Destined Souls escrita por nathyfaith, HHenry, day637


Capítulo 8
Dirty Past


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!
Sim demoramos para chegar com um cap. fresquinho para vocês, e nos desculpem, neste introduzimos um novo personagem que será crucial para uma boa parte desta estória.

Ansiosamente esperando pelos seus comentários.

Leiam com moderação, aviso aqueles que têm problemas com assuntos pesados ou muito dramáticos este cap. menciona abuso sexual.

Bjo grande a todos os leitores!
Nathy



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POV Bella


Há meses mamãe se encontrava na mesma, a cada dia me sentia mais próxima de meu irmão e Alice, eles se adoravam também. As contas da casa se acumulavam cada vez mais e meu pai.. pai? Que pai? Já não o vejo há tanto tempo, mal chega já sai, se é manhã ele vai trabalhar e volta quando já estamos dormindo.

Kabe anda mais aqui em casa do que ele, chega a ser ridículo. Por incrível que pareça meu irmão quer por que quer me ajudar com as contas, mas me recuso a aceitar, estou pensando em trabalhar em uma livraria local, assim posso ir pagando algumas contas, não sei o que acontece mais aparentemente o dinheiro estava acabando, eu não conseguia entender como, porque afinal mamãe investira em imóveis, tínhamos duas casas em Forks e de repente não tínhamos nada. Liguei para nosso advogado mais ele me disse que não podia me informar exatamente nada. Droga x droga!

Trocava os canais preguiçosamente, Alice havia saído e Kaleb tinha um plantão, ou seja, eu estava sozinha. Foi quando em um canal eu vi algo que me chamou a atenção, uma clínica chamada Holy House of Chicago renomada por seus avanços clínicos em genética e manipulação de genes estava oferecendo 50 mil dólares pela venda de óvulos, não pensei duas vezes peguei o telefone e disquei o número, se era o preciso para manter minha família estável e segura então, bem eu o faria.

Uma mulher atendeu ao telefone e esperou que eu aguardasse um minutinho que uma médica iria me fazer algumas perguntas.

Alguns minutos depois uma médica atende ao telefone:

- Boa tarde, sou a Dra. Parker, e gostaria de fazer algumas perguntas rápidas. Qual o seu nome e sua idade?

- Meu nome é Bella Swan, tenho 17 anos, faço dezoito no começo do ano que vem, mas sou emancipada.

- Perfeito. Descreva suas características.

- Eu sou magra, cabelos e olhos castanhos, pele branca, não muito alta, e moro em Boston.

- Bem Bella, creio que esteja apta para o procedimento. Por favor, esteja aqui na próxima semana para discutirmos melhor.

- Ok. Obrigada.

- Tenha um bom dia senhorita.

- Adeus.

Subi as escadas e fui tomar um banho relaxante, precisava descansar e relaxar como diz Kabe, eu me preocupo muito com tudo e todos.

POV Kaleb

Dezessete anos e a responsabilidade de um adulto em suas pequeninas costas, minha pobre imã estava assustada e não deixava ninguém se aproximar. Aprendi a amar Alice com a convivência, ela era uma pequena fadinha que alegrava os dias de Bella e os meus.

Mas podia ver o quanto Bella estava sofrendo com tudo aquilo, seu pai parecia não se importar nem um pouco com a vida ou morte de nossa mãe, e isso enfurecia Bella. Faziam quase quatro meses que tínhamos quase a mesma rotina, para Bella, sempre mais aplicada, de visitar Renée no hospital, cerca de alguns dias atrás mamãe parecia melhor e hoje nos três íamos visitá-la.

Alice comprou um ursinho onde se lia “Get well soon”, Bella levou flores, e eu achei que se levasse uma foto de nós três ela ia ficar bem feliz, então antes de irmos passamos daquelas cabines fotográficas e tiramos quatro fotos, uma em que estávamos sorrindo, uma com Bella ao meio e nós dois beijando sua bochecha, uma com caretas e uma onde estávamos abraçados as duas mais novas sentadas no meu colo sorrindo.

Chegamos ao hospital tagarelando, eu estava de folga durante dois dias e teria tempo o suficiente para “mimar” as minhas irmãs, era bom ter uma família, e não só o companheirismo de meus colegas de trabalho.

- Mãe! – Falamos juntos a abraçando.

- Oi meus amores, que bom que vieram. – Ela sorriu, mas parecia sentir dor e sua respiração falhava um pouco. O que trouxeram hein? Estou curiosa...

