Anna Prior - Em Busca de um Passado Esquecido escrita por Isa Medeiros


Capítulo 28
Capítulo 27 - A última conversa. O último beijo. E a última mentira.


Notas iniciais do capítulo

Volteeeeeeeeeei!!!!
Primeiramente eu queria pedir desculpas para que não teve o seu último comentário respondido: acontece que eu tentei responder, escrevi um texto gigante e o Nyah fez o favor de bugar na hora de enviar, duas vezes!
Enfim, assim que eu tiver vontade eu tento de novo!
Queria agradecer a Smiling Cat, que deixou váááários comentários divos, uma recomentação S2 melhor ainda e me envio aquela fanart perfeita!!!!!!!
Boa Leitura gente e eu espero que gostem!!!



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Me encostei na parede fria do elevador e fechei os olhos. Meu coração batia acelerado e nervoso. Eu tinha que pensar. Eu tinha que ter um plano. Uma simples estratégia que acalmasse minha mente inquieta, que me desse confiança para uma “missão” arriscada como essa.

Mas não havia nenhum plano. Nada mágico que fizesse aquilo parecer mais fácil. Na verdade era simples: Correr, atirar e destruir.

O risco era apenas um detalhe.

Correr, atirar e destruir. Eu tinha que proteger todas aquelas pessoas.

Correr, atirar e destruir. “Seja corajosa Anna”.

Correr, atirar e destruir. Eu vou ser.

– Julia não pode ir com nós – abri os olhos, FZ parecia alarmado, sua voz estava preocupada e seus olhos me diziam de forma clara “Não faça nenhuma bobagem”. Mordi o lábio, bobagem ou não, eu já havia decidido. Apertei o botão que levava ao aeroporto.

– Nós? Desde quando você vai junto comigo? – respondi a FZ enquanto o zunido do elevador descendo encheu o ar. Percebi, segundos depois, que o meu tom pareceu zombeteiro, por isso consertei rapidamente. – Julia não pode ficar sozinha, não é mesmo?

Vi a menina abrindo a boca para dizer algo como “Posso sim”, mas logo a fechou, entendendo que era melhor ficar quieta. FZ já estava balançando a cabeça. Olhei para o visor, a sensação estranha em meu estômago aumentava cada vez mais.

– Claro que não – FZ disse cruzando os braços, teimoso. Revirei os olhos enquanto ele completava, chegando perto de mim. – Se não posso ir junto com você, vou no seu lugar.

– De jeito nenhum – bati o pé, tentando não gritar. Não mesmo, ele não iria. Cruzei os braços no mesmo instante em que o elevador parou no andar o aeroporto. Eu iria, apenas e eu.

FZ suspirou, me olhando de forme repreensiva, devolvi o olhar com a mesma intensidade. Coloquei a mochila para frente, saquei a arma e, olhando para ela, comentei:

– Acho melhor leva-la, não quero disparar as balas pelo nariz.

Ninguém riu. FZ descruzou os braços e foi chegando perto de mim, perto de mais. Mas aquele seu olhar permanecia cravado em meus olhos.

– Eu não posso te impedir, não é mesmo? – perguntou. Comprimi os lábios, ele não podia. Cravei as unhas em minha palma e olhei em seis olhos.

– Não – foi tudo que eu pude dizer. FZ estava cada vez mais perto. Logo, sem que eu me desse conta, suas mãos estavam em minha cintura, porém de um jeito mais reservado, como se faz quando sua irmã está por perto. O segurei pelos ombros, querendo puxa-lo só para mim.

– Me promete que volta – FZ pediu, com os olhos brilhando. Meu coração latejou. Ele estava tão perto. Ele se importava tanto. Eu não podia dizer não. Mas também não podia mentir.

– Não posso – sussurrei. Estávamos tão perto um do outro que eu me perguntei o que aconteceria se alguém nos descobrisse, ou o que Julia estava pensando. Mas eu não me importava. Eu só queria a sua boca na minha. Pela, talvez, última vez.

– Me promete que vai tentar – FZ estava tão perto que eu conseguia sentir o seu bafo de barrinha de cereal e chiclete de hortelã. Sua respiração estava sincronizada com a minha e, naquele momento, tudo o que eu queria era permanecer em seus braços. Mas eu não podia. – Por mim Anna, por mim.

