótese alguma pode entrar em contato com o sangue do cadáver.

— Quem lhe deu essa informação?

— A mesma pessoa que mandou o relatório.

— E o que mais ele disse?

— Disse que as respostas que procuramos estão no cérebro dele.

— Como assim, isso... – antes que Scully pudesse completar o seu raciocínio um pouco de sangue saiu espirrado da boca do cadáver assustando-a – Jesus Cristo! O que é isso?

— Talvez seja melhor você não fazer essa autopsia.

— Não se preocupe eu sei como fazer o meu trabalho.

— Eu não estou duvidando disso.

— Estão deixe eu fazer o meu trabalho – ela fala com um tom de voz mais alto.

— Tudo bem, mas tome cuidado.

Scully começa a autopsia sob o olhar atento de Mulder. Ele a observa enquanto faz o seu trabalho. É possível notar a tensão dela a medida que vai abrindo a caixa craniana do cadáver, não conseguindo evitar de admirar o seu sangue-frio numa situação dessas. Ele também se lembra de que foi a capacidade dela em perceber mínimos detalhes durante uma autopsia que permitiram aos dois resolver o dificílimo caso que enfrentaram anteriormente. É verdade que ele já havia tirado suas próprias conclusões, mas foi graças a capacidade dela como legista que suas teorias puderam ser comprovadas.

Já não era a primeira vez que ele se surpreendia admirando essa parceira que foi-lhe imposta pelo motivo nada nobre de invalidar o seu trabalho e que, curiosamente, parecia fazer exatamente o contrário do que esperavam dela. Seria tudo um truque? Uma maneira de ganhar a sua confiança para melhor manipula-lo? Eram dúvidas que o atormentavam cada vez mais porque uma parte dele queria muito confiar nessa mulher à sua frente. Como bom psicólogo, Mulder já havia feito um perfil da mulher diante dele.

A sua aparência frágil, bem como o jeito tímido, realçado pelo modo discreto e recatado de vestir-se, não o enganavam. Ele sabia que tinha uma mulher forte e decidida como parceira. Uma mulher inteligente e competente no seu ofício como ela poderia ser uma aliada e tanto para Mulder. A grande questão, entretanto, era a confiança, sem a qual nenhuma parceria poderia realmente funcionar. Tão perdido estava em seus pensamentos, Mulder deixou de notar o espanto cada vez maior de Scully, a medida que examinava o cérebro do cadáver. Foi Scully que o fez voltar a realidade.

— Eu nunca vi nada parecido – ela disse.

— O que significa tudo isso? – pergunta Mulder.

— É como se todas as funções do cérebro desse homem tivessem sido destruídas exceto as funções motoras.

— Como se ele tivesse se tornado um zumbi?

— Mais ou menos – ela começa a recolher material para exame – o seu misterioso amigo disse que as respostas estão no cérebro desse homem, pois bem, se ele estiver certo com certeza vamos encontrá-la nesse material que estou recolhendo – ela coloca o material sob um microscópio e começa a observá-lo – mas o que é isso?

— O que você está vendo? – a ansiedade de Mulder é enorme.

— Veja por si mesmo – ele olha pelo microscópio e também fica espantado com o que vê.

— Que coisas são essas?

— É algum tipo de parasita, mas não imagino qual seja, não se parece com nenhum dos que costumam infectar o ser humano.

— Encontre alguém que possa identificar esse parasita – Mulder faz menção de sair.

— Onde você vai?

— Vou até a empresa onde Greg Morris trabalhava, quero saber em que tipo de pesquisa ele estava metido – ele sai e Scully volta a olhar no microscópio.

LABORATÓRIO DO FBI

QUANTICO , VIRGÍNIA

Aquela era uma sala feita especialmente para fazer exames que envolvessem vírus, bactérias ou produtos químicos altamente tóxicos. Numa época em que o medo de armas químicas e biológicas era cada vez mais concreto, exigia-se do FBI um preparo bem maior contra esse tipo de ameaça. Por tudo isso, Scully não teve dificuldade em conseguir todo o apoio necessário para examinar o material que tinha consigo e ainda contando com a ajuda do maior especialista do FBI nesse campo. É verdade que a princípio o Dr. Ethan Mineti estava apenas fazendo uma gentileza com Scully, eles começaram a namorar uns três meses após ela entrar no FBI e já viviam juntos a pelo menos um ano. Só que agora ele via-se fascinado com o que tinha na lente de seu microscópio.