Alice quase pulou na cama, ao seu lado lhe entregando o urso e beijando seu rosto, falando animadamente. Bella colocou as flores em um jarro e as trouxe para perto, eram girassóis, aparentemente uma das flores favoritas de mamãe.

Então falei sobre o trabalho, sobre como eu e as meninas estávamos nos dando bem, que talvez eu me mudasse para a casa da piscina, assim teriam alguém com elas o tempo todo. Foi quando mamãe resolveu abordar o assunto Charlie, Bella bufou, eu grunhi e Alice rolou os olhos, mas foi minha maninha quem falou:

- E desde que quando ele se importa? Desde que nos mudamos, ele mudou da água para o vinho, e honestamente não gostei e não gosto das atitudes dele, quando é que ele veio te visitar, se é que veio... – Renée olhou pela janela, deixando uma lágrima cair.

- Mãe, me desculpe é só que.. eu não.. desculpe.

- Possa conversar com Bella a sós por um momento? – Renée pediu. Assentimos e deixamos ás duas a sós.

POV Carmen

Finalmente depois de tanto tempo alcancei a felicidade, hoje posso dizer que sou feliz. Sempre lutei por tudo que acreditava, há muito tempo deixei de abaixar a cabeça para pessoas que tinham uma gota de caráter no sangue.

Formei-me na profissão que sempre admirei, sou medica ginecologista e genética, me formei nessas especialidades para realizar meu maior sonho ter uma clinica de reprodução, pois mais de que salvar vidas, eu amo ajudar a gerá-las.

Todos dizem que depois da tempestade vem o sol, e hoje posso dizer que a minha profissão foi o sol da tempestade que um dia foi meu passado...

Flashback On

Minha vida sempre foi um mar de aparências, para todos sempre fomos uma família linda e feliz, mais em casa não era sempre assim. Meu pai era meu exemplo, um homem de verdade, de fibra, agüentou vários anos de humilhação e sofrimento só para dar um lar para mim e para Irina. Lembro nos momentos felizes, jogos de basket, sim jogos, por ele passei a amar o basket. Sempre que havia jogo dos Lakers, dávamos um jeito de ir. Até uma cesta de basquete foi posta na porta da garagem para nós passarmos horas e horas jogando.

Minha mãe nunca gostou dessa nossa mania de ficarmos sempre juntos, para ela meu pai tinha que trabalhar e eu ficar numa escola em período integral, para não atrapalhar o momento de descanso dela.

Mamãe nunca foi uma pessoa amorosa, sempre que estávamos em casa e queríamos a atenção dela, nos dizia para deixá-la em paz, que não passávamos de um erro, que pelo menos servíamos para ela ter a carteira do papai. Mabel, nossa empregada, sempre nos abraçava e dizia que o que a mamãe falava não era verdade, que ela só estava brincando com a gente.

Aos meus 10 anos, papai veio a adoecer, sempre com tosse, aparência de cansado e nunca parava de trabalhar. Um dia cheguei para ele, e perguntei por que não descansava por alguns dias para sarar da gripe, e ele sempre dizia

- Porque tenho que cuidar de você, de sua irmã e sua mãe meu amor.

Uma semana depois ele foi internado, pela justificativa de pneumonia agressiva, mamãe não ia visitá-lo, apenas saía para se divertir ou ir ao banco sacar o pagamento de meu pai. Eu chorava todas as noites, me sentia sozinha, meu herói estava doente e muito mal. Em um dia que mamãe saiu, pedi a Mabel que me leva-se para vê-lo, sentia sua falta, queria apenas que olhar em seus olhos e perguntar se tudo vai ficar bem.

Quando cheguei a seu quarto, me desesperei com o que vi, ele estava completamente ligado a tubos e fios, entrei no quarto enquanto o médico conversava com Mabel, me aproximei para chamá-la e escutei tudo que o médico havia de dizer.

- Ele esta muito mal, suas forças estão debilitadas, não se alimentava mais, por isso tivemos que introduzir uma sonda alimentar, ás vezes ele recupera a lucidez e chama por uma Carmen, e de vez em quando por Irina, a senhora sabe me dizer quem são?

- Sim senhor, são as filhas dele.

- Elas têm mais alguém além dele?

- Sim senhor, a mãe delas ainda é viva.

- Que bom, não queria ter que chamar a assistência social.

