Alby e Newt correram até Gally que se debatia furiosamente no chão urrando de dor. Seus olhos se arregalavam olhando tudo a sua volta. Os meninos levaram ele para a Sede subindo uma escada fugindo do meu campo de visão.

–O que foi isso?- Eu perguntei apavorada.

–Ele foi picado. - Minho me respondeu. – Picado por um verdugo.

No dia seguinte o clima ainda estava tenso pelo ocorrido. Todos se encontravam mais ou menos juntos fazendo seu respectivo trabalho. Minho, Ben e os outros corredores já tinham entrado no labirinto. Caçarola estava na cozinha com os outros. Minho havia pedido a todo custo para eu tomar cuidado depois do ocorrido, como eu sabia tão pouco o melhor que eu podia fazer era continuar no trabalho com Zart. Eu não estava sendo tão útil no jardim, mas uma vez ou outra eu ia pegar adubo para ele, mas na maior parte do tempo eu estava colhendo os frutos.

Alby e Newt não tinham aparecido o dia todo. Já estava na hora do almoço e nada deles. Juntei-me a Caçarola na cozinha.

–Posso fazer uma pergunta?

–Não estou tão a parte disso tudo mas sim, se eu souber responder.

–O que esta acontecendo com ele? Quero dizer, eu sei que ele foi picado mas, o que isso significa? Porque ele esta trancado lá?

–Ele esta passando pela transformação. É horrível sabe, ninguém ficou normal depois da transformação.

–Por quê?

–Porque eles se lembram.

–Eles se lembram?- Perguntei abismada.

–Sim.

–Eles se lembram do que?

–Ninguém sabe. Eles nunca falam, deve ser coisas horríveis.

Dei uma mordida no meu sanduiche quando vi Newt e Alby saírem da Sede . Todos se calaram rapidamente apenas aguardando suas palavras. Suas expressões eram de puro cansaço. Eles se sentaram em silencio na mesa.

O silencio que se estendia pelo local era capaz de cortar qualquer coisa capaz de interrompe-lo.

–Acabou. – Foi a única coisa que eles falaram.

*

Me perguntava como Gally havia sido picado. Ele nem corredor é pra entrar no labirinto. Minha estava do meu lado na Clareira quando resolvi perguntar.

–Minho. – Falei receosa.

–Sim.

–Como Gally foi picado? Ele entrou no labirinto? Achava que não podíamos entrar no labirinto.

–E vocês não podem. Ele quebrou a primeira regra, vamos decidir depois o que fazer com ele.

–A sim.

Novamente o silencio se instalou.

–Lisa? – Ele me chamou.

– Posso te chamar de Lisa? – Ele disse rindo.

–Claro. - Respondi rindo também.

Ele fechou a cara.

–Não fique com Gally. Ele foi picado, não sabemos do que ele é capaz de fazer, ok?

–Ok.

–Só... só fique segura.

*

Ninguém falava mais de Gally, os garotos estavam espalhados pela Sede, alguns sentados na grama da Clareira, e eu me encontrava no Campo Santo. Estava em uma árvore tentando pensar. O que de tão horrível eles devem lembrar para eles nem quererem tocar no assunto?

Um barulho no mato me fez despertar. Deve ser um bicho. O barulho continuou me fazendo descer da árvore para procurar sua origem. Ele vinha de trás de uma moita. Mas não era um bicho que estava ali. Era Gally.

Ele saltou de trás da moita me acertando um soco na cara me fazendo ir para o chão. O sangue escoria pela minha testa quando um chute acertou meu estomago.

–Como você ainda tem coragem de falar com eles? – Ele disse rindo piscoticamente.

Tentei desviar de mais um chute sem muito sucesso.

Lagrimas se formavam pela dor. Meus gritos saiam abafados pela grama. Tente levantar mas um soco me devolveu ao chão. Um outro filete de sangue começava a escorrer na minha testa.

Se concentre

Corra

Não pare de correr

Esperei ele tomar distancia para iniciar um novo chute e me levantei . Devido aos vários hematomas eu corria devagar, estava quase na Clareira para chamar a atenção dos garotos.

Gally me alcançava sem dificuldade. Ele estava bem, ao contrario de mim, sangrando e com vários hematomas.

Ele me puxou pelo cabelo fazendo ficar suspensa no ar a uns 15 centímetros. Soltei um grito tentando chamar atenção. Não foi alto o suficiente.

Consegui acertar um chute nele, me soltou pela surpresa do chute.

Me arrastei para o lado não conseguindo desviando de um chute que vinha em direção ao meu rosto. Tudo estava borrado.

Vamos Elisabeth

Quase lá

Me levantei cambaleando voltando a correr. 3 metros. 2 metros. 1 metro.

A grama da Clareira nunca me pareceu tão boa antes, soltei um suspiro de alivio. Por pouco tempo. Gally me acertou com um soco nas minhas costas. Soltei um grito esganiçado fazendo todos olharem para mim.

Ótimo.

Eles olhavam pra mim assustados. Minha boca sangrava, o gosto de sangue me dava anciã de vomito. Ouvi Gally atrás de mim me dando um chute nas costas, mas nada mais parecia real. Cuspi uma boa quantidade de sangue.

Ouvi berros dos garotos vindo em nossa direção. Vi alguém se jogando em cima de Gally antes que ele pudesse me acertar mais um chute. Acho que era Alby.

–Vocês não entendem! – Ele gritava. – Ela é uma deles. Ela não trabalha com eles. Ela é uma deles!

Três garotos o arrastavam jogando-o no amansador.

Minha audição também estava prejudicada, a distancia ouvi alguém chamar meu nome. Olhei para cima e vi Newt ajoelhado ao meu lado apavorado berrando meu nome, mas eu não o escutava bem, como se uma parede de água nos separasse. Tudo começava a ficar preto. A ultima coisa que vi foi o rosto de Newt esculpido pelo próprio terror, lia meu nome em seus lábios antes de tudo cair na escuridão.