— Difícil acreditar que você tenha encontrado algo assim dentro de um ser humano, Dana.

— Estava alojado no cérebro de um cadáver Ethan – ela olha para ele e apesar dos trajes protetores que usam pode perceber o espanto do homem com quem divide muito mais do que a paixão pela ciência – que tipo de parasita é esse Ethan?

— Você já ouviu falar no Dicrocoelium dendriticum?

— O especialista no assunto é você meu querido – ela sorri já antevendo que sairá daquela sala com um conhecimento ampliado a respeito de parasitas.

— É um parasita presente em animais ruminantes, bois ou vacas. Eles se instalam no sistema digestivo desses animais, onde colocam seus ovos, que são eliminados junto com as fezes.

— Mas o que isso tem a ver...

— Acredite em mim Dana, é uma história fascinante.

O pesado traje protetor não impedia Scully de ver o brilho nos olhos de seu companheiro. Ele sempre foi fascinado por esse assunto, a ponto de tornar-se um dos maiores entendidos em vírus , bactérias e parasitas em geral. Essa, por sinal, foi a principal razão dele ter sido convocado pelo FBI

— As fezes da vaca, com os ovos do parasita, são comidos por caramujos e é dentro deles que os ovos são chocados. Logo ao nascer os parasitas vão para a glândula digestiva e dali para a superfície do caramujo, que os envolvem numa bola de muco e os cospem na grama.

— Nossa querido, que história linda.

— É, mas a melhor parte vem agora – o entusiasmo é tanto que ele nem nota o sarcasmo de Scully – o muco fica lá na grama até ser engolido por uma formiga, que, sem saber, está sendo contaminada por centenas de parasitas. A maioria deles fica no abdome do inseto, mas alguns vão para o cérebro, onde acontece uma coisa incrível, e ao mesmo tempo assustadora.

— E o que seria? – Scully já começava a ficar impaciente com aquela história que não parecia guardar qualquer relação com o caso que investigava.

— Uma vez instalados no cérebro, eles passam a controlar o inseto que praticamente vira um zumbi.

— Como é que é ? – os olhos azuis ganham um brilho especial, resultado de um cérebro que começa a estabelecer ligações entre os assuntos.

— Durante o dia a formiga age normalmente, até o cair da noite, quando os parasitas instalados no seu cérebro assumem o controle do inseto e o fazem sair do formigueiro, e subir em folhas de grama. Elas farão isso noite após noite, até serem devoradas...por uma vaca por exemplo.

— E o ciclo se encerra.

— Na verdade ele se reinicia Dana – Scully volta a olhar o microscópio e depois para Ethan.

— Mas esse não pode ser o mesmo parasita que controla a formiga.

— E na verdade não é propriamente o mesmo Dana.

— Como assim?

— Eu não sei como isso foi possível, mas nós estamos diante de uma versão geneticamente modificada do Dicrocoelium.

— Modificada com que propósito? – um breve silêncio se instala entre eles – para fazer com pessoas o que fazia com as formigas? Transformá-las em zumbis suicidas?

— Calma meu amor! Você anda se deixando influenciar demais pelas idéias do Spoock Mulder.

— Não o chame desse jeito Ethan, por favor.

— Oh desculpe! Não vamos ferir os sentimentos do seu parceiro.

— Vamos voltar ao que interessa, por favor.

— Tudo bem querida, desculpa vai – ele pega o relatório sobre as mortes – realmente a maneira como essas pessoas morreram faz pensar.

— O que você sabe sobre essa empresa em que Greg Morris trabalhava?

— A BIOTEC é uma das principais empresas do setor de biotecnologia. As pessoas falam de informática e Internet, mas o setor que vai dominar a economia no futuro é o das empresas como essa.

— Ela não poderia estar envolvida em pesquisas com armas biológicas?

— Já imagino o que se passa nessa cabeçinha linda, mas esse tipo de pesquisa é monitorada pelo governo por razões mais do que óbvias.

— Quer dizer que eles não poderiam modificar um parasita e usá-lo contra seres humanos sem o governo saber.

— É claro que não! E você não está pensando que o governo estaria envolvido numa coisa dessas não é?

— Por enquanto eu não tenho nenhuma teoria formada a esse respeito Ethan.

— Sinceramente Dana, eu estou começando a ficar preocupado com você.