- Mas por quê?

- Vou tive que induzi-lo ao coma, e deixar que a natureza siga seu curso.

Depois disso, ela entrou no quarto com os olhos tristes e sem vida, me olhava com angústia e sofrimento. Apenas me abraçou e me colocou sentada na cama junto ao lado de meu ai que não se mexia.

- Mabel, o que é induzir ao coma?

Ela olhou em meus olhos e falou enquanto derramava uma lágrima.

- Meu bem, o médico teve que fazer seu pai dormir por um tempo não determinado para ver se ele melhora.

- Mais quando ele vai acordar?

- Não sabemos.

Dias se passavam e papai não acordava. As coisas ficaram estranhas em casa, o Sr. Davis visitava constantemente nossa casa, quando eu e Irina estávamos na escola, quando ele ia em casa quando estávamos mamãe deixava a gente ir brincar na casa de uma amiga de escola. Passávamos mais tempo na casa de Samira, nossa amiga na escola do que na nossa própria casa.

Depois de vários dias nessa situação, uma das piores coisas da minha vida aconteceu. Tinha descido até a cozinha numa madrugada para pegar um pouco de leite e biscoitos, estava com fome, não havia jantado não me alimentava bem há muito tempo, e o telefone tocou com medo que a mamãe acordasse com o barulho nervosa por atrapalharem o sono dela, atendi rapidamente.

- Bom Dia, poderia falar com a Senhora Denali? - A voz do outro lado da linha disse, fiquei em um dilema, acordar minha mãe para atender ao telefone ou atender eu mesma.

Acabei optando pela segunda opção.

- É ela mesma, com quem estou falando?

- Aqui é do hospital central, estou ligando para pedir a presença da senhora aqui no hospital, poderia vir ainda essa madrugada, o que ocorreu é muito sério e precisamos da presença da senhora.

- Certamente já estou a caminho.

- Muito obrigado.

http://www.youtube.com/watch?v=L6ViM8tKG1Q&playnext=1&list=PL17AD4BE8BE32D5E5

Subi correndo as escadas, não queria ter que acordá-la, mais não tinha remédio, teria que fazer isso, algo com papai deve ter acontecido, ele finalmente deve ter acordado.

Acordei-a, correndo falando o que tinha acontecido, mais mesmo assim ela levantou muito a contra gosto, pedi para que ela me levasse que eu queria ver meu pai, mais ela não deixava, insisti tanto que ela acabou deixando, me arrumei depressa e a acompanhei até o hospital.

Chegando ao nosso destino, procuramos o medico que requisitou nossa presença, mamãe estava com um olhar desinteressado apenas preocupada com seu sono estava tão ansiosa para ver papai, para poder olhar seus olhos e ver aquele brilho que tanto sentia saudade, que não aparava de insistir para minha mãe me deixar vê-lo.

- Mãe, posso ver o papai agora?

- Ainda não Carmen, tenho que falar com o médico primeiro.

Mas o médico demorava tanto que eu ficava impaciente.

- Mãe, deixa eu entrar pra ver o papai.

- Caramba Carmen já disse que não.

Depois de um tempo, o médico apareceu.

- Senhora Denali, podemos conversar a sós?

Disse olhando para mim.

- Sim doutor.

E entraram numa sala. Fiquei esperando no banco do lado de fora do quarto que o papai estava, tinha muito movimento La dentro deveria ser os enfermeiros dando medicamentos.

Depois de uns cinco minutos ela saiu com o medico da sala.

Faça o que achar melhor doutor, de o corpo para a ciência, não quero gastar com enterro agora, tenho duas filhas para cuidar, e de qualquer forma não moverei um dedo sequer para arranjar isso, então que seu corpo seja útil de alguma forma, pelo menos morto tem que ser já que vivo não servia para nada.

Não entendi o que ela disse, porque dizia isso? Enquanto olhava para ela, reparei que ela acendia mais um cigarro dos muitos que ela fumava no dia, não agüentei de ansiedade e fui ate ela.

- Mãe, podemos ver o papai agora?

- Não me amola Carmen não esta vendo que estou conversando, menina mal criada.

- Mas você prometeu que eu poderia ver o papai depois que a senhora conversasse com o médico.

Enquanto a encarava me olhando com raiva e ódio, a porta do quarto de meu pai se abriu e uma maca totalmente coberta estava passando.

Minha mãe gritou para os moços que estavam levando a maca.

