Meu Inimigo Pessoal escrita por Nakata


Capítulo 3
Capítulo 3 - Deusa


Notas iniciais do capítulo

Ei 3 capítulo! :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/551737/chapter/3

Saí correndo do refeitório para o pátio da escola. A Lua lá em cima tinha um ar melancólico, e brilhava entre as poucas nuvens que preenchiam o céu escuro. Olhei os meus dedos e os lavei em uma fonte de água.

Suspirei e me joguei em um banco, antes eu estava tão focada em sair daqui que quase me esqueci do meu sangue, quase me esqueci do meu cheiro. Droga! Eu era uma idiota e isso fazia eu me odiar.

– Ó deusa, se você existe- sussurrei - não deixe eles me descobrirem

Pedir para que a deusa dos vampiros o traíssem não era de lá uma boa idéia, mas se ela realmente existisse de certa forma era a minha última esperança.

– Novatos deveriam estar no refeitório – uma voz masculina soou por trás de mim

Murmurei alguma coisa sobre estar sem fome, e ele se sentou ao meu lado.

– Novatos sempre estão com fome – ele bufou – comem mais que bois

Olhei para o cara ao meu lado, ele parecia ter uns 17 anos e tinha os cabelos louros e sedosos. Apesar de todos os novatos e vampiros terem olhos rosa/vermelho os dele eram de um azul profundo, como se fosse um Oceano e eu pudesse nadar lá dentro. Eca!

– Você também é novato – me ouvi dizendo

Ele me olhou como se eu fosse a pessoa mais retardada do mundo.

– Já fui, há 100 anos atrás. Agora sou um professorzinho em uma escola pé no saco, para um bando de adolescentes que sonham em conquistar a imortalidade

Por um momento refleti sobre aquilo, o sonho de todo adolescente de fato é ser um sugador de sangue, fala sério quem nunca sonhou em abrir uma artéria? Mas agora, nesse momento pude ver quão assustador a palavra “imortalidade” poderia soar. Levar todas as suas dores e seus problemas para sempre, viver cada dia como se ele fosse qualquer um porquê de fato você sabe que tem mais uma infinidade de dias para viver, as coisas perdem o sentido quando você tem uma eternidade toda para fazer as coisas, tudo parece tão insignificante

– O senhor não sente falta dos seus pais? – perguntei

– Ah, por favor, que mané gosta de ser chamado de “senhor” – ele fez aspas com os dedos ao pronunciar a palavra “senhor”

– Você não sente falta da sua vida humana? Viver a imortalidade parece tão... triste

Ele me estudou, e é claro que os olhos dele foram parar logo nos meus. Eu achava mais do que nunca que precisava de um óculos de Sol.

– É a novata? Bom, deixe eu te dizer uma coisa – ele se virou para encarar a lua – A nossa deusa, nos concedeu algo que de fato poucas pessoas podem ter, ela nos deu a imortalidade para que ela pudesse cuidar dos seus filhos e vê-los fazendo coisas certas para a humanidade, não para que a usássemos de má vontade e para fazer coisas erradas.

– Pena que poucas pessoas sabem disso – olhei para a Lua, ela estava ainda mais brilhante

– Pessoas sábias podem saber, os seres humanos só enxergam aquilo que eles tem vontade de ver, eles ignoram o mundo e as magias que se escondem por trás deles. Eles seriam poderosos se enxergassem a natureza que eles vivem

Fiz uma careta, ser humana não tinha nada de “mágico”, servir de comida para vampiros e essas coisas, não é o que posso chamar de “meu sonho de vida”

– Você tem um cheiro estranho - ele comentou me olhando – não, não é ruim, só é estranho

– Mas você ainda não me disse da sua vida humana - eu disse, desesperada para mudar de assunto. Ótimo, a última coisa que eu precisava era de um vampiro me cheirando.

Os olhos dele ficaram tristes e por um momento me arrependi profundamente de tocar no assunto.

– Na época eu não entendia o que eles faziam, mas agora eu vejo o quanto fui egoísta e por mais que eu tente superar, falar sobre isso ainda dói, se é que me entende...

