Os passos apressados estalavam como palmas descompassadas. A escada caracol parecia que não teria fim. Jemma Simmons descia rapidamente as escadas do bunker, como se isso pudesse expulsar seus pensamentos dolorosos como um soco fatal. Havia arrumado suas coisas – suas poucas e surradas coisas. – e estaria partindo naquela manhã. Não estava pronta para enfrentar aquela situação.

Skye mal havia começado seu treinamento com May, quando ouviu a porta batendo atrás de si. Seu coração apertou-se dentro do peito. Já havia notado a ausência da amiga antes mesmo que ela fosse embora, tal era a dor que seus olhos bondosos expressavam. Assistir ao seu doce Fitz imerso naquela insanidade havia sugado suas forças, mexia com seu psicológico de tal maneira que ela não tivera outra escolha. Mesmo assim, Skye não entendera. Perder Ward já havia sido devastador, e agora ela? Skye não teve nem mesmo tempo para lamentar. Havia toda uma S.H.I.E.L.D. para reconstruir, o mundo estava em perigo e mais uma vez a Hacker consertou seu coração para se focar no que seria o maior trabalho da sua vida.

Mas a dor ainda estava lá em algum lugar. Suprimida em inúmeras camadas.

Jemma nem mesmo se deu ao trabalho de explicar alguma coisa. Havia uma semana e meia que Fitz havia acordado e todas as noites ela se achava chorando. Skye havia tentado acalma-la de todas as maneiras, mas parecia em vão. Vez ou outra o pesadelo era o mesmo: Água. Muita Água. Ela precisava fazer alguma coisa, não sabia ao certo se deveria ficar ali. Destacou uma nota de recados e pegou uma caneta qualquer – mesmo que preferisse aquelas de escrita fina – e começou a delinear o que seria uma carta de despedida. Não. Ela não olharia nos olhos deles para dizer adeus.

Tomou um dos carros pelo meio do caminho. Aquele estacionamento não era lá muito seguro e ela precisava de um veículo se quisesse ser útil. Anos assistindo programas policiais realmente havia valido a pena. Fez ligação direta e mexeu no retrovisor algumas vezes. Olhou para o espelho e limpou a maquiagem preta embaixo dos olhos com um lenço do porta-luvas. Pelo que havia ali, aquele carro pertencia a uma mulher. Joanna Gutemberg pra ser mais exata.

- Desculpe-me, Joanna – ela pronunciou, dando a ré para sair do estacionamento. – Mas preciso do seu carro nesse momento.

Os pneus de segunda mão arrancaram sobre o asfalto, formando uma nuvem de fumaça negra pelo caminho. Jemma respirou fundo ao atingir a estrada, longe de policiais, de semáforos e de pessoas que pudessem lhe fazer perguntas. Pegou seu telefone celular e discou um dos números que estavam bloqueados por senha. Ativou o alto-falante enquanto dirigia sem desgrudar os olhos da estrada adiante.

- Alô – a voz masculina mostrou um tom de animação. – A que devo a honra, agente Simmons?

- Disseram-me para ligar pra esse número em caso de...

- Interesse. – o homem respondia satisfeito do outro lado da linha. – E então, repensou a minha oferta?

- Na verdade sim.

- Acho que sei como, mas... Quem te direcionou para o meu telefone pessoal?

- Achei um cartão com seu nome quando estava mexendo nas coisas do Ward. Depois que o prendemos no Bunker. Ele havia tentado entrar em contato, mas Coulson cuidou dele.

- Entendo – o homem endireitou os óculos e prosseguiu. – Ward não é mais problema nosso.

- De fato. – Simmons sorriu e aumentou o tom de voz – Sedado e preso em um contêiner de metal, completamente informatizado... A mercê dos interrogatórios de Skye. Ward é uma peça a menos.

- E você não é? – ele a desafiava.

- De maneira nenhuma.

