–K, por favor espera, eu posso explicar.

Karina parou abruptamente e se virou para encarar a irmã, que também tinha lágrimas nos olhos.

–Você não pode explicar nada, Bianca. Você fez o que você sempre faz, pensou em você mesma. -Karina respirou fundo. Ela estava com tanta vontade de dar um tapa em Bianca. Tanta. -Você quer saber de uma coisa, Bianca? Eu nunca trairia você. Não sei se o seu medo era que eu tentasse investir no Duca, coisa que eu não faria, porque eu sei o que é a dor de uma traição, e por pior que você tenha sido pra mim, eu nunca iria desejar isso para você.

Ouvir aquelas palavras só fez Bianca se sentir pior. Ela sabia que Karina tinha razão. Ela pensou sim na felicidade da irmã quando começou com aquilo, mas acima de tudo, ela pensou em como ela e o Duca seriam felizes e sem empecilhos, já que Karina estaria apaixonada por outro. No final tudo deu errado. Duca se separou dela, e Karina descobriu tudo. Como fora egoísta.

–K, por favor me desculpa. Eu amo tanto você. Você e o pai são minha única família, eu não vou aguentar a ideia de você me odiar. -a aspirante a atriz se desesperou.

–Pensasse nisso antes. -Karina se virou e Bianca a segurou pelo braço. -Me deixa em paz Bianca, eu não quero te machucar.

Karina saiu de casa transtornada. Não bastasse toda a discussão que tivera com Pedro, agora tinha Bianca. Sentou-se em um banco da praça e apoiou a cabeça nas mãos, suspirando. Ela tinha usado todo seu auto controle para não fazer com Bianca o mesmo que havia feito com Pedro.

–Por que essas coisas acontecem comigo?! -ela pensou alto.

–Iai loirinha.

Karina escutou a voz de Cobra, mas não o encarou. Não queria que ele a visse chorando. Ele sempre a via chorando. Quando ela descobriu de Duca e Bianca, quando Jade a humilhou, quando ela não obteve permissão de seu pai para participar do campeonato. Ele tinha o dom de chegar quando ela estava sofrendo.

–K, cê tá bem? -ele se ajoelhou na frente dela, mas não conseguiu ver seu rosto.

–Eu tô legal, só me deixa sozinha. -falou com a voz embargada.

–Você não tá bem. -ele falou firme. -Cê tá chorando, né?! Foi aquele moleque?! Eu vou matar ele. -ele alterou a voz. Sabia que Karina levantaria a cabeça se ele ameaçasse o guitarrista.

Cobra olhou o rosto de Karina e ficou um pouco assustado. De todas as vezes que a vira chorando, aquela sem duvida era pior. Seus olhos estavam vermelhos e o cabelo curto grudando na testa pelo suor. Ela estava visivelmente destruída.

–Ei loirinha, o que foi? -ele se apiedou da garota.

Cobra e Karina haviam se reaproximado um pouco, depois do campeonato, mesmo que Gael e os outros não soubessem. Não gostavam do garoto, logo não aprovariam a amizade dos dois.

Cobra se sentou ao lado de Karina e a abraçou de lado, um pouco receoso. Não era bom em consolar ninguém. Mas Karina era diferente, ela era uma versão dele, só que do bem. O garoto sorriu com o pensamento, ele mesmo se considerava mal.

–Do que cê tá rindo? -ela perguntou baixo.

–Nada. -ele notou que as lágrimas haviam cessado um pouco, e ela lhe observava. -Eu sei que sou todo errado, mas eu me preocupo com você, e não quero te ver sofrer, K. Você é a irmãzinha mais nova que eu não tenho. -ele bagunçou o cabelo da garota. -Me diz, quem foi que te fez ficar assim?

–Se você vai dizer que vai matar quem me fez sofrer, pode esquecer. -ela falou. -Já tratei de socar a cara dele.

Não que ela quisesse se gabar sobre ter batido em Pedro, mas entre ela bater no ex-namorado e Cobra, ela preferia ela mesmo cuidar daquilo, já que Cobra provavelmente deixaria o garoto em uma cadeira de rodas. E por mais que ela não quisesse se preocupar com qualquer coisa relacionada a Pedro, ela se preocupava.

–Foi o guitarrista então. -ele concluiu.

–É. -ela suspirou. -Promete que não vai bater nele?

–Depende. -ele resolveu provocar. -Como foi o soco? Você ao menos quebrou o nariz dele?

Karina deu um micro sorriso, que não passou despercebido pelo lutador.

–Já vi que sim. -ele sorriu para ela.

*~*

Karina foi tirada de suas recordações com o som da campainha de seu apartamento.

Só podia ser Bianca, à aquela hora da noite, ninguém seria mais inconveniente senão ela.

Ela observou mais um vez a foto em seu álbum. Ela, Pedro e Cobra. Ela amava aquela foto, foi a vez em que o ex-namorado e o amigo chegaram mais perto de se darem bem.

–Ai, minhoca. -Pedro gritou. -Tira uma foto minha e da Esquentadinha por favor?

–É Cobra, moleque. -o lutador se aproximou. -Tá querendo apanhar?

–Apanhar? Só da minha Esquentadinha.

Pedro beijou a namorada e Cobra bateu a foto deles assim mesmo.

–Pronto.

–Valeu minh... Cobra. -Pedro deu um sorriso de fechar os olhos e elevou o celular, enquadrando ele, Karina e Cobra na foto. -Olha a selfie. Um guitarrista no meio dos lutadores...

Ding Dom

Mais uma vez Karina foi tirada de seus devaneios pelo som da campainha. Bufou. Fechou o álbum e colocou em cima da cômoda, e se dirigiu à porta. Odiava quando lhe atrapalhavam.

A campainha soou mais uma vez.

–JÁ VAI, Ô! -ela gritou chegando à porta. -Sabe esperar não? Derruba a porta!

Karina abriu a porta e ficou estática, apenas observando a pessoa à sua frente.

–Ei, Karina. -ele falou meio sem jeito.

Pedro estava parado na porta. Uma mão no bolso e a outra equilibrando uma caixa de pizza. Os cabelos estavam mais curtos, mas ainda assim com aquele jeito bagunçado que deixava a lutadora desestruturada. Tinha um sorriso contido, mas seus olhos brilhavam. Ele estava vestindo uma calça jeans e uma camisa preta. Karina ficou um tempo observando o rosto dele, talvez quisesse contar aquelas pintinhas lindas que ele tinha na face. Foi tirada de seus devaneios pela voz do rapaz.

–Posso entrar?