Colei a minha boca na sua. Em um movimento único e sincronizado. Senti seus lábios relaxarem nos meus enquanto aproveitávamos nossos últimos segundos juntos. Aquele beijo perfeito e sem muita língua. No qual dizíamos um ao outro: “Eu te amo” “Não me deixe” e “Até mais”.

Julia fingindo que vomitava me trouxe de volta a realidade. Nos distanciamos centímetros enquanto ela reclamava. Eu tentei, mas não conseguia sair de perto dele. Depois de mais alguns segundos fitando seus olhos de chocolate e tomei coragem para sussurrar, com a voz mais confiante que encontrei.

– Prometo.

***

O subsolo era como um labirinto. Cheio de corredores de concreto que escondiam salas enormes e mais corredores. Assim que eu saí do elevador, comecei a correr. Prendi a mão na arma presa ao meu short e deixei que as minhas pernas me guiassem até o grande pátio com aviões.

Minha mente girava e eu fazia de tudo para não reviver a minha conversa com FZ. A última conversa. O nosso beijo. O último beijo. E a minha promessa. A última mentira.

Senti uma lágrima correndo pela minha bochecha direita. Sequei-a rapidamente com o dorso da mão, balançando a cabeça e aumentando o ritmo da corrida, tentando que minhas pernas se ocupassem.

Cerrei os olhos. Não, eu não podia pensar em FZ de novo. Meu único problema era que ele não pedia permissão para invadir a minha mente. E, quando eu menos queria, os últimos dias que vivemos passaram bem na frente dos meus olhos.

Desde a ideia maluca que Evelyn havia me dado. Desde que eu decidi embarcar nessa jornada sem sentido em busca do passado da minha mãe. Desde que ele me beijou e decidiu ir comigo. Desde que eu fugi de casa no meio da noite. Desde a tirolesa.

Faziam apenas três dias. Foi anteontem. Agora, parecia uma eternidade. Mas faziam apenas três dias. Há três dias eu não via meu pai. Há três dias ele estava preocupado, provavelmente tentando me encontrar e imaginando as piores possiblidades. E só faziam três dias.

O que será que ele pensou quando percebeu que eu fugi? Quando viu minha cama desfeita e se deu conta que seu pesadelo tinha se tornado real? Pensei em sua agonia e o remorso fervilhou em meu estômago, me consumindo de dentro para fora.

Será que eu não deveria ter vindo? Vindo e causado toda essa confusão? Pensando de um jeito heroico, se eu não estivesse aqui, o bombardeamento teria passado despercebido. Eu nunca teria descoberto nenhuma centelha da história da minha mão. Eu e FZ nunca...

Balancei a cabeça. Não, de novo não. Minhas coxas doíam de tanto correr por aquele labirinto cinza sem fim. Meu tornozelo voltou a me atrapalhar, minha mochila estava pesando e eu tive que diminuir a velocidade para uma caminhada rápida.

Funguei. Espere. Eu estava chorando? Passei as mãos pelo meu rosto e vi que ele estava inchado e com as bochechas molhadas. Solucei, sem poder me conter. Meus olhos marejados ameaçavam derramar meu coração sobre as bochechas.

Era muita coisa para engolir. Primeiro o desespero para saber mais sobre o passado da minha mãe. Depois tudo sobre essa aventura, toda a emoção que envolvia caminhos desconhecidos e lugares estranhos. Então FZ resolveu entrar no meio e balançar meu coração como nunca haviam feito antes. Meu pai devia estar mais preocupado do que nunca. E agora esse bombardeamento desesperador.

De repente, sem me dar conta, eu estava soluçando desesperadamente, como uma criança. Meu corpo não se coordenava direito e minha visão estava turva por causa das lágrimas acumuladas.

Parei, me apoiando em uma parede cinza para não cair. Era como se o meu coração estivesse sendo espremido. Minha dor não era física, mas eu não conseguia controla-la. O chão girava sob meus pés.

“Seja corajosa Anna”. Respirei fundo e sequei o rosto na barra da camiseta. Eu não podia ser fraca daquele jeito. Eu tinha que continuar. Retomei o ritmo para uma corrida leve, tentando não chorar e seguir as placas.

Mas era difícil não deixar que os meus olhos derramassem minha agonia. Era difícil não pensar em minha própria morte. Eu podia morrer naquele exato dia, dali a poucas horas. Aquilo não era motivo o suficiente para chorar?

