Surreal - Art and Insanity escrita por Jess


Capítulo 66
Capítulo 66 - O vermelho e o negro




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Andei rapidamente e sentei ao lado da Anne, que não me olhou por um só momento, permaneceu com os olhos presos no livro que segurava aberto, apoiado em suas pernas.

_Alice perguntou se estamos juntos._ comentei olhando seu rosto de perfil, que não esboçou nenhuma reação.

_Não quer saber o que respondi?

Ela fechou o livro e me encarou com uma expressão um pouco cansada.

_O que você respondeu Sebastian?

Seu tom não passava nenhum interesse, assim como seus olhos por trás das lentes que refletiam um pouco da claridade.

_Disse que somos amigos._ Falei dando de ombros.

Anne me analisou rapidamente e deu um pequeno sorriso.

_E é claro que ela acreditou._ Murmurou com um pouco de humor._ Não sei como você consegue fazer com que eles acreditem em toda essa “simpatia”, ninguém é assim._ Concluiu fazendo uma careta.

_Eles acreditam porque é o que querem ouvir, querem acreditar nisso, então é mais fácil aceitar. Mas isso nunca aconteceu com você... Você não acredita._ Expliquei colocando minhas mãos no bolso do casaco.

_Não acredito em nada que pareça muito perfeito..._ Falou e em seguida franziu o cenho._ Quer dizer; você parece perfeito para eles ou o mais próximo disso: você é rico, bonito, tem talento e sabe se impor.

_Não é como se eu tivesse conquistado alguma dessas coisas Anne, então não são importantes. E ser admirado pelos motivos errados não acrescenta nada, mas fico lisonjeado por me achar “perfeito”.

Sorrio e ela maneia a cabeça, voltando-se novamente para a pagina em que parou. Nunca havia reparado em seu habito de leitura, mas pensando melhor nisso posso lembrar do dia em que entrei em seu quarto, num canto haviam livros empilhados fora de ordem.

Sem pedir ou dar qualquer sinal afasto sua mão que mantinha o livro aberto e ponho a minha em seu lugar puxando-o para mim.

“Le Rouge et le Noir” li na capa e fiquei muito surpreso, Anne sempre me surpreendia.

_Você deve ser a única pessoa da minha idade que conhece Stendhal._ Comentei ainda com o livro em minhas mãos.

_Tenho esperanças de que mais pessoas conheçam Stendhal, não devemos ser os únicos no mundo.

_Já chegou na parte da Mathilde?_ Perguntei devolvendo o livro.

_Não, o Julien ainda está tendo um caso com a Senhora de Rênal._ Ela falou voltando a pagina onde havia parado.

_A melhor parte é quando a Mathilde aparece, ela tem...

_Não! Não quero saber._ Anne interrompeu-me e vi em seus olhos o quanto estava chateada.

_Ele foi escrito no século XIX, não existem muitos segredos, eu posso contar o que acontece._ Afirmo com muita veemência.

_Não, você não pode, eu ainda não sei o final e prefiro continuar assim por enquanto.

Anne parecia estar realmente preocupada com aquilo, sua expressão me fez sorrir e preferi não estragar o efeito surpresa do livro.

Fiquei em silencio olhando para as pessoas que andavam um pouco distantes dali, até que percebi o olhar dela em mim e olhei de volta.

_Por que você leu Le Rouge et le Noir?

Não sei se Anne acha que preciso ter um motivo para tudo que faço, ou se está só perguntando o que me levou a ler o livro de um dos melhores romancistas críticos da França.

_Gosto de clássicos. E você?

_Gosto de livros antigos, eles parecem ter sido escritos com alma e verdade. E ainda tem o fator de tentar entender o autor de alguma forma. Já os livros atuais não me transmitem isso; parecem todos iguais, com as mesmas histórias onde só os nomes mudam, todos cópias mal feitas._ Explicou com uma breve pausa para arrumar o óculos.

Era tão bom ouvi-la, mesmo com suas criticas, educadas, sutis ou acidas, era bom ouvi-la. E ela não sabe, não faz ideia de como me afeta.

_Por isso prefere ler em francês? Para ficar mais “próxima” do autor de alguma forma?

_Isso pode parecer muito piegas, mas..._ Ela fez uma pausa olhando para o outro lado como se pensasse se deveria mesmo me contar o que estava pensando, por fim decidiu continuar._ Minha mãe falava francês, então quis aprender para ter de alguma forma algo que ela teve.

Pelo tom usado era obvio que Anne falava de sua mãe de sangue, falava de Olivia.

_De qualquer forma meu francês é muito útil._ Falou esboçando um sorriso e voltando a encarar a pagina.

Algo que me deixava curioso era aquele Andreiko em seu nome, sabia que era da família de seu pai, mas não era muito comum.

_Anne de onde vem esse “Andreiko”?

_É ucraniano._ Respondeu-me sem prestar muita atenção.

_Mas você sabe como foi parar um ucraniano na sua família?

_Hoje você está bem comunicativo em... _ Falou desanimada._ Meu avô era ucraniano, Vladmir Andreiko, general do exercito vermelho, o típico militar..._ Disse por fim dando de ombros.


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Notas finais do capítulo

Le Rouge et le Noir é um livro do Stendhal, um dos melhores romances clássicos que já li.
O próximo capítulo será a tão esperada festa do outono, me avisem se eu estiver indo rápido de mais.
Comentem, estou com saudade dos comentários.



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