Folha na tempestade.

Levi tinha olhos frios como uma tempestade cinzenta, cerrados em uma seriedade perpétua e vagamente calma. Eles pareciam vazios na mesma medida que eram extraordinários, e por muitas vezes Eren se pegava encarando-os discretamente, sem jamais ser encarado de volta.

Era um extraordinário homem de olhar cor de chumbo. Ele pensou, e por um instante mínimo — mínimo o suficiente para não existir —, sorriu. Levi Heichou era extraordinário.

X

O vento forte ricocheteava as paredes de tijolos de mármore, e ele podia escutar o farfalhar das folhas batendo na janela e as gotas d’água se desfalecendo ao chão. A frieza da madrugada lhe abraçava penosamente, mas de alguma forma — estupidamente inevitável — estava quente, numa ardência agradável que tamborilava no peito em sintonia. Pensava na tempestade.

(Em no quão profundamente dolorosa e tola ela conseguia soar)

X

Frio como inverno e cinza como uma tempestade mórbida. Era assim que Levi era em qualquer dia — e aquele estava claro e quente, em tons de amarelo, como poucos dias bons conseguiam ser. Eren era quente como o verão e verde como uma esmeralda opaca — apenas em dias sem tons de camurça, que eram tão raros quanto um sorriso de Levi.

— Pare de se distrair, moleque!

O peito de Eren oscilou em calor e adrenalina e um sorriso precipitou-se no rosto por uma linha torta e confortante.

A ardência, antes desconhecida, fez sentido por um breve — e suficiente — instante.

X

Eren apaixonou-se como uma folha de outono — daquelas que caem em silêncio e planam gradativamente pela tempestade.