Alice

Pegar a joia, sair correndo e me salvar, tudo perfeito... Na teoria.

Choque.

Raiva.

Surpresa.

Choque.

Raiva.

Frustração.

Junte tudo e você terá a definição do meu estado de espirito.

Nunca me senti tão inútil e fraca como hoje, eu lutei e lutei e mesmo assim não consegui ajudar Alli, ele que sempre esta por perto para me apoiar, sempre me ajuda e sempre lutar por mim, e eu? Mal estava conseguindo me defender, quem me dera poder ajuda-lo como ele me ajuda.

Agora estou aqui sozinha e sem conseguir me mexer.

Tudo é muito doloroso, não consigo tirar da cabeça as palavras de Alli, aquele beijo, os seus olhos tão cheios de incerteza e paixão.

Por que tudo aquilo me parecia uma despedida?

É injusto.

E cruel.

Mas lamentar não resolve nada, não é mesmo Alli? Você me disse isso, e na época eu não entendia.

Mas existe uma diferença de antes para agora.

Pela primeira vez na vida tenho certeza do que quero.

Eu quero você, quero aqui comigo, do meu lado, quero ouvir sua voz arrogante me dizendo que faço tudo errado e quero ver seu sorriso infantil que sempre desmente suas palavras.

Não posso aceitar essa injustiça, ele não merece isso.

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Assim que peguei aquela joia o mundo foi tingido de verde, eu apenas olhei para tudo, sem querer ver nada, eu não conseguia mais chorar, então tudo em mim se tornou mecânico e sem sentido, o verde e a Jade brilharam na minha mão, sim, uma jade meu maior símbolo de amor e ódio, curiosamente, ela parece sempre estar em meu caminho.

E como sempre, dessa vez ela não falhou em fazer jus ao simbolismo.

La estava eu, olhando aquela cena novamente, a musica ao fundo, uma orquestra parecia tocar as quatro estações de Vivaldi, a casa estava iluminada, as pessoas lá dançavam e circulavam felizes, mas eu apenas via a cena que me atormenta até hoje.

A minha frente estavam Hector, como sempre elegante e perfeito e Clarisse, linda e deslumbrante, eles me encaravam igualmente surpresos, até que Hector resolveu agir:

— Alice calma! – Ele pediu se aproximando de mim lentamente.

— Calma? Como quer calma? Eu encontro você e Clarisse se beijando no meu jardim, na minha casa, no dia do meu aniversario e me pede calma? - Eu estava claramente tentando controlar a vontade de chorar.

— Olhe eu posso ex-

— Explicar? – completei revoltada com o cinismo dele. — Explicar que você e essa ai ficam se encontrando as minhas costas?

Clarisse parecia extremamente indignada e posso jurar que vi seus cabelos ruivos se levantarem um pouco e seus olhos faiscarem.

— Ora Alice a culpa é sua por ser uma lerda desajeitada, eu mesma lhe disse, senão se encaixar nos padrões deste mundo você não será ninguém e não terá nada. – Ela se intrometeu, chegou bem perto de mim e sorriu descaradamente, novamente seus olhos faiscaram — Sabe como é amiga, você perdeu, faz parte da vida. – Eu senti o ódio me dominar e só vi quando minha mão acertou a cara dela, Hector teve a audácia de segurá-la.

— Fiquem juntos pra sempre seus malditos, vocês se merecem! – Exclamei correndo para bem longe, entrei em casa, passei rapidamente por todas as pessoas, subi as escadas e me tranquei no meu quarto, comecei a chorar e jurei a mim mesma que nunca mais me iludiria novamente com essa coisa de amor, mas é claro que não tive paz nem para sofrer.

A porta de meu quarto abriu e meu pai entrou furioso seguido pela minha mãe que apenas observou tudo de longe.

–Alice senão notou esse não é o melhor momento para uma crise. - Disparou o homem, visivelmente revoltado. -Clarisse nos contou que ficou com ciúmes dela com hector, mas por Deus esse tipo de reação...

— Clarisse não sabe de nada. - Eu disse e logo voltei a chorar.

— Aquilo não foi nada. - Ele disse impaciente.

— Nada? Um beijo não é nada? Ele não me deu valor pai. – Eu gritei ainda mais revoltada, como ele pode dizer algo como isso.

