Capítulo 11: Desvendando pistas

Quando entrou no seu quarto, Lara fechou a porta rapidamente e encostou-se a esta, atirando as roupas ao chão. Tentou pôr em ordem, os pensamentos, os batimentos cardíacos, a respiração, ou seja, tudo o que aquele safado do Jack Sparrow tinha posto de pernas para o ar.

- Safado, mulherengo, cafageste, … - Lara dizia entre dentes. - …sexy e bonito! – Lara deixou-se escorregar até ao chão. – E que beija bem demais. – Suspirou.

- Lara deixa-me entrar! – A voz de Alicia cortou os pensamentos de Lara, que no fundo não passavam de flashbacks sobre o que acontecera.

Lara levantou-se a muito custo e sentou-se na cadeira existente. Alicia abriu a porta e estancou quando viu a expressão de Lara.

- Credo, o que é que se passou? – Perguntou curiosa. – Parece que viste o passarinho verde!

- Nada. Estava a precisar de um bom banho. Relaxei imenso! – Disse, tentando esconder o verdadeiro motivo da felicidade estampada no seu rosto.

- Pois. – Alicia falou num tom desconfiado. – Veste-te. O Barbossa descobriu uma nova pista no mapa. Devemos ir lá ver.

- Ok. – Concordou Lara, meio distraída. – Deixa-me vestir as roupas.

Quando iam a sair do quarto, Alicia virou-se de repente.

- Sabes o que se passou entre o Jack e o Barbossa? – Perguntou.

- Eu? – Lara engoliu em seco. – Não, porque perguntas isso?

- Porque quando fui ter com eles à sala, o Jack parecia que estava nas nuvens e o Barbossa estava bastante amuado.

- E o que há de estranho? O Jack anda sempre com cara de bobo e o Barbossa anda sempre mal-humorado quando está à beira do Sparrow! – Lara tentou disfarçar com um sorriso amarelo.

- Deve ser isso. – Alicia não estava convencida. – Já agora, vestiste a camisa ao contrário. – Disse, sorrindo e apontando para Lara.

Após se sentarem todos à volta da mesa redonda, Barbossa mostrou o que descobrira no mapa.

- Se bem se lembram, o mapa revelou a localização do Vértice Temporal e deu duas pistas. – Barbossa rodou os anéis e as duas frases formaram-se à volta da imagem.

- As pistas indicam que temos que passar inúmeros perigos para chegar ao local e os que se safarem terão direito a inúmeros tesouros. Que eu saiba até são boas notícias, principalmente a última frase! – Jack sorriu ironicamente.

- Pois. Mas rodando os anéis, a frase de cima é substituída por outra. – Barbossa rodou e leu em voz alta. – "Grande perigo espreita do mar, para aqueles que o tentarem passar".

- Que sinais são esses logo a seguir à frase? – Perguntou Alicia debruçando-se sobre o mapa.

- A constelação de Orion e o número 1. - Esclareceu, passando a mão sobre os símbolos. - O número deve indicar que será o primeiro perigo a enfrentar. A constelação, acho que talvez indique que quando esta estiver visível no firmamento, algum perigo apareça. – Barbossa encolheu os ombros.

- Como é que isto me escapou? – Jack olhava para o mapa coçando a cabeça.

- Talvez pelo simples facto de em vez de te dedicares às tarefas de capitão, andes pelo navio a fazer o que não devias! – Exclamou Barbossa que olhava de forma reprovadora para Jack e para Lara.

Lara sentiu a pele queimar de tão vermelha que estava e virou a cara, mas encarou com Alicia que sorria sem perceber patavina do que se passava.

- Eu cumpro as tarefas de capitão, Hector! E uma delas é não fazer nada! – Jack riu abertamente mas perante os olhares perturbadores, perdeu o riso rapidamente.

- Parem com essas discussões sem sentido. Temos de descobrir o que será este perigo, para nos prepararmos. – Avisou Lara.

- Talvez mudar de rota? – Questionou Jack.

- Escolham a rota que escolherem, Orion estará sempre visível. – A voz melancólica sobressaltou os presentes, fazendo Alicia cair da cadeira.

- Estás bem? – Will correu para amparar Alicia, que não sabia se ria ou chorava de alegria.

- Ela está bem. É de plástico! – Gozou Lara.

- O que é plástico? – Perguntaram Jack e Barbossa curiosos.

- Esqueçam. É algo que não conhecerão! – Lara riu ao ver as caras de desilusão dos dois capitães.

- Sabes que perigo é esse? – Perguntou Barbossa.

- Não. – Will ajudava Alicia a levantar-se. – Sei que vive debaixo do mar e poucos sobreviveram para contar a história. Aliás acho que ninguém! – Will tentou desanuviar a conversa.

- Vive? – a expressão de Lara tornou-se séria. – Referes-te a um monstro ou coisa parecida?

- Talvez. Eu nunca vi, mesmo vivendo debaixo de água.

- Que horror! – Alicia abraçou Will, deixando este bastante baralhado.

