Ele se senta ao lado dela todos os dias, leva um copo de café e fica observando. Não diz uma palavra sequer, ele só observa. Ela sabe que está sendo observada, mas parece não ligar, pois não levanta os olhos dos relatórios em sua mesa. Então ele continua a observá-la.

O jeito como ela contorce os lábios quando está pensando muito, o jeito que ela corre os dedos pelo cabelo longo e escuro, o jeito de como seus olhos se apertam quando ela descobre algo, no meio de palavras... Ela já percebeu os olhares, mas ainda não conseguiu juntar a coragem para repreendê-lo; há muito ela deseja conversar com ele sobre isso, mas as palavras ficam presas em sua garganta sempre que tenta.

- Precisa de alguma coisa, Castle? – ela perguntou, com um tom um pouco mais grosso do que pretendia.

“Merda! Ela me viu! Não achei que estava sendo tão óbvio… mas, bem, acho que esse é um dos pontos que sempre amei nela, a percepção!”

- Não, não preciso não. Desculpe por atrapalhar você… hum, continue o que estava fazendo – respondeu ele. Kate mexeu o pescoço de um lado para o outro e voltou a se concentrar na papelada à sua frente.

Porém, antes mesmo de conseguir se concentrar novamente no que fazia antes, ela ergueu o indicador, sem ao menos tirar os olhos do papel e o repreendeu:

- Se você continuar me olhando, Castle, eu juro que vou machucá-lo – com a ameaça saindo de seus lábios, ele desviou o olhar para seus próprios dedos, entrelaçados sobre as pernas; ele fingiu estar olhando para as policiais de plantão, mas todo mundo conseguia perceber exatamente para onde os olhos dele estavam indo.

Ele, ainda assim, dava aquelas “olhadinhas” nela. Era impossível não olhar, e ele simplesmente não conseguia evitar… a beleza dela! A pele brilhante e os olhos cor de esmeraldas que poderiam deixar qualquer homem insano, e o mais importante: ele está apaixonadíssimo. Ah, como está! E como ele deseja falar isso para ela! Ele queria mesmo contar, mas nunca conseguiu criar a coragem suficiente para fazê-lo.

“Deus! Coloque-se de volta no lugar e diga a ela! Deixe de ser um covarde e diga a ela!”

- Hum, Kate? – ele chamou, com a timidez evidente no tom de voz vacilante.

- Sim, Castle? – ela murmurou, ainda sem levantar os olhos do papel.

Toda a coragem que ele reunira estava se esvaindo aos poucos e ele já não se sentia mais capaz de contar a ela como se sentia… as palavras ficaram presas na garganta mais uma vez e ele já não sabia se seria capaz de engoli-las. Então, formulou outras frases – a habilidade com as palavras tinha de vir a calhar em alguma hora, não?

- Você está muito bonita hoje – ele gaguejou, desviando o olhar para a sala de descanso onde Ryan e Esposito jogavam conversa fora; ele pensou seriamente em se juntar aos dois.

Lentamente e sem que ele percebesse, ela levantou os olhos do papel e sorriu para ele, mordendo o lábio inferior sem deixar, em momento algum, que ele a visse daquela forma: acanhada e contente por receber um simples e pequeno elogio.

- Obrigada, Castle.

Voltando a observá-la, ele soube que ainda não era a hora para contar a ela como se sentia; ainda tinham que viver muita coisa juntos até que ela percebesse sozinha. Ele não podia admitir ainda, mas um dia, teria que fazê-lo e se sentiria pronto para tal ato; ele sabia disso. Um dia, ele conseguiria cuspir aquelas palavras que causavam insônia e pavor no escritor. Tudo isso era apenas uma questão de tempo.

Um dia, ele diria a ela e seu sentimento seria correspondido. Um dia, ele diria a ela e a ganharia e, com estes pensamentos, ele se pôs de pé, determinado a deixá-la terminar o serviço burocrático, mas com aquelas três palavrinhas martelando em sua cabeça, determinando o ritmo dos batimentos de seu coração.