Disorder escrita por Larissa Waters Mayhem


Capítulo 1
Capítulo 1 - Disorder


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Espero que gostem!
Muito obrigado, um abraço ♥



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Todos nós temos nossas quantidades enumeradas de “porquês” em nossas vidas, o porquê está aqui, ou o porquê de estar sofrendo tanto, porque alguns são mais ricos do que outros, ou porque alguns sofrem tanto enquanto outros vivem umas felicidades inenarráveis. Já parou para pensar que a nossa vida é uma grande duvida? Gastamos 99% da nossa vida nos perguntando por quê? E eu sei que você deve estar com uma duvida aí, “do que esse garoto doido está falando”, e eu juro que nem eu mesmo sei o que falo.

Aos quinze anos, fui diagnosticado com depressão, logo após a “viagem” do meu pai. Nunca entendi o que é ser depressivo, pois eu realmente não me considero um. Meu psicólogo costuma dizer que eu sou relutante a esse ponto, mas eu sou teimoso o suficiente para renegar essa depressão. Quando você lê uma matéria sobre depressão, ou ouve alguém dizendo sobre, você já imagina um infeliz que escuta Death Metal se cortando compulsivamente com um apontador quebrado, ou uma garotinha tirando foto mostrando o seu dedo do meio com a legenda dizendo “Antissocial”. Eu também pensava desta maneira, mas as circunstâncias me fizeram enxergar que essa “depressão” que temos, é nada mais do que o medo. Que particularmente, ainda estou à procura deste tal medo que me corroeu, mas eu ainda não encontrei.

Sou do tipo que tem uma crise existencial a cada noite, como o Dr. Jasper diz, é um dos sintomas de estar depressivo, isso é com certeza um grande problema, diz também que eu sou um grande exemplo de negatividade e pessimismo, e por que tudo isso? A complexidade de ser eu. Não leve isso tudo como uma reclamação da minha vida, e sim um desabafo.

- Luck! – minha mãe me sacudia, acordei assustado, minha mãe tinha essa horrível mania de “chacoalhar” as pessoas para acordá-las.

- Que horas são? – sussurrei, ainda com os olhos fechados.

- Seis horas, vamos querido! – mamãe tirou as cobertas de cima de mim, me fazendo sentir um frio apocalíptico nas penas. – Tem psicólogo hoje.

- Ah, agora que eu realmente não levanto – falei.

- Vamos! – bradou mamãe.

Devagar, levantei-me, coloquei meus pés descalços no chão, que estava gelado.

- Droga. – falei levantando-me, olhei para a janela, o dia estava como eu gostava. Cinza.

- Já reclamando, Luck? – perguntou mamãe – Olhe, você tem que ser mais agradecido!

- Claro – respondi irônico.

Andei até o banheiro e lavei meu rosto, mamãe falava algo, mas não conseguia compreender. Escovei os dentes, de repente meu pé esquerdo começou a formigar.

- Merda – bradei e comecei a bater o pé no chão, tentando fazer o formigamento parar – Bom dia pra você também pé, já começou o dia me dando trabalho? – falei para o meu pé.

- Está falando sozinho Luck? - gritou mamãe do quarto.

Esse é um dos motivos que a minha mãe acha que sou maluco.

- Conversando com meu amigo pé, que decidiu formigar novamente.

Voltei para o quarto e sentei-me na cama e esperei o formigamento passar. Me joguei na cama novamente e comecei a pensar em como o meu dia seria cheio de problemas e decepções. Começando pela escola, onde teria a obrigação de aguentar a hipocrisia dos meus queridos colegas de sala, todos sorrindo para mim, e eu tentando parecer casual os retribuía com um ligeiro sorriso torto. Os mesmos tentam parecer amigáveis, só pelo fato de temerem que eu me mate na frente deles, pois a ignorância deles é maior do que tentar entender que não é pelo fato de ser diagnosticado com depressão, e com indícios de suicídio, que eu realmente vou me matar. Decidi enganar a preguiça e me levantar para tomar café, devagar, desci até a cozinha. Mamãe estava sentada no sofá assistindo o “motivador” jornal da manhã, onde eles tentam de convencer que você pode morrer a qualquer momento.

- Conflitos urbanos? – perguntei enquanto colocava o café em uma caneca.

