– Não. Não. Definitivamente, não! – Fernando cruzou os braços.

– Como assim não? – Luigi perguntou.

– E você ainda me pergunta? Acha que eu vou permitir que ela use... Isso?

Ele apontou para uma lingerie em cima da mesa.

– Mas é para ser sensual!

– Luigi, meu querido Luigi. – Fernando colocou as mãos no ombro dele. – Eu acho que você ainda não está bem atualizado. Você está vendo isso aqui? – Fernando levantou sua mão esquerda.

– Uma mão?

– E o que tem na minha mão?

– Dedos, seu bobo.

– E no meu dedo, Luigi?

– Uma aliança?

– Sim. E sabe quem mais tem essa mesma aliança?

– A Lety.

– Exatamente. E sabe o que isso significa? Que ela é casada. Agora me responde uma coisa... Você soube da novidade, não soube?

Luigi olhou confuso para Fernando, como se ele fosse louco.

– Nós vamos ter um bebê. E isso completa as duas coisas que você deveria ter pensado antes de escolher essa roupa para o comercial. Numero 1: Letícia é casada. Numero 2: Ela vai ser mãe. Agora você acha mesmo que uma mulher respeitosa como ela, iria usar isso em um comercial?

– E você queria que ela usasse o que? Uma burca? Olha minha querida Chiquinha, eu acho que você está vivendo no passado, ok? Você como marido dela, deveria perceber que ela é sensualíssima, e que esse comercial faria os nossos clientes mais do que felizes. Então use direitinho os neurônios que eu tenho certeza que estão escondidos aí dentro dessa cabecinha linda lotada de gel. – Luigi deu um pequeno tapinha na testa de Fernando e se retirou da sala.

– Até parece... Letícia usar uma roupa dessas em um comercial... – Ele pegou a parte de cima da lingerie e a examinou. – Mas não seria má ideia ela usar isso pra mim.

– Boa noite honorário presidente! – Omar entrou na sala e se deparou com Fernando segurando um sutiã. – Espera... Espera maninho. Onde foi que você conseguiu isso? Não. Não pode ser. – Omar fechou a porta. – Esconda isso antes que a Lety veja. Tudo bem, eu te dou cobertura!

– Não seja imbecil, Carvajal. – Fernando colocou o sutiã em cima da mesa e voltou a se sentar. – Isso é a “roupa” que Luigi quer que Lety use no comercial.

– O que? – Omar pegou a lingerie em suas mãos e começou a rir.

– Qual a graça?

– Estou orgulhoso de você, irmão!

– Orgulhoso de que?

– Você está cumprindo sua promessa muito bem. Está engolindo o seu ciúmes e deixando a Lety usar isso na frente das câmeras.

– Mas é óbvio que ela não vai usar isso.

– Então vai fazer o que? Você prometeu que não teria mais ataques de ciúmes.

– Eu já tenho uma solução pra isso.

– Ah é mesmo? E qual é? Não me diga que vai se oferecer para ficar no lugar dela? Porque eu acho que essa lingerie vermelha lhe cairia muito bem. – Omar se aproximou de Fernando com o sutiã.

– Mas é claro que não! – Fernando tirou o sutiã das mãos de Omar. – Eu vou achar outra modelo.

– É mesmo? E como vai achar alguém para substituir sua digníssima esposa? Porque os clientes deixaram claro que queriam ela no comercial.

– Mas a Lety tem algo que eles não notaram. Sua sensualidade é espontânea, é respeitosa. Eles precisam de uma modelo que seja ousada.

Omar apenas ergueu as sobrancelhas para o amigo.

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– Meninas, esperem! Eu esqueci o meu casaco! – Sara saiu do elevador. – Podem ir na frente.

Os corredores estavam vazios. Quase todos os funcionários já tinham ído embora. Enquanto seguia para sua mesa, Sara notou que Cármen estava parada na porta da sala da presidência, parecendo escutar a conversa que vinha de dentro.

– Está com algum problema? – Sara perguntou assustando-a.

– Não. O meu brinco caiu, eu estava procurando.

– Sei. Você não vai embora?

– Por que está preocupada com o meu horário?

– Não estou. Só acho estranho que a Lety tenha dispensado todos mais cedo e você continue aqui.

– Ainda tenho que terminar algumas coisas.

– É claro. – Sara forçou o sorriso e foi até sua mesa pegar o casaco. – Não pense que somos bobas, Senhorita air bag. Ficaremos de olho em você.

Dizendo isso, Sara seguiu para o elevador. Cármen respirou fundo e sorriu.

