CAPÍTULO 19

Desde a noite de natal Karina vinha se sentindo um pouco diferente, se cansava muito rápido, estava comendo mais e com dificuldade de acordar pela manhã e de dormir durante a noite. Na viagem que fez com Pedro para Natal passara dois dias bem mal, vomitando e enjoando, e quando o guitarrista a questionou sobre a possibilidade de uma gestação ela o cortou dizendo que estava menstruando normalmente. Como esse período passou a filha mais nova de Gael deixou para lá e não foi ao médico. Dez dias depois...

– Carinha de cansada filha...- comenta Gael quando Karina chega a mesa.

– Também né, depois de passar dias sendo acordada com café na cama pelo namorado e voltando a dormir até as dez não tem quem não se canse. – Bianca zoa.

– Não enche Bianca. – a atriz sorri da irmã com Dandara.

– Sua cara ta hilária K, logo você que sempre levantou cedo e animada pra treinar, hoje olha, nem de longe é aquela lutadora que arrebentou em todos aqueles campeonatos. O Pedro realmente acabou com você, porque eu encontrei ele saindo daqui todo felizinho a hora que eu cheguei. – Bi provoca para ver a irmã vermelha.

– Bianca, você não tem uma novela para gravar?

– Hoje é meu dia de folga.

– Que pena! – Karina fala tentando se desviar dos cutucões de sua irmã.

– Deixa ela Bi. – Dandara fala se divertindo com a cena.

– Isso é saudade Dandara. – Bianca diz se levantando e passando os braços nos ombros da irmã. –Agora é só o Pedro que pode, e eu fico na seca né. – começa a beijar a irmã.

– Ai Bi. – K reclama. – Me solta, eu não to me sentindo muito bem, mas depois promete te dar um beijinho. – a lutadora promete e segue seu pai para a academia.

– Olha só se quem é vivo não sempre aparece? – Duca comenta quando Karina entra na academia.

– Hum, engraçadinho. – a menina diz e vai direto colocar seus materiais.

– Achei que agora era só viagem com o namoradinho famoso. – Zé provoca e a garota bufa em resposta, todos tinham tirado o dia para irritá-la? O treino começa comandado por Gael com aquecimento e apesar de sentir um pequeno incomodo no abdômen Karina segue com o treino, na hora de se dividirem em duplas para treinarem socos e chutes ela fica de dupla com Cobra.

– Hoje não to pra moleza lorinha. – ele chega dizendo e já começa uma sequência de golpes sobre ela. Ela se defende e lhe acerta um chute lateral e então sente uma dor insuportável e cai gritando de dor. – Aiii! – ela grita e Cobra, Duca e Gael correm para ver o que aconteceu. Ela geme de dor caída no chão e sente lagrimas grossas rolarem por seu rosto, isso nunca tinha acontecido com ela. – O que aconteceu K? – Cobra pergunto preocupado.

– O que você fez com a minha filha? – Gael chega gritando.

– K o que houve? – Duca pergunta se abaixando ao lado dela no chão.

– Filha o que houve? – Gael pergunta, mas ela só consegue chorar.

– Pai, alguma coisa ta acontecendo, ta doendo demais. – responde chorando o que assusta a todos já que ela nunca chorava.

– Sai. – Gael fala empurrando Duca que estava ajoelhado em sua frente.

– O que se vai fazer mestre? – o rapaz questiona.

– Levá-la ao hospital. – fala a pegando no colo. – Quem tem um carro fácil?

– O meu ta aqui na frente. – Cobra fala já tirando as luvas, pegando seu tênis do lado do tatame e correndo em direção ao seu carro, enquanto Gael carrga a filha chorando nos braços. Cobra dá ré no carro até a frente da academia e Gael entra com Karina.

– Duca, segura as pontas aí e avisa a Dandara e a Bianca para me encontrarem no hospital do nosso plano.

Cobra acelera o carro o mais rápido possível enquanto Gael tenta em vão fazer Karina não apagar, mas aos poucos a garota vai perdendo a consciência para desespero dos dois homens. – Karina! – ele grita, mas ela desmaia. – Anda com esse carro Cobreloa! – esbraveja. Nada dói mais num pai do que ver sua filha inconsciente. O que poderia estar acontecendo no organismo dela? Ele não saberia o que fazer se alguma coisa acontece com sua menininha. Cobra chega até o hospital do plano de seu mestre e para o carro na frente do hospital. Gael desce carregando a filha no colo com pressa. – Minha filha desmaiou do nada, alguém ajuda por favor. – grita. Um enfermeiro chega com uma cadeira de rodas e leva Karina para dentro. – O senhor precisa fazer a documentação dela. – a recepcionista fala ao homem desesperado. Gael faz a ficha dela e começa a andar inquieto de um lado para o outro.

– E ai mestre, o que houve?- Cobra chega perguntando apões estacionar o carro.

