Just One More Day escrita por Ana Viollet


Capítulo 16
Capítulo XV - Especial Part. 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/551456/chapter/16

Tarde da noite, uma jovem ruiva olhava de modo pensativo para fora da janela de seu quarto temporário, o de hóspedes da casa. Ela observava a noite caindo, aprofundando-se, enquanto o vento frio batia em contraste com sua branca pele.

O moderno quarto em a moça se encontrava cheirava levemente à bebida, amaciante de roupa vindo dos lençóis e luxúria, algo que nunca chegou a abandonar. Naquela noite, a adolescente entregou-se completamente a um dos morenos da casa, mas não àquele para quem estava prometida, e sim, para o ovelha-negra. Não ligava necessariamente para ele, não sentia nada por Madara. Queria apenas divertir-se, esquecer.

Logo após o almoço, Karin foi recebida por uma família falsa, moldada e articulada pelo patriarca dos Uchiha. Após a ida de Fugaku e Mikoto ao aeroporto, Itachi logo tratou de sair, para livrar-se de toda aquela atmosfera. Teve uma breve conversa com o irmão mais novo e partiu para o café mais próximo. Já Madara observava atentamente aquela estranha e forçada relação que era estabelecida entre a ruiva e Sasuke, contendo à malícia presente em seu olhar. Madara simpatizava com ela apenas por ser mais um infortúnio na vida do mais novo.

Era uma relação visivelmente desconfortável para o moreno mais novo. Ele tentava, ao máximo, suportar, ser o cavalheiro que foi ensinado a ser. Entretanto, as investidas de Karin, por mais que singelas, a deixavam insuportável. Ela demonstrava ter duas ou mais personalidades, pois era um doce diante da família e, até certo ponto, foi assim com Sasuke, mas sua personalidade podia mudar em uma fração de segundos, tornando-se fria.

Karin acordou abruptamente na madrugada com uma presença um tanto inesperada em seu quarto, o que acabou resultando em algumas horas de distração para a moça. No momento, ela observava melancolicamente a movimentação das ruas, vazias. Internamente, se perguntava o porquê de não ser boa o suficiente, o porquê de Sasuke ter ido seja lá onde for. Sua mente estava viva, pensando nas inúmeras possibilidades, que reforçavam ainda mais a instabilidade mental da moça.

“Não vai voltar para a cama? ” A voz rouca de Marada ecoou pelo quarto, acordando a moça. Ela se virou, seminua, observando um jovem musculoso coberto pelos lençóis, quase incrédula com o que ele havia dito.

“Para onde ele foi? ” Karin se aproximou da cama, cobrindo-se com os lençóis em seguida. “É a última vez que pergunto. Para onde o Sasuke foi?"

“Ei, calma. ” Madara esboçou um sorriso com a frustração da moça, mas logo partiu para a provocação. “Você realmente quer saber? Se eu fosse você... ”

“Não estaria perguntando se não quisesse. ” Interrompeu-o.

“Já que você quer tanto saber, ele provavelmente foi se encontrar com a doentinha, Sakura Haruno. Ela é a primogênita da família com quem os Uchihas estão viajando e estabelecendo os principais acordos comerciais. Menina muito bonita, olhos verdes, pele alva...”. Provocou, por mais que não estivesse falando mentiras.

“Eu não quero ficar aqui ouvindo isso de você, Madara, apenas me diga o porquê, o porquê dele ter ido. De ter abandonado a futura noiva dele aqui! ” Karin se exaltou ainda mais. Levantou-se da cama e passou a andar de um lado para o outro do quarto.

“Ele deve ter pena dela. Sasuke sempre teve esse instinto protetor impregnado nele, o que sinceramente me deixa enojado. Vai ver está acontecendo algo entre os dois, não tenho certeza. ” Provocou mais uma vez. Karin lançou um olhar raivoso para cima dele, que logo tratou de se redimir. “Mas, Karin, escute...”

Madara se aproximou e puxou a ruiva pelo braço, fazendo com que ela parasse com sua inquietação. Ela sentou na cama novamente, um pouco mais calma, prestando atenção no moreno a sua frente. “Ela não é uma ameaça! Eu lhe garanto...” A ovelha falou com toda a convicção. Logo, abriu um sorriso de lado e deu um rápido beijo na ruiva a sua frente.

Com isso, uma ideia impulsiva passou rapidamente pela mente da ruiva, o que foi o suficiente para a moça arquitetar um plano de imediato, diante da situação psicologicamente frágil em que estava. Madara também era um Uchiha, afinal de contas. Beijou o moreno em sua frente lascivamente, pensando em algo mais, em seu objetivo. Passou as mãos desesperadamente pelo corpo do mais velho, tocando-o. Madara a correspondeu igualmente faminto, mesmo que surpreso pela mudança no temperamento de Karin. Ao separar-se da ruiva em uma busca por ar, ela esboçou um sorriso malicioso.