- E você supõe que eu vou simplesmente acreditar que isso não é nenhum golpe da S.H.I.E.L.D. para nos espionar? Nós somos os pioneiros nisso, garota! Antes mesmo de você nascer, nós já estávamos nesse negócio.

- Não precisa considerar minha oferta. – Simmons voltou a pronunciar lentamente, deixando escapar alguns sorrisos pelo meio do caminho. – Apenas estou procurando um trabalho melhor do que o último. E – ela deu uma pausa, usando toda sua autoridade pra falar aquilo. – Não me chame de garota.

- Vai precisar mais do que isso para me convencer.

- Oh, meu caro – Simmons pronunciou, mordendo os lábios logo em seguida. – Você realmente acha que é o único a me oferecer um emprego à minha altura? – ela soltou uma risada espontânea do outro lado. – O que eu estou lhe oferecendo é apenas a chance de colocar as mãos em toda a minha pesquisa feita em anos de estudo dentro da S.H.I.E.L.D. É claro que eu poderia ir para o setor privado como bem entendesse.

Os dois ficaram em silêncio. O recrutador provavelmente estava digerindo aquelas palavras, procurando qualquer traço que pudesse incriminá-la ou provar que aquilo tudo era mentira. Porém, a calma e a tranquilidade com que ela falava, fazia com que seu discurso fosse realmente convincente.

- Bom, se não temos mais nada a tratar, tenha um bom dia senhor...

- Não, espere – ele não podia deixa-la desligar. – Você sabe que vai passar por um árduo treinamento, não sabe?

- Por acaso está reconsiderando sua oferta? – ela não pôde evitar um sorriso. – Não quero ser nenhum incômodo...

- Gostei de você, agente Simmons. – ele admitiu por fim. – Encontre-me na saída do aeroporto há quatro horas ao sul de onde você está.

- Ótimo. – ela ignorou o fato de estar sendo rastreada neste exato momento. – Depois que falarmos sobre o meu pagamento, podemos tornar as coisas mais oficiais.

- Naturalmente. – ele respondeu, com um sorriso nos lábios. – Está marcado. Não se atrase.

- Não no primeiro dia, senhor.

Jemma desligou o telefone e suspirou. Estava mesmo prestes a fazer aquilo. Na verdade, não tinha volta. Ela entrara na mira da HIDRA no exato momento que discou aquele número. Mas ela não estava nem perto de se arrepender daquilo.

* 4 Meses e meio Depois...

- À sua esquerda, Simmons!

O treinador gritava, forçando a garota a correr mais rápido em direção aos alvos. Ao contrário do que ela mesma pensava, não estava se saindo muito mal. Na verdade, estava sendo elogiada pelos outros agentes, pelo seu desempenho, embora tenha sido árduo no primeiro mês. O treinamento da HIDRA era intenso, desgastante em todos os sentidos. Mas desde o terceiro mês, Simmons já havia sido mandada em missões simples de escolta, ficando na retaguarda. Ela estava realmente dando tudo de si.

- Agora!

Ela rolou pelo salão e escondeu-se atrás da coluna, atirando nos alvos móveis logo após fazer contato visual com eles. Em apenas 10 segundos, só o que se viam eram as penas flutuando e o sangue escorrendo pelo salão. Ela havia acertado todos os pássaros.

- Muito bem, agente Simmons! – ele a cumprimentou, fazendo-a sorrir. – Sete de sete. Foi o seu melhor resultado até agora.

- Obrigada, senhor – Jemma respondia, com as mãos apoiadas nos joelhos e a respiração pesada. – Tenho treinado muito pra isso.

- Você está escalada para uma nova missão.

- Fico contente em saber, senhor. Do que se trata?

- Donald Gill.

- Já o encontrei no ano passado. É um novo recruta?

- Sim. Ele está em observação há muito tempo. A S.H.I.E.L.D. está de olho nele, agora. Soubemos que eles estão indo para a costa oeste, tentando interceptar nossa operação.

- E quais são as minhas ordens?

- Mate qualquer um que se colocar no nosso caminho.