- Esperem um momento.

Puxou-me com força pelo braço para perto dela e se abaixou um pouco.

- Você quer ver seu pai, é? Quer ver?

Perguntou-me e assenti que sim. Ela sorriu e tirou o cigarro da boca o apagando na minha mão. Aquilo ardia, doía muito, me queimava.

- Não chora, se não você não vai ver seu pai.

E me arrastou para perto da maca onde estavam os moços. Colocou-me sentada encima e senti que tinha alguma coisa embaixo.

- Senhora não pode fazer isso.  - Um dos enfermeiros disse.

- Quieto vai ser rápido.  Disse quase estática.

E descobriu parte da maca.

- Aqui esta teu pai, sua fedelha mal criada, ele morreu não vai mais voltar, então pare de me encher a paciência e cale essa boca, e se chorar vai ser pior para você e a Irina.

Vi a figura de meu pai sem vida, inanimada, queria poder chorar e gritar, mais não podia, mamãe estava fora de seu juízo há muito tempo, poderia fazer algo, comigo e com minha irmã.

Ela tirou-me de lá, me arrastando pelos corredores já que não conseguia andar direito sobre meus próprios pés e me jogou no banco de trás do carro.

O caminho até nossa casa foi quieto, sem som, sem barulho, apenas sentia um bolo de choro preso na garganta.

Assim que chegamos fui para meu quarto, me refugiar no único lugar que me sentiria perto de meu pai. Por incrível que pareça, meu guarda-roupa era meu refúgio, sempre era lá que eu ia chorar quando mamãe me batia, e meu pai sempre ia atrás de mim. Colocava-me em seu colo me abraçava e me dizia que a mamãe estava nervosa demais e que acabou descontando em mim, e depois cantava me embalando em um sono, repleto de carinho.

Sentei-me no chão do mesmo tirando as roupas penduradas do meu caminho, abraçando meus joelhos e chorando um choro silencioso, mais diferentes das outras vezes não teria ele para me abraçar e cantar para mim, dizer que tudo ficaria bem. E foi assim que dormi não embalada por carinho e amor mais sim por sentimentos de dor e perda sabendo que aquilo que perdi nunca mais poderia ter de volta outra vez.

Dias se passavam e mamãe, ficava cada vez mais estranha Mabel brigava com ela, mais acabou sendo despedida e ficamos sós com a mamãe.

A casa ficou com um cheiro horrível, minha mãe não comprava mais cigarro para fumar, agora ela mesma faria, comparava uma plantinha num saquinho do Sr. Davis, colocava num papel e enrolava, enquanto fumava isso ela bebia, muito, e o Sr. Davis também, agora ele praticamente morava aqui.

Tudo estava horrível, a casa suja, não tinha comida mais na geladeira, o material escolar meu de Irina tinha acabado e mamãe sempre dizia que não tinha dinheiro, o que ela tinha era pra comprar as coisas que ela precisava para ficar bem. E que logo o advogado iria ler o testamento do papai e ela teria dinheiro para comprar tudo. Dizíamos que entendíamos.

Um mês depois fomos chamadas para a leitura do testamento, mamãe estava feliz dizia que iria pegar tudo de direito dela e sumir no mundo, que finalmente ela teria a recompensa por ter aturado nosso pai e a gente, que o castigo que foi isso ninguém merecia.

Mas nem tudo foi como ela quis, o advogado disse que tudo que foi dividido igualmente entre eu e Irina, que antes da morte dele, foi feito um inventário de tudo que o casal possuía, e como antes do casamento havia sido feito um acordo pré-nupcial, ela teria direito apenas a quantia que entrou no casamento, mais uma soma de 3% em cima da quantia que ela tinha primariamente.

Que o restante dos bens tinha sido dividido igualmente entre eu e Irina, onde a casa e o carro pertenciam a Irina e uma grande quantia a aguardava em uma conta no banco mais só poderia ser movimentava por ela assim que alcançasse os 21 anos. A mim, ficou estipulada uma fazenda que pertenceu aos meus avôs, às ações que ele comprou de uma empresa e uma conta no banco com a quantia restante que também só poderia movimentar aos 21 anos.

Mamãe surtou, disse que não era justo, que ele tinha desfeito o acordo ano passado.

Mais o advogado desmentiu, dizendo que nenhuma ação como esta teve início e se tivesse ele teria conhecimento.

Ela foi embora, pisando duro. Sentia-se ultrajada, traída.