— Não há razão para isso querido.

— Não mesmo? Quando começou a trabalhar com o Mulder você achava as idéias dele absurdas, mas agora está praticamente corroborando as suas teorias a respeito de grandes conspirações governamentais. Só falta agora você começar a acreditar em alienígenas.

— Ethan por favor – ambos vão para a outra sala onde tiram o traje protetor – veja o que mais você consegue descobrir a respeito desse parasita.

— E você?

— Vou voltar para Washington – ela dá um suave beijo em Ethan – nos vemos mais tarde.

SEDE DA BIOTEC

2:45 Pm

Mulder teve que esperar quase meia hora para finalmente ser atendido pelo chefe de Greg Morris na BIOTEC. Já estava quase usando a sua autoridade de agente do FBI para ser recebido quando finalmente uma secretária veio anunciar que Alfred Stiller iria recebe-lo. Ele entrou no luxuoso escritório onde um homem de meia idade o recebeu com uma clara má vontade.

— Espero que saiba que eu estou tendo que abrir mão de um compromisso para recebe-lo agente Mulder – o sujeito o convidou para sentar – e porque o FBI está investigando a morte do Greg se ela foi suicídio?

— Há alguns fatos a respeito da morte de seu subordinado que não ficaram bem esclarecidos Sr. Stiller.

— E que fatos seriam esses?

— Para começar ele não tinha motivos para cometer suicídio. Isso sem falar que logo depois, pessoas que lidaram com o corpo dele acabaram morrendo praticamente da mesma maneira.

— Algumas coincidências acontecem e vocês resolvem gastar o dinheiro de nossos impostos investigando um caso como esse?

— Em que tipo de pesquisa o Dr. Morris trabalhava ? – Mulder mal conseguia conter a sua irritação com aquele homem arrogante.

— Agente Mulder nós não podemos falar sobre as pesquisas que fazemos e correr o risco dessas informações caírem nas mãos de nossos concorrentes – o sorriso arrogante daquele homem estava começando a tirar Mulder do sério e o pior é que estava claro que não ia arrancar nada dele mesmo assim resolveu insistir.

— Por acaso o trabalho dele envolvia pesquisas com algum tipo de parasita? – ele fez a pergunta e fixou o olhar naquele homem tentando adivinhar a sua reação, mas ele permaneceu impassível.

— Eu acho que o Sr. não entendeu o que eu acabei de falar agente Mulder – o sorriso desapareceu do rosto e ficou apenas a hostilidade – não há possibilidade de eu falar sobre as pesquisas que fazemos aqui a menos que você tenha uma ordem judicial no seu bolso – o sorriso volta ao rosto mas permanece a hostilidade – e pelo que eu sei nem mesmo um caso concreto você tem, não deveria estar aqui e se estou recebendo-o é por uma boa vontade que já não tenho mais – Mulder percebe que não irá conseguir nada com aquele homem e se dá por vencido indo embora. Assim que ele sai Alfred Stiller liga para alguém.

— Um agente do FBI esteve aqui – ele faz uma pausa – o nome dele é esse mesmo mas...vocês garantiram que tudo estava sob controle – Stiller ouve a voz do outro lado e fica ainda mais irritado.

— Trate de se acalmar Stiller – o homem do outro lado da linha fuma um cigarro enquanto fala – afinal foi por culpa sua que essa história começou.

— Minha culpa? O Morris tentou fazer chantagem comigo, eu tive que me livrar dele ou o desgraçado ia contar aos diretores da empresa sobre a pesquisa não autorizada com o parasita.

— Se você tivesse nos procurado quando ele começou a causar problemas em vez tomar iniciativas para as quais não estava preparado, nada disso estaria acontecendo.

— Nós teríamos que testar o experimento com alguém não é mesmo?

— Isso seria feito no momento certo, e com os cuidados adequados, e não da maneira improvisada que você fez. Todos os problema que estamos tendo agora são sua responsabilidade – o homem dá uma nova tragada no cigarro – de agora em diante nós assumiremos a operação. Eu sempre soube que deixar um experimento tão importante a cargo de terceiros acabaria dando problemas.

— Vocês não vão me tirar da jogada – Stiller aumenta o tom de voz ao telefone – não esqueça que eu tenho o parasita comigo bem como os dados da pesquisa.

— Não tente brincar comigo Stiller.