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– Lety, se você não está se sentindo a vontade com isso, diga ao Luigi que você não irá fazer o comercial.

– Mas não podemos perder esses clientes, Carol. – Lety agora começava a se acostumar a chamar os outros apenas pelo nome.

– Com certeza terão outras modelos que poderão fazer esse trabalho.

– Eu espero que sim. – Lety suspirou. – Mas me diga... Como estão os preparativos para o casamento? Está muito ansiosa?

As duas se entreteram com os assuntos do casamento que mal perceberam a hora passar.

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– Bom maninho, eu já vou indo. Preciso descansar para o fim de semana. Preciso estar lindo no meu casamento. – Omar ajeitou o seu paletó.

– Omar, Omar. Quem te viu quem te vê. – Fernando sorriu para o amigo. – Nem parece o mesmo amigo que conheci que dizia que nunca se casaria, e que teria quantas mulheres quisesse.

– Esse homem foi enterrado, meu irmão. Fui enlaçado pelo amor.

– Quanto romantismo. – Fernando riu.

– Então, não vai embora?

– Já vou. Só irei terminar algumas coisas. Se encontrar com a Lety peça para ela vir até a minha sala, por favor.

– É claro, Senhor presidente. – Omar fez uma reverencia e saiu da sala. Fernando balançou a cabeça e voltou sua atenção para o computador.

Estava tão concentrado no trabalho que não ouviu as batidas na porta.

– Sr. Fernando? – Cármen abriu um pouco a porta. – Está sozinho?

– Sozinho? – Fernando perguntou confuso. – Estou. Por que...?

Antes que Fernando terminasse sua pergunta, Cármen entrou na sala com um casaco. Fernando não entendia o que ela pretendia com aquele casaco, já que não estava frio naquele dia, muito menos dentro da Conceitos. Mas antes que pudesse questionar, Cármen abriu o casaco, ficando apenas de lingerie. Fernando não sabia o que dizer, nem qual reação ter. Estava completamente paralisado. Não por cobiça-la e admirá-la, mas por estar tão abismado com a audácia de sua funcionária de entrar em sua sala e ficar apenas de lingerie.

– Eu ouvi quando disseram que precisavam de uma modelo que fosse ousada e que ficasse a vontade com lingerie em frente as câmeras. – Ela se aproximou da mesa dele, enquanto Fernando arredava a sua cadeira para trás, ainda abismado. – Não quero desmerecer a oportunidade que o Senhor me deu, mas o meu sonho sempre foi ficar de frente as câmeras, e... Eu acho que posso fazer isso. – Ela sorriu sem nenhuma vergonha de fazer aquilo.

– Cármen... Você... Ficou louca? – Fernando se levantou. – Vista esse casaco!

– Mas eu...

– Lety, Fernando está te esperando na sala dele. – Era a voz do Omar vinda do outro lado da porta.

– Obrigada, Omar.

– Boa noite, Lety. – Omar e Carolina disseram juntos.

– Boa noite!

– Vista isso, agora! – Fernando virou de costas para Cármen, andando desnorteado pela sua sala enquanto ela fechava o seu casaco. Não que ela quisesse, mas para que continuasse mantendo o seu emprego.

– Meu amor? – Lety abriu a porta sorrindo, mas seu sorriso diminuiu quando viu Cármen parada ao lado da mesa de Fernando e ele escorado no sofá com um sorriso forçado.

– Oi meu amor. – Ele disse tenso. – Como está?

– Eu estou bem. – Ela respondeu confusa. – Algum problema?

– Não. Nenhum. Por que a pergunta?

Lety já conhecia Fernando tempo suficiente para saber quando ele estava escondendo algo ou tenso.

– Eu já vou indo, Sr. Obrigada pelo adiantamento. Prometo que isso não irá se repetir. – Cármen sorriu. – Tenham uma boa noite.

Passando por Lety, Cármen sorriu satisfeita quando deu as costas para os dois e saiu, fechando a porta.

– O que ela estava fazendo aqui? – Lety perguntou tranquilamente.

– Por quê? – Fernando perguntou tenso arrumando sua gravata.

– Por que não está olhando para mim?

– Impressão sua.

– Você não sabe esconder as coisas de mim.

– Por que acha que eu estou escondendo algo?

Lety parou em sua frente cruzando os braços.

– Podemos conversar sobre isso em casa?

– Mas por quê? Aconteceu alguma coisa?

– Não! – Respondeu imediatamente. – Quero dizer... Não exatamente.

– Fernando...