– Levaram ela para fazer os exames. – os dois esperam noticias inquietos até que Dandara chega seguida de Bianca e João.

– O que houve meu amor? – a cantora pergunta abraçando seu namorado.

– Ainda não falaram nada.

– Como assim? Vamos ficar esperando? – Bianca pergunta nervosa.

– Calma gente, eles são médicos sabem o que fazem.

– E o Pedro? – a atriz pergunta ao nerd.

– Ta a caminho, todo desesperado também, pra variar. – o nerd resmunga.

Esperar é um exercício horrendo. Esperar em um hospital é pior, mas esperar noticias de alguém que você ama é cruel. Os minutos demoram dias, a tensão impera, as caras bufando sobrem, o nervosismo transborda, a vontade de chorar, gritar, chutar e correr se alastras, mas ainda sim, depois desse turbilhão de sentimentos só se passaram cinco ou seis minutos.

– Cadê a Karina? – Pedro entra, seguido de Wallace e Sol, gritando. – O que aconteceu com ela? – pergunta.

– Calma cara.- Wallace fala.

– Ela desmaiou na academia, do nada. – Cobra responde.

– E o que mais? Como assim? – o guitarrista pergunta atordoado.

– Calma Pedrinho. – Dandara diz se aproximando do garoto desesperado. – O médico ainda não nos deu nenhuma noticia, mas fica calmo, vamos torcer pra K estar bem. – fala abraçando o garoto.

Alguns minutos se passam, até que...

– Acompanhantes de Karina Duarte? – um home alto, que aparentava ter uns quarenta e poucos anos pergunta.

– Eu, eu sou o pai. – Gael fala imediatamente.

– Como ela ta? – Bianca pergunta desesperada.

– Fiquem calmos. – o homem começa. – Eu sou o Dr. Alberto e ela esta bem agora, mas a partir de agora vai precisar tomar cuidado redobrado, eu já chamei a Dra. Carla, nossa obstetra aqui do hospital que vai examiná-la assim que ela acordar. E aí vamos fazer mais exames para saber se realmente ficou tudo bem com ela e com o bebê. – o médico fala chocando a todos com a palavra “bebê”.

– Bebê? – João pergunta, sendo o único a conseguir falar.

– A K ta grávida? – Wallace pergunta.

– Bom, pela reação de vocês a gestação é uma surpresa?! – o médico constata.

– É uma surpresa sim doutor, mas o que realmente aconteceu? – diz Dandara.

– Ela quase sofreu um aborto espontâneo.

– Que horror. Aff com três F. Sol fala horrorizada.

– E pelas roupas de ginástica dela, pelo que eu percebi foi devido a uma sobrecarga de exercícios e pelo que eu estou vendo nem ela deve saber que esta grávida.

– Ela ainda não acordou? – Dandara pergunta.

– Não, nos controlamos a aborto e a cedamos para que o organismo dela voltasse ao normal.

– Mais ela e meu sobrinho estão bem agora, não é doutor? – Bianca fala se animando com a ideia de ser tia.

– Aparentemente sim, mas a doutora Carla vai examiná-la e aí poderemos dar informações mais completas.

– Já podemos entrar para vê-la? – Bianca pergunta.

– Ainda não. – o doutor bonitão adverte. – Depois da consulta com a ginecologista e de fazermos os novos exames trarei novas informações ai direi se ela já estará pronta para a visita. Com licença. – avisa e se retira deixando todos atônitos, mas um pouco mais aliviados.

– Você vai ser pai brother?! – João fala animado. – Peraí o filho é teu né? – torra.

– João! – Dandara e Bianca falam uníssonas.

– Ué? Vai que a esquentadinha pulou a cerca. – comenta.

– Você engravidou a minha filha?- Gael pergunta se dirigindo a Pedro, como se tivesse assimilando a informação. – Menestrel. Você engravidou a minha filhinha?

– Pai. – Bianca diz.

– Gael, por favor. – Dandara fala o abraçando.

– Minha filha ta grávida?- pergunta tentando assimilar a situação. – Minha menininha? Minha caçulinha?

– Acho que ele não ta entendendo. – Sol comenta.

– Acho que tem gente pior. – João fala se referindo a Pedro que estava estático, e não tinha pronunciado nenhuma palavra. – ta tudo bem irmão? Olha eu sei que ter um filho com a Karina é barra, mais olha eu to aqui.

– Grávida. – Gael murmura sem acreditar.

– Amor, vamos tomar um suco de maracujá. – Dandara sugere.

– Não, eu não vou sair daqui até ver minha filha.

– Amor ela esta bem, esta fazendo exames, não vai sair de lá tão cedo e você precisa relaxar.

