“Muitos passaram por mim, só você ficou.”

         Sozinho, era como eu te via.

         Todos diziam que dentro de você havia um demônio, um monstro horrendo. Todos tinham medo de você, todos mantinham considerável distância. Oh, agora eu entendo como aquela distância era um mundo inteiro para você. E eu me pergunto, por que eu não tinha medo?

         Sozinho em seu balanço, sempre que havia espaço para sua solidão. Ali, longe de todos, eu te observava rolar os olhos cor de mar pelo chão. Meu pequeno coração se apertava, e eu não sabia o que fazer. Sozinho em seu balanço, porque você não tinha ninguém. E eu me pergunto, por que eu não estava lá ao seu lado?

         Eu era uma garota tola que não sabia sorrir. Você era o sorriso que ninguém percebia, além de mim. Porque mesmo quando todos te mandavam embora, você sorria. Porque mesmo quando diziam que dentro de seu corpo só havia o mal, você sorria. Porque mesmo quando eu chorava, você sorria. E então eu aprendi a sorrir, como você. E eu me pergunto, havia mesmo um demônio dentro de seu coração?

         Diante daquela porta, eu permaneci por muitos anos. Muitos passaram por mim, só você ficou. Mãos pousaram sobre minha cabeça rosada quando eu era apenas um pedaço de gente, apenas a sua ficou junto da minha. E se sua mão fosse a de um demônio sórdido, eu não me importaria em ser sua cúmplice, porque só você ficou. E de repente, o balanço estava tão sozinho quanto seu passado.

         Sozinho, você nunca mais ficaria, porque eu estaria ao seu lado. Porque demônio algum poderia irradiar um sol tão forte como o seu, porque nenhuma criatura das sombras seria capaz de me olhar com os olhos de céu que você tinha. Porque você me ensinou a sorrir, e nossos sorrisos se tornaram um só.

“E eu estaria ali, suportando o peso das correntes, quando você ameaçasse cair.”