– Por favor, meu amor. Conversamos em casa, está bem? – Ele beijou o rosto de Lety.

Ela não teve outra opção a não ser aceitar. Por mais que estivesse curiosa e preocupada com o que ele iria dizer, qualquer problema pessoal que os dois tivessem que resolver teria que ser resolvido em casa.

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Assim que chegaram no apartamento, Lety colocou sua bolsa no sofá e sentou-se olhando para Fernando. Ele tirou o seu casaco e o colocou no encosto da cadeira. Desabotoou sua camisa até a metade e colocou as mãos na cintura olhando para Lety.

– Então... – Ela disse cruzando as pernas.

– Primeiro eu quero que deixar claro que desde que me apaixonei por você eu sou um homem diferente, que nenhuma outra mulher no mundo me interessa, e que eu nunca faria com você o que fiz com a Márcia ou qualquer outra mulher que eu tenha...

– Ai você está me deixando preocupada, meu amor.

– Não. Não se preocupe. – Ele sorriu e sentou-se ao lado dela. – É que... Quando você chegou... A Cármen não estava... Bem... Eu não sei como explicar.

– Ela foi realmente te pedir um adiantamento?

– Não.

– E então?

– Bom... Mais cedo eu e Omar estávamos conversando sobre o comercial, e ela deve ter ouvido nossa conversa. Eu tinha dito que precisávamos achar uma modelo para te substituir no comercial, porque sinceramente, aquelas roupas... – Fernando suspirou.

– Mas a questão é: O que a Cármen estava fazendo na sua sala, e por que você ficou tão tenso quando cheguei?

– Ela me disse que queria participar do comercial, depois de ter ouvido a minha conversa com Omar.

– E?

– E... Ela apareceu na minhasaladelingerie. – Ele abaixou o tom, deixando a frase indecifrável.

– O que?

– Ela apareceu na minha saladelingerie.

– Fernando, eu não estou entendendo!

– Ela apareceu na minha sala de lingerie! – A frase saiu mais alto do que ele esperava. Lety o olhou de boca aberta, sem reação, semelhante à dele minutos mais cedo quando Cármen apareceu em sua sala. – Mas não se preocupe! Eu não olhei absolutamente nada! Quero dizer... Eu olhei... Mas por estar assustado e abismado. Eu... Você sabe...

Ele estava nervoso demais para conseguir se explicar. Por sorte Lety era uma mulher madura, decente e...

– Qual é o problema dessa mulher? – Lety se levantou nervosa. – Quem ela pensa que é para fazer uma coisa dessas? Será que ela perdeu o juízo?

– Meu amor... Calma... – Fernando se assustou com o nervosismo de Lety.

Lety respirou fundo andando de um lado para o outro.

– Eu juro que eu não... Eu não...

– Fernando, você é homem. Eu entendo muito bem como os homens se sentem quando ficam frente a frente com uma mulher de lingerie. Principalmente quando... Ela tem... Uma comissão de frente. – Lety fez o gesto com as mãos.

Fernando preferiu ficar em silencio. Realmente não tinha como se defender. Se fosse o contrário, ele também ficaria bravo como Lety estava.

– Mas eu também confio em você, e sei que você ficou mais assustado do que admirado. – Ela parou na frente dele. – Mas isso não pode ficar assim. Ela tem que entender que não pode entrar na sua sala de lingerie.

– É claro que não! Amanhã mesmo eu irei pedir para ela deixar a empresa e...

– Não. Não, isso não é necessário.

– O que?

– Estamos procurando alguém para fazer esse comercial, não é? Se ela tem audácia suficiente para fazer isso com o presidente da empresa, com certeza ela poderia fazer um comercial sensual, do jeito que nossos clientes querem.

– Está dizendo que vai deixar que ela faça esse comercial?

– Ela é nossa única opção. Mas peço que você deixe com que eu converse com ela sozinha sobre isso.

– É claro. É claro, meu amor. – Fernando a segurou pela cintura. – Tem certeza sobre isso?

– Tenho. Eu não ia conseguir fazer esse comercial de qualquer maneira. – Lety sorriu divertida.

– A cada dia que passa você me surpreende mais. – Fernando sorriu se aproximando do rosto dela. – Posso dizer uma coisa?

– Sim.

– A sua comissão de frente ganha de dez à zero na dela.

Lety soltou uma gargalhada e puxou Fernando para um abraço apertado. Embora tivesse motivos para ficar com raiva, ela sabia que Fernando estava mudado, e que não seria capaz de traí-la com qualquer mulher do mundo, por mais ousada que ela fosse.