- Mais um garoto foi encontrado morto no Pub no centro de São Paulo. – comentou mamãe – Foi espancado por uma gangue. – disse espantada.

- Isso não é nada além do cotidiano – falei – Isso é a realidade – tomei um gole de café.

Mamãe olhou para mim e balançou a cabeça.

- Sua frieza me dá medo às vezes querido – falou.

Apenas sorri, pois isso não é frieza, é apenas a aceitação da realidade em que vivemos.

- Não vai comer? – perguntou.

Fiz que não com a cabeça.

- Vou me trocar – falei correndo até as escadas e subindo-as.

Não costumo fazer cerimônia para me vestir, coloquei uma blusa que havia usado no dia anterior do Joy Division, uma calça meio surrada e um tênis sem marca. Andei até o espelho e por alguns minutos fiquei me observando. Expressões vazias, como dizia meu psicólogo, um rosto nada atraente, que de longe parecia que estava definhando.

- Lembre-se, para o psicólogo. – falou.

- Claro, não vou me esquecer de um cara que realmente faz a diferença na minha vida.

- Chega de sarcasmo - disse mamãe.

Assim que saí de casa alguns vizinhos que lavavam a calçada com mangueira (deixando de lado o fato de gastar água a toa e inconsciente que talvez um dia ele seja o culpado pela escassez de água no mundo. Bem, ele me fitava com desgosto, eu sempre achei que aquele cara tinha medo de mim, ou algo assim, e eu nem sei mesmo porque.

- Vai para onde Lucas, um velório? – perguntou.

- Sim, para o meu. – dei um de obscuro para assustar o velho, e assim voltei a andar normalmente tentando não ligar para a cara de espanto do mesmo.

Eu andava quase parando, olhava para o chão fixamente, e nem mesmo me preocupada se para onde estava andando. Enfim cheguei até o ponto de ônibus, uma criança fazia birra com a mãe, enquanto a mãe tentava se controlar e não sair correndo deixando aquela pestinha ambulante em paz. Tirei o maço de cigarro de dentro no bolso e peguei um cigarro, o coloquei na boca e guardei o maço novamente, a criança birrenta parou de chorar e começou a me fitar.

- O que é isso? – perguntou a pestinha apontando para o cigarro. Tirei o cigarro da boca e o segurei entre os dedos.

- Isto é a forma mas eficaz de morrer – comentei, a mãe da garota arregalou os olhos, incorformada com o tipo de resposta que eu dei a criança – Isto de mata aos poucos, em silêncio, mas quando resolve aparecer te mata mais rápido que a velocidade da luz.

A criança ainda me olhava curiosa, pois creio que com seis anos de idade, não entendeu nada do que disse, mas eu sentia o ódio apocalíptico que a mãe da criança sentia de mim. Meu ônibus de aproximava, bom, assim não teria que ficar naquela ambiente em que todos me reprovavam. Assim que entrei no ônibus o motorista, Mário logo disse:

- Pode jogar esse cigarro fora – disse apontando para um lixo que ficava pendurado ao lado do seu banco.

Joguei o cigarro no lixo, Mário sorriu para mim e disse:

- Bom rapaz.

Passei pela catraca e me sentei ao lado da janela, assim que o ônibus começou a andar, fechei os meus olhos e rapidamente cochilei.

- Luck, a folga acabou meu irmão, acorda. – ouvia uma voz grave de fundo enquanto sonhava com algo que não me lembro.

- O que? – sussurrei.

- Vai descer no próximo ponto rapaz, até quando eu tenho que ficar te acordando? – falou.

Abri os meus olhos e era o cobrador, Henri, que sempre me acordava um ponto antes de chegar à escola.

- Valeu – disse me levantando – Um dia irei te pagar um salário por isto.

- Não vou aceitar o dinheiro da sua mãe – brincou – Vê se leva a sério os estudos meu chapa. – falou Henri.

- Beleza! – respondi, o ônibus parou no ponto em frente à escola e eu desci.

Corri para a sala, passando por todos os alunos e esbarrando em pessoas desconhecidas, quando cheguei a sala o professor já estava lá.

- Bom dia, Luck. – disse o Professor de História, Joseph.

- Bom. – respondi andando até a primeira carteira da segunda fileira.

