Surreal - Art and Insanity escrita por Jess


Capítulo 72
Capítulo 72 - Eu sei quem você é


Notas iniciais do capítulo

Olá,
Mil desculpas pelo atraso, desculpe MESMO.



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Alguns dias se passaram, Doutora Fisher havia conseguido boa parte do que haviam lhe pedido, e eu estava prestes a conseguir o que havia planejado, mas sentia que naquele momento seria preciso muita cautela.

Fui acordado naquela manhã por um dos enfermeiros, o que não é uma das melhores formas de se acordar.

Normalmente não preciso ser acordado e isso economiza muito tempo, tanto dos enfermeiros quanto meu. Mas na noite anterior, quando todas as luzes se apagaram como uma ordem para que todos dormissem, deitei-me, fechei os olhos e pensei em tudo que seria feito. Entretanto não fui tão bem sucedido quanto desejava, pois apenas uma coisa não saia da minha cabeça... O que eu faria quando conseguisse sair dali?

Posso parecer precipitado ao pensar nisso, mas tenho a certeza de que sairei desse lugar, ela não se baseia em fé ou em esperança e sim em fatos, na lógica e em meus planos.

No horário de meu café da manhã o mesmo enfermeiro informou-me de que não receberia minha refeição no quarto, que teria que ir para o refeitório, onde todos os outros estariam.Questionei a tomada dessa medida e ele disse que foram ordens da direção.

Pensei em permanecer no quarto, mas previ que eles não me deixariam ficar sem alimentação ou qualquer outra coisa que fizesse qualquer um pensar que eu não estava recebendo os devidos cuidados pelos quais meus pais provavelmente estavam pagando.

Fui rapidamente para meu banheiro reservado, mais uma das privilégios e o fato de eu ser semi-imputável, pois isso quer dizer que não sou agressivo ou tenho tendências suicidas.

Por fim, fui levado até o refeitório. Não me lembro de alguma vez ter precisado comer ali, na companhia de todas aquelas pessoas. Provavelmente se já tivesse feito aquilo iria lembrar-me, seria difícil esquecer todas aquelas caras, aquelas pessoas que eram apenas esboços, não tinham cor ou vida.

Haviam policiais armados e enfermeiros em pontos estratégicos, alguns tinham olhares concentrados, outros pareciam um pouco apreensivos e um ou outro tinha aquele ar de quem espera ser atacado a qualquer momento, algo como estar pronto para nocautear alguém

Continuo caminhando, tentando não tocar em ninguém e não olhar diretamente para ninguém. Já tinha visto de longe como eram os olhos de todos ali; eram fundos, vazios... Perguntei-me se alguma vez tive aquela expressão, talvez tenha tido.

Peguei uma das bandejas prato e talheres, tudo parece de plástico ou um material flexível. Logo me servem e vou sentar em algum dos lugares vagos, encaro minha bandeja, nela estão alguns potinhos, alguns parecem conter frutas mas tenho que cheirar para tentar saber o que é, para minha frustração quase não havia cheiro ou sabor, as frutas estavam em pedaços muito pequenos, não sei se para evitar engasgos, mas seria melhor todos correrem o risco de ficarem engasgados do que comer aquela mistura estranha. Num momento de distração lembro-me de como Anne dizia que haviam formas certas de conservar frutas... Acho que era algo como não cortar em muitos pedaços e evitar guardar por muito tempo.

Tempo, já aguardei muito tempo.

Sinto uma leve aproximação, vejo pelo canto do olho uma figura aproximando-se, viro meu rosto já numa postura defensiva.

_É bom ver que está progredindo Sebastian.

Ignorei seu tom de reconhecimento e olhei para o crachá. Aquela era doutora Garcia, a supervisora.Nunca entendi muito bem sua função ali, se era só para garantir que nada saísse do controle ou se era por não querer sair de seu emprego. Com seus óculos de armação moderna e suas marcas de expressão que não escondiam sua idade realçavam o ar profissional.

_Imagino._ Limito-me a dizer com um pouco de ironia. E volto a me concentrar em por meu café da manhã para dentro.

_Trabalho aqui a muito tempo, já vi muitos casos.Mas você poderia ter saído daqui há algum tempo, era só dizer... Não precisaria ter passado tanto tempo aqui e ainda não entendi o motivo disso.

E não entenderia. Eu sabia que ninguém entenderia o motivo, o que me fez esperar, mas foi necessário.

Levantei-me e segui de volta para meu quarto sentindo os olhos que me seguiam. Entretanto não havia com o que preocupar-me naquele momento, percebi com o tempo que quem estava ali não oferecia tanto perigo quanto quem estava no outro lado dos altos muros.

Depois de pouco tempo em que estava em meu quarto, o enfermeiro abriu a porta e avisou que eu tinha visitas, antes que qualquer pessoa entrasse, já sabia quem era.

_Eu sou...

_Eu sei quem você é, não precisamos de apresentações._ Interrompi observando cuidadosamente o homem caucasiano a minha frente, ele não parecia nada feliz em estar ali. Mas forçava-se a manter a postura séria. Parecia imponente, do tipo que ninguém teria duvidas em contratar como advogado.

Agora entendia de onde Anne conseguiu aprender aquelas expressões frias, que fazia parecer que todos estavam invisíveis, que ninguém merecesse sua atenção. E talvez não merecesse.

_Então? Porque quis que eu viesse?

_Achei que sua percepção fosse melhor... Achei que perceberia o que está acontecendo.

_Não jogue comigo, não sou como a Fisher, não acredito em olhares tristes e nessa pose de incompreendido.

Ele realmente não esboçou nenhum interesse, sequer olhou para o ambiente.

_Não estou tentando te enganar ou te fazer acreditar que não sou culpado. A penas sei que você está perdendo tempo tentando encontrar as respostas nas fichas que a Doutora Fisher te entrega. Se continuar assim serei decretado culpado e mesmo que em seu intimo vá sentir imenso prazer em saber que estarei num manicômio judiciário; seu trabalho é provar que sou inocente.

_Eu posso abandonar o caso._ Rebateu com veemência.

_Mas não vai. Você não é do tipo que abandona casos, seu ego nunca deixaria. E não sou o único que sabe disso.

Depois de tanto tempo, estava me sentindo mais próximo do mundo por trás daquelas paredes. Senti-me próximo como nunca havia sentido. O homem a minha frente representava a porta que levava até a saída, é a linha que ligava Anne a mim.

_Não estou com tempo para perder aqui._ Ele disse preparando-se para sair.

_Preciso saber como vão as investigações.

Dominic parou e virou-se novamente em minha direção.

_As investigações estão praticamente paradas, todas as provas que conseguiram no inicio do caso não são suficientes para te incriminar. De alguma forma esperam que você confesse._ Suas ultimas palavras foram pronunciadas com asco.

_Não falo nada que possa se usado como prova.

_O que mostra que não é um louco como aqueles que estão espalhados lá fora._ Comenta cruzando os braços caminhando lentamente até a janela de grades._ Mas ainda assim é algum tipo de doente que preferiu ficar aqui por tanto tempo, só para não dar o braço a torcer.

_ Eu precisava de tempo.

_Espero que já esteja satisfeito, suas férias vão acabar. Mas para isso precisa colaborar, sem jogos._ Declarou com seu semblante sério.

_Com jogos. _Descordei._ Mas dessa vez estaremos do mesmo lado.


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