Ser otimista era impossível. Sim, algum milagre podia acontecer, mas eu duvidava muito. E estava escrito, em letras grandes no terminal, “Soro da morte”. Pensei em todas as pessoas que me amavam: eu não queria deixa-las. Principalmente meu pai.

Meu coração apertou naquele momento. O que meu pai faria depois de perder, além de seu amor, sua própria filha? Quase desisti por causa disso, mas uma vozinha interior me lembrou que, se eu não fizesse aquilo, todos seriamos mortos.

Os últimos corredores pelos quais passei, já com as pernas moles e o rosto molhado de suor, foram iguais. Cheios de lembranças por trás de meus olhos molhados. Eram como os corredores eu me separavam da morte. Parecia que a angústia estava me sufocando.

No final de um deles, havia uma grande placa, na qual se lia “Aeroporto” com uma grande seta apontando para frente. Respirei fundo. Aquele era o último corredor acinzentado. Quem sabe o que poderia acontecer por trás daquela grande porta de vidro?

Por trás do vidro cristalino, podia-se ver um pátio imenso. Vários aviões estacionados em ambos os lados da pista de voo exibiam uma coleção impressionante. Corri até a porta trancada e suspirei.

Ela tinha uma moldura branca e um vidro cristalino. A tranca era evidente e firme, sei disso porque tentei quebra-la. Um pequeno painel estava na a parede, a cerca de vinte centímetros da porta. Ela era transparente, com os números de um a nove em preto nas teclas brancas e novas. O visor pedia quatro dígitos. Uma senha. Merda.

Não custava tentar, não é mesmo? Suspirei enquanto meus dedos trêmulos apertavam zero, cinco, um, um. Meu aniversário. Assim que meu indicador esquerdo largou o último um, uma sirene ensurdecedora ecoou nos corredores e luzes vermelhas começaram a piscar para todos os lados.

Eu não pensei. Atirei no visor. Chutei o vidro, fazendo com que ele se estilhaçasse em mil pedacinhos cintilantes. Eu podia sentir o tempo correndo, meu coração batendo e meus instintos se aflorando.

Passei abaixada pelo buraco na porta. Não pude evitar que alguns cacos de vidro me cortassem, mas eu não me importei com o sangue saindo de pequenos pontos do meu corpo. Assim que entrei no aeroporto, meus olhos o consumiram.

Apesar de várias fileiras imensas de aviões e uma pista e voo maior ainda, consegui localizar uma painel com o triplo do tamanho do primeiro na parede do outro extremo do aeroporto. Corri o mais rápido que pude, já com a arma engatilhada.

Eu não tinha dado dez passos quando senti uma mão firme me puxando meu braço. Instintivamente, dei uma cotovelada no nariz de quem havia me segurado. Ouvi um gemido e voltei a correr.

Mais dois pares de mãos me seguraram pelos braços e um terceiro, pela cintura. Me debati, mas foi inútil. Tudo que pude fazer foi esconder minha arma no casaco antes que um punho firme atingisse meu queixo.

Cuspi sangue e voltei a lutar enquanto eu sentia mais mãos segurando meus ombros. Então uma picada aguda em meu pescoço, senti um líquido sendo empurrado através de minhas veias.

Tudo começou a ficar preto depois de alguns instantes, mas, antes de me entregar, pude ouvir uma voz masculina dizendo em um tom de zombaria e consideração:

– Vamos ver se ela é tão corajosa quando a mãe, não é mesmo?


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam????
Aí vai um pedacinho do cap 28 (que é bem grande na verdade):
"Pulei.
A princípio senti só o vento. De todos os lados do meu corpo. Me consumindo. Me levando. Então o zumbido em meus ouvidos se intensificou e eu tive consciência do meu corpo caindo. O que eu fiz?
“Não é real” eu repetia para mim mesma. Mas o chão estava tão perto. “Não é real”. Mas e se for? “Não é real”. Não. Mas o medo é.
Aquela queda pareceu durar anos. Anos de agonia remoída em um coração desesperado. Eu estava caindo? E o chão? O que aconteceria? Eu só podia sentir o vento. Tão leve em contraste com o meu corpo pesado rasgando o ar."
Beijos a até os comentários!!!!



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