- Como foi o final de semana? – perguntou.

- Como sempre. – respondi, peguei meu celular do bolso, pluguei meu fone dele e comecei a ouvir Joy Division, um gesto muito grosso da minha parte, mas eu realmente não estava a fim de conversar com aquele professor. Os alunos chegavam um de cada vez, todos passavam por mim e sorriam, como eu disse anteriormente, hipocrisia.

- Oi, Luck! – disse Barbara, uma garota com o ego a flor da pele.

Fingi que não a ouvi e me voltei para a música, quando a aula começou, nem tinha me dado conta, apenas olhava fixamente para o desenho de uma mulher nua na minha mesa.

- Luck! – bradou o professor, me tirando do meu transe, tirei o fone dos ouvidos e respondi.

- Presente.

Então todos da sala deram risada em uníssono, olhei para trás e todos pararam.

- O que foi? – falei.

- Você não estava prestando a atenção mesmo, não é? – falou – Estamos falando sobre a nossa história, pois todos nós temos uma história, ou vai me dizer que você é um livro em branco?

Suspirei, eu “adorava” o fato de todos os professores me usarem como “exemplo” de vida.

- Pode se levantar e dizer aos seus colegas, sua história de vida? – falou.

- Não – respondi – Acho que aqui nessa sala, existem pessoas com uma história de vida melhor do que a minha, meu chapa.

Já impaciente, o professor disse:

- Isto é uma ordem.

Sorri meio incrédulo com o que aquele professor frustrado estava dizendo, levantei-me e fui até o centro da sala.

- Pode começar. – ordenou o professor.

- Por que. – falei.

Todos entreolharam, e o professor perguntou:

- Porque o que?

- Isso é a minha vida, um por que.

O professor começou a rir, como se eu fosse uma espécie de palhaço, o que me deixou levemente nervoso.

- Isso não faz sentido. – falou.

- Nada aqui faz. – respondi, e logo voltei a me sentar ignorando os risinhos e os comentários toscos.

Coloquei o fone de ouvido novamente. Meia hora de papo banal se passou e o sinal para a troca de aula tocou, na escola, temos sala ambiente, então teria que ir até a sala de Geografia. O que acabava comigo, pois tinha que me espremer entre o povo apressado. Enquanto passava por um grupinho de garotas que gritavam, alguém me segurou pelo braço.

- Com licença, posso te fazer algumas perguntas? – disse uma garota.

- Não. - respondi tentando me soltar da mão da mesma.

- É rápido, por favor, não seja o décimo sétimo a me ignorar hoje.

Fiquei com uma certe pena da garota, se fato, é triste ser ignorado, mas eu não estava nem um pouco a fim de ouvir baboseira de ninguém.

- Venha aqui. – a garota me arrastou até o corredor dos banheiros, onde não tinha quase ninguém.

- Qual é o seu nome? – perguntou.

- O que? – perguntei.

- O que, o que? – perguntou confusa.

- O que você quer comigo? – perguntei.

O diálogo era baseado em perguntas.

- Sou no segundo colegial e preciso fazer uma pesquisa para...

- Não quero... – disse me distanciando, sem ao menos deixar a garota terminar de falar, já era tão natural ser grosseiro, que eu nem ao menos percebia quando eu era.

- Por favor, só algumas perguntas. – disse a garota.

- Tudo bem. – concordei.

- Certo – falou – Você é do terceiro, não é? – perguntou.

Fiz que sim com a cabeça.

- Você está interessado em fazer a formatura? – perguntou.

Fiz que não com a cabeça.

- Acha que a escola não tem uma capacidade de fazer uma boa formatura? – perguntou enquanto anotava algo em seu caderno.

- Eu apenas não quero fazer. – falei

- Posso saber por que essa sua falta de interesse nas atividades da escola? – perguntou.

- Não – respondi – Está anotando tudo isso o que eu estou dizendo? – perguntei.

- Não – respondeu – Estou apenas desenhando. – falou a garota me mostrando um desenho de gato mal feito.

- Qual é o seu nome? – perguntei.

- Deixe que o destino te conte isso. – disse a garota, logo se virou e saiu quase correndo.

Complexidade não é apenas um problema meu, mas dessa tal garota também.


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