“Eu tenho você...”

[...]

Na manhã daquele dia, em um ambiente totalmente diferente, o cheiro maravilhoso de frutas vermelhas invadiu as narinas de um certo moreno apaixonado, que enlaçava os seus braços em volta do pequeno corpo de sua amada, coberto pelo fino tecido de seu pijama.

Sasuke observava sua flor dormindo, notando cada detalhe da feição tranquila da jovem. Parecia dormir tranquilamente, livre de qualquer pesadelo ou memória que pudesse a atormentar por aquela noite. E sempre era assim, enquanto ela estivesse com ele, com seu anjo protetor.

Os raios solares invadiam singelamente a janela coberta por cortinas de cor pastel. Já eram 7 da manhã e Sasuke precisava se levantar para preparar tudo que havia planejado. Levemente, afastou o frágil corpo de Sakura, para assim poder levantar-se e sair da cama, o que foi seguido por gemidos incomodados vindos de sua namorada. Sua mão correu lentamente pelo local onde Sasuke antes estava deitado e parou, percebendo que não tinha mais ninguém lá.

“Sasuke-kun...” Sussurrou sonolenta. Abriu levemente os olhos, percebendo a luminosidade já presente no local. Queria levantar-se, mas o seu corpo pesava. O seu esquálido corpo pesava e não a deixava sair. O cansaço era o maior culpado.

“Eu estou aqui, meu amor... Durma mais um pouco, ok? Eu sei que você está exausta. ” Pegou em sua mão, depositando um quente beijo nela, ato que a tranquilizou. A memória de como a encontrou na noite passada assombrou a mente de Sasuke mais uma vez.

Aparentemente, Mebuki teria a ligado naquela noite, persuadindo a filha a treinar incessantemente a dança por quem tanto era apaixonada. Para a matriarca sua filha sugou tudo o que havia de bom em sua vida. Seu talento, sua juventude, sua beleza... Sakura passou em torno de 6 horas no estúdio que se localizava no último andar da casa, treinando e aperfeiçoando sua dança, tudo isso sem uma colherada sequer de comida ou intervalos em demasia para beber água. Como resultado, lesionou seu tornozelo e sentia-se fraca demais para sair de lá. Sua mãe sabia como persuadi-la, como puni-la de uma forma que só ela sairia prejudicada, só ela estaria em dor. Mal previa Mebuki que os sintomas da filha ultrapassavam o físico.

A rosada estava em um estado depressivo recorrente. A felicidade esvaia do seu corpo tão rápido quanto chegava, provocando pensamentos nada agradáveis à moça. Era um real infortúnio, tanto que a sua única esperança estava naquele moreno que tanto amava. O único que a dava forças, que a apoiava em seus momentos de crise, que a acalmava. Ela amava-o acima de tudo.

Desde que estiveram namorando, pouco tempo após o primeiro contato dos dois, Sasuke fazia o máximo para visitá-la quando possível. Em viagens de sua família, finais de semana... Ele era responsável pelo sorriso da rosada, responsável por falar, todos os dias, o quanto a amava, quão bela era ela. Não seria diferente nesse dia, pois cada momento era precioso.

Sasuke preparou tudo em torno de uma hora. Várias frutas, recheios e alguns sanduíches estavam prontos. Decidiu subir e buscar Sakura, que provavelmente já teria acordado naquela hora. Quando chegou ao quarto, se deparou com uma rosada um pouco nervosa, que estava de costas para ele, encarando-se no grande espelho a sua frente. Até que percebeu a presença do mais novo.

“Ah, Sasuke-kun, desculpe...” Levou sua mão direita até a região dos olhos, limpando qualquer lágrima que pudesse ter ficado. Estava chorando com muita facilidade, demonstrando o qual sensível a adolescente estava. Sasuke olhou diretamente para o curativo que estava em seu tornozelo, pensando que pudesse estar doendo, mas sabia exatamente o que estava causando dor à rosada.

“Está tudo bem? ” Se aproximou da rosada e segurou em seus braços, que estavam cruzados. Ela afirmou com a cabeça, mesmo com os olhos um pouco marejados.

“Sim, obrigada pelo curativo. E por cuidar de mim. ” Agradeceu. Sasuke abriu um sorriso tímido e aproximou-se ainda mais da namorada.

“Sempre... ” Os lábios de ambos se tocaram em um beijo lento e apaixonado, marcando um contato desejado pelos dois. Ao se separarem, Sakura abriu um sorriso tímido e deu um rápido beijo no moreno. Sasuke retomou a fala “Vamos, eu preparei algo para nós”

De mãos dadas, desceram até o jardim da casa, o mesmo local onde conversaram pela primeira vez há alguns anos atrás. Sakura não pode conter seu sorriso quando viu praticamente um piquenique montado em um certo local do jardim. Por mais que a comida a assustasse um pouco, só de saber que Sasuke colocou tanto esforço naquilo, já a fazia feliz.

“Quanta coisa! ” Falou surpresa. Olhou para Sasuke um pouco nervosa.

“Eu quero que você coma apenas o que consiga. Nunca vou lhe forçar a nada...”.

“Eu sei disso, por isso vou tentar. Está tudo muito lindo, obrigada. ” Falou uma Sakura sincera, que logo simpatizou com algumas frutas presentes ali no meio, principalmente as vermelhas.

Após o café-da-manhã, o casal sentou-se no mesmo banco de antes. Sakura se apoiou no ombro de Sasuke, que passou a mão pelas suas costas, puxando-a mais para perto.

“Foi aqui que conversamos pela primeira vez...” Disse Sasuke, melancolicamente. Lembrou-se de quão cansada a rosada estava, de quão exausta estava. E, por um momento, ficou agradecido por mais um monótono jantar de negócios de seu pai. Por meio de um, conheceu o seu amor.

“Eu fico feliz de você ter vindo falar comigo, caso contrário...”

“Eu sei, mas estamos juntos agora. E eu quero construir um futuro com você, Sakura. Se você não quiser, eu... eu vou entender, nos conhecemos a poucos mais de 3 anos e...”

“Ei, Sasuke-kun, como eu poderia dizer não? Eu te amo. Você ainda duvida disso? ” Tocou levemente o rosto do moreno, que fechou os olhos com o toque. A confissão o fazia bem, muito bem.

“É muito bom ouvir isso”. Confessou. “Eu vi você se olhando no espelho mais cedo, Sakura, você é linda, não sei como você pode ser insegura sobre si. Seja como for, eu irei te apoiar, pois não posso ver você se machucando dessa forma. Irei te ajudar em qualquer circunstância, pois eu também te amo”

“Sasuke-kun...” Sakura pensou em citar a mãe, como ela reagiria quanto a relação.

“Iremos dar um jeito, ok? Eu lhe garanto. ” Ele se antecipou e pegou a mão de sua flor, beijando-a. “Seremos felizes, vamos nos formar, nos casar... Teremos nossa própria liberdade. Eu tenho certeza que minha felicidade não seria completa sem você. ”

“Nem a minha...”

Com confissões sobre confissões, a noite acabou caindo. Jantaram algo bem rápido e logo foram dormir, cansados pelo longo dia, mas satisfeitos pelo tempo que estiveram juntos. E essa felicidade poderia se estender pelo resto dos dias, se não fosse por uma incômoda ligação durante a madrugada.

[...]

“Não, mamãe, não faça isso comigo, por favor...” Sakura suplicava para a sua mãe após a indesejada notícia que a matriarca havia contado. Mebuki estivera tentando ligar para a filha o dia todo, só conseguindo já tarde da noite.

“Você não me dá escolhas, Sakura, você sabe que seu pai e eu não aceitamos essa relação! Eu tinha certeza que se eu deixasse a casa sem qualquer empregado, você iria ficar desleixada. Do que adianta ter liberdade se não consegue lidar com ela? Você tem que se dedicar aos estudos, à sua dança.... Um garoto só irá atrapalhar, independente da família a qual ele pertence! ” A mãe dizia, já irritada do outro lado da linha.

“Mas eu estou fazendo tudo como a senhora pediu, eu juro. Eu não quero sair de Konoha, mamãe, por favor. Não faça isso comigo, não faça isso conosco. Eu não aguento mais...”

“Quando eu chegar conversaremos mais a respeito disso, mas eu não vou voltar atrás no que eu disse, Sakura. Você vai estudar fora e ponto final, sem discussões. ”

“Eu não aguento mais, mamãe...” Mebuki desligou quase que de imediato após sua fala, enquanto as lágrimas chegavam igualmente urgentes nos olhos da filha adolescente. A frase vinda da menina era sincera, desesperada. Sakura simplesmente não aguentava mais.

Soltou o celular, que caiu em cima do mármore do banheiro. Apoiou os cotovelos sobre o mármore e pôs o rosto entre as mãos, que abafavam o choro desesperado da jovem. Sakura chorou baixinho, por um ou dois minutos, já no canto do banheiro. Encolhia-se entre as paredes, querendo apenas sumir dali. Ela olhou de relance para o lado de fora do cômodo, vendo apenas uma certa pessoa deitada na cama de casal.

“Sasuke...” Pensou mais uma vez que o amor não foi feito para ela. Por quê teve de viver dessa forma? Presa? Amando as escondidas? Como iriam realizar os tantos sonhos que prometiam um a outro? Não seria possível viver uma relação saudável, ter filhos, casar-se, pois sempre teria intervenção de sua família. Sakura não poderia amar em paz, viver em paz. “Eu te amo, tanto.... Mas eu não consigo. Não aguento mais, ”. Sussurrou baixinho, apenas para si. As lágrimas continuavam a cair...

Levantou-se rapidamente e se apoiou no mármore mais uma vez. A figura que a olhava de volta no espelho era magra, desarrumada, de olhos avermelhados. Quantas vezes já se viu assim? Nessa mesma situação? Era incontável. Passou a abrir e procurar pelos armários mais próximos de onde estava, quase que desesperada, até que encontrou o que desejava.

Olhou para o recipiente de plástico com um certo receio por alguns segundos, até que o abriu, despejando todo o conteúdo em sua mão esquerda. Dezenas de comprimidos brancos e cilíndricos, alguns até chegaram a cair no chão, mas pensou que aquela porção seria suficiente. Seria suficiente para uma passagem sem volta.

Com a outra mão fechou a porta do banheiro, trancando-a. Buscou o celular mais uma vez e abriu no aplicativo de gravação, colocando como destinatário o número de Sasuke. Clicou e logo viu o botão vermelho piscar, avisando que estava gravando. Começou a falar.

“Me desculpe, Sasuke-kun, eu espero que você me perdoe um dia, mas eu não aguento mais. Não aguento mais a pressão, essa vida junto à minha família, a tudo que eu estou sendo submetida. É demais, é... ” Parou por um momento para pegar ar e abafar as numerosas lágrimas que caíam. “É sufocante. Eu não posso saber se teremos um futuro certo juntos, pois minha família sempre... sempre está a interferir. Eu queria ficar ao seu lado, ser livre para amar você, mas eu não posso. Eu sei que nunca poderei. ” Deu mais uma pausa de alguns segundos e voltou. “Eu quero que você saiba que eu nunca amei alguém como amei você. Nunca quis tanto ficar com alguém, crescer com alguém, viver... Eu te amo. Eu te amo por tudo que você fez por mim nesses anos, por toda ajuda que você me deu, você foi o motivo da minha felicidade, do meu sorriso. Por isso, eu quero que você seja muito feliz um dia. Por mais que não seja comigo...”

Por fim, levou a sua mão esquerda até a boca, engolindo boa parte dos comprimidos. As lágrimas caíam, o arrependimento estava longe demais para ser sentido, as substâncias já faziam efeito no organismo... E não demorou muito para tudo ficar preto.

Seus olhos se fecharam e tudo escureceu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, leitores ❤

Primeiramente, peço desculpas pelo pequeno atraso em relação à postagem desse capítulo. Era para ele ter saído durante a tarde do sábado, como usual, mas acabou surgindo um compromisso que ocupou boa parte da minha tarde/noite de ontem, então só pude postá-lo agora. Outro motivo que acabou prolongando a postagem desse capítulo foi o fato desse em questão ter sido extremamente difícil de escrever e finalizar. Foi, sem sombra de dúvidas, um dos capítulos mais complicados a ser escrito até agora. Passei horas encarando o Word em branco. Escrevia um pouco, apagava, escrevia novamente, analisava o que tinha escrito, apagava....

Sinceramente, acredito que toda essa inquietação se deve ao teor do capítulo, sobre o que ele se trata, que na realidade é sobre um momento bem trágico na vida de ambos os principais. O suicídio - ou suas tentativas em si -, ainda é considerado um tabu por muitos, mas é um assunto que deve ser discutido e encarado com seriedade. Eu quis abordar esse tema não para chocar, causar repulsa ou qualquer coisa parecida, longe disso. Eu quis mostrar os estágios pelos quais a Sakura passou, ou melhor, pelos quais uma pessoa com depressão passa ou tende a passar um dia. É uma dor sem fim, contínua, que leva a situações como as que eu retratei aqui na fanfic. Peço desculpas se alguém se sentiu incomodado ou coisa parecida, não foi minha intenção. Deixe-me lembrá-los que esse capítulo é um flashback, uma memória do que já aconteceu. Cada parte dele é de grande importância para o entendimento da história mais para frente.

Espero que tenham gostado. Quero agradecer a todo o apoio de vocês, de verdade, muito obrigada!

Até o próximo capítulo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Just One More Day" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.