– Dandara minha filha ta grávida. – fala erguendo o tom. – Grávida desse menestrel. – aponta Pedro. – Você tem noção do que você fez garoto? – ai até o guitarrista. – Você acabou com a vida da minha filha. A Karina é uma criança, mal sabe cuidar dela. Alias vocês dois são umas crianças, como vão cuidar de outra? É por isso que eu sempre fui contra esse namoro. Vocês são irresponsáveis. – esbravejo nervoso e completamente alterado, sua pequena sendo mãe era demais para ele.

– O senhor esta certo em tudo, ou melhor, em quase tudo, esta esquecendo da parte que eu e a sua filha nos amamos e assim como o senhor um dia foi pai cedo e fez um excelente trabalho criando suas filhas nós pretendemos seguir o seu exemplo. Não se preocupa mestre, nos fomos irresponsáveis sendo pais tão cedo, mas seremos responsáveis assumindo essa responsabilidade. – Pedro fala pela primeira vez calando a todos e começa a caminhar para a saída dos hospital.

– Pedro onde você vai? – Bianca questiona.

– Vou resolver uma parada aí, mais fica rilax cunhadinha eu não to abandonando sua irmã não, só vou busca uma coisa.

– Quer companhia? – João fala mais seu amigo corre sem nem ouvi-lo.

– Devemos ir atrás dele? – Wallace pergunta.

– Não pretinho, o Pedro sabe o que faz e depois de receber uma bomba dessa eu também precisaria respirar. – fala Sol.

Se Gael e Pedro ficaram sem reação o que dizer de Cobra? O lutador não tinha palavras, ele gostava de Karina, além da amizade, e nunca tinha levado a serio o relacionamento dela com o guitarrista, o que foi um erro, agora ela estava grávida e presa ao frouxo pelo resto da vida. Gravidez, barrigão e bebe chorando, esse seria o destino de uma lutadora tão promissora? - Mestre eu já vou indo, a Karina ta bem no fim das costas.

– Tudo bem, obrigado pela ajuda Cobra. – Gael responde e o lutador vai embora desacreditado do que a lorinha tinha feito da vida e da carreira dela.

Em um dos quartos da Clinica Oswaldo Cruz, a Dra. Carla observava os exames.

– E aí doutora o que diz aí?

– Que você já esta de três meses de gestação, doze semanas.

– Caramba. Como eu não percebi isso antes? –Karina se assusta. – Eu sou lutadora de muay thai, profissional e eu competi num campeonato bem puxado em dezembro, eu poderia ter matado meu filho. – se desespera.

– Ei calma. – a doutora se aproxima dela.

– Eu estava menstruando? Isso é normal? – pergunta.

– Para algumas mulheres é normal sim.

– E agora?

– Agora nós já temos que marcar seu pré natal junto com a ecografia, pois estamos atrasadas e precisamos saber como esse bebezinho esta, o mais rápido possível.

– Minha família já sabe? – a lutadora pergunta.

– Eu conversei com eles e daqui a pouco poderei liberar a visita deles. – o Dr. Alberto responde.

– Falou sobre a minha gravidez? – pergunta receosa.

– Falei sim, mas é que eu achei que eles já soubessem.

– Meu pai deve ta surtando. – suspira imaginando a cena. – E o bebê doutora como ela?

– Pelos exames parece bem, mas eu só poderei afirmar com precisão ao fazermos a ecografia e por isso vou marcá-la para amanhã bem cedo.

– Será que aconteceu alguma coisa de grave com ele? – pergunta se referindo ao bebê que tinha acabado de descobrir que carregava.

– Provavelmente não, os exames mostraram tudo bem com você, o que te fez desmaiar e sentir dor foi um quase aborto, mas provavelmente fruto do treino que você fazia nessa hora.

– Eu não vou poder mais treinar?

– Olha minha linda depois desse susto de hoje eu vou te recomendar pelo menos um mês de repouso absoluto.

– Tudo isso?

– Karina eu não vou mentir pra você. Seu bebe quase morreu hoje, seu quadro que já era critico por estar grávida aos dezoito anos ficou ainda mais sério, agora sua gestação é classificada como de risco e isso te fará ter de seguir a risca as orientações médicas. – a médica responde calma.

– Tudo bem doutora e eu já posso ver minha família? – pergunta aos médicos que se entreolham.

– Assim tem bastante gente lá na sala de espera, mas eu só posso deixar entra no máximo três.

– Pode ser quatro?

– Tudo bem, quatro e quem você quer?

– Meu pai, minha irmã, minha madrasta e meu namorado. – lista e o médico sai para chamá-los enquanto a doutora fica lhe falando sobre a alimentação a partir daquele momento.

Na sala de espera Pedro chega com uma pequena sacola.

– Onde você foi? – João o questiona assim que ele para ao lado dele.

– Por ai. – responde simplesmente e então o Dr. Alberto entra na sala.

– E então doutor como ta minha filha?- Gael pergunta.