Fiz um gesto positivo com a cabeça e abracei meu joelhos, á claro que eu entedia, apesar da minha família ser maravilhosa, a dor nos olhos dele deixava claro que aquilo o magoava profundamente.

– Quem é a sua deusa? – perguntei

Ele olhou para a lua novamente refletindo

– Kera, ela tem uma história linda e muito triste apesar de tudo, ela é a nossa força.

– Ela parece ser boa mesmo – revirei os olhos – talvez algum professor queira me contar a história

Ele deu uma gargalhada rouca e só agora percebi que eu mal perguntei o nome dele. Ah! Que mania linda de não se apresentar.

– Bom, eu estou com tédio e posso te contar

–Anh, isso seria ótimo – sorri

– Ela era filha de Nyx e Zeus, mas nasceu humana, bom, ou quase isso. Zeus ficou enfurecido ao perceber que a sua filha com uma das deusas mais poderosas tinha nascido humana. Então sequestrou Kera ainda bebê, e mandou seus servos caçar todas as virgens do país, crianças e adolescentes tiveram todo o sangue drenado e jogado em um lago, o lago ficou vermelho pelo caos, dor e tristeza. Zeus pegou a nossa deusa Kera e a jogou no lago, ela ainda era bebê então se afogou e engoliu o sangue das virgens. Zeus não a ajudou, ele sabia que Nyx iria sofrer, ela era a deusa da pureza e da noite. Kera passou a sua vida consumindo o rio ensanguentado, quando saiu de lá ela começou a sua nova espécie prometendo fidelidade a sua mãe, a lua. Apolo ficou enfurecido, ele queria ter a sua marca sobre essa nova espécie criada por sua irmã, e já que ela não pediu sua benção ele jogou sobre nós a sua maldição. Kera começou a ser torturada pelo Sol, então ela se escondeu em uma caverna e ainda mantém sobre nós a sua bênção

– Uau, mas como ela sobreviveu no rio? Sem comida, sem nada?

Ele me olhou de novo como se eu fosse a maior retardada da história. Certo, talvez eu fosse, mas de fato nunca tinha estudado nada sobre esse negócio de mitologia Grega, o máximo foi sobre Teseu e olhe lá.

– Ela era filha de dois deuses, e como eu disse ela não era de todo mortal, só Zeus acreditava que era.

– Anh, então ela era imortal, mas por quê Zeus fez isso com a própria filha?

– Porque ela estava em um lugar que não a pertencia, ele acreditava que ela era humana, então o Olimpo não era pra ela – ele rangeu os dentes

– Só por que ela era humana? – deixei o queixo cair

– Sim. Porque é isso que acontece quando temos intrusos no nosso mundo. É isso que acontece quando alguém tenta se passar ou viver como algo que não é, eles são mortos, eles merecem isso – ele sorriu

Engoli um seco e fiz um gesto positivo com a cabeça.

– Tenho que ir, te vejo amanhã na aula de teatro – ele se levantou e começou a caminhar, alguns passos depois ele parou como se tivesse esquecido de algo e virou-se para mim novamente – Meu nome é Damen

– O meu é Haven

Ele sorriu e sumiu entre a noite novamente. Eu estava prestes a me levantar e caminhar até o dormitório novamente, estava antes de uma mulher aparecer do meu lado. Tipo, aparecer mesmo, eu nem tinha ouvido sons de passos ou qualquer coisa, ela simplesmente... Apareceu.

– Tentador, não? – ela disse com uma voz calma, mas extremamente poderosa.

Engoli um seco e me virei para a mulher, diferente de todos os outros vampiros essa era mais do que linda, ela parecia até brilhar. Os cabelos castanhos caíam sobre o seu busto destacando os olhos verdes profundos, ela quase parecia comigo se não fosse um milhão de vezes mais linda, ela usava um vestido branco que estava seriamente sujo de sangue.

– Quem é você? – perguntei com uma voz tão estranha que quase não reconheci sendo minha.

– Eu sou Kera, a deusa dos vampiros.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews??