Bakumatsu escrita por Aoshi Senpai


Capítulo 21
Inimigos Eternos


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior:

"O ex-líder do Shinsengumi partiu do prédio oeste em direção ao centro do complexo com um corte bastante profundo no ombro esquerdo. Tinha certeza de que o Battousai acabaria com Aoshi, pois ele mesmo havia arquitetado o plano todo. Cada passo, desde o despertar do espírito do Hitokiri Battousai até sua própria batalha contra Sanosuke Sagara haviam sido meticulosamente premeditados, mas queria ver com os próprios olhos a morte de um dos seus principais inimigos."



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O prédio central do complexo militar era o maior e mais vistoso da região. Fixado sobre uma base forte de madeira maciça em um pequeno monte que fazia parte do terreno, as toneladas de troncos e tábuas se erguiam poderosas e autoritárias. Certamente era da sala mais alta e espaçosa daquele prédio que Yamagata administrava temporariamente o país. O plano de Saitoh não dera tempo o suficiente para que os políticos assassinados fossem repostos, graças a ajuda providenciada por Aoshi, e por isso Yamagata reinava sozinho sobre todo o Japão. Reinava por pouco tempo.

"Aoshi."

O nome do moreno alto e de longos cabelos negros invadia os pensamentos de Kenshin, enquanto ele caminhava lentamente em direção a porta principal do prédio, sem temer qualquer tipo de segurança providenciada por Yamagata em seu último reduto militar. Aoshi havia se transformado em seu adversário mais mortal há muito tempo, e suas batalhas contra ele sempre tiveram desfechos bastante pacíficos. Apesar de serem adversários declarados, se ajudavam e caminhavam para os mesmos objetivos, na maioria das vezes por caminhos diferentes.

Kenshin viu a gangue de Aoshi ser sacrificada em sua frente, quando Kanryuu Takeda tentou destruir o rapaz. Aoshi estava presente quando Himura enfrentou uma de suas batalhas mais difíceis, contra Makoto Shishio. Os ideais de Aoshi sempre estiveram a frente de seu desejo de derrotar Kenshin e se sagrar o espadachim número um do Japão. Os ideais de Himura sempre protejeram a vida de Aoshi, nas várias derrotas que ele amargou durante seus encontros com o Battousai. De forma bastante deturpada, Kenshin até considerava que Aoshi era, pelo menos parcialmente, um parceiro para batalhas difíceis. Talvez se ele não carregasse consigo o título de Battousai, eles até fossem bons amigos.

De qualquer forma, aquilo tudo havia ficado no passado. Himura ainda não sabia explicar com exatidão porque Aoshi havia se transformado em um assassino tão inescrupuloso e imundo. O antigo Kenshin Himura, fraco e idealista, havia sido destruído junto com o dojo Kamiya. Assassinar de maneira tão brutal a jovem médica que lhe salvara da morte também não podia ser perdoado. Aoshi iria pagar por ter deixado o ódio que sentia contra o Battousai cegar-lhe. Não era mais o espadachim bondoso, que salvaria o mundo com sua espada de fio invertido. O Battousai Himura havia se escondido por uns tempos, na vã tentativa de salvar o mundo com palavras.

– O mundo não será salvo com palavras... Será destruído pela lâmina de minha espada, para que possa ser reconstruído... - Comentou consigo, quase à porta do prédio administrativo do complexo.

Depois de quase meio minuto parado a alguns metro da porta do casarão, observando os entalhes na parede de madeira, Kenshin retomou o caminho em direção ao interior da construção. Subiu um pequeno lance de degraus e parou em frente a porta, sob o olhar de dois gigantes espadachins feitos de madeira. Seus rostos, cobertos pelas antigas máscaras ornamentais dos guerreiros samurai, direcionavam o olhar para o visitante mais especial que aquele lugar receberia no dia. As espadas dos dois guardiões se cruzavam sobre a porta, e pareciam permitir que Kenshin entrasse no prédio, como se sua presença já fosse aguardada por alguém no interior da construção.

Com a mão direita, Kenshin empurrou uma das portas frontais, liberando a passagem para o interior do belíssimo prédio. Um vento quente correu veloz pelo largo e pouco iluminado corredor principal do lugar e, atingindo o homem diretamente na face, o obrigou a fechar os olhos por um momento. Kenshin respirou fundo e abriu novamente os olhos, lançando o olhar atento em direção ao final do corredor. Uma escadaria não muito grande se estendia ao final, levando ao andar superior por dois caminhos originados de uma bifurcação na própria escadaria. Himura caminhou em silêncio e bastante calmo até a escada, tomando o caminho da direita em direção ao segundo andar.

O segundo pavimento do prédio possuía mais um longo corredor, que ia em sentido contrário ao do piso inferior, e tinha meia dúzia de portas à esquerda. Na certa, as portinhas apertadas e simples eram a entrada das salas de alguns funcionário do baixo-escalão militar do Japão. Kenshin ignorou as portas e percorreu todo o corredor, chegando a uma escadaria em espiral, que levava ao terceiro andar da construção. Calmo sem perder a concentração, o rapaz subiu, um-a-um, os dezoito degraus que o separavam da sala do general. Parou ao final da escadaria e percorreu o olhar pela sala. O lugar era deslumbrante.