— Alice! Não grite com seu pai. Se você ouvisse oque sua mãe lhe ensina talvez as pessoas a valorizassem mais, mas não Alice, você tem que ser diferente não é mesmo? Mas hoje não... Agora trate de melhorar essa cara e voltar para a festa. - Ele ordenou e saiu do quarto imediatamente.

— Alice, vamos... -Disse a minha mãe, que até então havia permanecido em silêncio, era estranho e doloroso a ver tão... Viva. — Você não quer deixar seu pai mais irritado.

— Mas-

— Mas nada, eu sei que esta sofrendo, mas hoje é um dia importante. - E dizendo isso ela apenas saiu, eu encarei a porta e depois me olhei no espelho e vi como estava péssima e sorri, nada melhor do que um espelho nos piores dias para mostrar quem você é e que não pode esconder isso de ninguém, a porta se abriu novamente, dessa vez era Judith.

— Aqui esta, chegou ontem, mas não achei que fosse ser útil, quer dizer você estava bem ontem, já hoje...

— Oque é isso? – Perguntei sem ânimo.

— Era de sua avó, ela pediu para lhe entregar quando sentisse que você precisasse ser consolada. – Ela respondeu e me entregou a pequena caixa, que eu abri quase que imediatamente.

— Isso é... – Dentro da caixa havia uma bailarina vestida de verde e uma musica delicada e lenta começou a tocar:

“A cidade onde foi

Construído aquele altar

Permanece insistentemente

Da mesma forma de sempre.

Porque assim é...

O que mais poderia ser?

A vitória não nos é garantida,

Afinal oque foi previsto

É oque será

Mas para que mudar?

Afinal o giro do destino há de se completar

Agora mesmo ele se movimenta

Cada vida

Há de se encontrar

Algum dia

Naquele lugar. ”

Aquela letra não fazia sentido, mas eu gostava de alguma forma aquilo parecia importante, muito importante, ao olhar bem para a bailarina notei que seu vestido era feito de Jade, eu sempre tive uma pequena paixão por essa joia, por isso a reconhecia em todo lugar, mas eu nunca entendi por quê.

Então tudo se dissipou e eu fechei os olhos, quando os reabri estava naquela sala branca e todos os acontecimentos voltaram a minha mente e se juntaram as lembranças do meu maldito aniversário de quinze anos, tudo para se reunir a minha depressão e me deixar mais derrotada, eu suspirei e aquela linda voz veio me atormentar.

— Parece que problemas não faltam em sua missão. – Ela disse com um pouco de ironia e eu cerrei os punhos. — Mas você é bem corajosa, acho que está pronta para seu destino.

— Destino? Você de novo falando coisas estranhas, eu não sei nada disso de destino e nem me importo com isso, eu apenas quero que isso acabe logo. – Disparei com raiva e firmeza.

— Ora você é bem mais rebelde do que mostra a todos, por que não mostra a eles quem é de verdade? Por que se mantem nessa imagem de menina perfeita, você odiava sua vida, por que não diz isso a eles?

— Não te interessa, não se envolva em meus problemas, eu posso ser fraca, mas não sou estupida ao ponto de achar que pode me ajudar, eu odiava sim minha vida, ou melhor, odeio, você não sabe oque é crescer achando que tem algo de errado com você, então cale-se. – Respondi áspera, á tempos eu não agia mais assim, na verdade, desde que Hector apareceu na minha vida eu me tornei mais calma e conformada, eu achava que deveria aceitar as regras para poder ser feliz com ele, mas agora vejo que isso é uma bobagem e que eu ainda ajo assim, mas desde que passei por aquela embaixada e que vi a mim mesma, não sou mais tão conformada, cansei de ouvir as regras e de seguir a voz da razão, Alli era quem me mantinha na minha, era quem me fazia sorrir e aceitar seguir o fluxo do jogo, mas sem ele aqui não tenho obrigação de pensar como uma menininha indefesa. — Apenas me tire daqui, o cara que eu amo foi levado para aquele covil e meus amigos podem estar precisando de mim.

— Você é forte Alice e seu sangue é poderoso, você tem uma voz firme e é decidida, use isso a seu favor quando for a hora.

Uma porta se abriu repentinamente e eu andei até ela, agora só a raiva me importava, eu não podia aceitar tanta injustiça e levar o Alli, o meu coelho irritante e arrogante foi a gota d’água.