— Eu não estou brincado meu caro. É a minha cabeça que está em jogo não a sua. Fui eu que banquei uma pesquisa não autorizada aqui dentro, e não vou aceitar ser colocado para escanteio depois de pôr o meu pescoço na guilhotina para ajudá-los a desenvolver esse “bichinho”.

— Você foi muito bem pago para arriscar o seu pescoço, não tem do que reclamar.

— Pois saiba que se houver uma investigação eu não vou servir de bode expiatório para ninguém.

— Você está seguindo o mesmo caminho do Dr. Morris meu caro, e pode acabar do mesmo jeito que ele.

— Não tenho medo de suas ameaças, e saiba que se algo me acontecer tudo o que foi feito aqui vai chegar ao conhecimento do público. Vocês não estão lidando com o idiota do Morris, por isso é melhor darem um jeito nessa situação e nada de querer me tirar da jogada.

Alfred Stiller desliga o telefone. Do outro lado da linha um homem faz o mesmo, enquanto apaga o cigarro num cinzeiro. Ele acende outro logo a seguir. Durante quase um minuto ele saboreia o seu cigarro, até pegar o telefone e fazer uma ligação internacional.

— Preciso que pegue o primeiro avião e venha para cá o mais rápido possível – ele ouve a voz do outro lado da linha e continua com uma expressão neutra no rosto – pouco importa o que você está fazendo aí, venha imediatamente, preciso que faça um serviço de limpeza para mim – ele desliga o telefone e volta a tragar o seu cigarro.

SEDE DO FBI

WASHINGTON DC

8:25 Am

Scully entrou na sala onde trabalha com Mulder com um expressão de felicidade no rosto. Como sempre fazia ela arrumou a bagunça na mesa do parceiro colocando nela a pasta com o relatório que Ethan havia feito sobre o parasita. Mulder entrou uns dez minutos depois, e não pôde deixar de notar o ar de felicidade no rosto da colega.

— Você está com uma cara de garotinha levada que fez uma grande travessura – ele disse.

— Que bobagem é essa Mulder? – ela ficou ligeiramente encabulada.

— Essa pasta na sua mão é o que?

— É a análise sobre o parasita que encontrei no cérebro daquele homem no necrotério.

— Como conseguiu que enviassem esse relatório tão cedo?

— Eu...hã – ela ficou estranhamente encabulada por ter de explicar para Mulder que vivia com o mesmo homem que escrevera o relatório – acho que você vai gostar de ler o que está aqui.

— Vou mesmo é? – ele leu o relatório e um sorriso surgiu no seu rosto.

— Um parasita geneticamente alterado de alguma forma foi parar no corpo de Jerry Crosby.

— O implantaram no cérebro dele Scully.

— Aí vem! – ela já sabia o que o brilho nos olhos dele indicavam, uma teoria mirabolante estava a caminho.

— A BIOTEC está desenvolvendo uma arma biológica, um parasita geneticamente modificado para transformar pessoas em zumbis, induzindo-as ao suicídio.

— Mulder calma! O fato de ter encontrado esse parasita no Dr. Crosby não quer dizer nada. Ele era um legista, e poderia ter se contaminado de várias outras formas.

— Nesse caso então você vai ter de examinar os corpos de Ben Ritter e Greg Morris. Se eles tiverem o parasita é sinal que as mortes estão interligadas entre si

— E o que alegaremos para fazer uma autopsia nos corpos de pessoas cujas mortes foram consideradas como tendo sido suicídios?

— Um possível caso de contaminação! Se eu estiver certo Scully esse parasita pulou de um corpo para outro e sabe Deus quem mais pode estar contaminado.

— Eu sei mas...

— Mesmo que não seja uma nova arma biológica ainda sim devemos saber como tudo isso começou.

— Está bem Mulder – ela suspira – eu vou ver se consigo uma ordem para desenterrar os corpos – ela já está de saída quando Mulder nota algo dentro da pasta.

— Scully venha cá – ela que já está na porta se volta para ver Mulder com um papel na mão.

— Que papel é esse?

— Um bilhetinho pra você – ele o entrega com um sorriso malicioso nos lábios.

— O que voc... – ela fica encabulada ao ler a nota carinhosa e um tanto picante que Ethan deixara perdida dentro das páginas do relatório. Ela guarda o bilhete e sai sem olhar para Mulder, que mal consegue conter um sorriso com a falta de jeito dela.