O salão principal do prédio ocupava o terceiro andar inteiro, sem nenhuma parede ou divisória. À esquerda de Kenshin, uma outra escadaria espiralada se esticava ao segundo andar, exatamente igual àquela utilizada por ele para chegar alí. As paredes eram adornadas com belíssimos quadros de paisagens japonesas, com molduras estupendas e brilhantes. A cada três metros, uma tocha acessa iluminava o lugar, deixando toda a sala às claras e com um clima bastante aconchegante. Em cada uma das paredes laterais do salão, sete cadeiras ficavam dispostas lado-a-lado, e certamente serviam aos catorze oficiais da comissão de guerra japonesa. No centro, do alto de cinco altos degraus, pairava a cadeira principal. Mais alta, larga e, certamente, muito mais pesada, a cadeira na qual Yamagata se sentava era feita de madeira maciça, acolchoada com camurça avermelhada, com os braços feitos de ouro puro e com palavras entalhadas delicadamente à mão.

Na certa, Yamagata se sentia bastante confortável alí, enquanto conversava com os outros senhores do exército, quase todo o dia, imaginou Kenshin. Infelizmente, naquela ocasião, ele não parecia muito a vontade sobre seu "trono" militar. Encontrava-se, naquele momento, de pé sobre a cadeira, e com uma corda esticada presa em seu pescoço. Se o velho recebesse um único empurrão, por menor que fosse, despencaria da cadeira alta e morreria enforcado. Os orbes de cor âmbar do rapaz ruivo não se sensibilizaram com a situação de Yamagata que, amordaçado, apenas arregalava os olhos demonstrando surpresa extrema em ver o amigo alí, em sua frente, e vivo.

– Dramático demais até para você, não acha Aoshi? - Perguntou, em alto e bom som, Himura.

– Você acha? Eu achei que seria poético, se o vencedor de nossa batalha pudesse cutucar o velho para a morte, despencando de sua esbelta cadeira... - Respondeu Aoshi, enquanto aparecia para Kenshin, vindo pela direita, detrás da poltrona larga.

Aoshi não vestia o sobretudo caqui, do qual Kenshin se lembrava tão bem, mais ainda trazia as kodachi dependuradas em sua cintura e bastante móveis, presas à sua esquerda. Seu cabelo comprido estava solto, e algumas mechas lhe caíam na frente dos olhos, escondendo a cicatriz enorme que ele trazia na face. Seus olhos azulados tinham um brilho gelado, destoando do clima natural naquele cômodo, e sua boca pequena permaneceu imóvel, esperando que Kenshin se pronunciasse. O ruivo apenas o encarou, buscando com seus olhos dourados e brilhantes apagar o gélido brilho nos olhos sem sentimento de Aoshi.

– Seu olhar é cada vez mais gelado, Aoshi... Refletem perfeitamente o monstro que você se tornou...

– Os seus, meu caro Himura, brilham bastante vivos para mim. Voltaram, tenho certeza, ao velho brilho que tinham no Bakumatsu. Me deixa muito empolgar ver que você voltou a ser, verdadeiramente, o Hitokiri Battousai. O lendário monstro assassino do Isshin Shishi. Ao acaso, meu velho amigo... - Aoshi fez um pausa, enquanto passava por detrás da cadeira, aparecendo novamente à esquerda de Yamagata, que observava Kenshin com os olhos cheios de desespero. Aoshi coçou levemente o nariz e continuou. - As suas palavras procuram escavar alguma paz para o seu espírito? Você sempre foi um monstro muito pior que eu, e conhece as suas monstruosidades melhor do que qualquer um. Assassino de crianças e mulheres... - Aoshi sorriu, Kenshin estremeceu.

– Meu passado te assusta Aoshi? - Himura permeou, com a voz um pouco mais firme a cada palavra. - Se fosse você, me preocuparia com o presente, caso queiras, um dia quem sabe, ter algum futuro! - As últimas palavras de Kenshin soaram ainda mais imperativas e violentas. - Vou fazer você pagar agora pela covardia contra Kaoru e contra Akira, seu maldito! - Finalizou com os olhos em chamas e a mão direita agarrada a uma das katanas presas em seu kimono.

Aoshi arregalou os olhos, fazendo-se de desentendido. Na certa, Kenshin procurava culpar-lhe da morte de sua esposa e, aparentemente, da irmã de Saitoh apenas para facilitar a luta que começariam dali a alguns segundos. Não sabia quem havia assassinado a jovem senhorita Kamiya, e nem que a bela Akira havia morrido. De qualquer maneira, apenas ignorou as palavras do Hitokiri, já que não faziam nenhuma diferença para ele. Se tais pensamentos ajudariam o Battousai a utilizar toda sua força contra ele, significaria que sua vitória seria realmente verdadeira, e ele finalmente alcançaria o titulo de mais forte.

– Já é hora, Himura... - Começou Aoshi. - Já é hora de decidirmos nossos futuros, como deveríamos ter feito, muitos anos atrás! - Comentou, com uma das kodachis já desembainhada.

CONTINUA!!!


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Notas finais do capítulo

Não percam o próximo capítulo:

O Fervor da Batalha



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