Lara levou as mãos à cara em sinal de desagrado com Alicia, mas a verdade é que o feitio de Alicia não mudaria e tentaria conquistar Will de qualquer maneira. Lara tinha a certeza disso.

- Mas podem ficar descansados. Pelo que sei, esta "coisa" só aparece no Oceano Atlântico. Ainda temos pelo menos três dias até lá chegar.

Barbossa deu a reunião como terminada e voltou para o timão.

Antes de saírem, Jack encostou-se a Will.

- O tal bicho, ou o que quer que seja… não tem tentáculos nem é pegajoso, pois não? – Perguntou receoso.

- Não Jack, o Kraken morreu, lembras-te? – Will riu.

- Eu sei. – Jack fez uma cara de pânico. – Mas continuo a não gostar de moluscos. Menos os chocos, claro. São como eu, fogem em primeiro lugar! – Disse, com um sorriso triunfante.

Lara, Alicia e Will abanaram a cabeça, já habituados aos delírios de Sparrow. Lá fora, o dia tinha passado a correr. O crepúsculo abatia-se sobre o horizonte. O Holandês encontrava-se à superfície tal como prometera.

- Senhorita Alicia, precisava de falar consigo. – Will pediu num tom que variava entre o envergonhado e o nostálgico.

- Claro! Eu não tenho mesmo nada que fazer aqui! – Alicia sorriu docemente.

- Eu deixo-vos a sós. – Lara retirou-se bastante simpática, mas quando Will virou costas, fez sinal a Alicia para esta ter juízo e indicou que ficaria atenta. Alicia fez apenas uma careta.

Alicia conduziu Will para a proa do navio, embora este não precisa-se de guia já que conhecia o navio como a palma da mão. A rapariga apoiou-se no pau da bujarrona e Will continuou de pé.

- Senhorita Alicia… - Will começou a falar, mas Alicia cortou-lhe a palavra.

- Chame-me Alicia. E eu é que deveria falar em primeiro. Preciso pedir desculpa. – Alicia baixou a cabeça, levemente corada.

- Desculpa pelo quê? – Perguntou Will com uma expressão confusa. – Por lhe ter salvado a vida?

- Não. Por isso tenho de estar eternamente agradecida. O pedido de desculpas é pelo beijo! – Disse, sentido-se agora bastante envergonhada.

- Ah, isso! – Will ficou bastante pálido depois de se tornar no capitão do Holandês, mas não deixou de ficar com uma expressão de surpresa. – Não há problema. Eu é que fico lisonjeado por alguém querer beijar um capitão amaldiçoado!

- Eu não me importo com isso. – Alicia aproximou-se de Will. – Até acho que ficou bastante mais bonito depois disso!

- Pois. Eu soube da vossa origem e também que nos "conheciam" por causa de uns tais "tilmes"…

- Filmes! – Exclamou Alicia rindo-se.

- Ou isso! – Will sorriu afectadamente.

- Eu vou ser sincera, Will. Eu sou completamente apaixonada por ti, e foi por isso que cá vim parar. Desejei conhecer-te! – Alicia disse tudo de uma vez, para não se arrepender.

- Mas tu gostas é do Will do futuro…

- Não. Eu nunca gostei do actor. Foi sempre da personagem. E alguma coisa me dizia, quando olhava para o mar, que tu existias! O meu coração dizia isso. – Alicia começou a sentir uma leve falta de ar, como se tudo o que queria dizer aflorasse à sua garganta.

- Mas eu sou casado, Alicia. – Will sentiu um estranho aperto depois de dizer aquilo. Por um lado, sabia que era derivado ao amor que sentia por Elizabeth. Por outro, e esse não conseguia definir, tinha imensa angústia ao declarar isto a Alicia.

Alicia engoliu em seco e tentou controlar-se para não começar uma choradeira.

- Eu sei disso. E não duvido disso. Tu amas a Elizabeth e ela ama-te. – A última palavra saiu carregada de um certo desdém.

Will virou costas.

- Mesmo que não fosse isso, seria puro egoísmo da minha parte, envolver alguém tão doce… - Will voltou-se para Alicia sorrindo levemente. - … Nesta maldição. Se pudesse voltaria atrás quando me casei com Elizabeth.

Alicia arregalou os olhos.

- Não é justo fazê-la esperar dez anos para ter apenas um dia comigo. – Disse tristemente. Alicia reparou que Will era um poço de melancolia e tristeza e isso fez com que lágrimas tentassem escorrer pelo seu rosto. Will passou a mão sobre a sua face limpando as gotas que caíam.

- Se a Elizabeth não estiver à minha espera daqui a dez anos, eu compreenderei o seu gesto. Mas por enquanto, tenho de respeitar os votos de casamento, assim como ela os respeita. – Will beijou a mão de Alicia e desapareceu, voltando para junto da sua tripulação.

Alicia sentiu-se sozinha e com três sentimentos no coração: a certeza que ama Will, pena pela situação de Will e vontade de dar um tiro em Elizabeth.

Continua…