O tempo foi passando e eu já tinha feito 11 anos, tudo estava piorando, nunca mais pude ver Mabel, minha irmã também estava ficando estranha, não falava mais comigo, não brincava mais, só vivia triste pelos cantos, mamãe cuidava melhor dela agora, apenas dela, comigo era desleixada. Nunca consegui entender essa mudança repentina dela, era surreal.

Sentia tanta falta de meu pai, das vezes que passávamos horas na garagem tentando jogar basquete, eu quase nunca acertava mais ele me encorajava a continuar tentando. Das vezes que tentamos lavar o carro junto, isso mesmo, tentamos porque sempre virava uma bagunça, esses foram bons tempos  que sabia que jamais voltariam.

Que saudade das conversas que tínhamos, sempre que aparecia um problema pra mim, sempre chorava, então, ele pegava uma camisa dele, me embrulhava e me embalava em seu colo. Queria tanto isso outra vez.

Nisso fui até o quarto de minha mãe pegar uma camisa de meu pai, ele não poderia mais me embalar, mais pelo menos queria tentar manter recordações como estas vivas. Mais ela não gostava muito que entrássemos em seu quarto, teria que ser rápida.

Entrei silenciosamente, mesmo sabendo que ela não esta, abri seu guarda-roupa a procura das roupas de meu pai, sabia que ainda estavam lá, mamãe não se deu ao trabalho de tirá-las, sempre dizia que o esforço não valia à pena.

Embrenhei-me no meio daquelas roupas procurando a camisa que sempre ele usava. Pouco tempo  depois escutei barulhos pelos corredor, gargalhadas estrondosas, uma voz de mulher e de homem, sem dúvida o tal Sr. Davis, do qual minha mãe vivia falando ao celular. Alarmada corri para dentro do guarda-roupa embutido na parede e agachei-me, esperando que entrassem, deveria ficar muda o suficiente para não chamar sua atenção, a ultima vez que acidentalmente entrei sem bater em seu quarto fui espancada violentamente. As portas do armário eram no estilo veneziano, ou seja, eu poderia ver quando eles fossem embora.

A porta foi aberta em um baque por Sr.Davis, minha mãe claramente não estava bem, estava totalmente alta, cambaleando e dizendo coisas sem nexo, deveria ter bebido muito. Ele passava as mãos por seu corpo em um ato mais bruto do que afável, pareciam dois animais, ele a jogou na cama subindo sobre ela beijando-a com fervor, nunca imaginei que veria uma cena como esta. Em seguida ele arrancou suas roupas intimas e rasgar seu vestido jogando-os ao chão, com a voz embargada disse:

- Isso mesmo minha putinha, você tem que pagar aquela farinha que compra de mim.

Ela simplesmente ria e gemia como uma gata, submissa a todos os seus desejos. Aquela cena toda estava me enojando, estava tão surpresa e apavorada que era impossível fechar os olhos para isso, cada pedido mais baixo que o outro.

Devia fazer mais de uma hora que eu estava esperando aquela orgia pecaminosa acabar e eles saírem para eu sair sem que me vissem, até então eles já haviam bebido, fumado, cheirado uma farinha estranha e estavam completamente fora de si, mas a gota d’água foi ouvir Sr.Davis exigir algo monstruoso:

- Sasha, eu quero aquele corpinho pequeno agora, traga-me Irina!

- Heitor, você a teve ontem dê um tempo á ela, estava a usando muito nesses dias.

- Cale a boca mulher, estou pagando você para isso, eu a quero agora. Você esta cuidando bem dela?

- Dá forma que me pediu, sei como você a deseja perfeita. Vou buscá-la.

Segurei minha bílis, o que diabos ela estava fazendo com a minha irmã? Ela é só uma criança inocente! Isso é vil, nojento, atroz, desumano, sentia desgosto de minha própria mãe. Aquilo não era uma mãe, aquilo era a prova viva de um ser desalmado.

Assistia as cenas a minha frente como se fosse um filme de terror, elas pareciam prosseguir em câmera lenta, e eu desejava ser capaz de apagar, com um passe de mágica cada movimento, cada atrocidade. Mas infelizmente isso ficaria em meu subconsciente, minha irmã de apenas nove anos estava sendo molestada fisicamente e sexualmente com a minha mãe de camarote. Durante horas fui obrigada a assistir calada, engolindo os sons de choro, o pavor nos olhos azuis de minha irmã, sentia como se estivesse ali com ela naquela cama igualmente molestada, tinha repulsa de minha tão chamada “mãe”.