CEMITÉRIO MUNICIPAL DE WASHINGTON

5:45 Pm

Scully observa enquanto o cadáver de Ben Ritter é retirado de seu túmulo e colocado num carro funerário, que o levará a Quântico para ser autopsiado. Ela fala com Mulder ao telefone enquanto entra no carro.

— Eu vou acompanhar o furgão que está levando o corpo até Quântico Mulder, e você onde está?

— Andei verificando alguns dados a respeito de Greg Morris – ele fala no telefone enquanto mexe em seu computador – o Dr. Morris tinha o hábito nada saudável de jogar e estava devendo grandes quantias em dinheiro a uma gente muito perigosa.

— Acha que isso possa ter alguma coisa a ver com a morte dele? – ela falava ao telefone enquanto acompanhava o furgão na estrada.

— O pessoal pra quem ele devia dinheiro não parecem ser do tipo que usam métodos tão sofisticados para matar seus devedores parceira.

— Eu sei mas...

— A resposta está dentro da BIOTEC Scully, mas pra comprovar isso teremos que mostrar que o parasita está nos outros corpos também.

— Vai ser um problema Mulder, pois eu descobri que o corpo de Greg Morris foi cremado.

— Com ordem de quem?

— Parece que ele tinha deixado um documento declarando que queria ser cremado, autorizando alguém a cuidar de tudo.

— E quem seria essa pessoa?

— O chefe dele, Alfred Stiller – Mulder fica em silêncio como se fosse tomado por um pressentimento – Mulder você está aí?

— Scully eu vou pra Quântico, encontro você lá – ele desliga o telefone e sai apressado.

LABORATÓRIO DO FBI

QUANTICO , VIRGINIA

Scully encaminha-se para a sala onde está guardado o parasita e encontra Ethan com uma expressão bastante preocupada no rosto.

— O que houve Ethan?

— Eles levaram o parasita, Dana

— Eles quem?

— O pessoal da AFAE

— Mas o que a Agência Federal de Administração de Emergências está fazendo aqui?

— Eles assumiram Dana, e você sabe como funciona essas coisas; significa que eles vão levar o cadáver que você trouxe consigo.

— O que? – ela grita indignada – os desgraçados vão sumir com todas as provas.

— Não é bem assim Dana! Eles me disseram que a BIOTEC estava conduzindo experiências não autorizadas.

— É claro que estava e agora vão querer enterrar tudo.

— Pelo amor de Deus Dana você está falando igual ao seu parceiro.

— Quem está no comando dessa operação?

— É uma mulher, mas eu não sei o nome dela – Scully sai correndo desesperadamente até onde está o cadáver de Ben Ritter – Dana onde você vai.

O corpo de Ben Ritter está dentro de um equipamento especial e é colocado num furgão quando Scully chega.

— Esperem! Vocês não podem levar esse corpo.

— Você por acaso é a agente Dana Scully? – o soldado olha em uma prancheta.

— Sou sim!

— Vai ter que ser examinada junto das outras pessoas que retiraram esse corpo do túmulo.

— Do que está falando?

— Ele está falando de uma operação feita sem o menor cuidado e de uma maneira muito irresponsável – a mulher na frente de Scully olhou-a de cima a baixo como se a analisasse e a impressão dela não parecia ser das melhores.

— Quem é você?

— O meu nome não interessa – dirige-se ao soldado – escolte a agente Scully até o local onde ela será examinada – o soldado segura Scully de uma maneira nada gentil.

— Venha comigo moça.

— Me largue seu brutamontes, quem você pensa que é? – Ethan chega na hora e intervém.

— O que está acontecendo aqui? Quer fazer o favor de larga-la cara.

— É melhor não interferir Dr. – a mulher dizia com firmeza – nós apenas queremos garantir que a agente Scully não esteja contaminada por um perigoso parasita – a mulher entra no carro e vai embora quase no mesmo instante que Mulder chega, mas sem conseguir vê-la.

— O que está acontecendo aqui? – Mulder se mete no meio da confusão a ajuda Ethan a tirar Scully das mãos do soldado que aponta o rifle para eles. Mulder e Scully sacam suas armas, mas são obrigados a abaixá-las quando se vêem cercados por vários outros soldados armados.

— Vocês dois estão presos, e você agente Scully será encaminhada para descontaminação – o oficial dá as ordens, e enquanto Mulder e Ethan são levados para um lado Scully é conduzida para outro local.

SEDE DA BIOTEC

9:54 Pm

O prédio já estava totalmente vazio e apenas no escritório de Alfred Stiller a luz estava acesa. Ele arrumava sua mesa e em seu rosto via-se uma expressão bastante assustada, que nem de longe lembrava o sujeito arrogante que normalmente era. Em seu computador via-se um vírus que apagava todos os dados existentes enquanto ele pegava um disquete com todos as informações a respeito do parasita desenvolvido pela BIOTEC. Stiller olhava para ele com enorme ansiedade. Ele pegou a sua pasta e dirigiu-se a porta, mas quando estava no meio do caminho, a mesma porta para qual estava se dirigindo abriu-se bruscamente e duas pessoas entraram. Era um homem de meia idade fumando um cigarro, acompanhado de uma mulher morena, ela estava armada

— Onde pensa que vai Sr. Stiller? – o Canceroso tinha uma tranqüilidade assustadora.

— Quem é você?

— Sou aquele pra quem você vendeu sua alma.

— Acha mesmo que pode me assustar com essa história? – ele mostra o disquete – toda a pesquisa está aqui, mas se algo me acontecer eu tenho como denunciar vocês.

— Está falando das gravações telefônicas que fez com as nossas conversas Sr Stiller? Ou será do dossiê com todas as informações a respeito da pesquisa que autorizou sem o conhecimento de seus chefes? – Stiller ficou lívido e nesse momento percebeu que estava perdido – acha que não sei como homens como você agem? – vira-se para a mulher do seu lado – mate-o e pegue o disquete – ela mira na cabeça de Stiller e atira. Num ato de puro reflexo ele põe a mão na frente de sua testa. A bala atravessa o disquete, bem como a mão dele, até alojar-se no seu cérebro. A morte foi imediata.

— Mas que droga – a mulher constata a destruição do disquete, o Canceroso aproxima-se dela.

— Isso não estava nos planos – apesar do imprevisto ele mantêm uma aparente tranqüilidade.

— Talvez possamos recuperar o que havia no computador.

— Duvido muito minha cara – ele dá uma nova tragada – pelo menos temos o parasita que a agente Scully retirou do corpo daquele legista. O outro Stiller já deve ter destruído.

— O que faço com ele? – ela olhou com desprezo para o corpo sem vida de Stiller.

— Siga o procedimento habitual e prepare o cenário de um suicídio – ele segue em direção a porta – espero você no carro, não demore.

SEDE DO FBI

WASHINGTON DC

DIA SEGUINTE

Mulder chega no escritório e encontra Scully arrumando a mesa. Ele lembra da primeira vez que a viu fazendo isso, e de como ficou zangado por vê-la mexendo em suas coisas. Mas agora essa mesma visão lhe é muito reconfortante. Uma sensação agradável de estar sendo cuidado por alguém, algo a que não está muito acostumado. Na noite anterior ele havia ligado para ela tentando saber como estava depois de ter sido levada para ser “descontaminada” e acabou tendo uma conversa desagradável com Ethan. Em pouco mais de um mês que estão trabalhando juntos ele sempre evitou qualquer contato mais pessoal com sua parceira, até para evitar se apegar. Não foi por acaso que só ontem descobriu que havia alguém na sua vida, descortinando, para ele, um lado dela que não conhecia. Ele fechou a porta com força, chamando-lhe a atenção.

— Olá Mulder – ela parou a arrumação e ficou a encará-lo – está tudo bem com você? Não consegui falar contigo depois do incidente em Quântico.

— Eu é que pergunto – ele senta-se na cadeira e ela faz o mesmo – só fui liberado tarde da noite e quando liguei pro seu apartamento o seu marido não ficou muito feliz em ouvir a minha voz.

— Ele não é meu marido, nós...vivemos juntos mas...

— Tudo bem, isso não é da minha conta.

— Oh claro! – ela abaixa a cabeça enquanto mais um daqueles silêncios opressivos baixa entre os dois.

— Eu acho que nós dois precisamos conversar, Scully.

— Como assim?

— É que estamos trabalhando juntos a mais de um mês e...sei lá.

— Você não consegue confiar em mim não é? Acha que eu só estou aqui para sabotar o seu trabalho – ela abaixa a cabeça de novo. Ele delicadamente põe a mão no queixo dela e ficam se olhando

— É incrível, mas tudo o que vejo nos seus olhos é uma imensa honestidade – ela se afasta dele, um pouco constrangida.