Quando eles saíram tomei consciência de que poderia sair sem ser vista, mais não conseguia, minhas pernas estavam prostradas no mesmo lugar, se recusavam a obedecer meus comandos. Tudo que vi, tudo que presenciei, estavam nítidos na minha mente, tentava processar tudo mais não conseguia.

Ao dar o primeiro passo para sair do armário, escuto barulho no corredor, eles estavam voltando, rapidamente voltei para o guarda-roupa e me agachei mesmo com tudo aquela roupa me atrapalhando.

- Sasha, prepare aquela outra fedelha, adorei sua boca, deve me chupar muito bem.

- Heitor, você já tem a Irina e a mim Carmen é sem graça, não fará muita coisa.

- Não importa quero aquela boca no meu pau, nem que tenha que pagar o dobro.

- O dobro? – Ela ponderou durante alguns segundos e disse - Tudo bem, em uma semana ela estará perfeita, lhe esperando.

- É assim que eu gosto, até amanhã Sasha.

Não bastava tudo que passei e ainda quererem fazer isso comigo? Quando tudo isso vai acabar? Teria eu que passar pelo mesmo que Irina passou?

http://www.youtube.com/watch?v=5pXrMPtCVcE

Assim que eles saíram do quarto corri para o meu, me afundando na cama e chorando. Tudo desmoronou quando papai morreu, quando ele ainda estava aqui éramos felizes, mesmo a Sasha não nos amando, papai nos amava por ele e ela, seu amor por nós era tão grande, tão intenso que nada de ruim nos atingia. Não podia içar mais aqui, não agüento mais, tudo me sufoca me enoja a um ponto estremo.

Aqui deixou de ser meu lar desde que fomos submetidas a coisas deploráveis, estou farta de tudo isso, minha vontade é de ir para longe e nunca mais voltar... Será que consigo?Sair e deixar todas as lembranças que tenho aqui? Sair de casa e me virar sozinha? Não tenho para onde ir, não possuo muito dinheiro, só o que tenho de mesada.

Ficar nesse inferno, ou me ariscar a ser livre? Acho que qualquer lugar é melhor no que isso. Não posso passar nem mais um dia aqui.

Mesmo tendo a consciência que ir embora e deixar tudo para trás seria o melhor, me doía deixar todas as lembranças sonhos, vividos e minha irmã. Não poderia levá-la comigo, ela tinha só 8 anos, não saberia cuidar dela, nem mesmo saberia quais seriam as minhas condições por muito tempo, imagina levar uma criança de 8 anos comigo.

Mesmo me doendo por dentro seria melhor deixá-la, pelo menos teria onde dormir e comer, do que levá-la para algo incerto que é a rua.

Não poderia levar muita coisa, iria me atrapalhar, peguei uma mochila consideravelmente grande e nela coloquei roupas, sapatos, enfim o essencial, e duas coisas não poderiam faltar, a camisa de meu pai e nosso álbum de fotografia, ele havia apenas fotos minha dele e de Irina, dos momentos felizes que levamos ate tudo sair do controle.

Fui até meu guarda-roupa e no nosso esconderijo secreto peguei minha mesada que há muito tempo não recebia mais, para ser mais certa desde que papai começou a adoecer e ficou no hospital. Nunca precisei gastar minha mesada caso precisasse de algo, ele ou Mabel sempre comprava de tudo pra nós, então eu teria dinheiro o suficiente pelo menos para 1 mês, para a alimentação, não poderia me dar o luxo de gastar com locais pra dormir, procuraria um albergue e passaria minhas noites, mais antes compraria uma passagem de ônibus para outra cidade, ficaria bem longe de Sasha, nunca mais a chamaria de mãe, esse titulo elas não merecia, acho que nem ser chamada de Ser Humano poderia chamá-la mais.

Com minha mochila pronta e tudo de importante que considero, rompi silenciosamente a porta de meu quarto para nunca mais voltar. A cada passo que dava sentia meu coração trincando, a cada passo que dava via flash de momentos felizes que vivi naquela casa, onde um dia considerei loucura fugir, mais hoje vejo a única alternativa para pelo menos sentir que voltei a vida. Lagrimas invadiam minha face, mesmos sentindo que aquele não era mais meu lar, me doía deixar tudo.

Desci as escadas em prantos, e a ultima pessoa que queria estava na sala, brincando com suas Barbie’s enquanto a TV estava ligada em um desenho do coyote e papa-léguas. Parei e a olhei pela ultima vez, ela deve ter percebido minha presença, pois parou no meio do trajeto de suas bonecas e me olhou, foi ai que percebi, assim que nossos olhos se cruzaram, uma verdade que não queria admitir pra mim mesma, não estava a deixando porque era o melhor para ela, mais sim porque era covarde e egoísta o suficiente para pensar só em mim, pensar onde apenas eu iria dormir, onde apenas eu iria comer, onde apenas eu iria sobreviver.

E um grande sinal de egoísmo apenas você fugir do sofrimento e deixar os mais fracos e frágeis para trás. Era isso que eu estava fazendo naquela época, usei como pretexto para que pra ela seria mais seguro ficar e pra eu partir. Eu falava de Sasha, mas eu era pior, deixar no sofrimento uma pessoa que não pode se cuidar, enquanto eu vou embora e me livro de tudo isso.

Mais não posso levá-la, não posso! Será mais fácil assim. Todo que posso fazer é uma promessa. Abaixei-me perto e afaguei seu rosto, sentindo pela ultima vez a textura de sua pele. Ela deve ter sentindo o que acontecia comigo. Largou suas bonecas e me deu um abraço, e pela primeira vez em semanas eu a ouvi falando.

-Te amo Kaka.

Mais uma vez uma crise de choro, as lágrimas não podia mais segurar, mais pelo menos os gritos consegui segurar em minha garganta. Apertei-a em meus braços e disse em sussurro em seu ouvido.

- A Kaka está indo procurar uma vida melhor para nós, quando encontrar eu volto e vou te levar comigo, pode demorar muito, mais a Kaka volta.

- Volta logo tá!

E me deu um beijo no rosto. Não poderia esperar mais, não agüentaria ir embora se esperasse mais. Soltei-a dando um beijo em sua testa, sussurrando um “eu te amo” e fui me distanciando. Com a mão na maçaneta esperei um instante para manter o pouco de coragem que me restava, e fiz uma coisa que não deveria ter feito nunca, olhei pra trás e vi o que não poderia ter visto, minha irmã chorando em silencio e acenando pra mim um tchau.

Não agüentei e rompi a porta com violência, mais não andei, corri como nunca corri em toda minha vida, e prometi a mim mesma que essa era a ultima vez que choraria. Fosse o que fosse, guardaria as lagrima, caso ainda as tenha. Mais uma coisa eu faria, prometi que voltaria e a levaria comigo e isso farei, quando tiver uma vida, mesmo que esteja começando volto e a levo comigo, ou não me chamo Carmen Evelyn Denali.

Corri e corri, até minhas pernas não agüentarem mais. Ao final estava cansada e esgotada, mais ainda sim me mantive em movimento, ate chegar à rodoviária. Nem tinha visto quanto dinheiro eu tinha, apenas havia feito uma suposição, queria ir para longe, mais teria que conferir quanto que tinha pra pelo menos ter um mês de alimentação garantida. Havia muita gente me olhando, não poderia contar o dinheiro assim, livremente. Fui ate o banheiro e me tranquei em um Box e ali comecei a contar 673 dólares, era tudo que tinha, poderia gastar no Maximo 100 dólares para a passagem.

Ao sair do Box vi o letreiro de preços, e vi uma cidade de Burlington, 80 dólares estavam bons era longe o suficiente e dentro do valor, os outros 20 dólares poderia pagar a alguém para comprar a passagem para mim.

Foi isso que eu fiz, paguei alguém, um faxineiro que estava de serviço, quando ofereci os 20 dólares, ele nem pensou apenas pegou o dinheiro e foi ao caixa.

Sentada no ônibus pronto para seguir viagem, parei para pensar em toda mudança radical que sofri nos últimos tempos, tudo mudou da água pro vinho tão rápido, que as vezes ainda me encontrava desnorteada. A viagem seria longa nove horas de ônibus ate o destino, uma nova vida me espera. Mais o quanto essa nova vida seria boa comigo? O quanto ainda teria que sofrer para ter momentos felizes? Será que não era mais digna deles? Adormeci ainda em devaneios, recordo-me de um sono sem sonhos.

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Estrelinhas? Recomendações? Reviews??

Nos digam o que acham...

Bjinhos *-*