— Eu gostaria de ganhar a sua confiança Mulder, só não espere que eu diga amém pra todas as suas teorias.

— Outra noite eu estava em casa e lembrei das muitas discussões que já tivemos nesse tempo em que temos trabalhado juntos e me surpreendi dando umas boas risadas.

— O que quer dizer com isso?

— Quero dizer que estou gostando muito de trabalhar com você – ela sorri e ele também, mas o sorriso dele logo desvaneceu quando atirou na mesa o jornal que trouxe consigo – o problema são as pessoas que te colocaram aqui dentro.

— O que quer dizer? – ela pegou o jornal e começou a ler a notícia a respeito da morte de Alfred Stiller, que teria se matado com um tiro – aqui diz que ele estava usando o departamento de pesquisa da BIOTEC para desenvolver uma arma biológica e que estaria negociando com grupos terroristas.

— Eles estão apagando todas as evidências e usando Stiller como bode expiatório – Mulder começa a andar pelo escritório visivelmente irritado – eles mataram Stiller e fizeram parecer suicídio. Sumiram com os corpos e com o parasita que você encontrou.

— Eu posso examinar o corpo de Stiller, se ele tiver sido assassinado eu posso descobrir.

— Leia o obituário dele – ela assim o faz e descobre que Stiller iria ser cremado daqui a uma hora – alguém já fez a autopsia e declarou que foi suicídio.

— Deixa ver se eu adivinho, ele também tinha deixado um documento dizendo que queria ser cremado.

— As pessoas na BIOTEC parecem levar a sério aquele conceito bíblico de “voltar ao pó”.

— Você acha que os homens que me escolheram como sua parceira foram responsáveis por tudo isso Mulder?

— Foram elas Scully, eu sei que você não acredita, mas foram elas. Eu quero confiar em você. Na verdade eu preciso confiar em alguém, e você parece ser a pessoa certa mas...

— Não tenho nada haver com essas pessoas Mulder, jamais encobria fatos tão graves, e muito menos mataria alguém para isso.

— Eu quero acreditar – ele disse.

— Onde será que eu já li isso? – eles sorriem e tratam de se acomodar enquanto se preparam para mais um dia de trabalho duro.

LOCAL DESCONHECIDO

11:35 Am

O Canceroso está reunido com dois outros homens de meia idade que não parecem muitos contentes com a situação. A mulher que matou Stiller está com eles.

— Toda essa situação foi muito desagradável – diz um dos anciões.

— Não sei porque já que tudo foi resolvido sem problemas – o Canceroso continuava fumando.

— E o que o FBI fazia nessa história? – pergunta o outro ancião.

— Apenas uma investigação não autorizada e que vai terminar por absoluta falta de evidências.

— A morte de Stiller me pareceu desnecessária.

— Desnecessário foi vocês terem envolvido esse sujeito e a BIOTEC nessa história.

— Esse experimento não estava diretamente ligado ao seu trabalho – o Canceroso volta a dar uma tragada no cigarro.

— Pois saibam que de agora em diante eu mesmo vou supervisionar o experimento – os dois homens saem e a mulher, que se mantinha calada, resolveu se manifestar.

— O que devo fazer agora?

— Você volta paro seu antigo posto, pois seus serviços aqui não são mais necessários.

— E quanto ao Fox...o agente Mulder?

— Ele já está sendo devidamente controlado.

— Você está falando daquela ruiva anã? Eu poderia fazer esse trabalho muito melhor do que ela.

— Ciúmes minha cara? Quem disse que você está autorizada a ter esse tipo de sentimento?

— Não é nada disso eu...

— Já tem um avião esperando por você – ele foi bem incisivo – agora suma da minha frente.

Pela primeira vez o Canceroso falou num tom de voz mais alto. Ela tinha consciência de que era uma péssima idéia irritá-lo e tratou de obedecer, saindo rapidamente e deixando-o sozinho. Ele terminou de fumar o seu cigarro e abriu uma gaveta de onde tirou um recipiente, o mesmo onde haviam sido guardados os parasitas recolhidos por Scully no corpo de Jerry Crosby. O homem fumava, enquanto ficou admirando o recipiente. Um sorriso sem vida surgiu em seus lábios.

FIM


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Notas finais do capítulo

Espero que quem leu tenha gostado da história.